Fallen escrita por Milly Winchester


Capítulo 32
Ouro e prata


Notas iniciais do capítulo

Oi! Eu não morri!

Pois é, então, primeiramente fora Temer...
Segundo, não me matem. Eu sei que eu sumi, eu sei... Mas eu realmente precisei de um tempo. O bloqueio tomou conta de mim e muitas coisas aconteceram desde então. Responsabilidades, tretas familiares, entre outros... No entanto, eu NUNCA abandonaria Fallen, e como prometido, eu voltei. Espero que não estejam querendo fazer churrasquinho de mim, e prometo que vou recompensar com a seguinte notícia:

Para quem ainda não sabe, Fallen vai ter segunda temporada! Portanto, se por acaso ficarem zangados com o final, saibam que terá continuação, e eu já estou trabalhando muito nela. Fiquem ligadinhos :)

É isso, meus cabritinhos. Vamos matar as saudades com um capítulo muito lindinho e todo dedicado a esse meu casal maravilhoso, vulgo Deth? Então vamos! Boa leitura!

OBS: Fiquei com preguiça de fazer o banner kkkkk perdoem! Quando eu fizer, eu coloco aqui.

Música do capítulo: X Ambassadors - Unsteady



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Faltavam apenas três dias para o juízo final, e se existia uma palavra para definir o meu estado mental seria nervosa. Nervosa, negativamente ansiosa, temerosa. O fim de tudo aquilo se aproximava cada vez mais, e a minha ficha parecia não querer cair. Eu nem sequer conseguia criar expectativas, afinal, o futuro que nos aguardava era cem por cento imprevisível. De acordo com meus raciocínios particulares, as coisas que são imprevisíveis são aquelas das quais nós temos que ter mais medo. Eu não estava errada em temer, afinal, evitar o medo era estúpido.

Durante os meses nos quais estive viva, acompanhando os Winchester, após descobrir a minha missão, eu insistia em dizer a mim mesma que eu não temia. Obviamente, uma afirmação falsa e desconexa. Aprendi que negar o medo é ainda pior do que senti-lo — faz de você um covarde. Um indivíduo verdadeiramente valente é aquele que teme e é capaz de admitir o seu medo, ciente de todas as consequências e lutando para superar o medo e enfrentar a situação. Com o tempo, passei a me encaixar nesta categoria, algo do que eu inutilmente me orgulho. E sim, eu temia falhar, como sempre temi, mesmo negando, mas pelo menos eu tentaria. Tentar. Outro atributo valioso dos bravos.

Suspirei, apanhando a caneca fumegante entre as mãos. Sem demora, beberiquei um gole miserável do café e abandonei a porcelana sobre a mesa de carvalho mais uma vez. Massageei as têmporas, tentando espantar a Elizabeth pessimista que insistia em sussurrar previsões pessimistas do dia trinta e um de outubro que estava por vir. Assim eu estava — dividida. Um lado meu estava confiante e decidido, decidido em tentar e dar o melhor de mim. O outro, estava completamente desprovido de esperanças, rabugento e novamente, pessimista ao extremo. Ficava até difícil de organizar os meus pensamentos com os dois lados travando um épico duelo nos confins mais complexos da massa rosa e suculenta que eu chamava de cérebro. Eu até conseguia me imaginar como personagem de um desenho, com uma versão angelical e outra diabólica de mim, uma em cada ombro, me dizendo o que fazer. Isso me fez sacudir a cabeça por um instante.

Passos pesados ecoando pelo piso vinílico e ligeiramente oco da biblioteca chamaram a minha atenção, obrigando-me a erguer o olhar na direção de onde o som vinha. Maldita curiosidade. Dean adentrou o cômodo com as mãos enterradas nos bolsos da jeans surrada. Sustentava um pequeno sorriso de canto, quase imperceptível, mas eu o conhecia o bastante para perceber que ele estava planejando algo. Me restava saber o quê. Ele logo aliou-se a mim, capturando uma cadeira e arrastando-a, sentando-se na mesma em seguida. O encarei de maneira cúmplice.

— Parece pensativa — expôs, unindo as sobrancelhas, parecendo não se lembrar de que estávamos a míseras setenta e duas horas da morte certa. Ops. Lado pessimista sendo revelado.

Revirei os olhos.

