Shikon no Tama escrita por Misu Inuki


Capítulo 4
Saudades


Notas iniciais do capítulo

Oi! ^^
Até que eu voltei rápido!
É tão bom (e tão raro), quando as ideias pra um capitulo fluem facilmente.
Pisquei o capítulo tava pronto!
Enfim, sem mais delongas, espero que vocês gostem!

Boa leitura!



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Nenhum dos dois esperava por aquilo.
Como se uma onda de choque percorresse pelo seu corpo, Kagome se afastou de Inuyasha, empurrando-o no peito com as duas mãos, antes que o beijo se tornasse algo além de um encostar de lábios.
Ainda surpreso pela própria atitude, Inuyasha observou em silêncio a garota se levantar e virar de costas para ele.

–Isso foi errado...-a garota murmurou sem se virar para encará-lo.

–Me desculpe... - Inuyasha brigou com para encontrar palavras.-Eu... Não...

–Está tudo bem. -Kagome interrompeu, mas seu tom de voz demostrava o contrário.- Eu e minha irmã somos muito parecidas mesmo...Só... Que isso não se repita.

Inuyasha concordou com um murmuro. Aos poucos a ficha caia da gravidade da besteira que tinha feito. Kagome não se lembrava que a irmã tinha morrido. Não que isso de alguma forma diminuísse a sensação de estar traindo a Kikyo, mas tornava para Kagome o erro ainda mais feio.
Nunca tinha acontecido isso antes. Desde que a Kikyo morreu, Inuyasha não conseguia se relacionar com mais ninguém. Vivera de luto por anos, no entanto, em menos de um dia de volta à Tokyo já tinha agarrado a ex-cunhada.

–Eu...-Kagome comentou com a voz fraca-Estou com dor de cabeça. Vou voltar para casa.

A garota sem olhar para trás deu alguns passos em direção da casa. Passos cada vez mais vacilantes, até que ela colocou as duas mãos sobre as têmporas, e caiu no chão.
Inuyasha se levantou e correu para acudi-la.
A garota estava desacordada, e por mais que ele tentasse nada parecia trazê-la de volta à consciência.
Com cuidado, ele colocou-a sobre os braços, e carregou-a para casa.
Sua pele estava mais pálida que o normal, e o rapaz também percebeu que ela estava mais fria do que o normal. Mal tocou os pés na sala, começou a gritar o nome de Kaede.
Por sorte ela estava na cozinha, e chegou na sala o mais rápido que suas pernas idosas permitiam.

–O que aconteceu?-a senhora perguntou enquanto Inuyasha colocava a garota no sofá.

–Não sei.- Inuyasha se afastou para Kaede que era bem mais experiente que ele, verificar a pressão da garota.- Ela falou que estava com dor de cabeça e apagou.

O rapaz estava tenso. Dizia para si mesmo repetidas vezes que aquilo era apenas um desmaio.
Mas ver a garota deitada totalmente inerte com uma das mãos sobre o peito e a outra pendendo para fora do sofá , era como se voltasse no tempo e revivesse a cena macabra em que entrara numa sala fria e branca ao lado de Kaede para encontrar Kikyo pela última vez.
Kaede pareceu perceber o desespero do rapaz, e mudou posição dos braços da Kagome, colocando ambos cruzados sobre o peito.

–É melhor ligarmos para o hospital. -Inuyasha sugeriu, sua voz mais rouca que o normal.

–Não precisa. Logo ela vai acordar.- Kaede respondeu cobrindo a jovem com o cobertor cor de rosa. -Kagome anda desmaiando com frequência nos últimos anos. Mas não é com ela que eu estou preocupada...

A mulher suspirou, e deu um beijo na testa da neta.
Ela se virou para o confuso Inuyasha, e antes de voltar para cozinha ela continuou sem maiores explicações.

–Estou preocupada é com você, garoto.

Foi difícil para o rapaz se manter ocupado enquanto esperava Kagome acordar.
Não que Kaede, não tenha se esforçado para resolver isso, pois mal ela terminou de servir o café da manhã, arrumou várias tarefas para o rapaz. Que vinha desde arrancar ervas daninhas da horta, espanar todos os móveis da casa, até mesmo limpar os tapetes, e consertar a bicicleta da neta.
Todas as obrigações domésticas mantinham suas mãos ocupadas, mas a mente estava livre o bastante para deixá-lo ansioso.
Queria se desculpar de verdade com a Kagome, pensava em mil formar diferentes de pedir desculpas e nenhuma parecia ser boa o suficiente.
Também tinha a culpa. Inuyasha se perguntava que se ele não tivesse sido um babaca, Kagome não teria passado mal. A garota parecia ser bem sensível, e ela estava bem até minutos antes do beijo. Talvez, indagava enquanto colocava graxa na corrente da bicicleta azul, ela se sentisse culpada por ter traído a irmã.

