Behind Blue Eyes escrita por Two Lovely Girls


Capítulo 3
Capítulo 3 - Troubles (parte 2)




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Naquele mesmo dia, mais tarde, o céu parecia ideal para a diversão que Lisa planejada proporcionar as crianças. Annabeth já sem suas roupas de balé parecia totalmente encantada com a visão do circo que ia, aos poucos, se aproximando deles. Já Joshua parecia uma pipoca de tão saltitante enquanto suas mãos agarravam firmes nas dela. Elisabeth não tinha irmãos, nem conviveu com muitas crianças ao longo da vida, mas estava realmente surpresa em como era fácil lidar com Annabeth e Joshua. Os dois eram extremamente doces, sabidos, carinhosos, mas também carentes e isso ela pôde perceber de cara, afinal, o simples fato dela ter acalmado Joshua após seu pesadelo o fez ficar grudado nela o dia inteiro. Era como se eles estivessem esperando apenas isso, momentos de atenção, alguém que lhe dissesse que tudo ficaria bem e os divertissem, e ela estava realmente disposta a fazer isso. Não que fosse extremamente fácil, afinal crianças são crianças e fazem suas manhas costumeiramente, mas o dia com Joshua havia sido plenamente encantador. Ele a ajudou a fazer o almoço e na hora do trabalho de casa se mostrou interessado, assim como não fez nenhum drama na hora do banho. Será que ela era tão boa babá assim? Ou será que eram aquelas crianças que eram simplesmente maravilhosas demais?

— Eu quero pipoca! — Joshua falou assim que eles chegarem ao parque.

— Eu também quero, Lisa! — Falou Annabeth animada, aproveitando a deixa do irmão.

—Tudo bem. Vamos comprar duas pipocas grandes e assistir ao show de mágica, pode ser? — Ela os indagou e os dois vibraram em resposta fazendo-a rir. Ela então comprou tudo o que precisava e eles entraram na tenda onde o show se iniciaria.

— Posso sentar ali na frente? — Pediu Joshua apontando para a cadeira perto do palco.

— Pode, querido, mas não saia da minha vista, tudo bem? — Advertiu Lisa, o olhando com certa seriedade.

— Tá! — Ele respondeu prontamente e correu para se sentar ao lado de outras crianças da sua idade.

— Lisa... — Chamou Annabeth, apertando sua mão.

— Sim, querida. — Lisa respondeu a olhando.

— Obrigada por trazer a gente aqui hoje. Fazia tempo que não saíamos. — Annabeth sorriu deixando suas bochechas corarem. Lisa engoliu a seco com aquelas palavras. Sentiu uma pena extrema das crianças por pensar o quão sozinho eles deviam ser normalmente.

— Não tem de que, Annabeth. — Lisa segurou em sua mão. — Prometo que, enquanto estivermos juntos, eu vou levar vocês pra vários passeios legais, tudo bem? — Prometeu fazendo a menina sorrir.

—Tudo bem, mas pode prometer também que não vai embora? — Ela disse esperta. Seu coração se partiu em mil agora. Estava realmente ouvindo isso de uma menina de sete anos? Não conseguia nem imaginar como isso chegou a esse ponto, afinal ela cresceu com uma mãe amorosa mesmo que sem um pai. E por mais que a presença paterna tenha lhe faltado algumas vezes, ela tinha sua mãe suprindo suas necessidades. Mas Joshua e Annabeth, além de não terem mais a sua mãe, também tinham um pai mais ocupado com seu trabalho, que nem mesmo quando estava em casa queria ficar com os filhos. Isso era de partir qualquer coração.

— Claro! Eu prometo que não vou a lugar nenhum. — Lisa respondeu fazendo os olhos da menina se encherem d’água. No mesmo instante, Elisabeth Se agachou para observar a menina mais atentamente.

— Sei que você deve ficar chateada porque o Greg te trata mal, mas ele só sente falta da mamãe. — Annabeth falou carinhosa. E mais uma vez Lisa se sentiu péssima por se incomodar tanto com os modos de Gregory. Era óbvio que ele sentia falta de sua mãe e de seu pai também, e acabou se tornando rebelde porque precisava de atenção. E ela ao invés de tentar lhe dar isso, ficava emburrada com seus caprichos. Era incrível como foi preciso uma criança lhe alertar sobre isso. Ela engoliu a seco e sorriu em seguida.

