Aishiteru escrita por Samy


Capítulo 4
Quatro




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 Eis que, Catherine Deneuve, foi ,de fato, uma presença inesperada na festa de aniversário de Joe. Assim como Floramon foi cercada pelos digimons hospitaleiros, curiosos e felizes por ter mais um integrante da equipe, a loira virou o centro das atenções.

Todos tinham questionamentos para as convidadas. Os digimons questionavam sobre as comidas francesas e queriam saber se Floramon já tinha alcançado evoluções e quais níveis,  se digimaus já invadiram a França após  ocorrido dos portais, pediram demonstrações de seus ataques e combinaram batalhas amistosas no Mundo Digital.

— Como somos criados a partir de dados, para nós é muito fácil aprender vários idiomas do mundo humano, mas sua parceira também parece ter essa habilidade. – analisou o parceiro de Koushiro.

 

    – Na verdade, a Cather tem praticado muito, ela é inteligente e muito esforçada, ficou muito feliz em saber que iria poder reencontrar os amigos que fez naquele ocorrido há quatro anos. Os pais dela trabalham muito e a deixam bem solitária, assim como o Armand, seu irmão caçula. – Explicou Floramon.

    – Não se preocupe com isso, nossos parceiros são bem unidos e mesmo com muita tarefa escolar, sempre dão um jeito de se divertirem. Ela não vai mais se sentir sozinha. – Tranquilizou Armadillomon.

    – Mas diz ai, qual são as suas evoluções? – Perguntou Gabumon, ele não estava a fim de ouvir sobre a solidão da parceira de Floramon, até julgava que ficar só, fazia bem, ao menos era isso que Yamato sempre dizia.

    – Já alcancei o próximo nível, como Kiwimon.– os monstrinhos ficaram esperando  que ela dissesse outras formas. – Bom, foi só essa. – todos caíram desanimados.

    – Vocês deveriam se lembrar que os outros digiescolhidos mundo afora não tiveram tantos problemas como nossos parceiros. – Advertiu Tailmon.

    – Ah, tudo bem. Aposto que Kiwimon deve ser uma digievolução muito maneira. – elogiou Hawkmon a fim de deixar a novata confortável, os monstrinhos concordaram.

    – Mas falando de coisas boas...– começou Agumon. – Como são os doces da França?

    – Ils sont magnifiques! – Floramon saltitou com a fronte corada. – Eu amo, amo, amo… Os doces que Cather me dava! éclair, Macaron!

    – Adoro macarrão, mas a Natsuko faz ele salgado. – Patamon interrompeu empolgado.

    – Não é macarrão, macaron é um biscoito recheado, colorido e muito gostoso. – explicou Palmon. – Mimi já fez resenha sobre confeitarias francesas aqui do Japão, para o canal.

    – E as lesmas? O Daisuke disse que francês come lesma. – Bradou veemon.

    – é verdade, come mesmo. Vocês não?

    Todos negaram com as cabeças.

 

    – Eu gosto de minhocas, mas a Sora-chan não me deixa comer. – choramingou Piyomon.

 

    – Eu gosto da ração dos peixes! – revelou Gomamon. – Mas o Joe também não me deixa comer.

...

 

 Para Catherine, as perguntas eram mais ou menos parecidas, tanto sobre seu desempenho como digiescolhida e suas batalhas já travadas, quanto trivialidades e curiosidades acerca da cultura francesa. A estrangeira revelou muitas peculiaridades.

Foram muitos espantos e muitos risos.

— É verdade que franceses tomam banho uma vez a cada semana e usam muito perfume para disfarçar? – Mimi Foi quem fez valer seu título de sincera.

— Mimi-chan? – repreendeu Sora, mas no fundo também queria saber.

— Mon Dieu! Non, non, non… – A loira sacudiu a cabeça em negação, de forma fofa. – O frio na França pode ser bem rigoroso, em algumas regiões é insuportável, isso muitas vezes supera o sistema de aquecimento de água. Então o banho pode não ser diário, mas a higiene íntima é sempre bem feita. Eu realmente não conheço ninguém que aguente uma semana sem banho.– parou pensativa e tomou coragem. – É verdade que aqui no Japão a gravidez é uma vergonha e as grávidas usam faixas para esconder a barriga?

—Não! – exclamou Sora. – Os médicos orientam o uso da faixa para sustentar o peso da barriga e não afetar a coluna, mas ela não aperta. Ficar grávida não é vergonha, mas também não tiramos fotos mostrando  o ventre, como em algumas culturas.

— é verdade que nos restaurantes são servidas carnes sangrando? – Daisuke  questionou.

— Sim, é verdade. – ela sorriu. – mas vocês comem peixe cru, não podem nos condenar. – todos riram em concordância. – É verdade que tatuagens são mal vistas aqui?

