Shikon no Tama escrita por Misu Inuki


Capítulo 3
Segredos


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novo!*--*
Esse até que foi bem levinho e divertidinho comparado aos outros.
Foi bem legal escrever ele, espero do fundo do coração que vocês gostem!
Boa leitura!



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Eles fizeram o pequeno trajeto de volta à casa em silêncio.
Com um dos braços sobre os ombros da garota, Inuyasha a trazia para perto, mesmo que isso dificultasse a caminhada. Queria protegê-la do frio da noite, e de alguma maneira confortá-la da solidão que nem ela mesmo sabia que sentia.
Pela primeira vez Inuyasha percebeu que não era o único que sofreu com a morte da Kikyo.
Antes mesmo de conhecê-lo, Kikyo era filha, neta e irmã de alguém. Pessoas que a viram crescer, que conviveram todos os dias de sua vida com ela. Quantos segredos, sonhos e medos Kikyo e Kagome compartilharam? Quantas lágrimas e risadas. Inúmeros momentos que nunca mais iriam se repetir. Kikyo não desceria do quarto para tomar a sopa da Kagome, não estaria ali para brigar com a irmã mais nova por sair na chuva à noite. Ela não apareceria pela pesada e rangenta porta da casa da Kaede, nem naquela madrugada nem em nenhuma outra. E perceber isso vez com que a sensação de vazio no peito de Inuyasha pesasse em dobro ao cruzar o batente com a trêmula jovem em seus braços. A sua dor e a dela, pois agora ele finalmente compreendia.
E iria ajudá-la como pudesse. Começou indo até o sofá que estivera deitado, e pegou uma das grossas e puídas mangas que Kaede lhe emprestou, e colocou sob os ombros molhados de Kagome. Ela agradeceu com um aceno, e perguntou timidamente se ele queria um chá.
Inuyasha aceitou prontamente. Precisava da confiança da garota, para entender de uma vez o que estava acontecendo. Kaede era muito ligada à crendices populares, ao contrário da mente pratica do rapaz.
Seria mentira dizer que ele não ficou com um pouco de receio da Kagome girar a cabeça em 180* graus e escalar pelas paredes, depois de todo aquele papo da velhota sobre possessão ou sei lá o que.
Mas não foi necessário chamar um padre ou monge naquela noite.
Kagome pegou a amassada chaleira de metal encheu de água e folhas e colocou no fogo.
Sem assombrações ou outros sustos.
Ela ainda estava um pouco aérea, mas como nunca conviveu com a irmã da ex-noiva, não saberia dizer se isso era ou não de sua personalidade.
Kagome serviu as duas xícaras, se sentando enrolada no edredom como um filhote de gato.
Ela segurou sua xícara com as duas mãos, o calor do chá fumegante aquecendo os dedos gelados.
Inuyasha não sabia o que dizer, e o silêncio o estava incomodando muito mais que a semelhança da garota com Kikyo. Sim, pois estando naquela cozinha mal iluminada, com franja mais escura e lisa por conta da chuva, cobrindo sua testa, e o olhar perdido, pensativo, o fez entender o porque que tantas pessoas perguntavam se elas eram gêmeas. Mas ele estava inteiramente ciente de que era Kagome sentada na outra ponta da mesa. Uma desconhecida, e apesar de por pouco não terem se tornado parentes, Inuyasha não sabia absolutamente nada sobre ela. Sim, Kikyo tinha comentado alguma coisa aqui ou ali sobre a irmã, mas para sua vergonha, ele nunca tinha dado a menor atenção. Como futuro marido, deveria estar inteirado dos assuntos delicados da família da mulher. Mas por mais que se esforçasse, não conseguia lembra de Kikyo falando qualquer coisa reverente algum distúrbio mental da irmã. Por mais distraído que fosse, ele prestaria atenção em algo tão sério. Afinal vinha de uma família ligada à medicina.

–O chá vai esfriar...

