Naquele mesmo dia mais tarde, Nicholas adentrou sua sala. Jogou o paletó em cima do sofá de couro afrouxou a gravata, e retirou os óculos escuros para coloca-los sobre a mesa antes de arregaçar as mangas da camisa social. Com a boca assobiava uma melodia descontraída e alegre. Theodore adentrou sua sala sendo encarado pelo amigo.

—Parece feliz... – Theodore comentou.

—E você parece totalmente infeliz. – Nicholas retrucou antes de sorrir.

—Matthew falou com você? – Perguntou Theodore.

—Eu recebi uma mensagem sobre algo como "oh meu Deus, não vamos ser madrinhas de casamento do meu irmão! ". — Nicholas gargalhou. – Matt sabe mesmo ser uma garotinha quando quer, eu disse a ele que morar com a Rose daria nisso. – Falou. – Sabia que eles vem Bonequinha de luxo todo final de semana? – Zombou.

—Então você não se incomoda com isso? – Theo suspirou, um tanto surpreso na realidade com a reação de Nicholas que por mais desencanado que fosse parecia reagir bem demais frente àquilo.

—Theo, aprendi com a Hunan que o sentimento mais poderoso do mundo é a indiferença. – Ele sorriu pro amigo. – Quer dizer, você sabe bem disso, vem sendo indiferente com tudo e com todos esse tempo todo, até com você mesmo. – Falou.

—Tudo bem, você está me punindo com sua indiferença. – Theodore coçou os olhos antes de se sentar sobre a poltrona do escritório do amigo. – Eu não queria que fosse assim. – Explicou.

—Quer saber, Theo, você vive dizendo isso, mas nunca faz nada pra tentar que as coisas sejam diferente do que são. – Nicholas sorriu. – Estarei ao lado dos outros convidados, mas não deixarei de estar lá porque apesar de achar tudo isso uma tremenda insanidade você é meu melhor amigo. – Comentou.

—Você está realmente muito bem. – Theodore sorriu.

—Vou sair com a Hunan hoje. – Respondeu Nicholas.

—Está apaixonado. – Theodore riu.

—Não, eu não me apaixono, eu sou Nicholas Phillips, mas você, você Theodore Stormfield está apaixonado pela sua babá, uma pena que seja um covarde. – Retrucou.

—Não pode me chamar de covarde, sabe que é verdade, olha pra você, Nicholas, a quanto tempo não dorme com uma mulher? – Perguntou.

—Desde semana passada! – Nicholas esboçou uma careta.

—Tudo bem, deixe-me refazer a pergunta, desde quando não dorme com uma mulher sem pensar em como seria dormir com ela? – Disse fazendo Nicholas franzir o cenho como se pensasse a respeito. Engoliu a seco.

—É assim quando transa com sua noiva? – Mais uma vez ele alfinetou Theodore que suspirou.

—Já entendi, indiferença e raiva costumam andar juntos. – Torceu os lábios. – Não vou mais te incomodar com isso, espero que se divirta com a Jennifer e também espero que possamos ficar bem. – Ele colocou a mão sobre o ombro do amigo que rolou os olhos.

—Não somos Blair e Serena, Theo, sabe eu nunca fui fã de todo esse drama estilo Gossip Girl, mas se quiser travar uma batalha pode se vestir de Superman, eu descolo uma roupa de Batman. – Zombou fazendo Theodore rir. – Quer saber, deixa pra lá, você não seria um bom Superman, mas sei que podemos passar por isso sem ressentimentos de garota. – Brincou mais uma vez Nicholas.

—Eu seria um ótimo Superman... – Theodore rebateu espertamente antes de começar a caminhar novamente.

—Se você diz. – Nicholas riu pro amigo.

****

Era fim de tarde. Elisabeth estava sentada sobre o sofá comendo um pote de sorvete. Quando eu celular tocou ela sentiu estranhamento ao ver o nome de Gregory na tela, mas correu para atender devido à preocupação que aquela situação inusitada lhe rendeu.

