Never knew I needed escrita por Lirael


Capítulo 2
Novos projetos




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Entretido com um projeto no laboratório, Hiro nem percebeu quando a Dra. Callahan se aproximou silenciosamente por trás dele. A filha do temido cientista que roubara seus microrobôs tinha uma personalidade oposta á do pai e após o incidente que resultou na prisão dele, foi convidada pelos curadores para trabalhar como diretora da Universidade de San Fransókyo. Trabalhava duramente para expandir as pesquisas e quase não era vista fora de seu gabinete. Então, quando se virou e a viu parada diante dele com uma expressão solene, Hiro não pôde evitar um grito de susto.

– Bom dia, Dra. Callahan. - ele cumprimentou, um pouco sem jeito.

– Bom dia, Hiro. - ela cumprimentou, com um sorriso. - Será que poderíamos conversar em particular?

Hiro assentiu, repassando mentalmente tudo o que ele poderia ter feito de errado para que a própria diretora da Universidade viesse para falar com ele pessoalmente. Não conseguiu se lembrar de nada. A última robô luta de que ele participara fora a uma vida atrás, e essa era a única coisa ruim que ele conseguia se lembrar. A Dra. Callahan fez um gesto de cabeça, convidando-o a acompanhá-la. No caminho até a porta, ele respondeu aos olhares nervosos e ansiosos de Gogo e Honey Lemon com um dar de ombros, como se explicasse que também não sabia o que estava havendo.

Saíram do laboratório e após o que pareceu ser um labirinto de corredores e salas, a diretora abriu uma das portas e fez um gesto para que ele entrasse. Hiro deu uma rápida olhada no que parecia o gabinete particular da Dra. Callahan. Um carpete cinza escuro cobria o piso. Em uma das paredes, uma estante de vidro que ia do teto ao chão cobria toda a extensão da parede com prêmios que a Universidade já havia ganho. Uma mesa de vidro, escrupulosamente limpa, onde havia um computador de última geração,um telefone sem fio, um bloco de anotações e uma caneta. Ele se sentou, esperando que ela desse a volta na mesa e se sentasse em sua cadeira, mas ela continuou em pé, andando a esmo pela sala, de braços cruzados.

– Gostaria de tomar alguma coisa? - ela ofereceu. - Temos uma máquina de capuccino que faz oito variedades diferentes.

Hiro ergueu as sobrancelhas. Se ele iria ser repreendido, não havia motivo para oferecer capuccino a ele, havia?

– Não, estou bem, obrigado. - agradeceu, um pouco surpreso.

– Então acho que poderemos ir direto ao que interessa. - ela começou. Girou o monitor na mesa de frente para ele e apertou um botão no teclado. Na tela surgiu um vídeo onde um carro vermelho aparecia flutuando com uma garota bonita dirigindo e um ser estranho no banco do passageiro. Hiro fixou a tela com espanto, tanto pela curiosidade em relação à tecnologia utilizada quanto em relação ao estranho ser sentado ao lado da garota.

Após alguns segundos de exibição, a Dra. Callahan pausou o vídeo e olhou Hiro nos olhos.

– Esse vídeo foi feito a alguns meses, durante o incidente da... - ela fez uma pausa, franzindo a testa e procurando por uma palavra correta. - Invasão. Certamente você está informado a respeito.

Hiro assentiu. É claro que estava informado. Todos os jornais haviam exibido as notícias da invasão da espécie que se auto intitulava Boov tomar posse da Terra como se fosse sua por direito. Por sorte, algo os assustara e eles haviam fugido antes que pudessem executar a evacuação de San Fransókyo dos seres humanos. Ele nem mesmo teve que deixar sua casa. A única coisa que não entendia era o que é que aquilo tudo tinha a ver com ele.

– A imagem não foi alterada de forma alguma. Segundo as nossas fontes, esse veículo foi alterado por um espécime da raça alienígena para que pudesse flutuar da maneira como se vê no vídeo. O que se vê é totalmente real. - ela deu um sorriso maníaco. - A questão é a seguinte: A Universidade de San Fransókyo tem um interesse muito grande em tomar posse dessa tecnologia. Queremos estudá-la e patentear a invenção.

O queixo de Hiro caiu. A Universidade de San Fransókyo já era uma instituição famosa, mas ter a patente de uma invenção daquelas iria simplesmente colocá-la em um pedestal que nenhuma outra instituição esteve antes. Pessoas viriam de todos os países: grandes corporações, engenheiros, cientistas, alunos, tudo para colocar as mãos naquele carro. Se a Universidade saísse na frente e desvendasse a tecnologia alienígena, as vantagens seriam quase infinitas. Isso sem nem mesmo mencionar a injeção financeira de patrocínios que receberia. Era uma grande oportunidade de crescimento e fama para San Fransókyo.