— Eu prometo que não vou desistir de vocês e nem do Greg, tudo bem? — tranquilizou ela. A menina então assentiu e a abraçou forte.

— Obrigada... — Ela sussurrou.

— De nada, querida. — Lisa acariciou seus cabelos. Nesse momento o mágico entrou no recinto despertando-as. Todos logo começaram a aplaudir e o local só lotou ainda mais. Annabeth direcionou seus olhos ao espetáculo e sorriu estonteante. Joshua não era diferente. Lisa o observava de longe rindo e interagindo com as crianças em sua volta. Ela sorriu e finalmente entendia as doces palavras que sua mãe sempre lhe disse sobre não desperdiçar momentos que poderiam parecer pequenos. Ser babá nunca passou por sua cabeça, mas ao ver aquelas crianças ali, tão necessitadas de alguém, realmente ficou agradecida a Deus por tê-la colocado naquele caminho, e faria tudo o que poderia para ajudá-los.

*************

Gregory e os dois rapazes que o acompanhavam tinham sorrisos maldosos em semblante. Já era fim de tarde e o céu começava a escurecer — algo que certamente o ajudaria a executar com honras o seu plano. Do outro lado da rua, uma loja de conveniência ficava, aos poucos, mais vazia devido ao horário.

— Qual é o plano? — Perguntou o rapaz mais alto de cabelos negros e olhos no mesmo tom enquanto Greg sorria antes de respondê-lo.

— Vamos esperar esvaziar mais um pouco e vamos pegar algumas coisas. — Disse.

—Qual é Stormfield, você tem dinheiro pra comprar todas as lojas de conveniência da cidade se quiser. — O outro rolou os olhos, um tanto incomodado com a perigosa ideia.

— Não é pela grana, cara... é pela diversão. — Gregory respondeu astuto. — Vamos, agora! — Disse e logo começou a caminhar em direção ao local acompanhado dos outros dois que se entreolharam. — Boa noite. — Cumprimentou o balconista que lhes sorriu. Os três se dividiram pela loja e aos poucos os bolsos de cada um deles estavam lotados de materiais pequenos e de pouca importância como chaveiros, óculos e lenços de bolso. Os três então se reuniram em um dos corredores mais afastados do balconista, que atento, lia uma revista.

— Distraiam ele, que eu vou pegar o dinheiro do caixa. — Avisou aos dois.

— Greg, não acha que tá passando dos limites? — Perguntou um deles, incerto.

— Ele tem razão, cara. Vamos embora, já pegamos várias coisas. Dá pra vendermos e ganharmos uma grana. — suplicou o outro disfarçadamente.

— Não sejam medrosos! — Ralhou Gregory, decidido. Os dois suspiraram e se entreolharam rapidamente para logo depois bufar em desagrado, acatando as ordens de Gregory. E então conforme o mesmo se afastou dos dois, eles começaram a entoar uma discussão alta, e segundos depois estavam aos socos falsos no chão. O balconista logo correu até a cena para separá-los.

— Seu babaca! — Um deles gritou falsamente.

— Parem com isso, garotos! — O pobre homem pediu ainda com certa dificuldade para tirar um de cima do outro. Gregory sorriu maroto já alcançando o caixa e o abrindo devagar para colocar todo o dinheiro que conseguia dentro de seus bolsos. Estava se saindo melhor do que pensava que poderia, mas logo seu sorriso se desfez quando um policial apareceu de repente o assustando.

— Coloca isso no lugar moleque. — Avisou o policial sacando sua arma. — Agora! — Ele gritou chamando a atenção do balconista que correu ao encontro dos dois.

— Sujou! — Um dos garotos falou pro outro e rapidamente os dois fugiram da cena, deixando Gregory — e o que seria a maior encrenca que já havia se metido na vida — pra trás.

— Está em maus lençóis, garoto. — Disse o policial enquanto o balconista recolocava o dinheiro sobre a caixa. — Vamos ver o que seus pais vão achar disso. — Falou. Gregory suspirou em resposta. Ser pego certamente não fazia parte do seu plano brilhante.

