Behind Blue Eyes escrita por Two Lovely Girls


Capítulo 18
Chance


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais extenso, mas vale muito a pena, podem confiar!



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Elisabeth estava sentada sobre o sofá dos Stormfield, em uma de suas pernas Annabeth estava sentada recebendo uma traça que Lisa aprendeu com sua mãe, já a outra perna era usada como prédio para Joshua que brincava com seus bonecos. Ao lado dela, praticamente jogado no sofá, Greg lia uns quadrinhos sem compromisso algum. A relação entre os três estava a cada dia melhor, e Elisabeth se orgulhava disso, afinal o início com Gregory parecia uma batalha, e a carência dos mais novos a preocupada, mas ultimamente as coisas estavam finalmente em paz, principalmente depois que ela começou a ajudar o mais velho em sua saga amorosa com a doce Laura.

—Sabe, Greg...- Lisa começou a proferir, chamando a atenção do garoto pra ela. – Eu estava pensando que talvez você deveria trazer a Laura pra um jantar. – Sorriu.

—Isso é careta. – Greg riu em resposta.

—Careta pra você, mas ela pode achar legal e vai ver que você está interessado em apresenta-la pra sua família, isso mostra comprometimento. – Ela explicou terminando de fazer finalmente a trança de Annabeth que sorriu ao se encarar no pequeno espelho em suas mãos.

—Vocês estão namorando? – Perguntou a menina ao irmão que riu pegando-a no colo.

—É, pode-se dizer que sim. – Ele corou fazendo Lisa gargalhar.

—O que é namorar? – Perguntou Joshua curioso.

—Algo que você só vai fazer daqui há muito tempo. – Lisa disse passando a mão por suas bochechas rosadas devido à pouca idade. – Mas e então, o que acha do jantar? – Encarou Gregory.

—Tudo bem, eu vou ligar pra ela e marcar. – Riu frouxo.

—Marca pra amanhã, aposto que seu pai vai gostar, toda a sua família vai vir mesmo pro aniversário da Annabeth, ele vai ver sua atitude como maturidade, vai ser bom pra todos. – Elisabeth deu uma piscadela pro garoto que sorriu em resposta antes de se levantar com o celular já em mãos para fazer a chamada.

—Lisa... – Chamou Annabeth. – Por que as pessoas namoram? – Questionou.

—Ah, as pessoas namoram porque se gostam, se dão bem, tem coisas em comum e gostam da companhia um do outro. – Elisabeth sorriu com sua explicação, levemente orgulhosa de si mesma.

—Então o papai gosta de ficar com a Victoria? – Questionou com olhos inocentes. Elisabeth engoliu a seco.

—Querida, seu pai e a Victoria estão juntos, então acredito que sim. – Respondeu timidamente.

—Entendi. – Annabeth disse pouco empolgada.

—O que você acha de tomarmos um milk shake agora? – Lisa sugeriu e logo Joshua começou a pular de alegria, atitude típica de quando gostava do que lhe era sugerido, e Lisa sempre ria com aquilo.

—Tem que ter muito chocolate! – Vibrou caminhando junto a Annabeth até a cozinha. Lisa ia caminhando atrás deles, mas de repente o telefone tocou fazendo-a parar ali mesmo para atendê-lo.

—Residência dos Stormfield. – Disse formalmente.

—Lisa? – A voz grossa de Theodore a fez se arrepiar quase como num instinto.

—Sim, sou eu. – Respondeu voltando a si.

—Normalmente não é você quem atende o telefone. – Ele riu frouxo fazendo-a sorrir também.

—Acontece. – Riu. – É que estou sozinha com as crianças hoje. – Explicou.

—Sim, eu sei. – Ele falou timidamente. – Eu só queria confirmar sobre mais tarde, você sabe para comprarmos o presente da Annabeth – Disse.

—Claro, está confirmado!  – Ela disse sinceramente fazendo Theodore sorrir do outro lado da linha.

—Então mais tarde eu vou pra casa, tomo um banho e a gente vai, tudo bem? - Ele sorriu.

—Tudo bem. - Ela sorriu também.

—Tchau, Lisa. - Ele disse mais carinhoso do que queria fazendo as bochechas dela corarem.

—Tchau, Theo. – Lisa respondeu quase que num sorriso bobo, mas se conteu e desligou em seguida.

****

Jennifer estava saindo da faculdade. Na mão dois livros pesados e sobre o ombro a bolsa. Na face os óculos de armações grossas enfeitavam um rosto distraído que procurava algo na bolsa, mas sua surpresa foi gigantesca quando seus olhos se desviaram para a porta de saída da instituição e ver um Nicholas Phillips de óculos escuros, jaqueta de couro sobre a blusa polo vermelha despojada e calças jeans apertadas, encostado em um carro também vermelho chamando a atenção de todos que por ali passavam, principalmente das meninas que se impressionavam com sua beleza e provável fortuna. Ele sorriu assim que Jennifer o encarou.