–Porque eu sempre complico tudo!- o rapaz tacou a latinha de graxa longe, irritado.

–Se a culpa é sua, não desconte na parede.

Inuyasha se virou e encontrou Kaede de braços cruzados atrás dele.
Apesar da brincadeira, a idosa tinha uma expressão séria.

–Ela acordou e quer te ver.- Kaede respondeu simplesmente.

Inuyasha se levantou e rapidamente limpou as mãos num pedaço de pano que a senhora tinha lhe entregue. Kaede disse que ela tinha subido para o quarto, e o rapaz foi até lá, subindo a escada de dois em dois degraus.
Mas toda a ansiedade sumiu quando ele tocou na maçaneta.
Mesmo ensaindo mentalmente, agora todas os pedidos de desculpas pareciam idiotas demais.
Ele hesitou durante alguns instantes antes de entrar no conhecido quarto.
Tinha ido ali algumas vezes, quando Kikyo era viva. Respirou fundo, e reunindo coragem, abriu a porta.
O quarto estava um pouco escuro. As cortinas abertas permitiam a entrada de alguma luz do sol, o suficiente apenas para iluminar um lado do quarto. Estava exatamente do jeito que se lembrava. A penteadeira de madeira que Kikyo e Kagome dividiam. O armário com portas de correr com algumas partes lascadas pelo uso. Duas camas de solteiro. Uma, que ele reconheceu facilmente como da Kagome, pois estava forrada com o mesmo edredom cor de rosa que ela tinha lhe emprestado, e também tinham alguns bichinhos de pelúcia cuidadosamente colocados sobre o travesseiro amarelo. Do outro lado, encostado na parede oposta à janela, estava a cama de Kikyo. E sobre ela, quase escondida no escuro do quarto a garota estava sentada. Ao ver Inuyasha, ela esticou a mão para o criado mudo e acertou um pequeno abajur que estava ali.

O rapaz deu um passo para trás em choque.
Não era possível, pensava incapaz de piscar diante da imagem diante seus olhos.
E com um sorriso nos lábios, a voz que pensara que nunca mais ouviria comentou com naturalidade.

–Há quanto tempo, Inuyasha.

O rapaz não conseguiu responder.
Aliás mal conseguia ficar em pé, tamanho o susto que levou.
Diante dele, desafiando toda lógica, não tinha absolutamente nada da Kagome que esperava encontrar.
As roupas, o cabelo cuidadosamente penteado, os lábios ligeiramente curvados até mesmo a voz. Tudo pertencia a Kikyo. Ele podia até mesmo jurar que sentira um delicado porém inconfundível perfume de rosas no ar.

–Senti sua falta.- a garota continuou, colocando uma das mechas de cabelo atrás da orelha, exatamente como a Kikyo fazia quando estava nervosa.- Estava contando os dias para te ver novamente.

–Não pode ser.-Inuyasha protestou- Isso é impossível. Você era para estar...

–Morta?- a garota completou com a palavra que ele era incapaz de dizer.- Sim, mas de alguma forma ainda estou aqui...

–Não, não está!- Inuyasha gritou- Não sei o que raios passou na minha cabeça para resolver ficar aqui, mas isso é sádico demais para mim. Achei que você estava com algum problema sério de amnésia, crise de identidade ou sei lá o que. Obviamente, apenas um joguinho de muito mal gosto que eu não quero fazer parte.

–Inuyasha, pelo jeito você continua cético como na época que nos conhecemos. - a garota suspirou- Não consegue acreditar em milagres?

–Milagre? -o rapaz irritado se aproximou da garota.- Foi o que eu mais pedi para que acontecesse quando vi o corpo de Kikyo sem vida! Roguei aos céus e ao inferno para que a trouxesse de volta para mim! A minha Kikyo, não uma imitação barata da irmã doente dela!

A garota não se intimidou com a raiva do rapaz, e com olhos cheios de pena tentou encostar em seu rosto, mas Inuyasha se afastou como se ela tivesse alguma doença contagiosa.