— Não é nada — menti, ingerindo mais um generoso gole da bebida quente. Por pouco não queimei minha língua, pois bebi com tanto afinco e a mesma desceu tão rápido pela garganta, fazendo uma trilha fervente, que não deu nem tempo de queimar minha língua. 

Dean não pareceu nem um pouco convencido com uma das minhas típicas mentiras esfarrapadas.

— Tem certeza?

Não respondi. Ele abriu a boca, parecendo finalmente compreender.

— É sobre sábado, não é? 

Relutante, anuí. O caçador assentiu em resposta e levou uma das mãos até o meu cabelo, afastando uma pequena madeixa traiçoeira que escorregava em direção ao meu nariz. Fechei os olhos, tentando canalizar a sensação boa que a pele quente de Dean em contato com a minha me proporcionava para, de alguma maneira, ficar mais calma sobre o futuro que se aproximava. Infelizmente, minhas tentativas não obtinham muito sucesso e a cada piscar de olhos, eu era assombrada por mais e mais flashes, mais e mais visões desconexas e distorcidas. 

— Bem, talvez eu tenha uma ideia para driblar esses assuntos que estão a deixando tão inquieta. 

— Duvido — suspirei.

Uma risada seca fugiu de sua garganta, quase como se fosse um fruto de um repentino arranhão na laringe.

— Eu estava pensando em saírmos hoje à noite. Só nós dois. Sabe, desde que nós... Estamos juntos — ele fez aspas com os dedos.

— É, eu sei — eu sorri involuntariamente. — Não tivemos tempo de fazer nada que... Casais normais fazem.

Ele também sorriu.

— Casais? Uau. Lucrei — zombou, e quando eu estava prestes a ralhar, ele prosseguiu: — Enfim, topa? Às sete. Prometo que vou tentar não me infiltrar no seu quarto e me livrar todas as belas peças de roupa que você escolher antes mesmo que possamos sair — um olhar malicioso substitui o descontraído.

Dei risada.

— Tudo bem, mas é melhor cumprir essa promessa — segurei a caneca, levando até os lábios e ingerindo um gole espesso. 

— Certo... Isso vai ser difícil.

Eu sorri. Ele se inclinou para depositar um beijo suave na beirada dos meus lábios, e logo se afastou, mas eu larguei a caneca e o puxei antes que ele pudesse ir embora. Me pus de pé e colei nossas bocas. A pressão dessa união fez um torpor serpentear por cada área do meu corpo. 

Dean se afastou com um sorriso torto.

— Assim você dificulta, Corpus...

— Foi mal, Winchester — caçoei. — Não resisti.

{...}

Golpeei o rosto da ruiva, que grunhiu com o impacto. Ofegante, ouvi palmas soarem atrás de mim. Me virei na direção do som, com certas expectativas. O demônio barbudo me encarava, sardônico e surpreso. Quase revirei os olhos.

— Tenho que admitir. Você é boa, princesa voodoo — elogiou o rei do inferno, dando uma piscadela discreta.

O arcanjo ao lado dele fez uma careta, as sobrancelhas se entortando de modo impaciente. Miguel cruzou os braços, apertando-os contra o tórax. Já Abaddon choramingava de ódio, praguejando palavras em uma língua que desconheço. Franzi o cenho.

— O quê?

— Já chegamos ao fim da sessão de tortura? — inquiriu Miguel, aborrecido, no entanto, mantendo a seriedade. 

Ri pelo nariz e me virei para Abaddon, depositando alguns tapinhas gentis em seu rosto inchado. Os cabelos cor de fogo estavam grudados à testa e ela suava em diversos lugares — sem contar os roxos que eu lhe proporcionei só naquela tarde, espalhados pelo rosto que outrora poderia ser considerado majestoso. 

— Por hoje é só — eu disse.

Meu saco de pancadas fez um som gutural, que interpretei como alívio. Girei nos calcanhares, e os saltos das minhas botas fizeram um tilintar agudo e incômodo, ao colidir com o chão de pedra. 

— Certo, é sua vez — apontei para o arcanjo, que sustentava um biquinho infantil. — O que preciso fazer?

Miguel lançou um olhar convencido ao demônio ao seu lado, que revirou os olhos e revelou uma careta de escárnio.

— Ok. Vamos simular um duelo de poderes — ele avisou, de sobrancelhas erguidas.