************************

Theodore chegou mais cedo do trabalho hoje. Na verdade, chegou exatamente alguns minutos depois de Lisa e as crianças, que ainda estavam agitadas com o dia de emoções e diversão que desfrutaram. Quando ele abriu a porta os dois gritaram e correram em sua direção para abraçá-lo.

— Pai, você não vai adivinhar o que fizemos hoje! — Annabeth falou animada com os olhos arregalados.

— É pai, a Lisa levou a gente no circo, e nós vimos o mágico fazer uma moça desaparecer e depois aparecer em cima do picadeiro! — Joshua falou totalmente vibrante arrancando um sorriso do pai.

— Parece que foi um dia bom. — Theodore comentou para os dois enquanto Elisabeth permanecia em silêncio encarando a cena que lhe fazia brilhar os olhos.

— A Lisa é incrível, papai, ela nos deu pipoca e algodão doce. — Annabeth riu.

— E ela disse que vai nos levar num parque de diversões depois. — Joshua falou antes de correr de volta pra ela e a abraçar fortemente algo que ela prontamente retribuiu. Ver aquela cena só deixou Theodore mais entregue a seus pensamentos anteriores de como ela parecia essencial pra todos ali. Ele sorriu.

— Tudo bem... acho que é hora de tomar seu banho, mocinha. — Disse Lisa pra Annabeth que rapidamente correu em direção ao banheiro. — E o senhor vá arrumar os brinquedos do seu quarto, depois vou te dar um banho pra ir dormir. — Falou em seu tom mais carinhoso para o pequeno Joshua que apenas riu sapeca antes de abraçá-la de novo.

— Eu te amo, Lisa. — Ele falou baixinho fazendo tanto Lisa como Theodore deixarem um semblante surpreso tomarem conta de seus rostos. Ela riu emocionada e se abaixou para ficar na sua altura, mas ainda assim era maior que ele.

— Eu também amo você, príncipe. — Ela acariciou seu rosto. Theodore não sabia como entender o que acontecia ali agora. Dentro de si era como se um mar de emoções pudesse tomá-lo agora, vendo aquela cena totalmente pura e bela. Joshua era extremamente carinhoso, isso era um fato, mas tinha dificuldade de interagir com quaisquer que fossem as pessoas, até mesmo com ele que era seu pai. Em seguida o menino correu em direção ao seu quarto, deixando-os ali, sozinhos.

— Senhorita Sullivan, muito obrigado por tê-los divertido tanto. — Theodore agradeceu pausadamente enquanto se aproximava dela que tinha os olhos fitados nele.

— Foi um prazer enorme, senhor Stormfield. — Ela respondeu prontamente.

— Fazia tempo que eu não os via tão empolgados. — Comentou abrindo um sorriso tímido.

— Eles são crianças maravilhosas, senhor. Tem muita sorte de tê-los como filhos. — Ela completou fazendo Theodore suspirar. Ele simplesmente não conseguia tirar seus olhos dos dela. Não sabia o que dizer, nem como agir, mas sabia como estava totalmente tentado a abrir um enorme sorriso pra ela agora e lhe abraçar por fazer algo tão bom sem nem ao menos tentar. Já ela se perguntava como um homem tão amargo podia ser simplesmente tão encantador pra ela, mas era difícil buscar essa resposta quando o cheiro amadeirado exalava dele que estava muito mais próximo dela do que a mesma um dia pensou que ele estaria.

—Você certamente tem o dom pra lidar com eles. – Theodore falou num tom mais sereno. Diferente do que ela estava acostumada a ouvir desde que o conheceu no dia anterior. — Muito obrigado mesmo. — agradeceu. Ela então sorriu. De repente os dois foram despertados pela porta que se abriu dando espaço para uma mulher extremamente linda e magra, usando um vestido dourado fosco que realçava suas curvas perfeitas. Os cabelos lisos e longos enfeitavam um rosto fino, de olhos castanhos da mesma cor dos cabelos. Ela sorria, mas ao encarar os dois ali logo seu sorriso desapareceu.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — Ela perguntou grosseira soltando sua bolsa e sua mala gigantesca.

— Victoria? — Theodore perguntou confuso. — Eu não sabia que já tinha voltado. — Completou.