—Hunan! – Chamou ele em alto e bom tom fazendo todos encararem Jennifer minimamente surpresos pela visita de alguém como ele. Ela rolou os olhos e caminhou raivosa em sua direção.

—O que tá fazendo aqui, Phillips? – Perguntou indignada.

—Andei pensando sobre tudo o que aconteceu nas últimas semanas e pra ser sincero...Senti falta do seu sarcasmo irresistível. – Explicou-se fazendo-a franzir o cenho. – To na jogada de novo, Hunan, e pode avisar ao seu amiguinho que vocês não vão muito longe, porque Nicholas Phillips vai vencer isso aqui. – Completou. Jennifer gargalhou fazendo-o ficar extremamente confuso.

—Você é uma piada, Phillips! – Retrucou ela. – Eu já disse que eu e você não vamos ter nada, nunca! – Concluiu.

—Você sabe que tá enganada. – Se gabou antes de sorrir frouxo. Nesse momento Harry veio se aproximando e ainda em sua jogada de interpretação, imaginando que Jennifer gostaria disso, passou o braço em torno de sua cintura e engrossou a voz pra Nicholas.

—Algum problema aqui? – Perguntou prontamente. – Nicholas, não é? – Perguntou ironicamente.

—Harry Trent... – Nicholas estendeu a mão para Harry cumprimenta-lo e este logo o fez. – Problema nenhum, eu e a Jennifer só estávamos batendo um papo. – Sorriu.

—Eu não acho que tenham nada pra falar. – Harry se impôs.

—Não me leve a mal cara, mas você não me assusta. – Nicholas disse se impondo também e logo os dois estavam cara a cara peitando um ao outro, chamando uma atenção desnecessária, fazendo Jennifer se colocar entre os dois rapidamente com medo de que algo maior pudesse acontecer ali.

—Já chega! – Disse irritada. – Harry, pode ir, eu vou só falar com o Phillips e te encontro lá em casa, pode ser? – Sugeriu. Harry a encarou e assentiu prontamente antes de sair caminhando lançando um olhar desafiador para Nick que rolou os olhos. 

—Quem diria que você é o tipo que leva o cara pra sua casa... – Sussurrou Nicholas devidamente incomodado fazendo com que ela se virasse pra ele com olhos raivosos.

—Olha só, já chega! – Jennifer quem se impôs agora. – O que eu faço ou não da minha vida não interessa a você, eu estou feliz com o Harry e eu queria muito que você respeitasse isso. – Mentiu. - Será que pode ser descente e humano uma vez na sua vida? – Questionou. Nicholas mordeu os lábios com essas palavras.

—Quer saber, tudo bem. – Disse. – Odeio admitir que sei ser humano, mas se realmente tá tudo legal com esse cara eu vou sair da jogada de vez, mas se eu souber que acabou, você vai ter que lutar muito pra se livrar de mim, Hunan. – Disse fazendo-a rolar os olhos, quase agradecendo de joelhos a Deus por finalmente ter conseguido colocar algo na cabeça de Nicholas, mesmo que fosse uma grande mentira.

—Obrigada. – Ela disse um tanto sem graça. Ele colocou os óculos sobre a face novamente e adentrou o carro para dar uma partida rápida e bruta. Jennifer ficou ali parada observando o carro se afastar e suspirou. Quando o mesmo sumiu numa curva ela voltou a caminhar na direção da saída.

****

Gregory adentrou seu quarto e logo puxou o telefone do bolso para discar o número de Laura. Ela ao menos tinha atendido e ele já continha um sorriso gigantesco em semblante, coisa típica que Laura causava nele sem esforço algum.

—Oi! – Laura atendeu animada.

—Oi... – Gregory respondeu sem graça, com um riso ainda mais frouxo agora. – Como você está? – Perguntou.

—Ótima, e você? – Sorriu boba.

—Bem também. – Respondeu ele. – Então, eu queria te fazer um pedido. – Disse.

—Não pretende me pedir em casamento né? Começamos a namorar ontem. – Brincou Laura fazendo-o gargalhar junto a ela.

—Casamento ainda não, mas queria saber se você não quer vir para o aniversário da minha irmã pra... conhecer...minha...família. – Disse pausadamente, fazendo Laura gelar do outro lado da linha.

—Conhecer sua família... – Repetiu.

—É, bom, eu conheci seus pais e gostaria que você conhecesse minha família também, mas é claro que se você achar uma ideia péssima não precisa vir, eu não vou me chatear, sério mesmo... – Tagarelou fazendo-a rir frouxo.