Inuyasha olhou para frente desperto do devaneio e viu a jovem o encarando.
Ele tomou um gole automaticamente sem nem mesmo sentir o gosto.
Poderia ser chá verde ou só água quente, que ele não teria percebido a diferença.

– Desculpa, mas só tem chá aqui na casa da vovó. Ela diz que café estraga o estômago. -Kagome riu um pouco, um riso quebrado e curto, mas o suficiente para dar um pouco de vida ao seu rosto pálido.

Inuyasha quase sorriu junto, mas um detalhe o fez parar com a xícara no meio do caminho até a boca.

–Como sabe que eu não gosto de chá? E que prefiro café?

Inuyasha quase arrependeu em deixar sua curiosidade falar mais alto, ao ver a jovem desviar o olhar visivelmente constrangida.

–A Kikyo comentou uma vez...- ela respondeu baixo.

"É claro. Elas eram irmãs, contavam tudo uma para outra, seu burro" -Inuyasha pensou.

–Sua avó tem razão.-ele comentou depois de alguns constrangedores minutos de silêncio- Café ferra com nosso estômago, mas eu prefiro ter uma gastrite e ser feliz, do que uma vida saudável e ficar rabugento o dia inteiro.

Kagome riu e Inuyasha terminou de tomar sua "água quente" satisfeito por ter quebrado o clima ruim.

–Isso é verdade. Se me deixarem sem café acho que viro um daqueles zumbis de seriado e me arrasto atrás da cafeteria mais próxima.

Ela esticou as duas mãos para frente como um morto-vivo para ilustrar a cena conseguindo arrancar uma risada dos dois com a péssima imitação.

–Vou te falar uma coisa. -Inuyasha se inclinou na mesa como se fosse contar um segredo e garota chegou mais perto para ouvir- As pessoas acham que o apocalipse vai ter chuva de meteoros, ou zumbi, alienígena até já ouvi que as baratas vão se juntar com os gatos e vão dominar o mundo. Mas para mim, a terceira guerra mundial que vai ferra todo mundo vai ser por causa de café.

–Fala sério! -Kagome riu- É claro que o apocalipse vai ser a dominação mundial dos gatos!

–Se eu fosse você, já estocava umas sacas de grãos de café nos fundos da casa. -o rapaz cruzou os braços- Viciados como você e eu seremos os primeiros a cair.

–Não. Hereges como VOCÊ vão ser os primeiros a cair. -ela apontou o dedo teatralmente- Eu tenho meu trono garantido depois que Buyo assumir como senador da dinastia Meowistca. Serem recompensada depois de tantos anos dando amor, carinho e muita ração da cara.

–Põe ração nisso. -Inuyasha riu ao se lembrar do bichano gorducho da casa dos Higurashi-Aquele gato é tão obeso que mal consegue andar!

–Não fala assim do meu bebê! Ele só tem ossos largos e...

Ela parou de repente e ficou encarando o nada.

–O que foi? -Inuyasha perguntou preocupado.

–É que há muito tempo eu não vejo o Buyo. Mas... Eu não faço ideia o porque.

Inuyasha teve vontade de morder a língua.
Só depois dela ter comentado que ele se lembrou do que aconteceu com o gato gordo. Ele morreu enquanto dormia em cima da tigela de ração há pelo menos uns três anos. Estava enterrado numa caixa de sapatos nos fundos da casa.
A prova da estranha aminésia de Kagome mais uma vez diante dos seus olhos.

–Faz tanto tempo que eu não vou na casa da minha mãe também...-a garota suspirou abraçando suas próprias pernas, e apoiando a cabeça nos joelhos.

Inuyasha quis perguntar o porque, mas se conteve. Conhecia a Senhora Higurashi.
Era uma mulher amável e gentil. Tinha ficado viúva muito jovem e criou os três filhos praticamente sozinha. Não conseguia entender a razão de Kagome passando por tantos problemas, estar na casa da avó materna. Kaede era durona, mais ativa que muitos adolescentes. O showzinho com a história do remédio, mostrava o quanto a "velha" estava lúcida. Ao ponto até de passar a perna na neta. Então, Inuyasha pensava, esse não era o motivo para Kagome estar ali. Muitas coisas estranhas aconteceram naquela família nos últimos anos, mas por hora, decidiu que não valia a pena apressar as coisas. Descobriria mais cedo ou mais tarde de qualquer jeito.