— Essa eu respondo. – Koushiro ergueu o indicador. – No passado as tatuagens eram usadas aqui como punição para criminosos, posteriormente sendo tomadas como marcas para membros da Yakuza, então ficou marcado na cultura como algo ruim e associado a delinquentes.

 

— Agora chega de perguntas e vamos cortar o bolo. – Miyako trouxe a faca.

    – Pensei que aqui no Japão não fosse hábito comemorar aniversário.– observou a estrangeira, confusa.

    – Nossa cultura tem mudado muito. Os tradicionalistas não aceitam e nem concordam com essa inserção de novos traços culturais vindos de fora, mas os jovens não querem saber. Queremos festas e presentes no Natal, chocolates na Páscoa, festa no aniversários. As crianças vêem nos desenhos, séries e filmes, elas querem também. – enfatizou Taichi.

    – É verdade, já temos até concursos de cheerleader  e por sinal, a Hikari-chan é coreógrafa na escola, vai participar pela primeira vez este ano. – Miyako comentou e apontou para a amiga.

    Ninguém tinha percebido que Hikari se manteve quieta e fechada desde que Catherine chegou com Takeru, até porque ela escondia muito bem seus sentimentos. Miyako era um tanto desligada a respeito de assuntos românticos, mas na hora em que se atentou para a amiga, notou que a aura da castanha estava pesada.

 

    Hikari apenas anuiu com a cabeça e continuou calada, mexendo no celular a esmo. Taichi também notou algo errado na caçula, mas desde que Hikari se tornou “mocinha” ele sabia que era normal as variações repentinas de humor, julgou ser a tal da TPM e preferiu dar espaço para ela.

    – Bom, o bolo, vamos partir? – Sora, que também notou a estranheza do clima, apressou o ritual.

    As luzes foram apagadas e o parabéns foi cantado e, com versões avacalhadas pelos rapazes. Joe achava aquilo o maior mico, mas valia a pena para ver a descontração da turma.

    O bolo foi cortado e servido, primeiro para os monstrinhos, para aquietar a euforia deles. Hikari não quis comer, não tinha fome. Queria ir embora, mas não estragaria a noite de todos.

    – Hikari-chan, vamos dançar. – Daisuke apontou para o Just Dance.

    – Não me sinto muito animada, mas obrigada.

 

    – Você está bem? Quer alguma coisa? Companhia? – chavecou como sempre.

    – Não, só quero que a Tailmon se divirta, mas se você puder me deixar sozinha eu vou agradecer. – Hikari foi resoluta, não era de seu feitio, mas sabia que não aguentaria as cantadas de Daisuke, no estado de ira e decepção em que se encontrava.

    O ruivo se assustou um pouco com a resposta da amada, mas atendeu seu apelo, indo se sentar junto a Iori, Ken e Yamato que conversavam frivolidades.

    …

Miyako e Sora, terminaram de servir a todos e sentaram-se  com Hikari.

    – Amiga, você quer ir embora? – Miyako colocou a mão sobre a de Hikari.

    – De forma alguma. – esboçou um sorriso terno. –  Olha para Hawkmon e Tailmon. Todos os dias nós passamos horas na escola e quando chegamos em casa fazemos toneladas de deveres escolares, eles ficam lá, sempre. Acho que precisam se divertir, comer besteiras. Não podemos tirar isso deles, né?

 

    – Eu sei, mas amiga…

    – Obrigada, Miyako,chan, mas eu tenho que ser forte. Eu posso fazer isso, ou ao menos tentar, entende? – murmurou hesitante. 

    – O que está acontecendo? – interrompeu Sora. – É por causa do Takeru-kun? Eu sabia que você gostava dele. Não fica com ciúmes a Catherine é só uma amiga.

    – Também sou apenas uma amiga, na verdade, somos amigos desde a infância, lembra? Contudo, ele nem olhou na minha direção essa noite.– resmungou a castanha, sem conter sua frustração.

    – Perdoa ele, Hikari-chan, pois, está muito empolgado em estar junto a sua amiga de muito longe e só quer deixá-la confortável entre nós e num país estranho. – aconselhou a mais velha.

    – Estou tentando ter essa maturidade, estou tentando… Bem, mas e você e o Yamato, parecem estar se evitando. – mudou o assunto rumo a ruiva.

    – Yamato! – ela jogou as costas contra a cadeira e bufou. – Acho que já fiz o meu melhor pela nossa relação, mas ele vê todo mundo crescendo e quer continuar brincando de boyband. Para mim já chega.

 

    – Mas ele tem talento, a voz é boa, as composições são profundas. – observou Miyako.