–O que eu posso fazer para que você acredite que sou eu mesma?-a garota disse quebrando o silêncio que se formou no local.

Ele se virou para ir embora. Não queria, não conseguiria ouvir mais nenhuma palavra daquela voz tão parecida com a da sua noiva. Mas quando seus dedos tocaram a maçaneta, a mesma voz o vez parar.

–Chocolate.

–O que? -ele se virou sem entender.

–Você é alérgico a chocolate. Muito. Chegou até a ficar internado quando era criança porque você comeu ovo de páscoa escondido.

–Não é novidade nenhuma.-Inuyasha balançou os ombros, depois que se recuperou do choque da informação- Vim em vários jantares da sua família. É meio óbvio que todo mundo saiba que eu tenho alguma alergia alimentar.

–E a todo mundo sabe que você tinha medo do Barney, aquele dinossauro roxo do canal infantil?

Era um dos seus segredos de infância. Detestava aquele desenho. Desde de moleque sempre viu vários filmes de terror, sem problema nenhum. Mas era só começar a musiquinha de abertura do desenho que ele se escondia de baixo da cama.
Era algo vergonhoso, e ele nunca tinha contado para ninguém apenas para Kikyo, numa semana em que a turma passou as férias fora da cidade.
Numa brincadeira boba do tipo verdade ou consequência, ele inventou uma mentira qualquer quando lhe perguntaram na roda de colegas qual era seu maior medo de infância.
Mas depois naquela mesma noite, ele contou a verdade para Kikyo.
Mesmo sendo algo bobo, mesmo naquela época, Inuyasha se via incapaz de mentir para ela.
E nem era preciso conhecê-la tão bem quanto ele para saber que Kikyo era incapaz de espalhar o segredo de ninguém.
Duvidava que ela tivesse dividido isso mesmo com a irmã.
Mas Kikyo não parou por aí. Ao ver que Inuyasha desistira de sair do quarto e lhe dava total atenção ela continuou com um sorriso.

–Você sempre dorme no lado da cama encostado na parede, porque você se mexe muito dormindo e já chegou a cair da cama várias vezes quando tentou o contrário. Sua cor favorita é vermelho porque sua mãe costumava a decorar a casa com rosas vermelhas recém colhidas do jardim. Você ainda guarda um carrinho de madeira com rodas tortas, pois foi um brinquedo que você e seu pai tentaram montar juntos mas que não deu muito certo.

A garota se levantou enquanto falava, se aproximando do garoto que ainda estava imóvel na porta do quarto. Tudo que ela dizia era a mais pura verdade. Mas um fio de razão que lhe restara, ainda tentava em vão encontrar brechas. A garota tocou-lhe carinhosamente a face, as mãos ligeiramente mais frias que a sua pele. Ele encarava estarrecido o rosto misto diante do seu: o sorriso de sua Kikyo com os olhos castanhos de Kagome. Não sabia em qual dos dois acreditar.

–Você também tem uma marca de nascença no lado esquerdo do peito. Uma linha reta, curta e profunda. Como uma cicatriz de uma flechada.

Sem nenhuma hesitação, ela desceu a mão que estava acariciando o rosto do rapaz para o zíper de seu moletom vermelho. Uma vez aberto, revelou o peito desnudo do rapaz, que na confusão da manhã deixara a camisa que usara na sala, secando.

–Não estou certa?- a garota comentou.

E estava. A relativamente pequena marca de nascença de Inuyasha exatamente onde ela havia dito, confirmava.

–Eu te conheço como ninguém Inuyasha. Ficamos juntos por tantos anos. -ela enlaçou os braços em seu pescoço- Será que agora você é capaz de acreditar que sou eu mesma?

– É ...que tudo isso é...-o rapaz tentava encontrar palavras, mas o perfume da Kikyo tão perto dele tornava muito difícil raciocinar - Impossível?

–É difícil para mim também. -ela acariciava seus cabelos da mesma forma que costumava fazer nos tempos de namoro- Muita coisa está confusa na minha cabeça, tenho vários lapsos de memória. Não sei como ou porque, mas sei que não pertenço mais a esse mundo. Algo me prende aqui.

–Negócios inacabados?-Inuyasha comentou se lembrando da conversa com Kaede.

–Talvez... Mas não tenho certeza do que.- Kikyo lhe sorriu e continuou- O único negócio inacabado que eu me lembro é com você.

–Nosso noivado...