–Agora o seu chá que vai esfriar.-Inuyasha comentou suavizando o clima pesado.- Essa água verde já é ruim quente, fria então deve ser pior que beber água daquele poço velho lá fora.

Kagome riu e pegou a xícara em cima da mesa. Terminou o conteúdo num longo gole.
Ela fez menção de se levantar para levar os copos para pia, mas Inuyasha delicadamente segurou seu braço sobre a manta.

–Deixa comigo. - e sem esperar que ela concordasse ele pegou as xícaras com uma só mão e foi cuidar da louça.

Kaede era muito organizada, apesar da casa estar cheia de bugigangas que todos os velhos adoram colecionar, foi fácil encontrar o que precisava.

–Obrigada.- ele achou que ouviu uma voz tímida além do som da torneira aberta.

Inuyasha olhou por cima dos ombros mas Kagome não estava mais ali.
Aliás ele estava completamente sozinho na pequena cozinha da Kaede.
Apenas a cadeira fora do lugar e as xícaras ensaboadas em sua mão indicavam que Kagome estivera ali.
Não tinha percebido que ela tinha saído, tão rápido e silenciosamente que fora.
Virou-se para terminar de uma vez com sua tarefa.
De certo aquela conversa maluca com a Kaede, sobre fantasmas e possessões o tinha deixado mais impressionado do que deveria.
Sem se preocupar em ser silencioso, ele deixou as xícaras limpas na primeira superfície plana que encontrou e voltou para sala sem olhar para trás.
O sofá-cama estava do jeito que tinha deixado, com exceção da manta que tinha emprestado para Kagome. Deitou-se de braços cruzados. A casa era antiga, e por mais que estivesse toda fechada, o frio do lado de fora acabava entrando. Mas Inuyasha estava tão cansado com os eventos inesperados daquele longo dia, que mal encostou no travesseiro e já estava dormindo.

"-Isso é ridículo!

A garota colocou as duas mãos na cintura visivelmente indignada. Seus cabelos escuros caiam pelas suas costas, como uma longa cortina de seda negra, e balançavam ao menor movimento. Mesmo a irritação, que lhe fazia franzir as sobrancelhas e lhe coloriam as bochechas com um tom rosado, era incapaz de tirar lhe a beleza. Inuyasha podia esquecer do mundo e ficar admirando seus traços por vários minutos a fio. E obviamente isso não passava desapercebido por Kikyo.

–Você ouviu uma palavra que eu disse?- Seus olhos castanhos lhe encaravam acusadores.

Fora pego.

–Alguma coisa sobre gatos? -Inuyasha chutou, depois de dar uma rápida olhada pela vitrine do pet shop que estavam parado em frente.

–Não, Inuyasha! -a garota suspirou.- Você vive no mundo da lua, é pior que o Souta quando está jogando vídeo game.

Isso era meio injusto. O irmão caçula dela era tão fissurado por games que deixaria de comer para ficar na frente da tela. E Inuyasha nunca dispensava comida. Aliás, achava isso um sacrilégio.

–Eu estava falando disso.-Ela apontou para decoração de natal espalhadas pela larga vitrine espalhadas entre os diferentes filhotes de gatos e cachorro. -Eles agem como se esse pobres bichinhos fosse brinquedos.

–Isso não é... Normal? -Inuyasha tentou entender o que tinha de errado nos guizos e azevinhos.- Todas as lojas estão decorando com temas natalinos para aumentar as vendas.

–Não vê? É exatamente esse o problema. -Ela suspirou mais uma vez olhando para o vidro- as pessoas compram esses filhotinhos como um presente fofo para uma criança. Se esquecem de que ele vai crescer e que precisa de cuidados. Ter um animal de estimação requer muita responsabilidade e dinheiro para veterinário e uma ração de qualidade. Por isso que temos tantos animais abandonados por aí. Parece meio óbvio, mas ao vê-los tão enfeitadinhos na vitrine as pessoas se esquecem que eles não são um brinquedo.