— É mesmo, Theo? Isso eu pude reparar, pois assim que abri a porta me deparei com esse momento de ternura seu e dessa garota! — Ela levantou seu tom de voz. Elisabeth arregalou os olhos. Primeiro se perguntou quem era aquela mulher, e torcia pra que a resposta que passava por sua mente estivesse errada, mas as palavras seguintes apenas confirmaram o que ela pretendia fingir que era mentira. — Está me traindo? — A tal Victoria perguntou agora praticamente aos berros.

— Não diga besteiras! — Theodore respondeu no mesmo tom. — E pelo amor de Deus pare com essa cena ridícula! — esbravejou a olhando com seriedade.

— Cena ridícula? — A mesma perguntou indignada. — Eu viajo a trabalho, volto cansada, mas ainda assim disposta a fazer uma surpresa pra você e pras crianças e te encontro aqui com essa garota! — Ela acusou grosseiramente encarando Elisabeth com certo desdém.

— Victoria, ela é a babá! — Theodore falou prontamente.

— A babá? — A mesma riu em escárnio. — E por que uma menina como você estaria trabalhando como babá? — Perguntou. — Deve estar mesmo é querendo brincar de cuidar do meu homem. — A mesma falou e nesse momento as bochechas de Elisabeth coraram com a insinuação de que ela e Theodore estivessem se envolvendo daquela maneira. Mas antes que ela pudesse responder da maneira que queria, Theodore pegou a tal mulher pelo braço de forma grosseira e olhou em seus olhos.

— Já. Chega. Victoria. — Ele disse pausadamente. — Eu exijo que se desculpe com a Elisabeth pelo que acabou de insinuar. Agora! — Ele mandou. Elisabeth? Ele a havia chamado pelo nome? Elisabeth não sabia exatamente o que pensar disso. Obviamente queria pular no pescoço daquela megera, mas ver Theodore a defendendo daquela maneira lhe parecia uma cena bem mais agradável.

— Não vou pedir desculpa nenhuma até que você me explique o que estava acontecendo aqui. — proferiu ela se desvencilhando dele com certa brutalidade. Elisabeth pensou que talvez fosse a hora certa para se manifestar.

— Desculpe, senhora. Eu sou a nova babá. É um prazer conhecê-la. — Disse simpaticamente, despertando Victoria que a encarou fielmente agora. — O senhor Stormfield só estava me agradecendo por ter levado as crianças ao circo. — Completou. — Perdão se lhe pareceu outra coisa, eu não tinha a intenção. — se desculpou no melhor tom. Theodore franziu o cenho ouvindo aquilo. Mesmo depois das ofensas de Victoria, Elisabeth se mantinha calma e tinha o mesmo sorriso em semblante e isso era extremamente encantador pra ele. Victoria riu frouxo não se convencendo daquilo, porém preferiu fingir engolir a brigar com ele.

— Tudo bem. — Victoria suspirou e lançou um sorriso para Lisa. — Me desculpe, querido. — Ela encarou Theodore. — Mas quando me disse que tinha contratado uma babá eu não imaginei que seria uma garota tão jovem e bonita. — Comentou fazendo Elisabeth sorrir com o elogio. — Desculpe, querida, eu não tinha a intenção de ofendê-la. — Ela agora tinha seus olhos em Lisa que assentiu como resposta.

— Eu sinto muito. — Theodore ratificou fazendo as bochechas de Lisa corar com o ato. — Essa é Victoria Trumbell, ela é minha... bom... — Ele procurava a palavra certa para definir aquilo, mas Victoria tomou a sua frente.

— Namorada. — Ela completou a frase dele que apenas engoliu a seco. Mais do que nunca Lisa percebeu que os conselhos de Jennifer estavam certos. Se encantar por aquele homem agora tinha se tornado ainda mais absurdo, e imprudente, que antes.

— É um prazer conhecê-la. — Disse Elisabeth buscando manter seu tom firme.

— Igualmente, querida. — Disse Victoria. — Eu não gosto de ser abusiva, mas já que está aqui por que não prepara um café pra nós? — Ela perguntou lhe lançando um sorriso.

— Ela é a babá das crianças, e não a empregada, Victoria. — interveio Theodore em seu tom original e grosseiro. — Joshua está esperando-a pra tomar banho. — Completou.

— Eu não me importo. — Elisabeth se opôs. — Posso preparar, não me custa nada. — Na verdade, ela se incomodava um pouco sim, não pelo ato de preparar algo para os dois, mas de ver o sorriso maldoso de Victoria enquanto a mesma se oferecia pra fazê-lo.