—Oi! – Disse num tom maternal.

—Oi, Lisa... – A voz de Greg era abatida.

—Você está bem? – Perguntou.

—Sei que é seu dia de folga, me desculpe por ligar. – Ele fungou do outro lado da linha.

—Não, que isso, você sabe que pode me ligar, o que houve, Greg? – A voz de Lisa demonstrava totalmente a agonia por perceber a tristeza na voz do menino.

—Eu precisava falar com alguém... – Ele começou a choramingar. – Lisa, sinceramente eu to sufocando, eu... eu nunca achei que fosse odiar tanto fazer parte dessa droga de família! – Sua voz era trêmula.

—Ainda não conseguiu falar com a Laura? – Elisabeth torceu os lábios.

—Ela não me atende, não foi a escola hoje, está me evitando com toda a força que tem. – Explicou. – Por que seria diferente, Lisa? Minha família é horrível, sempre foi, nunca nada de bom surge aqui dentro. – Completou.

—Greg, não fala assim... – Ela ia dizendo, mas ele logo a cortou.

—Lisa, você sabe! – Retrucou. – Vai me dizer que eles não matam todo sentimento bom do mundo? Você viu como era antes de você chegar, todos, até mesmo Annabeth e Joshua não tinham nada de bom dentro de si, e agora eles estão tentando apagar até você. – Disse.

—Isso não é verdade.- Elisabeth rebateu.

—Vai dizer que a notícia desse casamento não deixou você arrasada também? – Gregory riu ironicamente. – Eu vejo como olha pra ele, mas se quer saber, você merece mais do que isso. E já cheguei à conclusão de que a Laura também. – Suspirou. Elisabeth inspirou profundamente com aquelas palavras. Sabia que Gregory tinha toda a razão consigo, e não sabia exatamente como rebater aquilo sem parecer uma completa mentirosa.

—Você ama a Laura, Greg, e ela ama você. – Lisa falou. – Ela está magoada sim e com razão, mas isso não significa que você tem que desistir dela, porque se desistir só vai provar que há muito mais da sua família dentro de você do que você queria. – Disse. – Se quer tanto ser diferente, se quer realmente abandonar o peso de ser um Stormfield então comece por você mesmo, meu amor, sei que vai saber o que fazer e que vai fazer o certo, porque você ama essa menina. – Sorriu. – Sabe, nem todo Stormfield precisa agir conforme os padrões. – Riu. – Eu conheci um deles que tinha tudo pra não pintar fora das margens, mas ele conheceu uma garota e se apaixonou, criou um decreto e um rumo pra vida dele e hoje é feliz vivendo a vida que escolheu. Sabe quem é esse cara? – Perguntou.

—Matthew Stormfield. – Gregory riu. – É, meu tio soube mesmo escapar. – Suspirou. – Acha mesmo que eu consigo ser o segundo Matthew da família? – Brincou, agora sentindo-se mais leve.

—Tenho certeza, porque desde o primeiro momento em que conheci a Laura eu vi que ela era a sua Rose. – Elisabeth falou carinhosamente. Gregory sorriu do outro lado da linha.

—Você sempre sabe o que dizer, babá... – Zombou fazendo-a gargalhar. – Obrigado, Lisa, fico feliz por pensar que Joshua e Annabeth terão seus ensinamentos desde pequenos, assim o efeito tóxico dessa família vai ser menos impactante, diferente de como foi comigo. – Rolou os olhos.

—Você é maravilhoso, Greg, só precisa confiar mais nisso. – Ela sorriu.

—Eu vou atrás da Laura. – Sorriu. – Sabe... Eu realmente gosto de você, Lisa...Obrigado. – Disse. Elisabeth sorriu emocionada com aquelas palavras. Sabia exatamente o que elas significavam e vindo de Gregory era ainda mais belo de se ouvir.

—Eu também amo você, Greg. – Disse fazendo-o rir.

—Tchau, babá. – Disse.