– Vocês compraram o carro? - ele perguntou, abismado. - Só por curiosidade, quanto é que ofereceram?

A Dra Callahan fez que não com a cabeça.

– Infelizmente a proprietária não manifestou interesse em vendê-lo. Parece que várias empresas estão querendo comprar o veículo dela a meses, mas ela tem recusado ativamente até as propostas mais assombrosas. - A diretora fez uma pausa, dando tempo para que Hiro fizesse uma careta decepcionada. - Mas, a nossa Universidade sairá na frente.

– Mas como vamos estudar essa tecnologia se ela não concordou e vender o carro?

A Dra. Callahan abriu um sorriso.

–Todas as pessoas querem alguma coisa, Hiro. A única coisa em nosso caminho era: O que a Sra. Lucy queria? Então eu fiz uma investigação particular e meus contatos descobriram que a Sra. Lucy não tem família em seu país e sua única parente próxima é a filha, que deve ter mais ou menos... - ela olhou para cima e revirou os olhos, pensativa. - É... mais ou menos a sua idade. Então eu fiz uma proposta que ela não pôde simplesmente recusar.

Hiro esperou pacientemente que ela terminasse, mas como ela não disse nada, perguntou:

– O que a senhora ofereceu?

– Uma bolsa de estudos para a garota, moradia e emprego para a mãe além de uma quantia simbólica que a Universidade pagará a elas pelo direito de estudar o veículo. A viagem já foi providenciada e as duas chegarão na semana que vem, juntamente com o veículo

Hiro prendeu a respiração. A Dra. Callahan tinha sem dúvida o mesmo gênio do pai, embora sua energia para conseguir as coisas estivesse mais voltada para negócios do que para vingança.

– Deve estar se perguntando como é que você se encaixa nisso tudo, não é? - ela finalmente deu a volta se se sentou em sua cadeira, apoiando os cotovelos na mesa e segurando o queixo entre as mãos cruzadas.

– Na verdade eu estava ansioso para que a senhora chegasse logo nessa parte. - ele admitiu.

A Dra Callahan abriu um sorriso predatório.

– Tenho observado suas notas, Hiro Hamada. - ela anunciou, dizendo seu nome de uma maneira estranha que o fez transpirar. - E estou muito, muito satisfeita com o seu desempenho acadêmico. Suas notas estão acima da média em todas as matérias e seus projetos... - Ela fez uma pausa, inclinando-se para a frente na mesa - Tem me surpreendido muito.

Hiro engoliu em seco, um pouco constrangido diante do olhar fixo que ela lhe lançava. Então, subitamente ela desviou o olhar e se inclinou contra a a cadeira, cruzando as pernas com uma lentidão agonizante.

– Por isso eu decidi que você será o responsável por dirigir os estudos do projeto quando o veículo chegar.

Hiro ficou simplesmente sem fala. Aquela era uma oportunidade única na vida. Não apenas pelo aprendizado, ms também para o resto de sua vida acadêmica. Seu nome ficaria gravado para sempre naquela descoberta tão importante.

– Isso é maravilhoso! Mas... Mas... - ele balbuciou.

– Seus projetos atuais não serão prejudicados e eu conversei com seus professores para que fornecessem um espaço entre as aulas para que você pudesse trabalhar nisso. Obviamente eles compreenderam a importância dessa descoberta para a Universidade. Só o que eu preciso é a sua aprovação.

Hiro se levantou subitamente, quase derrubando a cadeira no processo.

– Está brincando? É claro que eu aceito! Eu quero muito trabalhar nisso!

A Dra. Callahan sorriu, claramente satisfeita por estar conseguindo o que queria.

_____

No intervalo das aulas, Hiro contou a seus amigos sobre a conversa com a Dra. Callaghan. Honey Lemon soltou vários gritinhos em comemoração e antes que ele percebesse foi prensado em um abraço coletivo entre Fred, Gogo, Wasabi, e Honey Lemon.

– Isso pede uma celebração. - sugeriu Honey Lemon. - O que acham de passar o resto da tarde enchendo a barriga com os doces da tia do Hiro? Por nossa conta, claro!

– Eu acho uma ótima ideia. - concordou Wasabi. - E vocês estão com sorte, pois o seguro liberou meu carro novo depois de meses de papelada. - lançou um olhar sarcástico para Gogo, que ergueu as duas mãos para o alto.

– Vocês sabem que eu não tive escolha. - ela se defendeu.

– Você atirou o carro no mar! - Protestou Wasabi.

– Por que tinha uma montanha de microrobôs assassinos atrás de nós!