— Ela não se incomoda, viu? — Victoria repetiu enquanto Theodore ofegava vendo Elisabeth se dirigir até a cozinha. — Eu morri de saudades, querido. — Ela disse manhosa agora levando suas mãos ao rosto dele e puxando-o para um beijo caloroso, intenso e longo que fez Elisabeth engolir a seco por não ter como deixar de vê-lo enquanto seguia para a cozinha. Mas de repente o próprio Theodore se soltou das mãos da mulher.

— Também. — Respondeu seco. — Mas devia ter me avisado que chegaria hoje, pois as crianças estão acordadas e o Gregory não chegou ainda. Eu não quero que eles vejam que vai dormir aqui, então é melhor ir pra sua casa. — Completou fazendo a mesma franzir o cenho.

— Ficamos dias sem nos vermos e você vai recusar passar a noite comigo por causa das crianças? — Ela perguntou com chateação. Elisabeth preparava o café, mas seus ouvidos eram atentos ao diálogo ríspido entre os dois, e se sentia feliz por ouvir aquilo, pois demonstrava que não era algo tão sério que os dois tinham já que as crianças nem ao menos sabiam oficialmente. — Sei que é um assunto delicado pra eles, mas meu amor, eu amo você e amo as crianças. — Victoria disse fazendo Lisa rolar os olhos. Não poderia dizer que era mentira, mas pelo pouco que pôde perceber da tal Victoria não parecia ser a pessoa mais amorosa do mundo, ainda mais com crianças.

— Podemos discutir isso depois? — Perguntou Theodore um tanto incomodado. — Vou deixá-la em casa. — Completou.

— Theodore... — A mulher começou a reclamar, mas de repente o celular do mesmo tocou e ele ignorando-a completamente atendeu sem ao menos constatar o número.

— Theodore Stormfield falando. — Disse masculamente, enquanto Elisabeth servia o café aos dois. — Como é? — Ele perguntou arregalando os olhos, deixando sua voz ainda mais grosseira que antes. — Estou indo aí agora! — pronunciou antes de desligar.

— O que foi? — Victoria perguntou o encarando com atenção.

— Gregory está na cadeira. — Ele falou fazendo Elisabeth arregalar os olhos. — Aparentemente ele não foi nem a escola e nem a biblioteca hoje, então eu pergunto, senhorita Sullivan, como isso foi acontecer? — Perguntou grosseiro, aumentando seu tom de voz para Lisa que estava totalmente em choque. Ele a estava culpando por isso?

— Eu não sei, senhor. O chofer disse que o deixou na escola e que ele o dispensou, pois iria junto aos amigos pra biblioteca. — Ela se justificou fazendo o mesmo bufar em descontentamento enquanto um sorriso tímido se formava no rosto de Victoria que parecia satisfeita em vê-lo tão furioso com Elisabeth. Sem dizer mais nenhuma palavra ele deu as costas para ela, acompanhado de Victoria e saiu pela porta que bateu atrás de si de maneira bruta. Elisabeth respirou fundo. Não podia acreditar que depois de um dia produtivo com Joshua e Annabeth tinha tido algo tão grave com Gregory, e ela nem sabia exatamente o motivo, mas se sentia extremamente culpada e preocupada com o garoto.

****************

Horas mais tarde, Elisabeth ainda estava ali no sofá à espera de notícias. Já tinha colocado as crianças para dormir, mas sequer conseguiu comer algo antes de ter notícias de Gregory, mas estas logo chegaram. A porta se abriu de repente dando um lugar para um Theodore furioso e um Gregory impaciente.

— Quando é que você vai tomar jeito, garoto? — Perguntou Victoria grosseiramente fazendo o mesmo rir.

— Dá pra parar de falar como se fosse minha mãe? — Gregory respondeu no mesmo tom.

— Eu me preocupo com você, querido. — Ela disse com a voz polida e um olhar carinhoso. — Será que não percebe isso? — Perguntou.

— Conta outra, Victoria. — Ele rolou os olhos.

— Victoria é melhor ir pra casa agora. – Disse Theodore.

— Tudo bem. — Ela respondeu.