A garota estava visivelmente triste. Esse assunto a deixara preocupada. Inuyasha não sabia que Kikyo se importava tanto com animais, e isso o deixara comovido. Sempre descobria uma caraterística nova na jovem que o deixava cada vez mais admirado.

–Ei. -Ele passou o braço por cima de seus ombros, confortador.- Pense pelo lado positivo. Muitos desses bichinhos vão parar em casas onde vão ser bem cuidados e amados. Pode até ser que um deles, tenha a sorte de parar numa casa onde a dona mime tanto ele que ele se tornará uma bola de pêlos, obeso mais feliz.

–O Buyo não é obeso, Inuyasha -Kikyo riu abertamente, um som maravilhoso por trás das fileiras de dentes perolados. -Tem apenas ossos largos demais para a espécie.

–Sei... Aquele saco gigante de ração que eu vi aquele dia quando fomos terminar o trabalho do colégio era enfeite? Quase 15 quilos para um gatinho só. Deve ser sabor alface.

Kikyo riu, mas deu dois tapinhas no braço do Inuyasha em protesto.
O garoto riu, e os dois continuaram a caminhar.
Kikyo pareceu não se importar com o fato de um dos braços de Inuyasha ainda estar sobre seus ombros, muito pelo contrário. Pois Inuyasha percebeu que um de seus braços, timidamente segurou-o pela cintura. Andando assim, meio abraçados contra o vento frio de final de novembro.

–Pensa pelo lado positivo, Inuyasha.- Kikyo comentou depois de um tempo.

–E qual seria? - Inuyasha respondeu, se esforçando para se concentrar na conversa, e não nos belos e divertidos olhos castanhos que o encaravam.

–Mimar o Buyo me dá uma posição privilegiada na dominação mundial feita pelos gatos.

Inuyasha começou a rir. Por essa ele definitivamente não esperava da quase sempre séria Kikyo. Mas os últimos dias que passaram juntos tinha sido uma caixinha de surpresas. Cada dia uma nova descoberta. Cada dia se via mais encantado pela jovem amiga de colégio.

–Achei que tinha ouvido que as baratas que iriam dominar o mundo. -ele comentou entrando na brincadeira.

–Isso é o que os gatos querem que todo mundo pense. Assim desviam a atenção do inimigo.

–Os gatos e as baratas são aliados? -Inuyasha riu, fingindo uma falsa preocupação- Não há esperança então?

–Há sim.-Ela sussurrou em seu ouvido como se realmente contasse um segredo que salvaria a humanidade. -É só escolher desde de cedo o lado vencedor dessa guerra.

–Okay. Prometo parar de implicar com o Buyo. Levo até um brinquedo perfeito para ele assim que a gente voltar.

Kikyo riu, e apoiou a cabeça em seu ombro.

–Acho bom para você. E que brinquedo seria?

–Aquelas esteiras que se pendura um pedaço de frango na frente. Acho que ele fica o dia inteiro correndo. Capaz até de entrar pro Guiness!

Kikyo bateu em seu braço novamente, arrancando lhe uma risada.

–Vai rindo Inuyasha. -Ela apontou para o nariz dele como se falasse uma profecia. -Hereges como você vão ser os primeiros a cair.

Ainda rindo, eles voltaram para onde o resto do grupo estava esperando."