—Eu fiquei surpresa... – Disse. – Mas também achei muito fofo. – Completou. Gregory sorriu, pensando que agora Elisabeth seria sua conselheira amorosa oficial, afinal ela até agora estava acertando tudo e ele estava totalmente grato por isso.

—Então você vem? – Perguntou animado.

—Claro, vamos conhecer o clã Stormfield. – Brincou.

—Eles vão adorar você! – Gregory disse numa empolgação fora do comum.

—Eu espero que sim. – Ela corou alegre também.

—Não se preocupe, quando eles conhecerem você como eu conheço e verem como você me faz feliz não vão ter escolhas senão se apaixonar por você. – Sua voz agora saiu séria e apaixonada fazendo Laura rir sem graça do outro lado da linha.

*****

Theodore e Elisabeth caminhavam lado à lado pelo shopping central da cidade. Algumas horas já haviam se passado e os dois podiam se dizer frustrados por ainda não terem encontrado nada que fosse realmente bom para o aniversário de Annabeth. Falaram algumas vezes sobre como essa fase era difícil, afinal ela não era mais uma menininha, mas também não era uma adolescente, longe disso, não se encantava mais tanto assim por bonecas, mas maquiagem quando usada era apenas um batom cor de rosa. Encontrar o presente perfeito estava sendo um desafio, mas nenhum dos dois podia dizer que estavam incomodados por passar esse tempo juntos. Elisabeth sentia o corpo tremer, mas era curioso sentir que já não se sentia mais sem jeito ao lado dele, na verdade era como se o conhecesse há anos agora, mesmo não sabendo nada concreto e real sobre Theodore Stormfield. Os mistérios sobre sua vida ainda existiam e a impediam de entender boa parte de quem ele era, ainda assim quando estavam juntos era como se somente aquele Theodore ali existisse e outro misterioso e amargurado estivesse trancado em um armário escuro de lembranças.

—Eu não pensei que seria tão difícil... – Comentou Theodore antes de rir frouxo.

—Pois é, fases de transição sempre são complicadas. – Elisabeth riu. – Eu me lembro de no meu aniversário de oito anos ter pedido um lagarto. – Brincou.

—Sabe é uma ótima ideia, mas que tal um guaxinim? – Theodore devolveu a brincadeira fazendo-a gargalhar.

—Uma iguana seria mais legal. – Deu uma piscadela. – Espera! – Elisabeth disse fazendo-o franzir o cenho assim que a viu correr em direção a vitrine de uma loja de brinquedos. Na frente da mesma, bem em destaque havia uma enorme casa de bonecas feita de madeira branca bem polida. Nela os compartimentos de cada cômodo eram enfeitados por móveis também de madeira e coloridos, feitos à mão. Era um artesanato belo e delicado que qualquer pessoa amaria ter ainda que apenas para admirá-la. – É perfeita. – Disse num sussurro encantado. Theodore a encarou e sorriu sem ao menos perceber. A simplicidade de Lisa em suas atitudes era algo a se admirar por horas.

—Acha que ela vai gostar? – Perguntou ele.

—Acho que ela vai amar. – Elisabeth sorriu frouxo.

—Então achamos o presente perfeito. – Ele sorriu de volta e a puxou pela mão para dentro da loja. Os dois não demoraram a ser atendidos por uma moça simpática que lhes mostrou todas as possibilidades apresentadas pela casa de bonecas, e Elisabeth fez questão de comprar quatro bonecas para acompanhar a futura brincadeira de Annabeth como presentes seus. – Não precisava ter comprado as bonecas, eu podia comprar. – Avisou ele enquanto os dois saíam da loja.

—Eu também tinha que dar um presente pra ela e pode ter certeza de que eu também vou me aproveitar quando brincarmos. – Ela riu fazendo-o rir também.

—E então, você está com fome? – Theodore a encarou antes de colocar as mãos no bolso.

—Pra ser sincera, morrendo de fome. – Ela reproduziu uma careta.

—Você é mesmo muito intensa, não é? – Brincou Theodore fazendo-a rir. – Que tal jantarmos? – Sugeriu.

—Não... – Elisabeth disse sem jeito. – Eu posso comer algo em casa, não precisa mesmo se incomodar. – Completou.

—Então está dizendo que prefere comer algo feito por você mesma do que experimentar a culinária do melhor gourmet da cidade? – Questionou ele.

—Olha se quer saber o meu sanduíche de queijo com orégano e tomate é uma delícia! – Disse zombeteira como uma defesa.

—Aposto que sim, mas será que já provou o suflê de camarão do Bernardi? – Perguntou.