— Peça ao chofer para levá-la. — Ele disse. A mesma apenas assentiu e lhe deu um beijo demorado nos lábios enquanto Gregory, assim como Elisabeth, rolavam os olhos com a cena.

— Adeus, querido. — Ela acariciou o rosto de Gregory que apenas se esquivou das mãos dela e em seguida encarou Elisabeth. — Boa noite, querida. — Despediu-se sem sorrir.

— Boa noite, senhorita Trumbell. — Respondeu Elisabeth antes da mesma dar as costas para todos ali e caminhar porta a fora.

— Anda, pode começar o sermão! — Gregory disse em seguida para Theodore que respirou fundo.

— O que você estava pensando? — Perguntou ele grosseiro. — Roubar uma loja? Gregory, eu te dou tudo o que precisa! — Ele completou fazendo o mesmo rir em deboche.

— Tudo mesmo? — Joshua o encarou desafiadoramente.

— Não comece com isso de novo, Gregory! Eu exijo que você se comporte! — Theodore levantou seu tom de voz. — Já chega dessa rebeldia! Já chega desses amigos inconsequentes! Está na hora de você se tornar um homem de verdade. Não tem mais idade para agir como um menino! — cuspiu Theodore com a face vermelha de raiva. — Amanhã mesmo eu vou tirá-lo dessa escola. Você vai pra San Marcus, onde vão te deixar na linha. — Completou fazendo os olhos de Gregory se arregalarem.

— Não, pai, espera, por favor. Me coloca de castigo, me tira a mesada, me bate, mas não me manda pra lá, você sabe que eu odeio aquele tipo de gente. — Ele implorou fazendo Theodore rir irônico.

— Essa é a sua punição. — Ele se manteve firme na frente do garoto. — Deveria ter pensando nisso antes de fazer o que fez. Mas tudo bem, além disso, está sem mesada e de castigo, e saiba que eu só não te bato porque não quero me irritar ainda mais com você. — Ele disse grosseiro. Elisabeth permanecia encarando os pés, mas se sentia extremamente incomodada com aquilo tudo ali. Ainda assim não tinha o menor direito de se meter então apenas engolia a seco. Gregory deixou os olhos se encherem d’água e correu em direção ao seu quarto. Theodore parecia extremamente irritado e se jogou sobre o sofá, deixando as mãos apertando seus olhos sobre a face como se buscasse se manter calmo. Elisabeth não sabia exatamente o que fazer agora. Ela então caminhou até ele.

— Sinto muito. — Disse despertando-o. — Eu sei que não deveria me meter, mas por que não tenta fazê-lo... — Ela começou a dizer, mas como num impulso raivoso Theodore se pôs de pé e levantou seu tom de voz, interrompendo-a.

— Não venha querer me ensinar como educar meus filhos! — Ele gritou assustando-a e logo em seguida caminhou até seu quarto onde bateu a porta com força. Lisa respirou fundo e fechou os olhos tentando conter as emoções que queriam tomá-la agora. Ela então encarou os pés uns segundos, mas finalmente conseguiu engolir o choro... Por enquanto.

********************

Gregory estava jogado sobre sua cama. O choro parecia inundá-lo e afogá-lo aos poucos, mas ele não se importava. Tudo em sua vida parecia simplesmente odioso pra ele. Sentia falta da mãe, odiava cada vez mais o pai, e não conseguia suportar Victoria fingindo que se importava com ele e com seus irmãos. Se pudesse desaparecia agora, mas infelizmente precisa continuar ali, aturando tudo aquilo, e se sentindo completamente solitário dentro de si mesmo. De repente, uma batida leve na porta o despertou fazendo-o encarar a mesma. Pra sua surpresa era Elisabeth, e sobre seus braços havia uma bandeja que exalava um cheiro já conhecido pra ele, e que particularmente lhe agradava muito as narinas.

— Sei que está magoado. — Ela começou a dizer, vendo que ele não impediu sua entrada ali. — Mas imaginei que estivesse com fome e sua irmã me contou que você adora tomar leite quente e biscoitos antes de dormir quando está triste. — Ela sorriu carinhosamente fazendo o mesmo franzir o cenho.

— Por que está fazendo isso? — Ele a questionou, mas sua voz não era mais grosseira como antes e sim um tanto cansada.