–Estava tão feliz, Inuyasha. E estou agora, que finalmente fui capaz de encontrar você novamente!

Ela se aproximou ainda mais dele. Os lábios entre abertos, com os olhos fechados.
Inuyasha teria todas as desculpas para beijá-la dessa vez. Não era apenas um pouco de semelhança, a garota se declarou e até mesmo provou que era a verdadeira Kikyo.
Mas a imagem da reação da Kagome naquela manhã se fez presente em sua mente, e ele se viu completamente consciente de que era ela em seus braços. E que de uma forma ou de outra, por mais que ele quisesse se agarrar a possibilidade do espírito da Kikyo estar ali, ele se sentia traindo a ambas. Traindo a Kikyo, por estar mais uma vez beijando os lábios de outra mulher, e principalmente traindo a confiança de Kagome. Garota tão sensível, que confiara nele tão facilmente. Que o fizera rir depois de tantos anos.
Então, delicadamente ele a afastou pelos ombros.

–O que houve?- Kikyo perguntou sem entender a recusa.

–Não posso, Kikyo.-O rapaz deu um passo para trás, fechando o moletom novamente.-Seria errado com você e com a Kagome.

–Ela é minha irmã.-Kikyo contestou- Vai entender.

–Não, Kikyo.- Inuyasha segurou as mãos dela entre as suas- É melhor você ir embora.

–O que?- a garota olhou incrédula, como se recebesse uma punhalada pelas costas- Você sabe o qual difícil foi para mim conseguir ficar aqui?

– Eu também senti sua falta, mas não é justo usar o corpo da Kagome. - Inuyasha tentou permanecer frio, mas era quase impossível diante dos olhos marejados da garota.- Você tem que seguir adiante.

Ela puxou as mãos das dele de uma vez. Sem se importar com as lágrimas que começavam a descer pelo seu rosto, ela lhe encarou séria. Seu olhar era frio e determinado. Inuyasha já tinha visto esse olhar algumas vezes, e aprendera a respeitá-lo.

– Você quer que eu vá embora de verdade? -ela perguntou com a voz firme- Você quer que eu continue morta, Inuyasha?

Inuyasha não foi capaz de responder.
Sua voz parecia ter sumido e seus lábios estarem colados um no outro.

– O dia em que você for capaz de dizer que não me quer me ver mais, eu seguirei para o plano dos desencarnados. -e olhando no fundo dos olhos do rapaz ela concluiu- Até o dia em que você criar coragem para me dizer que me quer morta, eu vou continuar aparecendo no corpo da Kagome. Está em suas mãos, Inuyasha.

Ela se virou e voltou para sua cama encosta na parede oposta do quarto.

– Agora poderia fazer a gentileza de sair do meu recinto?- ela o expulsou sarcástica.

Inuyasha não precisou de uma segunda chamada, para deixar o quarto.
Quando fechou a porta atrás de si, sentiu suas pernas bambearem.
Sem se importar se Kaede o veria, deixou o corpo escorregar pela porta, e enterrou a cabeça entre os braços.
Aquilo era caótico demais, e Inuyasha sentia como se estive num navio em plena tempestade.
Estava enjoado, tonto.
Se sentia desafiando a razão ao acreditar nas palavras de "Kikyo" e de Kaede.
Por outro lado, nada entendia sobre distúrbio de múltiplas personalidades, para dizer com propriedade sobre o assunto.
Precisava de um especialista em doenças ligadas ao cérebro.
Seu celular vibrou no bolso, e como se lesse seus pensamentos, viu aparecer na tela exatamente o nome da única pessoa que poderia ajudá-lo com isso.
Atendeu a chamada num deslizar de dedo, pela primeira vez feliz com sua ligação.

–Alô, Sesshoumaru. Sentiu saudades?


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Notas finais do capítulo

Compliquei mais ainda a parada que já dava confusa?
Caaaalma, respira que tudo vai fazer sentido (eu espero).
Esse capítulo ficou meio curtinho comparado aos outros, mas como eu não conto palavras (escrevo até a inspiração e/ou o tema central do capítulo acabar) só percebi depois que já tinha postado.
Desculpinha, prometo escrver o próximo bem grandão, viu? *-----*
Entãooooooo, mereço comentários? *--*

Beijos e Borboletas Azuis!

Obs:Muito obrigada a Vicky Scarlet pelo comentário no capítulo anterior!
Espero que tenha gostado desse também!



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