Inuyasha acordou na manhã seguinte assim que os raios de sol entraram pela janela.
A chuva tinha finalmente parado, e o sol brilhava alto se esforçando para dissipar as nuvens escuras.
O rapaz esfregou os olhos com as mãos. Aos poucos a realidade chegava em sua mente desperta. Estava deitado num velho e barulhento sofá-cama, olhando para o teto amarelado da casa da Kaede. Tudo aquilo não passava de um sonho. Não, se tivesse sido apenas cenas aleatórias criadas pela sua mente teria sido bem menos doloroso. Aquele sonho era uma lembrança distante, da mesma época da foto em sua carteira. Lembranças tão claras, que perceber que estava ali sozinho, tantos anos depois era como levar um soco na boca do estômago. Sentia tanta falta daquela risada. Sentia tanta falta da época em que eram jovens despreocupados. Mas ele não podia continuar deitado se lamentando. Tinha muitos assuntos pendentes para resolver, e quanto antes terminasse, mas rápido podia sair desse lugar tão cheio de lembranças dolorosas.
Inuyasha se levantou e só então percebeu o porque que dormira tão profundamente naquela noite. Um grosso cobertor cor de rosa tinha sido delicadamente colocado sobre ele, tanto que nem ao menos percebera quando o fizera. Mas o suave perfume de jasmins denunciava o feito.

Kagome... A razão pelo o qual ele continuava naquela casa. Com tantos problemas lhe assombrando, e ela ainda se preocupava com ele.

Cuidadosamente, ele arrumou o sofá-cama de volta a posição original, arrumou as almofadas e dobrou os lençóis, em especial o cor de rosa, colocando-o sobre a pilha de roupas de cama.
O seu moletom vermelho ainda estava meio molhado do dia anterior, mas como tinha deixado todas as suas outras roupas no hotel, vestiu-o mesmo assim. Teria de voltar lá o mais rápido o possível e também tinha de ligar para Sesshoumaru. O meio irmão já sabia que ele estava na cidade, mas Inuyasha não teve a menor vontade de pegar o celular. Sabia que do jeito que Sesshoumaru era, absolutamente frio e irredutível, era capaz de aparecer na porta da Kaede assim que ele desligasse o telefone, e arrastá-lo pelas orelhas até a casa do Myoga.
Que Sesshoumaru esperasse sem notícias então, decidiu.

"Vai até ser bom para diminuir o ego dele. Sesshoumaru precisa aprender que o mundo não gira envolta do seu umbigo." Inuyasha pensou, enquanto guardava o celular de volta no bolso da calça.

O cheiro de café fresco o atraiu até a cozinha como um imã. E como esperava, não era a idosa que estava despejando com cuidado água fervente sobre o coador. Esperou até a garota colocar a chaleira na pia para se aproximar.

–Cuidado!- ele balançou seus ombros e a garota deu um pulo de susto.

Kagome se virou irritada, e começou a bater nele com a colher que segurava.

–Que susto! Achei que era minha avó, seu sem graça!

Inuyasha riu, e pegou um pano na pia para limpar o casaco de pó de café.

–A culpa não é minha se você está aí traficando às escondidas café. Por falar nisso, quero minha parte para permanecer calado sobre isso.

Kagome olhou desconfiada por instante, depois esticou a mão para "selarem o acordo".

–Metade, metade?

–Não é justo. Eu sou bem maior que você.-Inuyasha protestou.

–Isso, ou eu jogo tudo fora e você vai ter que tomar chá verde de novo.

Inuyasha rolou os olhos teatralmente.

–Feito!- ele segurou sua mão concordando.

A intenção era um aceno curto, profissional, como pedia o tom da brincadeira. Mas a delicada palma sobre a dele, os dedos finos e macios envolvendo sua mão eram como uma prisão impossível de se separar. Era como se fosse um ímãs opostos, se atraindo inevitavelmente. A mão pequena encaixava perfeitamente na sua como se fosse natural. Como se devesse ser assim. E se a garota não tivesse puxado e preso firmemente os braços contra o peito, ele poderia ter ficado assim para sempre.

–Então- Inuyasha pigarreou alto para limpar a garganta e os pensamentos estranhos- onde que você esconde a "mercadoria" da Kaede?

Inuyasha apontou para o pequeno pote fechado de café em cima da pia.
Kagome piscou algumas vezes antes de responder ainda de braços cruzados.

–Lá no poço velho. Tem umas madeiras soltas, e eu escondo por lá.

–Seu segredo está a salvo comigo. Mas acho que é melhor a gente terminar com isso antes que a velha acorde.