—Não, e o nome é tentador, confesso. – Ela riu.

—Vamos, Elisabeth, se rejeitar está demitida. – Theodore riu fazendo-a arregalar os olhos. – Brincadeira! – Riu. – Mas eu poderia te demitir. – Concluiu.

—Tem razão, por isso acho melhor eu aceitar, eu preciso de dinheiro! – Ela gargalhou. Os dois logo caminharam em direção ao restaurante situado pouco mais à frente deles. Foram logo recebidos pelo metre que reconheceu prontamente Theodore e o chamou formalmente pelo sobrenome e os encaminhou até a mesa preferida do mesmo. Theodore puxou a cadeira para Lisa se sentar antes mesmo dela o tentar. Ela sorriu com a atitude cavalheira dele, mas se segurou para não deixar as bochechas corarem com isso. Ele em seguida se dirigiu ao seu lugar, bem de frente pra ela. O dono do lugar logo chegou ali para cumprimenta-lo. Os dois pareciam íntimos, e de fato eram.

—Theodore! – O homem rechonchudo e de bochechas coradas abriu os braços no ar.

—Bernardi! – Theodore se levantou e o abraçou fortemente.

—A quanto tempo não me dá o privilégio de sua presença. – Riu o tal Bernardi.

—Sabe como a Stormfield me suga às vezes, mas estava por aqui comprando um presente pro aniversário da Annabeth então fiz questão de passar para comer o seu delicioso... – Ia dizendo, mas logo o amigo o cortou.

—Suflê de camarão. – Disse esperto.

—Você me conhece. – Theodore riu.

—E como, mas não vou mandar somente isso dessa vez, aceite como presente da casa um delicioso ensopado de lagosta e alguns frutos do mar assados ao azeite francês. – Sorriu.

—Como negar a isso? – Brincou Theodore. Elisabeth sorriu vendo a integração dos dois e mais uma vez era como se aquele fosse o único homem existente dentro de Theodore. Era curioso perceber como ele estava mudado desde quando o conheceu.

—Mas e então, quem é a bela moça? – Perguntou Bernardi agora se dirigindo à Elisabeth que sorriu. – Me desculpe pela minha falta de educação, é que Theo é um grande amigo e eu não o via há bastante tempo. – Se desculpou.

—Tudo bem. – Elisabeth riu.

—Bernardi, essa é Elisabeth Sullivan ela é uma amiga e também a babá preferida dos meninos. – Theodore disse. Agora foi impossível não deixar as bochechas corarem com o termo "amiga".

—Sua beleza é inspiradora, Elisabeth. – Bernardi a elogiou antes de depositar um beijo leve em suas mãos.

—Obrigada. – Respondeu ela.

—Bom, agora eu vou voltar pra cozinha e providenciar seu jantar. – Sorriu ele. Theodore assentiu e se sentou novamente.

—O que achou do Bernardi? – Perguntou ele fazendo-a rir.

—Ele é incrivelmente simpático. – Disse. – Onde se conheceram? – Perguntou.

—Ele e meu pai eram melhores amigos na época de faculdade, então cresci correndo por esse restaurante junto com o Matt, e ele sempre nos deixava comer um pouco do suflê de camarão no fim do dia. – Theodore corou antes de rir.

—É um lugar lindo. – Ela olhou ao redor. – Mas eu fico totalmente sem graça, não estou vestida apropriadamente pro lugar. – Comentou encarando seu vestido florido e casaco de moletom. Theodore não respondeu, apenas arrancou do pescoço a gravata que lhe apertava, o relógio e desabotoou as mangas da blusa, puxando-as até a altura do cotovelo, ficando num traje bem menos formal do que o anterior. Elisabeth franziu o cenho.

—Agora somos dois inapropriados e obrigado por isso. – Brincou ele.

****

Harry caminhava ao lado de uma amiga da faculdade. A doce Heather era loira, baixa e tinha belos olhos castanhos escuros. Gostava de sua companhia, afinal sua simpatia era contagiante e ele, às vezes precisava de certa distração.

—Sabe, eu vi o que aconteceu na porta da faculdade... Não sabia que você e a Jennifer estavam juntos... – Disse pausadamente.

—Ah não... – Harry riu. – Somos amigos, eu só estava fingindo porque aquele cara não sai do pé dela. – Explicou.

—Então está com o coração vazio. – Disse Heather nitidamente animada com a resposta dele.

—Não na verdade. – Harry disse sem jeito. – Sabe a Elisabeth? – Perguntou.

—Elisabeth? – Questionou Heather franzindo o cenho.

—É, ela fazia medicina, mas saiu, vivia comigo e com a Jennifer. – Comentou ele.