—Tchau, pirralho. – Brincou ela antes de desligar. De repente Jennifer adentrou o apartamento da forma mais afobada que podia. – Ei, o que houve? – Elisabeth perguntou com o cenho franzido.

—Eu tenho... um compromisso. – Disse retirando o sapato e correndo em direção ao seu quarto.

—Deve ser importante pra correr tanto. – Disse Elisabeth seguindo-a.

—Ah nada demais. – Jennifer disse sem empolgação, tentando omitir com quem seria seu compromisso.

—Então por que está tirando todas as suas roupas do armário? – Elisabeth riu com a correria da amiga.

—É um lugar formal, eu preciso de uma roupa condizente. – Jennifer respondeu sem encará-la.

—Jennifer! – Lisa gritou fazendo-a parar de correr de um lado para o outro. – Dá pra parar com essa maluquice e me dizer que compromisso é esse e eu te ajudo com a roupa. – Falou ainda rindo. – Você parece até que tomou energético, eu devo me preocupar? – Perguntou.

—Prometa que não vai me julgar e nem me zoar. – Jennifer falou seriamente.

—Nicholas! – Lisa disse arregalando os olhos e permitindo que seu rosto fosse tomado por uma expressão surpresa.

—É, Lisa, é o Phillips! – Rolou os olhos. – Mas não suponha coisas, somos dois amigos, eu estou apenas retribuindo um favor, ele me ajudou com uma prova e eu vou lhe dar o prazer da minha companhia. – Sorriu falsamente.

—Jennifer, admita, ele está mexendo com você e não é de hoje. – Disse uma Elisabeth com um sorriso maroto em semblante.

—Me poupe. – Ela rolou os olhos. – Acha que eu sou burra de me encantar por um cara que só quer me levar pra cama? – Riu. – Ele me ajudou e eu tenho que cumprir a minha palavra é só isso, e só estou correndo assim porque eu cheguei em cima da hora e não quero ele me incomodando e me apressando, você sabe que eu odeio isso. – Completou. Lisa sorriu.

—Tudo bem, então vai com que roupa? – Questionou.

—Eu não sei, Lisa! – Bufou Jennifer.

—Que tal isso? – Elisabeth disse caminhando até seu quarto e retornando logo depois com um vestido curto e levemente rodado na cor nude, coberto por uma renda preta bem detalhada em toda a sua extensão da frente e de costas nuas.

—Seu vestido da formatura. – Jennifer sorriu encarando-o.

—É a coisa mais formal que temos nessa casa depois que você deixou aquele molho cair em cima do seu quando nos embebedamos ao comemorar o início da faculdade. – Lisa riu lembrando daquilo.

—Tudo bem, tem razão, ele não merece tanto, mas eu vou aceitar. – Disse pegando-o das mãos de Lisa. – E você vai vestir o que hoje? – Perguntou curiosa.

—Eu já separei minha roupa, mas sugiro que esqueça o meu encontro e foque no seu. – Disse zombeteira.

—Não é um encontro! – Falou caminhando para o banheiro. Elisabeth riu. Caminhou até o quarto e pegou seu celular para ver uma mensagem que a fez sorrir rapidamente.

"Sinto falta da minha melhor amiga. Acho que passei do ponto, desculpa por isso. Fique tranquila, estou saindo com alguém, só queria que soubesse que quando quiser estamos bem e nada mudou. Harry. " De repente a campainha tocou fazendo-a correr em direção a porta para abri-la. Quando assim o fez viu um Nicholas dentro de um belo terno de cor preta.

—Boatos de que Nicholas Phillips não veste um terno por qualquer garota. – Ela brincou fazendo-o rir.

—É o Palace. – Discursou ironicamente. – Como você está? – Perguntou.

—Bem. – Lisa sorriu.

—Não precisa fingir, Lisa, eu sei o que sente pelo Theo. – Suspirou.

—E eu sei o que sente pela Jennifer. – Desconversou ela a fim de uma conversa menos desconfortável pra si.