Kagome concordou e dividiu o conteúdo entre duas xícaras fundas. Enquanto ela colocava algumas colheradas de açúcar no que seria seu copo, Inuyasha percebeu que suas mãos tremiam. Então aquele bizarro aperto de mão, não tinha afetado só a ele afinal.

Eles terminaram de beber rapidamente, o líquido quente demais lhe queimava a língua, mas ele não queria causar problemas para a garota, começando a limpar a pequena bagunça assim que deu o último gole. Mas sua mente estava fora dali. Tentava entender a estranha sensação de minutos atrás. Na noite anterior, tinha abraçado a menina, e não tinha se sentindo alterado.
Talvez, concluiu depois que terminaram de organizar tudo e levavam a pequena bolsa com o coador e o pote de pó de café para o jardim, isso seja consequência do sonho.
É claro, pensava, que ter sonhado com a Kikyo mais nova e despreocupada o fez ficar impressionado. Ele projetara suas lembranças na Kagome, decidiu por fim.

A garota olhou para os dois lados, e como uma criminosa preocupada, tirou uma das madeiras na parte de cima do poço quadrado. A bolsa era pequena, e o pote era retangular encaixando perfeitamente no minúsculo espaço entre as ripas. Então com o cuidado de um perito, ela colocou a madeira de volta, de forma que mesmo que se olhasse de perto jamais se descobriria que tinha algo ali.

–Não acha que está sendo um pouco dramática?- Inuyasha comentou enquanto a menina verificava por todos os ângulos se tinha colocado a tábua no lugar certo.

–Se conhecesse minha avó direito, saberia que não estou exagerando.- A garota limpou as poeira das mãos na saia, satisfeita com o resultado. -Ficaria de castigo por pelo menos uns quinhentos anos.

Inuyasha riu e a garota colocou os dos braços na cintura.

–Vai rindo. Se ela descobre que você é meu cúmplice no crime, é capaz de te dar uma flechada no peito e te prender numa árvore até criar raízes. Ficaremos para sempre presos e sem café.

–Então aquele arco e flecha pendurado na parede da sala, não é apenas de enfeite?-O garoto perguntou se sentando em cima do poço.

–Não. -Kagome se sentou ao lado dele, na madeira que não estava solta.- Ela foi uma exímia arqueira na juventude. Ganhou prêmios e tudo mais.

–Uau.-Inuyasha assobiou- Me lembre de não irritar a velha.

–Que tal começando a parar de chamar ela de velha? -Kagome sugeriu.

–Não me pede algo impossível. Eu chamo até minha falecida mãezinha de velha.

–É verdade. Você é um caso perdido.-Kagome suspirou- Porque fui confiar meu segredo mais secreto a alguém como você?

–Ei! Eu sei muito bem manter o bico fechado. Você pode confiar em mim, mesmo não sendo uma poço de educação. -Inuyasha apontou para onde estavam sentados.-Entendeu a piada? Poço e estamos num poço...?

–Sim e foi a pior coisa que eu já ouvi. -Mesmo assim Kagome riu. -Inuyasha, é melhor você continuar nos esportes por que se resolver virar comediante, você vai morrer de fome!

–Pelo menos eu tento, senhorita sem graça.

–Não, está não! Isso sim é uma uma piada ruim. -Kagome se ajeitou como se preparasse para dar um discurso importante.- O qual é a internet preferida dos ursos?

–Não sei.

– A panda larga.-A garota respondeu fazendo sinal de aspas nos dedos.

Inuyasha resolveu entrar na brincadeira. O que pouca gente sabia que ele fazia parte daquele seleto grupo de pessoas que riem de piadas idiotas do tipo "porque a galinha atravessou a rua". Aquelas piadas estilo tiozão na ceia de natal. E pelo sorriso fácil da garota eles estavam no mesmo barco.

–Quer ouvir uma piada ruim? Então escuta só essa. - Inuyasha dobrou as mangas do casaco como se preparasse para um combate.- O que uma rua irritada falou para a outra?