Uni as minhas.

— Como assim?

Miguel apertou os lábios, e em um gesto veloz — tão veloz que demorei a perceber que havia mesmo acontecido —, virou-se para Crowley, erguendo as mãos espessas na direção do rei do inferno. De súbito, seus olhos incediaram-se de azul, assim como os meus, e um feixe contínuo de branco, celestial, irradiou de suas palmas, nadando em direção a Crowley. Ele também não esperava por aquilo, pois quando o feixe benigno o atingiu, ele foi propelido para trás com uma rapidez de outro planeta. Só se ouviu o som de suas costas se chocando com uma das paredes, e por um momento, pude jurar que escutei algo se quebrando.

Contive a risada, mas Abaddon não teve o mesmo sucesso que eu. Sua gargalhada rouca se espalhou pela sala, mesclando-se aos urros de dor do demônio. Um buraco se abriu em seu terninho elegante, fumegando. 

Ele ergueu a cabeça, o rosto tão vermelho como um tomate e seus olhos chamuscando na direção do arcanjo, que estava incrédulo e extremamente profissional, sem um resquício de emoção nas feições.

— Seu anjo fedido! — bradou Crowley, zangado. 

Miguel me olhou, completamente impassível. Arregalei os olhos.

— Viu?

Eu assenti, com as pernas bambas. Fiquei insegura sobre conseguir realizar aquilo. 

— Isso foi uma simples demonstração. O nível do meu ataque foi baixíssimo... Não queria causar a ele — o arcanjo deu uma olhadela para o rei do inferno, ainda no chão, praguejando internamente. — Danos fatais. Você é quem regula isso.

Elevei os supercílios, meio surpresa.

— Bem... E como diabos faço isso?

— Anjos normais não conseguem fazer isso, e para mim, só é relativamente fácil graças aos meus muitos milênios de vida... Muita prática — ele bateu as mãos umas nas outras, sacudindo-as.

Estremeci. Ele notou minha reação, e por isso, continuou de imediato:

— Mas alguém com os seus poderes... Suas habilidades... Será como roubar o doce de uma criança.

"Está mais para roubar doce de Cérberus", eu pensei, mas não revelei.

— Não sei se consigo — eu disse, sincera, esfregando meus braços.

— Não seja fracote — Abaddon resmungou atrás de mim, mal-humorada.

Revirei os olhos e me virei para ela, curvando-me para ficar na altura de sua cabeça. Toquei o seu queixo de modo grosseiro.

— Quer que eu continue a torturá-la? Será o meu maior prazer.

Ela me olhou com desgosto e tirou seu próprio queixo das minhas mãos, desviando o olhar.

— Boa garota.

Voltei a encarar Miguel.

— Vamos fazer um teste, certo? — falou calmamente, erguendo as mãos no ar. — Traga seus poderes à tona. Deixe que eles fluam por meio dos seus dedos, deixe-os voar como pássaros... Sinta-o em suas veias, se movendo velozmente para fora. Imagine eles transbordando por suas mãos feito vinho, desengaiole-os. 

Balancei a cabeça em afirmação.

— E o mais importante, foque em sua âncora. Não use a raiva. Ambos sabemos que ela não é o melhor caminho. Apenas use a sua âncora e foque. Finja que nada mais existe, apenas você e o seu poder e o liberte.

Suspirei diante de suas orientações. Meus músculos formigaram e eu me posicionei como em sua demonstração. Assisti-o estender os braços, preparado. Meus dedos pareceram estar congelados e eu me vi inevitavelmente nervosa.

Foco, Elizabeth, eu disse a mim mesma. Obriguei-me a concentrar-me no meu objetivo e procurei deletar qualquer ruído ao meu redor, obedecendo as palavras de Miguel. Apaguei qualquer existência ao meu redor, cada respiração, cada parede, cada átomo. Meu corpo pareceu latejar, meu sangue pulsar dentro das veias. Meu coração martelou dentro do peito, bombeando sangue feito louco. Senti a faísca familiar se acender dentro de mim, e de súbito, abri os olhos.

Mal percebi quando um feixe monstruoso irradiou dos meus dedos rígidos, tingido de um tom tão brilhante e azul que não sei como não acabei ficando cega. Antes que ele atingisse

Miguel, busquei o controle e diminuí sua potência — meus olhos cintilaram na direção do que fiz e pela primeira vez em algum tempo, me senti verdadeiramente poderosa.