—Ah que isso, eu não poderia me apaixonar primeiro porque Nicholas Phillips... – Ia dizendo, mas logo ela o cortou.

—Não se apaixona. É, eu sei. – Ela riu.

—Certo, e segundo porque quando eu resolver achar alguém pra essa lenga lenga de passar a vida junto eu não a chamarei simplesmente pelo sobrenome. – Brincou fazendo seus olhos desviarem por um breve segundo para o corredor da casa para ver uma Jennifer caminhar em direção aos dois dentro daquele vestido que a deixava ainda mais linda pra ele. Os lábios de Nicholas prontamente se descolaram um do outro deixando uma expressão de encanto surgir em seu rosto. Elisabeth sorriu. Ele engoliu a seco, vendo que os olhos de Jennifer não desviavam dos seus.

—Boa noite, Phillips... – Ela disse despertando-o.

—Boa noite, Jennifer. – Disse levando um sorriso esperto de Lisa. – Ah, Hunan. – Tossiu falsamente. – Ah, você está linda. – Completou.

—Obrigada, você parece menos pior a luz da noite. – Ela alfinetou fazendo-o rir.

—Touché! – Bradou ele. – Vai ter que melhorar muito suas piadas pra resistir aos meus encantos até o fim da noite. – Completou.

—Conta outra, Phillips! – Ela disse caminhando até a porta. – Boa noite, Lisa. – Abraçou a amiga. – Bom encontro... – Sussurrou em seu ouvido recebendo um sorriso contido da amiga.

—Tchau, Lisa. – Cantarolou Nicholas.

—Tchau, bom encontro! – Disse ela.

—Não é um encontro! – Reclamou Jennifer.

—Claro que é, Hunan, essa noite você não me escapa. – Brincou ele recebendo uma gargalhada de Elisabeth que logo em seguida fechou a porta. Encarou o relógio, era a sua vez de se arrumar.

***

Elisabeth estava confortavelmente sentada no carona do carro de Logan. Ao mesmo tempo que se sentia confortável ao lado dele, devido ao extremo carinho e amizade, assim como a confiança, nele depositados, o coração estava apertado. Amedrontado. Sabia que não somente Logan merecia uma chance, mas ela também, e principalmente até. E ao menos era bom saber que ela e Logan tinham uma boa relação, e essa poderia sim crescer a níveis maiores e mais sentimentais. Não deixaria mais de tentar. Ele vivia pedindo por essa chance e ela vivia negando, mas era hora de findar isso.

—Eu espero que goste do restaurante que escolhi. – Logan comentou. – É no La Voile. – Completou fazendo-a sorrir.

—Eu tenho certeza de que vou adorar. – Ela respondeu prontamente. – Mas eu estou vestida adequadamente para o lugar? – Questionou. Logan deixou seus olhos correrem por ela, vendo-a vestida em um longo vestido de tonalidade nude, e sapatos vermelhos nos pés. Ele riu frouxo.

—Ainda me pergunta? Você é a mulher mais linda de toda a Boston, Elisabeth Sullivan, eu é que espero estar à altura para estar ao seu lado. – Logan disse galanteador, fazendo-a corar prontamente. – Falando sério, eu estou muito feliz mesmo por podermos passar esse tempo juntos. – Sorriu.

—Eu também. – Lisa disse carinhosamente. Nesse mesmo momento Logan fez uma curva com o carro dando visão do restaurante bem localizado. As luzes que cercavam o lugar deixavam aquela noite ainda mais encantadora. A lua, além do mais, estava cheia e brilhosa no alto do céu estrelado, e as diversas árvores por ali localizadas, exalavam o cheiro de variadas flores quando a brisa suave batia. Elisabeth encarava tudo com atenção.