—Ah, claro. – Heather respondeu ainda confusa. – Mas o que tem ela? – Perguntou.

—Sou apaixonado por ela desde o primeiro dia que a vi. – Harry sorriu frouxo. Heather engoliu a seco ao ouvir isso. Sempre gostou de Harry e nunca havia tido coragem para dizer isso e agora, de certa forma se sentia agradecida por nunca o ter feito, pois a rejeição seria certeira. De repente acordou de seus pensamentos para ver um Harry em transe, encarando fixamente numa direção bem de frente para ambos. Ela deixou seus próprios olhos acompanharem os dele para ver Elisabeth em gargalhadas ao lado de um homem desconhecido pra ela, mas que parecia conseguir manter uma conversa minimamente tentadora com ela. Harry engoliu a seco e sentiu o ciúme lhe tomar quase que por inteiro. O amor de sua vida estava ali, sorrindo ao lado de Theodore Stormfield, brincando e deixando as bochechas corarem como se ele fosse o único capaz de provocar aquilo nela. Os dois pareciam um casal, integrado e apaixonado e isso era torturante pra ele.

—Aquele é o namorado dela? – Perguntou Heather curiosamente.

—Não! – Respondeu Harry prontamente. – É o chefe. – Completou.

—Parecem muito amigos. – Comentou ela.

—Tem razão. – Harry suspirou.

—Sabe, eu não sou a melhor pessoa do mundo para aconselhar, mas se sente mesmo tudo isso por ela talvez devesse falar antes que outra pessoa o faça. – Heather sorriu sinceramente ao dizer isso.

—Acha mesmo? – Harry a encarou.

—Com certeza. – Respondeu ela. Harry sorriu.

—Heather, você tem toda razão. – Harry sorriu. – Vou fazer isso e vou fazer hoje! – A abraçou fazendo-a suspirar em desaponto. – Obrigado. – Pediu.

—Não há de que. – Disse ela quase num sussurro.

***

—Você tinha razão eu precisava provar isso! – Elisabeth disse numa careta logo depois de provar o camarão.

—Eu disse que era divino! – Theodore falou animado. – Você devia me ouvir mais! – Brincou.

—Depois dessa maravilha se você me disser pra pular da ponte de São Francisco eu pulo. – Deu língua pra ele fazendo-o gargalhar também.

—Eu estava mesmo pensando em dizer pra você saltar de paraquedas comigo qualquer dia desses. – Falou fazendo-a arregalar os olhos antes de rir junto a ele.

—Nem se você fosse tão radical. – Deu uma piscadela esperta.

—Não me acha radical? – Theodore arqueou a sobrancelha.

—Eu não sei, você pratica rapel dentro do escritório da Stormfield? – Perguntou espertamente.

—Não! – Theodore respondeu. – Mas faço escalada na sala de reuniões. – Disse fazendo-a gargalhar. – Sabe, mas falando sério agora, eu queria fazer uma viagem com as crianças, somente nós. – Disse.

—Eles vão adorar! – Elisabeth sorriu.

—É, e bom, você acha que poderia ir? – Perguntou pausadamente.

—Ah, o "nós" me inclui? – Ela perguntou confusa e sem graça.

—Ah, é, eu quero dizer, quer saber, depois pensamos nisso, o que acha de tomarmos uma gelatina grega com morangos e creme? – Perguntou encarando o cardápio.

—Acho que vou engordar mais uns dez quilos, mas quem liga quando se tem creme? – Sugeriu.

—Você é tão diferente das mulheres normais. – Comentou Theodore.

—Espero que isso seja uma coisa boa, já que eu sou anormal. – Riu ela fazendo-o rir.

—Ah, é sim, com certeza. – Theodore disse. – Você ama crianças, é simples, inteligente e não se importa com aparências. – Concluiu. – É minimamente encantadora. – Explicou. Elisabeth deixou as bochechas corarem agora.

—Sabe, você também é diferente do que eu imaginava. – Comentou.

—Um diferente bom? – Perguntou.

—Com certeza, quer dizer achei que ia me jogar pra fora do carro quando eu disse que podia me chamar de Lisa. – Corou.

—Dias ruins. – Theodore fez uma careta.

—Não é só isso. – Elisabeth o encarou fielmente. – Você parecia triste e desnorteado, e agora parece tão cheio de vida. – Explicou. Theodore engoliu a seco, queria poder dizer que ela era o motivo de tudo isso, mas era tão errado e tão inesperado que se negava a fazer isso. No entanto sorriu demonstrando que se agradava ao ouvir aquelas palavras vindas dela.

—Os dias têm sido muito melhores. – Theodore riu. – Bom, já está tarde e eu ainda tenho uma reunião com a minha avó. – Bufou. – Vamos? – Questionou.

