- Eu não acredito no que eu não conheço.

- Desculpa o atraso.

Uruha sorriu, compreensivo. Estava muito bem com seu jeans simples e a camisa branca. Pra variar, eu havia me atrasado. A fila do cinema já começava a andar, e o loiro me esperava já próximo ao guichê.

- Dormiu demais?

- Ah é. Eu fico mais sonolento com tempo de chuva.

O tempo estava nublado, e as ruas totalmente úmidas. E eu, morrendo de sono. Ignorei as caras das pessoas atrás de Uruha, me juntando ao loiro na fila. Entramos, conseguindo um bom lugar, Uruha carregando um balde de pipocas. Sentamos lado a lado, esperando.

- Sobre o que é o filme?

- Ahn... Bem... Achei que você soubesse.

- Eu? Mas... Foi você quem chegou primeiro, Uruha.

- Nah, você se prende a cada detalhe.

- E você a nenhum.

Nos olhamos por um instante, rindo logo em seguida. Peguei algumas pipocas do balde apoiado no colo de Uruha, me preparando para descobrir sobre o que era o filme.

- Eu realmente sinto muito, Uruha.

Ainda coçava um olho, sonolento. Nem bem os traillers tinham terminado, eu já tinha adormecido. Acordei com o loiro me cutucando levemente ao final do filme, e para a minha vergonha maior, eu havia usado o ombro dele como travesseiro.

- Tudo bem. Você disse que tempo chuvoso te deixava sonolento. Só não sabia que era tanto.

- Esse tempo ainda acaba comigo. Olha, tem uma sorveteria ali. Eu te pago um sorvete.

- Realmente, não tem necessidade, mas aceito do mesmo jeito.

- Que bom. Não vou ter que ficar insistindo.

Ele sorriu, divertido. Ficamos caminhando pelas ruas molhadas, os sorvetes nas mãos, conversando e rindo sobre coisas aleatórias. E fazia muito tempo que eu não me sentia bem assim. Sem compromisso com nada, sem nenhum problema... apenas falando de coisas banais e rindo delas.

Mas eu não podia me apegar a ele... e mesmo assim, eu me sentia... livre com ele. Como se, pela primeira vez em dez anos eu não carregasse o peso que eu sempre carreguei nos ombros desde então.

- Mas eu sabia que isso ia acontecer. Tava na cara.

Encarei Ruki, que levava uma xícara de chá aos lábios.

- É. Assim como eu sabia que você ia aceitar sair com o Suzuki.

Ele imediatamente engasgou com o chá, e eu ergui uma sobrancelha, curioso com aquilo. Eu realmente não fazia idéia de que ele e Suzuki haviam saído, ou iriam sair. Tinha atirado no escuro e acertando o interruptor.

- Como é que você sabe?

- Não sei. Acabei de arriscar.

- Cretino.

- É isso o que você ganha por me sacanear.

- Mas eu não estava te sacaneando - sem tom era até ofendido. - Eu estava simplesmente jogando a verdade na sua cara de forma sarcástica.

- Então deixa seu sarcasmo pra outro, okkay?

- Mas que diabos. Vocês só sabem discutir, é?

Kai entrou na cozinha, nos encarando. Ruki abriu um sorriso enorme.

- Kai! O Aoi-neko saiu com o Uruha! E vai sair de novo!

Rodei os olhos. Às vezes Ruki conseguia ser muito infantil.

- Sério? É verdade mesmo, Aoi?

- É. - respondi, seco.

- Ah, mas isso é bom. - continuou Kai, sorrindo. - Parece que finalmente conseguiram quebrar a muralha de ferro do seu coração, ahn?

- Não se precipite, Kai. Eu e Uruha somos apenas amigos.

- Com algumas vantagens a mais? - o sorriso de Ruki era de dar medo.

- Não, Ruki. Sem vantagens a mais. Não pensem besteiras, vocês dois.

Eles apenas sorriram, enigmáticos.