—Esse sorriso significa que já comecei acertando? – Brincou Logan enquanto dava a volta no carro para abrir a porta pra ela. Ela não respondeu apenas soltou uma risada que ele acompanhou. Os dois rapidamente caminharam para dentro do lugar. Não demorou muito para serem dirigidos até sua mesa, mas para a surpresa de ambos, principalmente a de Lisa, Theodore e Victoria estavam sentados na mesa ao lado. Quando os olhos de Theodore, que pareciam entediados desviaram um pouco do chão e encontraram os de Lisa foi inevitável deixar que a boca se entreabrisse num ato de choque por vê-la ao lado de Logan. Victoria se virou também, para entender o motivo daquela expressão e logo pôde entender quando seus olhos também cruzaram com os de Elisabeth.

—Olha só que surpresa... – Victoria disse maldosamente. – Não imaginei encontra-los aqui. – Riu. Theodore suspirou antes de umedecer os lábios.

—Stormfield. – Logan o cumprimentou.

—Donovan. – Respondeu Theodore mais seco do que nunca. – Elisabeth... – Falou em seguida recebendo um curto sorriso dela que preferia não encará-lo diretamente.

—Como está Logan? – Perguntou Victoria.

—Maravilhosamente bem, Victoria. – Logan sorriu. – Soube do casamento, meus parabéns aos noivos. – Completou. Victoria sorriu com os olhos em agradecimento.

—E então, não sabia que vocês dois estavam juntos! – Ela disse.

—Victoria, por favor... – Theodore falou entre os dentes.

—Perdão, eu não quis ser invasiva. – Mentiu. Elisabeth sentiu que rolou os olhos por um breve segundo. – Eu e o Theodore não vamos mais atrapalhá-los, sabe estávamos falando sobre o casamento e não podíamos estar mais felizes e ansiosos. Será um prazer tê-los lá. – Disse debochadamente.

—Será um prazer também. – Logan comentou. – Bom jantar pra vocês. – Disse. – Vamos? – Perguntou a Lisa que assentiu deixando seus olhos encararem os de Theodore que pareciam ainda mais conturbados àquela altura, mas logo os desviou, passando por ele e sentindo a mão de Logan segurar com certa propriedade em sua cintura para direcioná-la até sua cadeira. Theodore suspirou. Certamente não achou que esse seria o tal compromisso mencionado por Lisa quando pediu pelo dia de folga, e ele sentia seu corpo arder em raiva por vê-la ao lado de Logan, por mais que soubesse que a culpa disso era unicamente sua. E afinal, ele ao menos entendia os motivos para tanta raiva, ele não entendia exatamente o que seus sentimentos refletiam. Victoria permanecia falando e falando cada vez mais sobre o casamento, e isso depois de o dia inteiro fazendo-o, era sufocante, como se de fato ela quisesse tortura-lo a respeito disso tudo.

—Você falou com o Matthew e o Nicholas? – Perguntou Victoria despertando-o.

—Falei e acho que foi uma ideia ruim, eu não posso excluí-los disso. – Ele respondeu secamente.

—Theodore! – Reclamou Victoria. – E eu quero em cima do altar pessoas que me apoiam de verdade. – Disse.

—Altar? – Perguntou Theodore confuso.

—Claro, o da Igreja. – Explicou ela.

—Não vamos casar na igreja, Victoria. – Ele riu ironicamente. – Sabe que eu já fui casado uma vez, eu não quero uma cerimônia na igreja. – Concluiu.

—E eu nunca fui casada, Theodore! – Rebateu ela.

—Olha só, já chega disso, por favor, eu só quero jantar sem termos que discutir isso de novo. – Reclamou fazendo Victoria suspirar em irritação.

Na mesa ao lado, Elisabeth sentia o desconforto por ter que ver Theo e Victoria ali, juntos, como um casal de noivos aproveitando a primeira aparição pública como futuros senhor e senhora Stormfield. Mas ao menos a presença de Logan ali era aconchegante e tornava o momento mais leve.

—Eu já disse que você está linda? – Perguntou Logan fazendo-a corar antes de rir frouxo.

—Umas duas vezes. – Respondeu.