Mas para a minha surpresa, ele não acertou Miguel. A luz branca que eu vi há poucos minutos se colidiu com a minha luz cerúlea, e eu me vi sendo empurrada para trás. As solas dos meus sapatos arranharam o chão em um som esganiçado, e minhas juntas latejaram. Revidei, fazendo força — minhas mãos gorfaram, ainda mais poderosas, e a luz cerúlea tomou conta da prateada e brilhante. Vi Miguel se chocando contra a parede com ainda mais força do que Crowley, a ponto de formar uma cratera nada discreta. A luz cegante se dissipou, me dando uma visão melhor da situação.

Suas roupas ficaram esburacadas e ainda mais fumegantes do que as de Crowley. A franja enegrecida de Miguel caía sobre seu rosto, e os olhos estavam fechados.

Em um repentino desespero, corri até o seu encontro, me abaixando. Segurei sua face entre minhas mãos, apreensiva. 

— Miguel?

Nenhuma resposta. Eu o sacudi, já entrando em pânico. Ofeguei.

Mas logo, seus olhos se abriram timidamente e lentamente, fazendo um alívio se espalhar por toda a extensão do meu peito. Larguei o seu rosto, agora muito mais calma.

Eu quase ri quando ele ergueu um polegar e disse, sério, com os lumes azulados semicerrados misteriosamente:

— Mandou bem.

{...}

Enfiei a cabeça para fora do banheiro, me certificando de que o corredor estava vazio. Pressionei a toalha contra meu corpo e corri, tentando ser mais silenciosa possível — não queria chamar atenção, muito menos atrair Dean. Ele não poderia me ver até as sete. Eu estava me sentindo uma verdadeira donzela. Ri baixinho desse pensamento e adentrei o meu quarto, que estava pelo menos umas cinco vezes mais quente do que o corredor. Soltei um suspiro de satisfação e fechei a porta atrás de mim com cuidado, ainda tentando não fazer alarde. 

Caminhei até o criado-mudo e recolhi meu celular, checando as horas. Eram seis. Deduzi que uma hora era o suficiente para me aprontar. 

Perdida em pensamentos, saltitei em direção ao guarda-roupa e abri suas portas, esperançosa, mas o que vi não me agradou muito. Um pequeno pânico se instalou dentro de mim. Minhas roupas eram simples. Simples demais, principalmente para uma ocasião como aquelas. Meu vestuário se limitava a calças jeans, blusas básicas e sem graça, moletons surrados e duas preciosas jaquetas de couro, uma marrom e uma preta. Eu não tinha nenhum vestido, nem sequer saltos e muito menos qualquer acessório ou maquiagem. Tentei não me concentrar no quão fútil era eu estar demasiadamente preocupada com a minha aparência, quando eu estava a três dias de salvar o mundo. Ou ao menos, tentar.

Bati com a testa na quina da porta do guarda-roupa, pensando em qualquer alternativa possível para resolver o meu caso idiota. Agradeci a mim mesma quando uma lâmpada imaginária se acendeu acima da minha cabeça, e eu corri para resgatar o meu celular. Dedilhei a tela, navegando pelos contatos, e assim que encontrei, iniciei uma ligação com destino à Tina — ela insistiu em me dar o número dela em casos de emergência, e eu decidi não contrariá-la.

Ela atendeu de imediato, e estava tão entusiasmada que acabou me dando um susto. 

Lisbeth! Ooooi! — ela saudou, animada, dando uma risadinha logo após a fala. 

— É, oi, Tina! — tentei soar tão eufórica quanto ela, mas meu nervosismo não estava tão fácil de esconder. Estava tão explícito que Tina me cortou:

Ih, eu, hein... O que aconteceu?

Cocei a nuca — o frio ainda me incomodava, e meus braços se arrepiaram. Estremeci antes de continuar:

— Eu preciso de ajuda. Ajuda feminina — eu me adiantei, praticamente vomitando as palavras. Temi ela não ter entendido, me fazendo repetir.

O que você precisa?

Suspirei.

— Eu vou sair com o Dean, e... Não tenho roupas adequadas. Nem maquiagem. Nem absolutamente nada. Eu me sinto uma fazendeira — resmunguei, me encolhendo.