– Pessoal... - Fred se pronunciou - Não era para estarmos falando sobre o Hiro?

Com isso os ânimos se acalmaram e Hiro voltou a ser o foco da conversa.

_____

Cass reagiu à notícia com o mesmo entusiasmo dos amigos de Hiro. Como comemoração, preparou para eles uma mesa especial, cheia dos doces mais elaborados e caros que tinha, anunciando que era tudo por conta da casa.

– Então - Fred começou a falar, após dar uma mordida em um bolinho recheado. - Vocês souberam o que vão lançar no cinema sexta feira?

Os olhos de Honey Lemon se iluminaram diante do tema. Ela abriu a boca para responder, mas Fred já tinha se adiantado:

– Fúria assassina 3! - ele se levantou da cadeira, abrindo os braços com uma expressão maníaca.

– Eu soube mesmo que estavam produzindo outro. - Comentou Gogo. - Mas não sabia que já estava pronto.

– Nós temos que ir assistir! - implorou Honey Lemon. - Eu preciso saber se eles vão conseguir escapar do navio em chamas, cercados por tubarões zumbis mutantes!

Wasabi fez que sim, segurando o queixo com um olhar pensativo.

– Também acho uma boa. - ele se animou. - Mas seria melhor que nós fôssemos no sábado, na estréia vai estar muito lotado.

– Vai ser o máximo! Eu também estava louco para ver esse filme! - Hiro confessou.

Honey Lemon olhou para o garoto com uma expressão triste, infeliz por ser a portadora de más notícias.

– Hiro... Adoraríamos que fosse com a gente. De verdade. Mas... - Ela deu uma olhadela para o grupo, esperando que alguém a apoiasse. Ninguém se manifestou. - A classificação indicativa é de dezoito anos... Não vamos conseguir fazer com que você entre.

Todos assistiram com tristeza o entusiasmo deixar o rosto de Hiro pouco a pouco, sem ter nenhuma ideia de como reverter o processo.

– Não fica assim, Hiro! - Fred tentou consolá-lo, com um sorriso complacente. - Prometo que quando sair do cinema, marcamos uma sessão lá na minha casa. Você nem imagina o tamanho da televisão que...

– Tudo bem, pessoal. Eu tenho dever de casa para fazer, então não ia dar mesmo. - Hiro deu ombros, levantando-se da mesa sem olhar para eles. - Eu vou ao banheiro e já volto.

Todos ficaram olhando Hiro se afastar, comovidos, até que Honey Lemon deu um tapa na mesa, assustando-os.

– Mas isso não está certo! - ela protestou, indignada.

– Eu concordo. O Hiro nunca tem dever de casa. - Fred observou.

– Não foi isso que ela quis dizer. - Wasabi explicou.

– Não é a primeira vez que não podemos incluir o Hiro em um programa por causa da idade dele. Ele é muito inteligente e capaz, por isso às vezes fica fácil para nós esquecermos que ele ainda é apenas um adolescente.

– Nessa idade todos nós estávamos no colegial, todos com amigos da nossa idade. - disse Wasabi. - O Hiro nem chegou a fazer o colegial, pelo que eu sei, e os únicos amigos que ele tem somos nós. E um robô enfermeiro.

– É isso! - Honey Lemon deu um gritinho entusiasmado - Nós precisamos encontrar um amigo para o Hiro, um que seja da idade dele.

– Falar é muito fácil. - Gogo disse. - Mas eu não conheço ninguém da mesma idade do Hiro. Eu tenho uns primos, mas moram fora da cidade.

– Não podemos desistir. - Fred encorajou-os. - Hiro é nosso amigo, não é justo que ele tenha que ficar sozinho quando não podemos levá-lo.

Nesse momento a porta do banheiro se abriu e Hiro chegou à mesa, mais silencioso do que de costume. Não disse nada nem antes nem depois de morder uma rosquinha, olhando para os colegas sentados e estranhamente quietos.

– O que vocês todos tem? - ele perguntou, erguendo uma sobrancelha para eles enquanto mastigava. - Estavam conspirando enquanto eu estava fora, ou algo assim?

Eles se entreolharam, nervosos, cientes de que quase todos ali não tinham o sangue frio pra desconversar ou inventar uma mentira. Mas por sorte, Gogo tinha esse sangue frio.

– Estávamos nos perguntando se você já tinha contado para ele. - ela disse, lançando um olhar de advertência aos outros, antes que soltassem um suspiro aliviado e arruinassem sua mentirinha. Felizmente, Hiro pareceu cair.

– Ainda não. Só o vi hoje de manhã. Estava esperando contar depois que acabássemos aqui.


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Notas finais do capítulo

Para quem será que o Hiro vai contar a novidade? Só no próximo.