—Vamos. – Elisabeth sorriu. Os dois caminharam lado a lado até Bernardi e logo o cumprimentaram para em seguida caminharem em silêncio até o carro de Theodore.

***

Naquele mesmo dia mais tarde, Elisabeth se encontrava em seu apartamento. Jennifer saiu para finalizar uns trabalhos da faculdade e ela curtia o que era o resto de seu dia de folga. Pra falar a verdade, ela sentia uma imensa saudade das crianças. Não via aquilo como trabalho, e sim como um hobby. Amava correr atrás de Joshua, amava sentar Annabeth em seu colo enquanto penteava os cabelos da garotinha, e amava quando Greg ficava ao seu lado, fazendo comentários irônicos. Agora então estava extremamente animada e ansiosa para ver a reação de Annabeth ao ver o presente comprado por ela e Theodore, assim como a festa planejada a dedo por sua avó Christina que apesar de amargurada tinha um talento imenso para decorações. Além disso, Gregory também aproveitaria a data para apresentar Laura oficialmente à família e isso também mexia com as borboletas inquilinas de seu estômago.

Com um suspiro, Lisa deu mais uma garfada no pedaço de torta e encarou o filme que estava passando. Logo o som da campainha ecoou, despertando-a. Com uma preguiça enorme, ela se levantou e caminhou lentamente até a porta. Ao abri-la, um enorme sorriso tomou conta do seu rosto. Harry estava ali, parado, com um pote de sorvete.

— Surpresa? — Brincou ele, rindo.

— Eu te amo. — Ela riu ainda mais e o puxou para dentro. Como quem não quer nada, ele caminhou um pouco e acabou se sentando, observando Elisabeth caminhar calmamente até seu encontro. — A que devo a honra da visita?

— Jennifer me avisou que você estava sozinha. — Ele deu de ombros e sorriu. — Não podia perder essa chance.

— Para de graça. — Ela deu uma tapinha em seu ombro e pegou o pote de sorvete, seguindo para a cozinha. Ao voltar, ela observou que Harry ainda a encarava. — O que foi? — Colocando as mãos na cintura ela o encarou brincalhona.

— Você não leva a sério o que eu falo... nunca — Confessou ele, com uma sombra de um sorriso.

— E quando é que você fala sério sobre algo? — Retrucou ela, balançando a cabeça negativamente enquanto se sentava e ria.

— Tudo que eu falo em relação a você é sério, Lisa. — Ele a encarou com seriedade, tirando o sorriso dela. — Eu tenho certeza que você percebeu isso.

Elisabeth sentiu seu corpo gelar e sua cabeça girar por um segundo. Mesmo com todos afirmando o inegável, ela preferia acreditar que era brincadeira de seu amigo. Que ele apenas gostava de provoca-la. Jamais imaginou que um dia ele viesse falar disso com tanta seriedade e intensidade. Ela desejou então que ele sorrisse e fizesse alguma brincadeira como: "você deveria ver sua cara agora, Lisa". Desejou do fundo do coração que ele desse algum sinal de que estava brincando. Porém ele não estava. Ela percebeu isso ao olhar em seus olhos. Ela então lamentou. Lamentou por ele sentir isso por ela, e por ela não ser capaz de sentir o mesmo. Afinal, Harry ela o tipo que namorado ideal que toda mulher procurava. Claro que tinha seus defeitos, mas quem não tem, não é mesmo?! De repente, sua garganta fechou e ela sentiu seus olhos arderem. Ela sabia que depois daquela conversa tudo mudaria. Tudo seria diferente, e era arriscado perder seu amigo pra sempre. Elisabeth se sentiu uma vadia. Uma vadia por não corresponder aos sentimentos dele. Por gostar de um homem comprometido, ao invés de dar uma chance aos caras livres. Porém, outro lado dela sabia que ela tinha que ser sincera com Harry e dar um basta. Ela nunca o amaria desse jeito, e enganá-lo, ou tentar dar uma chance só iria piorar tudo.

— Lisa? — ele a despertou.

Piscou algumas vezes e respirou fundo.

— Harry... — começou ela, porém ele a interrompeu.

— Me deixe pelo menos falar o que eu sinto, Elisabeth. Por favor. — suplicou ele, a olhando seriamente. Ela engoliu seco. — Eu sou apaixonado por você, tá legal? Não sei como isso começou. Talvez na primeira vez que te vi e você me lançou esse... esse sorriso que você insiste em dar toda vez que fala comigo. — ele bufou, passando as mãos no cabelo nervosamente. — Eu sei que corro um risco enorme de ser rejeitado. Porém é melhor ter a certeza do não do que viver com o "se" rondando em minha mente. Eu sei que você não é burra, e percebeu o que eu sinto. Eu sei que você me ama, e sei que não é esse tipo de amor. Mas eu te peço que me dê a chance de tentar te fazer sentir esse amor também. Só... uma chance tá legal?! O que você acha?