—Eu não consigo parar de dizer. – Suspirou. – O que está achando do jantar? – Sorriu pra ela carinhosamente.

—Está tudo maravilhoso, eu amei essa lagosta, sério. – Riu.

—Eu sabia que a minha escolha te agradaria! – Se gabou, conseguindo mais uma vez fazê-la sorrir. Era loucura o modo como ele lhe arrancava risadas com facilidade. Apesar da dor toda sentida no dia anterior era bom pensar que ao menos as coisas pareciam caminhar bem agora.

—Eu vou ao toalete. - Lisa disse e Logan apenas assentiu. Caminhou até lá então. Theodore percebendo esperou alguns segundos antes de se levantar.

—Volto em um minuto. – Avisou a Victoria que parecia distraída demais.

—Logan... Então, você e a Lisa estão juntos? – Victoria puxou assunto.

—Na realidade não, mas é o que eu mais quero. – Sorriu.

—Nos conhecemos faz tempo, sei que não é nada difícil pra você conquistar uma mulher. – Comentou maldosamente.

—Tem razão, mas essa mulher é diferente. – Logan riu frouxo.

—Deixa disso, Logan, é óbvio que ela só não está nos seus braços porque você ainda não fez a lição de casa corretamente. – Sorriu.

—Está tentando me ensinar? – Logan franziu o cenho numa careta.

—Estou tentando te ajudar! – Victoria suspirou. – Pense comigo, se realmente está apaixonado devia dizer a ela e beijá-la, e assim ela será sua, eu não tenho dúvidas. – Disse dando uma golada em sua taça de vinho.

—Tudo bem, eu vou fazer do seu modo, e se estiver certa eu te dou uma garrafa desse oitenta e oito. – Falou se referindo ao vinho.

—Combinado. – Victoria ergueu a taça como num brinde.

Enquanto isso Lisa saía do banheiro para dar de cara com um Theodore que parecia mais abatido do que ela costumava se lembrar. Eles se entreolharam da maneira mais intensa e dolorida que podiam, mas Elisabeth rapidamente saiu daquele encanto e começou a caminhar, mas logo ele segurou com delicadeza em seu punho fazendo-a parar e voltar lentamente pra ele.

—Eu sei... – Ele disse quando ela ia começar a falar. – Sei que está decepcionada comigo e tem toda a razão pra estar. – Ele engoliu a seco. – Só queria que soubesse que sinto muito ter magoado você. – Ia dizendo, mas a voz dela cortou a dele.

—Para! – Disse brutamente. – Do que está falando? – Riu irônica. – Eu e você sempre fomos funcionária e patrão, não tem que me explicar nada, porque nunca fomos nada além disso. – A voz dela era grosseira e ele sentia dor ao ouvi-la daquela maneira, algo que nunca havia presenciado.

—Eu sei, é que... – Tentou falar, mas ela logo o cortou de novo.

—Sinto muito, mas o Logan está me esperando... – Agora ele quem a interrompeu.

—Não sabia que ainda continuavam se vendo. – Constatou.

—Não teria motivo algum pra saber... – Elisabeth sussurrou. – Minha vida pessoal e minha vida profissional são coisas distintas, senhor Stormfield. – Completou. Theodore assentiu. Ela começou a caminhar, mas antes de prosseguir resolveu se voltar para ele mais uma vez. – Eu ainda não havia o parabenizado pelo noivado... – Sua voz era fraca, mas seu olhar era firme no dele. – Parabéns, eu... espero que seja muito feliz... – Concluiu voltando a caminhar em direção a sua mesa com Logan. Theodore fechou os olhos expirando todo o ar que continha em seus pulmões agora doloridos devido a respiração descompassada resultada pelo nervosismo que a presença dela lhe impunha.

Quando Lisa, por sua vez chegou a mesa, Logan se pôs de pé e estendeu a mão. – Dança comigo? – Perguntou fazendo-a rir frouxo.