Certo. Emergência. Fica aí! 

E desligou. Bufei, afastando o aparelho da orelha e jogando sobre a cama. Estava prestes a reclamar comigo mesma quando uma mão franzina tocou o meu ombro. Pulei de susto e emiti um som gutural, que me obrigou a cobrir os lábios logo em seguida  — orei para que ele não tivesse sido alto o suficiente a ponto de ser possível ouvi-lo de fora do quarto. Tina deu um sorrisinho de deboche diante do meu espanto. Notei que ela empunhava uma maleta ônix, e sobre ela, algumas peças que me pareciam elegantes. No chão, onde ela provavelmente os soltara, estavam os saltos. 

— Oi, bonitinha.

Corei ao lembrar que eu estava de toalha. Ela reparou em minha reação.

— Não se preocupe, somos mulheres — Tina estapeou o ar, despreocupada. — Além do mais, eu não tenho interesse por mulheres e duvido que, angelical como você é, trairia alguém. Ainda mais o Dean. 

— Certo — tentei me desligar daquilo, e levei os olhos até as roupas que ela trazia consigo. — Quais são as opções, afinal? Temos uma hora.

Tina me encarou com uma careta.

— Primeiro, temos que dar um jeito nessa coisa que você chama de cabelo — ela apontou para a minha cabeça, risonha e nada discreta. 

Toquei os fios, insegura.

— Não se preocupe. Tem conserto! — ela sorriu amarelo. — Depois, rebocar essa sua cara. Aí, nós vemos qual fica melhor em você.

— Certo.

Não precisei dizer mais nada — Tina me empurrou até a cadeira próxima à escrivaninha de madeira. Enquanto me sentava, ela abriu sua maleta mágica, estendendo-a pela mesa. A diversidade de produtos contidos nela me espantou. Me senti uma formiguinha. Tina secou o meu cabelo, usou algo que não gravei o nome para fazer cachos, e em seguida, me maquiou. Suas mãos grosseiras até que fizeram um bom trabalho — a "produção" foi surpreendentemente suave e discreta. Mal pude sentir a maquiagem sobre a minha pele.

E então, ela dispôs os vestidos sobre a cama enquanto eu vestia minhas roupas íntimas. Me aproximei quando ela me chamou, e me assustei com a beleza das peças. 

Os três vestidos escolhidos eram mais elegantes do que eu jamais tinha visto. Um deles era azul-marinho e aparentemente justo, com pequenos e delicados babados em sua extensão. O outro era preto e bonito, porém, muito chamativo — paetês prateados se espalhavam sobre o fim do tecido. Olhei para Tina, desconfiada.

— Não sabia qual era o nível em que queria chegar... — a loura deu de ombros, explicando-se. 

E o último, foi o que me chamou mais atenção. Era vermelho e justo até a cintura  — dela para baixo, era rodado e solto. As mangas eram compridas e era estilo ombro-a-ombro — algo muito delicado e simples, no entanto, o mais encantador de todos. Me vi boquiaberta e maravilhada. Isso chamou a atenção da ceifadora ao meu lado.

— Experimente esse, bonitinha.

Eu a encarei por alguns segundos. Tina deu uma piscadela e eu assenti. 

Puxei o vestido para mais perto com muito cuidado, e cheirei-o automaticamente — tinha um cheiro desconhecido, no entanto, muito agradável. Passei-o pela cabeça, enfiei as mangas e o ajustei no corpo, puxando os amarrotados e tentando me deixar apresentável. Tentei não criar expectativas sobre o caimento do vestido — Tina me estendeu os sapatos que disse que mais combinavam com o vestido, que não eram tão altos, porém eram tão bonitos quanto o vestido, cobertos por uma fina e requintada camada de veludo. Preparada, me endireitei, enrijecendo os músculos e ficando imóvel para uma avaliação. 

— E então? — eu perguntei em quase um sussurro.

Ela me olhou dos pés a cabeça e seus olhos se arregalaram tanto que achei que eles iam saltar para fora das órbitas.

— Você está quase mais bonita do que eu!

— Isso é para ser um elogio? — eu franzi o cenho, afastando uma mecha que atrapalhou meu campo de visão.

— É claro que sim — ela revirou os olhos e me empurrou até o guarda-roupa.

