Metaltopia escrita por Martins de Souza


Capítulo 2
O Vapor




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O ópio era uma droga mortal, e ele sabia bem disso, mas o peso das coroas no bolso permitia-o dormir sem peso na consciência.

Ainda assim, tinha o hábito de forjar desculpas para não se sentir culpado.

“Eu não os forço a comprar, eu apenas vendo” ou “Nesse mundo fodido, é a única saída”, e até mesmo “São eles ou eu".

E com esse amontoado de frases vazias, ele se forçava a caminhar sozinho pelas ruas escuras de Nova Londres, tão escuras quanto suas esperanças de sobreviver mais um dia. O tráfico era um jogo sujo e arriscado. Desde que a Inglaterra havia declarado guerra contra o Império Chinês do Ocidente, a entrada de drogas havia despencado no país. E isso significava mais dinheiro para seus bolsos.

Mas com a ascensão da nova rainha, e a casa de Tudor voltando ao poder, o Parlamento havia dado início a uma nova política de luta contra o tráfico de ópio. Com isso é claro, o número de policiais patrulhando as ruas havia aumentado.

No beco por onde andava, por exemplo, logo atrás de um cabaré de periferia, dois oficiais se atracavam por uma prostituta, decidindo qual deles a levaria para a cama. E além deles, um terceiro fumava um cigarro, vigiando qualquer coisa que tivesse para vigiar.

Ele conhecia bem aquele terceiro policial, o Bronwen. Tinha subornado ele com uma grana alta para deixar fazer seus negócios em paz. Era como ele sempre dizia, não há um homem honesto no mundo.

Passou pelo lado dos três, dando apenas um aceno de cabeça para eles, seguindo seu caminho pelo meio do escuro.

Dois ou três passos, e escutou o barulho metálico de uma arma sendo engatilhada. Estacou, olhando para trás por cima do ombro. Os dois homens estavam ao lado de Bronwen, e a prostituta já havia indo embora. Na mão do policial, uma pistola a vapor pronta para disparar.

“Que piada de mal gosto é essa?”, perguntou o traficante, dando um sorriso carregado de medo.

“Desculpe Merle. Ordens de cima. Os parlamentares não gostam de você passando essa merda pros porrinhas das escolas.”, ele tragou o cigarro, soprando uma nuvem de fumaça.

“Eu te paguei, seu filho da puta!”, ele berrou, furioso.

“Pois é... Mas eles pagaram mais.”, e sorriu.

O barulho de uma arma a vapor era algo seco e frio, igual a morte. Sim, se o traficante fosse um poeta, era assim que descreveria o barulho daquele tiro que tomou. O som da morte se aproximando.

Sentiu o projétil abrir espaço pelas roupas, pela pele, e penetrar sua carne. O impacto o fez cair para frente, numa velocidade que pareceu ser em câmera lenta. A bala certamente havia atravessado seu pulmão, já sentia o sangue subir pela garganta e escapar pela boca, a morte agora era só questão de tempo. O fluído viscoso da vida já começava a empapar sua camisa, sentia-o esquentando seu peito ao mesmo tempo que o frio vinha o abraçar. Os olhos vagos, carregados de fúria, encontraram os de Merle antes de cair no chão, e nele ficaram. Tentou falar qualquer coisa, mas a boca estava cheia de sangue e falar provava-se inútil, pois só conseguia grunhir, enquanto definhava.

O policial por sua vez, se aproximou do homem caído no chão. Deu uma última tragada no cigarro, e então jogou o resto no chão, pisando em cima para apaga-lo.

Apontou a pistola para Merle, e atirou.

Assim como o primeiro disparo, foi seco e frio. O homem estava morto.

Era como ele sempre dizia.

Não há um homem honesto no mundo.


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