— Fazendo o que? — Ela o olhou com dúvida enquanto colocava a bandeja sobre sua cama.

— Sendo legal comigo. — Gregory explicou, seco. — Eu só te tratei mal desde que chegou aqui. — Disse antes de bufar.

— Sei que não começamos com o pé direito. — Ela sorriu se sentando ao lado dele que estranhou a atitude. — Mas só quero que saiba que eu me preocupo com você e quero que a gente se torne amigos. — Completou.

— Amigos? — Gregory riu. — Fala sério, só quer arrancar algo de mim pra ir correndo contar ao meu pai. — Ele rolou os olhos num gesto entediado.

— Não, não é verdade. — Elisabeth riu. — E eu vou provar pra você aos poucos. — Ela se colocou de pé. — Espero que goste dos biscoitos, Greg. Boa noite. — Disse antes de beijar sua testa algo que inicialmente o fez franzir o cenho, mas quando ela fechou a porta atrás de si um pequeno sorriso confuso surgiu em seu rosto. Ele então pegou um biscoito e comeu, já se sentindo mais calmo e alguns minutos depois apagou num sono profundo.

********

Já era quase dez da noite quando Elisabeth finalmente havia tomado banho e colocado seu pijama. Para o primeiro dia no emprego, as coisas se saíram mais intensas do que ela esperava. Ainda se sentia culpada por Greg ter ido parar na cadeira mesmo não tendo culpa. Novamente, a cena em que Theodore gritou com ela apareceu, fazendo sua garganta fechar com o futuro choro. Cansada, ela se arrastou seus pés até a macia cama e se jogou sobre ela. Somente ali, ela se permitiu chorar e deixar toda a tensão aparecer.

Depois de alguns minutos de choro, o seu celular começou a tocar, despertando-a. Ao notar o nome da sua mãe no visor, ela apenas pigarreou e respirou fundo.

— Oi mãe. — saudou com pouca animação. Não que estivesse chateada por ela ter ligado. Apenas não era um momento bom momento para conversar.

Oi filha. — Ava cumprimentou a filha e franziu o cenho. Havia algo de errado com Elisabeth. — Você está bem? — perguntou enquanto guardava mais um prato no armário.

— Sim, só um pouco cansada. — mentiu, sentindo-se pior. Não era um costume ficar mentindo para a mãe, porém não queria preocupá-la. — E a senhora, como está? Como foi seu dia?

— Meu dia foi como todos os outros. A única diferença é que abriu um restaurante novo na cidade e você sabe como todos ficaram animados com isso, não é? — a mais velha riu, enquanto apagava a luz da cozinha e seguia para a sala.

— Esse povo não perde uma mesmo. — Elisabeth riu junto com a mãe e se sentiu um pouco mais leve. Era incrível como sua mãe a tranquilizava mesmo sem saber. — Eu sinto sua falta. — confessou com um suspiro cansado.

Ava suspirou também, sentindo seu coração pesar. Desde cedo, sua vida nunca havia sido fácil, principalmente quando o seu namorado a abandonou com um bebê para criar. Sempre fez de tudo para ver sua filha feliz e satisfeita, e para isso, até abriu mão da proximidade com sua ela para a mesma ir para uma cidade maior. Porém, saber que seu girassol estava triste a incomodava demais. Ela só queria estar perto e consolá-la.

— Eu também sinto a sua meu girassol. — disse carinhosamente. — Por que não me faz uma visita em breve? — sugeriu com um pingo de esperanças.

— Vai ser meio difícil agora que comecei meu novo emprego. Mas prometo que assim que tiver tempo irei aí. — Elisabeth torceu os lábios e rezou para que sua mãe não insistisse mais nisso.

Verdade! — Exclamou Ava, com um sorriso. — Imagino que esteja cansada, mas amanha a mocinha irá me contar como foi! — exigiu em tom de brincadeira.

— Tudo bem, dona Ava Sullivan— Elisabeth rolou os olhos e riu. — Vou desligar agora, mãe. Eu te amo.

Eu também te amo, meu amor. Mande um beijo para Jennifer.

Sem dizer mais nada, Elisabeth apenas desligou e chorou mais um pouco até cair no sono.


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Notas finais do capítulo

Nos digam o que estão achando, hein.

Até o próximo capítulo ♥



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