Tina abriu a porta, revelando um espelho no qual meus olhos demoraram a focar. A demora valeu a pena.

Eu estava bonita, algo que eu nunca havia visto. Nunca havia me sentido tão bonita, e não contive o sorriso ao saber que eu estava bonita por ele. Ele me fazia melhor. Me fazia linda. 

Respirei fundo. Tina tocou meu ombro.

— Bem, parece que meu trabalho acabou por aqui — ela sorriu, verdadeira. — Boa sorte, Beth. 

Olhei para ela por cima do ombro, mas ela já tinha ido embora. 

Expirei e busquei pelo meu celular, que estava em cima da cama. Sete horas.

Meu coração palpitou dentro do peito, como se eu fosse uma adolescente e estivesse revivendo o dia em que Dean e eu confessamos nossos sentimentos. Não entendi porque estava tão nervosa, mas estava ciente do efeito que ele tinha sobre mim. Se estar perto dele era quase um pecado, seu toque era a minha perdição.

Empurrei o nervosismo para longe, para não deixar que ele estragasse a noite, e abri a porta do quarto. Avancei pelo corredor, desci as escadas e o vi. Ele estava de costas, mas virou assim que o tilintar dos meus saltos atingiram os seus ouvidos.

Pensei que ia desmaiar quando vi aquele sorriso preencher seu rosto.

Ele estava lindo. Mais lindo do que nunca. Mais lindo do que pensei que fosse possível. Nunca havia o visto sem as fiéis flanelas e as camisas de cores básicas e sem graça  — apenas nu, e somente. Agora, seus trajes eram compostos de jeans, um sapato qualquer e a prova de que ele estava jogando baixo, muito mais baixo do que eu jamais poderia jogar. 

Uma jaqueta de couro marrom se estendia sobre os seus ombros largos, e isso me arrancou um suspiro mais alto do que imaginei. Me vi maravilhada, hipnotizada.

Seus cabelos estavam mais despenteados do que o normal, levemente molhados e eriçados, o que me causou arrepios por cada centímetro do meu corpo. Mas o sorriso foi a gasolina para a minha faísca de âmago. Senti algo explodir dentro de mim, e precisei me conter fortemente para não me jogar nos braços dele, adiantando tudo. Aquela noite precisava ser perfeita, principalmente porque aquela poderia ser a minha última chance.

Tentei recobrir a consciência e me aproximei com cautela, embora eu não tenha sido cautelosa em deixar que um sorriso tão largo quanto o dele se espalhasse pelo meu rosto. Assim que cheguei mais perto, as esmeraldas no lugar de seus olhos brilharam na minha direção. Eu quis mergulhar nelas, mais do que nunca. 

— Jesus... — ele balbuciou, e não foi nada discreto permitindo que seus olhos dançassem pelo meu corpo, dos pés até a cabeça. 

O rubor em minhas bochechas, sem dúvidas, era visível. 

— Cumprir minha promessa será mais difícil do que imaginei — o caçador sibilou, tão baixo que eu quase derreti.

— Jaqueta de couro... Pegou pesado, Winchester — toquei seu peito com o indicador, chegando perigosamente perto.  — Isso é trapaça.

— Você trapaça todos os dias e não reclamo — revirou os olhos. 

Sorri.

— Certo. Vamos, ou acabaremos subindo e resolvendo isso de uma vez — dei risada, me aproximando da porta.

Ele me seguiu, se pondo ao meu lado. Chegamos em frente à porta e paramos.

— É tentador — Dean balançou a cabeça, em uma confissão maliciosa. — Mas está certa. 

Ele puxou a porta pesada, apontando. 

— Primeiro as damas...

— Que cavalheiro — disse e passei por ela. — Nesse caso, você deveria ter ido primeiro.

Ele fingiu estar ofendido.

— Engraçadinha.

Seguimos juntos até o Impala e nos acomodamos dentro dele. Cheguei a perguntar onde iríamos, mas Dean insistiu que era uma surpresa. Escutamos e cantamos a AC/DC durante todo o trajeto, e a todo momento ele me lançava olhares cintilantes, que faziam meu coração bater tão rápido que era até doloroso. Fiquei curiosa em saber o que se passava em sua mente naquele momento, mas não perguntei mais nada — apenas cantarolei e batuquei as melodias que enfeitavam o momento. 