—Claro. – Disse. A música era suave, mas nenhum casal se dispunha a dançar, o que deixava Elisabeth ainda mais envergonhada para o ato. Logan a conduziu até o centro e segurou delicadamente sobre sua cintura, com os olhos azuis focados nos dela. A outra mão logo correu até a dela erguendo-a na posição típica de uma valsa. Theodore retornou ao seu lugar e sentia o estômago embrulhar com aquela cena. Os dois começaram a dar passos leves, onde Logan conduzia.

—Sabe eu sei que propus que nós víssemos aqui como amigos essa noite. – Logan disse sem deixar de encará-la. – Mas toda vez que olho pra você só consigo pensar em como você mexe comigo, Lisa. – Disse. Ela corou, não sabia o que dizer mediante a isso. – Sei que eu ainda não mexo com você da mesma maneira e que talvez isso demore a acontecer, mas eu quero mesmo ter essa chance por isso não posso deixar de pedir. – Suspirou. – Me deixa conquistar seu amor, Elisabeth Sullivan, e prometo que caso eu consiga vou te fazer a mulher mais feliz do mundo, assim como prometo que se eu não conseguir te deixo livre pra ir atrás de quem for capaz de ter seu coração. – Completou. – Apenas me deixe tentar e eu prometo que vou dar tudo de mim, porque me apaixonei por você desde o primeiro momento em que te vi. – Ele sorriu. Elisabeth permanecia em silêncio, pensativa, surpresa. Engoliu a seco e de repente um turbilhão de lembranças a respeito de Theodore surgiu em sua mente, até que alguns segundos depois a cena dele anunciando seu casamento com Victoria apareceu em sua mente lhe causando dor. Ela suspirou, encarou Theodore de longe para vê-lo com um semblante triste encarando-a.

—Eu deixo... – Sussurrou para Logan que sorriu. Ela desviou seus olhos dos de Theodore e encarou os de Logan que pareciam extasiados agora devido a alegria da resposta dela. Ele deixou sua mão correr até o rosto, acariciando-o com todo o cuidado que tinha. Seu polegar suavemente deslizou sobre os lábios grossos de Elisabeth que se permitiu a fechar os olhos com aquele toque. A outra mão dele a envolveu fortemente a cintura com propriedade. Theodore se sentia ofegante encarando aquilo. Quando os lábios de Logan tocaram os de Lisa, Theo sentiu cada nervo, cada músculo, cada osso de seu corpo se enrijecerem e se contorcerem em ciúmes. A respiração era totalmente descompassada, o coração acelerado como se a qualquer momento pudesse sair de seu peito. As mãos trêmulas, buscando algum controle diante da situação. Sabia que Elisabeth não era sua e que nunca seria, mas nunca pensou que teria que vê-la nos braços de outro homem. Victoria sorriu maldosa.

—Vamos embora. – Theodore disse com certa dificuldade, sua voz era rouca, cansada.

—Mas já? – Victoria disse. – Por que não fazemos igual aos pombinhos ali e dançamos um pouco? – Alfinetou.

—Eu preciso sair daqui, não estou mesmo me sentindo bem, por favor. – Disse numa súplica.

—Tudo bem, meu amor. – Victoria disse depositando um leve selinho em seus lábios antes de caminhar para fora do restaurante. Quando o beijo de Lisa e Logan teve seu primeiro momento de interrupção os olhos dela novamente encontraram os de Theodore que parecia totalmente abalado e desestruturado agora. Ele suspirou antes de umedecer os lábios e balançar a cabeça suavemente como se pedisse perdão e desse adeus ao mesmo tempo. Lisa entendeu aquele sinal, mas não retribuiu, apenas deixou seus olhos verem ele indo embora. O beijo havia sido maravilhoso e não podia negar, mas Theodore lotava sua mente de uma maneira que nem o mais encantador beijo conseguia apagar. Ela suspirou antes de encarar Logan novamente. Ele riu frouxo e logo voltou a beijá-la.