–O que?

–Te encontro na esquina.

–Nossa, muito fraquinha essa.- Apesar de dizer isso ela estava rindo- Presta atenção. Qual é o nome da sócia que não engorda? A sócialight.

Inuyasha riu mas não se deu por vencido. Tinha muitas cartas na manga, esperando para um momento como esse.

– Um cara derrubou um Yakut no chão de propósito. Qual é o nome disso?-ele esperou uns segundos antes de responder a própria pergunta- Um lacto-vacilo.

Essa foi difícil para Kagome resistir. Mas ela manteve-se irredutível, apenas com um sorriso divertido nos lábios.

–Tenho uma especialmente para você Inuyasha. É sobre esportes.

Ela se ajeitou no desconfortável poço que usavam como cadeira, antes de mandar sua cartada final.

–Uma fita isolante brigou com o esparadrapo. Quem venceu?

Inuyasha começou a rir antes mesmo de ouvir a resposta. Imaginava os dois rolos de fita tamanho gigante com perninhas e bracinhos se enfrentando num tatame de uma competição internacional.

–Não faço ideia.-respondeu por fim.

–A fita isolante. -Kagome imitou de forma hilária uns golpes de Karatê no ar- Porque ela é faixa preta, né?

O conjunto da cena fez Inuyasha gargalhar. Tinha que admitir que a garota era boa nisso. Mas Inuyasha não desistiria sem lutar, e enxugando as olhos lacrimejantes pela risadas ele preparou seu último golpe.

–Essa é sobre filmes. -O garoto tomou fôlego antes de continuar- Um dinossauro falou pro amigo. Te encontrei ontem no parque. O outro respondeu: Juras? Que park?

Kagome levou alguns segundos para entender, mas depois caiu na gargalhada também.
Era uma risada leve, solta. Uma risada agradável como se sinos estivem tocando.
Inuyasha aproveitou e falou a sua última piada.

–Um cara tinha que escolher entre uma pílula azul é uma outra vermelha. Qual é o nome do filme?

–Essa é fácil.- Kagome respondeu, segurando a barriga dolorida de tanto rir- É Matrix.

–Errouuu. O nome do filme é "Largou a Azul"

–Largo...Lagoa... Ah! Entendi! - A garota voltou a rir mais alto que antes.- Que idiota!

Kagome não ria como a maior parte das meninas que Inuyasha conheceu no Japão , que cobriam a boca com as mãos para esconder os dentes. Ela ria abertamente. Um sorriso sincero, meio moleca. Mas algo ali naquele cenário, com as bochechas coradas, e os olhos semi-cerrados o transportaram para um tempo distante. Onde ele mais jovem observa admirado uma cena semelhante. Por um instante, na sua frente, ele não via mais a Kagome. Ele viu Kikyo. Uma Kikyo mais jovem, despreocupada. A mesma Kikyo que ele se apaixonou a tantos anos atrás, e que ele tanto sentia falta.
Num impulso, ele segurou uma de seus braços pelo pulso. Tinha sido cuidadoso, mas o movimento súbito vez a menina o encarar surpresa. Talvez ela tenha percebido em seu olhar suas reais intenções antes que ele mesmo se desse conta. Mas Inuyasha não poderia evitar.
Era como se o sonho da noite anterior se materializasse em sua frente, realizando o desejo secreto de seu coração. Sem pensar, completamente guiado pelos instintos, Inuyasha encurtou a distância entre os dois.
E com o nome de sua amada escapando pelos seus lábios, ele tocou os de outra.
Um beijo suave e cheio de saudades, imprevisível e errado.
Simplesmente inevitável.


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Notas finais do capítulo

E aeeeeeee?
É tretaaaaaaaa!
Sério, vai dar treta esse rolo do final. Sim, claro, ou com certeza?
Curiosos para os próximos capítulos?
Opiniões? Pedras? Tomates podres?

Beijos e Borboletas azuis!

Obs: Obrigadinha a Vicky Scarlet pelo comentário fofo no capítulo anterior!^-^



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