Novamente Elisabeth se encontrava sem reação. Qualquer outra mulher choraria tendo escutado uma declaração dessas, porém ela sentia medo. Não queria que isso estivesse acontecendo. A coisa que ela mais odiava era machucar alguém. Ferir os sentimentos das pessoas. Não sendo mais capaz de segurar, ela chorou. Os soluços surgiram em seguida. Com vergonha, ela escondeu o rosto entre as mãos e se encolheu quando sentiu as mãos dele voarem em sua direção.

— Lisa? O que foi? — interrogou ele, preocupado. — Eu falei algo errado?

— Você não é o errado, Harry. — murmurou ela, entre os soluços. — Eu só... Eu só não posso te dar falsas esperanças. — ela fungou e então o encarou, sem se importar com seu estado.

No começo, ele a olhou com duvida e então seus olhos perderam foco e um sorriso frio tomou conta, fazendo com que o coração dela de apertasse.

— Você nunca vai me amar desse jeito, não é? — ele a encarou e ela não foi capaz de conter outro soluço.

— Não, Harry. Eu sinto muito. Eu juro.

Seus ombros tremiam com o choro enquanto ele a encarava sem falar ou fazer nada. Nos seus olhos só havia dor e ela sabia que sua amizade com ele estava perdida. Com um suspiro, ele levantou e alisou a calça.

— Eu já vou indo, Lisa.

— Harry...

— Eu estou bem, Lisa. Sério. — afirmou ele, evitando olhá-la. — Eu só preciso de um... tempo.

— Harry, por favor...

Sem esperar, ele andou apressado e saiu pela porta, ignorando completamente os chamados dela. Ao ver a porta se fechar, ela deitou no sofá e novamente cobriu as mãos com o rosto. Aos poucos, ela percebia a bagunça que sua vida estava se tornando, percebeu que não sabia o que fazer para arrumar tudo.

****

Georgia Stormfield, com sua costumeira elegância e prepotência trajava um belo vestido preto de mangas longas enquanto aguardava por Theodore no sofá de sua casa. O olhar como de costume estava carregado de desdém, como se dissesse a si mesma que tudo ali poderia estar melhor com um único e simples toque de sua personalidade majestosa. Só ela sabia do amor que nutria por Theo desde o primeiro momento em que pôs os olhos nele. Primeiramente pelo motivo óbvio dele ter sido seu primeiro neto – apesar de ser filho de Christina, e em segundo lugar e pra ela nada menos importante porque ele tinha tudo pra ser o herdeiro ideal da Stormfield. Ela sabia que poderia descansar em paz quando seu momento chegasse caso tudo estivesse nas mãos do neto primogênito. Theodore tinha talento com os negócios e era um exímio advogado, nada o pararia quando a empresa estivesse finalmente e totalmente em suas mãos, pelo menos era isso que Geórgia imaginava até receber o recado do neto.

"De: TheodoreStormfield

Para: GStormfield

Vou me atrasar alguns minutos, vovó. Vim com a Elisabeth comprar o presente da Annabeth e resolvemos jantar. Me espere. Theo."

Elisabeth Sullivan. Uma jovem aparentemente sem muitas ambições. Classe? Nenhuma. Apenas uma babá, uma jovem e bela babá lotada do simplório jeito de garota de cidade pequena, mas simplesmente perigosa atrás daqueles olhos azuis. Geórgia não podia deixar de notar que desde que a garota aparecera na vida dos Stormfield tudo parecia desandar, principalmente a atenção de Theodore ao trabalho e a dedicação ao mesmo. Ele estava sempre desatento, como há anos atrás. Ela não poderia permitir que isso se repetisse. Ele era seu herdeiro, seu precioso Theodore. Odiava admitir, mas era o momento certo para deixar a ambição da detestável Victoria entrar na jogada. Geórgia tinha o dom de detestar todas as mulheres que se aproximavam de seu neto, mas Victoria era gananciosa e isso se podia ver em seus olhos. Talvez fosse a mulher ideal para estar ao lado do neto, já que ele aparentemente precisava ficar com alguma. Assumiria então uma posição a partir de agora. Quando a porta se abriu dando lugar a um Theodore mais sorridente do que o normal, Geórgia permitiu-se tirar do rosto os óculos de grau e o encarou com os lábios cerrados que formavam uma linha reta sobre o rosto.

—Me desculpe pelo atraso. – Ele disse ainda sorrindo.

—Você não é o tipo de homem que se atrasada, Theodore. – Sua avó alfinetou antes de sorrir curtamente.