Quando estacionamos, estendi o olhar aos meus arredores e identifiquei um estabelecimento muito bonito — era um casarão escondido entre um jardim escuro. A pequena trilha até o restaurante era iluminada por pequenas lamparinas, presas ao chão, providas de uma luz amarelada e aconchegante. Mesmo de longe, notei que a iluminação do lugar em si era da mesma coloração. Era algo rústico, porém elegante e confortável. 

Dean me guiou até o lugar, e me senti nas nuvens ao poder segurar suas mãos — seus dedos espessos e quentes de encontro aos meus, frios e franzinos, fazendo uma onda deliciosa de calor percorrer meu corpo e aquecer meu coração.

Fomos bem-vindos no lugar, e tivemos um jantar além de maravilhoso. Ri mais do que nunca havia rido  — a sua presença bastava para eu me sentir completa. Me sentir única, linda e amada. Eu não precisava de mais nada no mundo  — nada além dele. 

Quando reclamei de frio na volta para o bunker, ele me envolveu com a sua jaqueta, e eu torci para que chegássemos logo em casa. Eu precisava dele. De seu corpo contra o meu. 

Não esperei que subíssemos — depois que estacionamos e assim que entramos e fechamos a porta, eu deixei a jaqueta de lado e parti para cima dele. Seus lábios quentes tocaram os meus e eu me senti renascida. 

Ele era o meu ouro, e eu era a sua prata.

E então, nós subimos, mais do que apressados. Nos dirigimos ao seu quarto, e não esperamos mais nada. Nos unimos mais uma vez. Nos entregamos um ao outro. Colamo-nos como se fôssemos um só.

Deitada em seu peito, temi perdê-lo. E foi então que percebi que queria sobreviver.

Por causa dele. Queria sobreviver para estar junto dele. Queria sobreviver para poder amá-lo. Amá-lo até o fim dos meus dias.

Por volta das quatro da manhã, ainda estávamos acordados, rindo sobre histórias de infância que Dean me contava animadamente. Eu prestava atenção em cada palavra, ainda que fosse difícil — a sua voz aveludada me deixava louca. Contornei seu tórax com o indicador quando ele parou de rir, focada e convencida a gravar cada um de seus detalhes.

Ele baixou ainda mais o volume da televisão, que passava um filme qualquer besteirol, e senti seu olhar cair sobre mim.

— Não quer fazer de novo, quer? 

Eu o olhei e ri.

— Está brincando? Não. Estou cansada.

— Que pena — ele resmungou.

Franzi o cenho.

— Foi mal! Impulso! 

Foi impossível não sorrir. Me inclinei e o beijei com cuidado, suavemente, como se ele fosse uma pluma, facilmente propensa a escapar. Me permiti compartilhar os meus pensamentos.

— Quero sobreviver.

— O quê?  — ele ergueu as sobrancelhas, se atentando a mim.

Pisquei, concentrada, e por minha vez, me atentei às profundas esmeraldas de seus olhos, me encarando curiosas.

— Quero sobreviver à sábado.

— E você vai — ele sussurrou, confiante, e sorriu. — Mas porque está dizendo isso?

Espalmei a mão sobre seu peito, sentindo seu coração bater sobre meus dedos. Olhei-o com intensidade.

— Quero sobreviver por você. Porque te amo.

O caçador pareceu surpreso. Ele piscou os lumes mais lindos do mundo para mim, e me beijou.

Aquele beijo foi tão intenso que ele quase ultrapassou o nosso segundo beijo no ranking de "melhores beijos". Não quis que ele se afastasse nunca mais, mas me aliviou o fato de que seus olhos substituiriam o toque cativante. 

— Eu te amo, Elizabeth.

O modo como ele me disse meu nome fez cada pelo do meu corpo se eriçar. Ele beijou minha testa, e então meus dedos, e eu me senti em casa. 


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Notas finais do capítulo

MUITAS EMOÇÕOOOOES! Meu coraçãozinho tá mole aqui, oooownnn...

Não esqueçam dos comentários, porque eu demorei mas voltei, então eu mereço, hein? Por obséquio! Nunca pedi nada! ahahahah
É isso aí, meus amores. Milly está de volta e pra ficar! Beijão!

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Tumblr: http://fallen-fanfic.tumblr.com
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