—Não queria fazê-la esperar, mas acabamos perdendo a hora e.... – Ele ia falando, mas logo a voz impotente da mulher cortou a sua sem medo algum.

—O que deu em você? – Perguntou quase incrédula. – Jantando com a babá? – Riu irônica. Theodore engoliu a seco com aquilo. Uma discussão com a avó estava totalmente distante de seus planos atuais, principalmente depois da noite divertida que passara ao lado de Lisa.

—Somos amigos. – Se defendeu. – Ela é uma jovem interessante e inteligente, simples e eu gosto de estar ao lado dela... – Mais uma vez a voz de Geórgia surgiu ali interrompendo suas explicações.

—Ora Theodore, deixe de besteira! – Retrucou. – Eu já ouvi esse discurso antes há anos atrás e sei muito bem onde isso vai chegar: No mesmo ponto que a Summer. – Completou.

—Isso não tem nada a ver com a Summer! – Rebateu ele.

—Você sempre teve fascínio por moças simples e vazias de ambições, mas se bem me lembro isso quase te levou à ruína uma vez. Quer mesmo ir por esse caminho de novo? – Perguntou.

—Eu não estou indo por caminho nenhum, foi só um jantar, estamos nos conhecendo melhor. – Explicou.

—Será que não percebe que está caindo no mesmo erro? – Geórgia disse incrédula. – É isso que quer pra sua vida de novo? – Questionou.

—Bom e se for? – Theodore disse irritado.

—Você vai herdar a Stormfield integralmente, Theodore. – Ela se aproximou deixando seus olhos focarem nos dele. – A simplicidade dela não vai suportar, e você sabe bem disso, sabe que está repetindo a história. – Sorriu suavemente. Theodore suspirou. Sabia que em partes tudo isso lhe remetia realmente a seu relacionamento com a falecida esposa e isso era totalmente pavoroso. – Quer mesmo entrar em mais uma história de final óbvio, colocando tudo a perder? Me diga, Theodore, quer envolver de novo seus filhos numa teia de sofrimento e rancor? – Concluiu. Ele engoliu a seco. Não sabia o que dizer.

—O que espera de mim? – Perguntou.

—Racionalidade. – Ela respondeu pontualmente. – Victoria. – Acrescentou.

—Victoria? – Ele riu irônico. – Você nunca gostou dela. – Completou.

—E nem você, mas isso não te impediu, não é mesmo? – Sorriu espertamente. – Theodore, meu querido, sabe que eu te amo. Eu não faria nada para o seu mal, sei que tudo o que precisa agora é de um relacionamento estável e pensante, como o que tem com a Victoria. – Disse.

—Será que só isso importa? – Ele a encarou.

—A vida não é um conto de fadas, Theo, você sabe disso! Já provou o gosto mais amargo dela! – Explicou. – Até quando vai se deixar levar pelas emoções? Você sabe muito bem como a Summer morreu! – Completou. A facada final. Theodore não conseguia evitar a dor que lotava seu peito com aquelas palavras grosseiras de sua avó, porque por mais ruins que elas pudessem ser estavam carregadas de verdades que até hoje o torturavam todas as noites e todos os dias de sua vida. – Eu não vou admitir que faça isso com sua família e com você mesmo novamente! – Geórgia se pôs de pé. – Você é um Stormfield, precisa agir como um. Tem uma mulher maravilhosa e cheia de classe ao seu lado, então por favor, Theodore, esqueça a babá e faça o que deve ser feito antes que ganhe um novo fantasma. – Concluiu agora caminhando porta à fora sem ao menos conferir o estado em que deixara o neto após aquelas palavras. Theodore encarou o vazio e não demorou muito para que o mesmo fantasma citado pela avó fizesse seus olhos se encherem de lágrimas rancorosas e doloridas. Estava rendido, de novo, como antes, mas agora ainda mais amedrontado. Era como se tudo aquilo estivesse voltando em sua mente e lhe torturando com uma imensa capacidade de deixa-lo fraco e consciente dos erros por ele cometido. Não era justo fazer isso de novo. Gregory, Annabeth e Joshua não mereceriam passar por isso de novo. Ele não merecia. Elisabeth também não. Estava decidido, mais que decidido, estava fadado e consumado. Faria a coisa certa dessa vez, pra ele e para todos. A racionalidade era uma dádiva que merecia sua atenção depois de tudo o que acontecera em sua vida. Secou as lágrimas que lhe tomavam e se colocou de pé. O celular logo estava em mãos discando um número conhecido para ele.

—Alô. – Disse numa voz fraca. – É da joalheria Von Uckerman? – Perguntou


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Notas finais do capítulo

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