    – Ninguém quer profundidade hoje em dia. Basta carinhas bonitinhos sensualizando, de cabelos coloridos, fazendo coreografia maneira e cantando letras tolas como “ela é como Lúcifer.” Pop rock não tem mais vez. – Sora expôs seu ponto de vista.

    – O sol brilha para todos, existe o momento para curtir músicas bobas, só para dançar e, momentos para ouvir algo que conta exatamente a história da sua vida.– opinou Hikari.– Freddie Mercury se achava feio, sofria ao esconder sua sexualidade em uma época em que isso era tabu, mas tinha grande talento. Se não tivesse recebido um grande apoio da namorada, talvez nunca conheceríamos suas incríveis canções.

    Sora fez uma careta de desgosto, gostava de ser como a mãezona da turma e distribuir conselhos, mas não era muito aberta a recebê-los.

 

    – Nem tudo são flores. Você ainda não entende, mas eu não consigo carregar o peso de ter um namorado famoso que está sempre na estrada, enquanto fico a espera. Eu preciso de alguém presente na minha vida, nas dificuldades, nas datas comemorativas. – ajeitou os cabelos ruivos, olhando Yamato com o canto do olho.

    Yamato conversava com Koushiro, com certeza algo sobre a banda. Ele parecia chateado e abatido. Talvez Hikari e Miyako estivessem certas e o sonho dele devesse ser apoiado. Sora sentia-se sendo julgada pelas mais novas,porém, foi sincera no que disse e manteria seu ponto. Era melhor deixar o ex de coração partido agora, do que ter uma família com ele no futuro e, essa viver partida. Um ato cruel no presente,para evitar algo pior. Elas nunca entenderiam.

    Miyako atravessou o local no intuito de dar um pouco de atenção para o restante dos amigos, ela entendia que Hikari precisava respirar um pouco. Ken parou de prestar atenção na explicação de Iori sobre as etapas das competições de kendo, assim que notou a aproximação da amiga.

 

    – Quer um babador aí, colega? – Daisuke não perdeu a piada.

    Ken se engasgou com o suco, iniciando uma crise de tosses. As vezes ele realmente gostaria de socar o amigo. Tudo bem que todos presentes na mesa já entenderam seu interesse pela mais velha, mas era humilhante ouvir piada disso o tempo todo.

    – O troféu indiscrição e inconveniência, vai para...– debochou Iori.– Motomiya Daisuke. Fica tranquilo, Ichijouji-san,  a música está alta, ela não ouviu.

    Antes que Miyako chegasse a mesa,Mimi a puxou pelo braço.

    – Que história é essa de que você o Koushiro-kun dançavam free step? – inquiriu, empolgada.

    – PQP! Isso é pré histórico, amiga. Foi só uma fase, depois veio parkour e slackline, agora são vídeos toscos para TicToc.– explicou a violácea estalando os dedos.

 

    – É, mas vocês dançaram na época da modinha, vão ter que dançar pra gente. – puxou Koushiro que tinha ouvido tudo e já estava saindo de fininho.

    – O que? Meu melhor amigo dançava free step e eu nem sabia? – Taichi brotou como se surgisse de algum portal dimensional,abraçando Koushiro e esfregando o punho na cabeça dele. – Nunca me senti tão traído. Vou querer ver isso!

    – Agora ferrou. – resmungou Koushiro. – Foi só uma fase, cara. Você não tem que saber cada peido que eu solto.

    E todos zoaram.

    – Pô cara, depois de todos os nossos momentos...– cantarolou o Yagami.– Você quase morrendo com as vitaminas da minha mãe. Você vira um nerd descolado, posta na internet  e eu fico igual corno; o último a saber...– dramatizou.– Parkour, mano? Eu correndo atrás de bola, até me senti mal.

    – Hey, deixe para discutir a relação depois.– interrompeu Mimi.– Agora vocês vão dançar essa bagaça pra gente!

    Koushiro e Miyako se olharam e bufaram, vencidos. Enquanto selecionavam a música, Ken sentia-se exatamente como Hikari; esquecido, deixado de lado, invisível. Uma angústia crescia dentro de si. Miyako parecia fazer parte de outro universo; jogos online, mixagem, modismos da internet, nada que ele entendesse ou apreciasse,como Koushiro. Era horrível concluir que seu coração decidiu bater por uma pessoa que parecia o par perfeito de outra.

    Enquanto Koushiro e Miyako executavam seus passos, animando a galera, o nó crescia na garganta do ex imperador. Wormmon já estava exausto de tanto comer e farrear com os demais monstrinhos, aninhou-se nos braços do parceiro e desmaiou em sono profundo.

    Uma auto sabotagem gritava no âmago de Ichijouji; como ele era patético, uma piada, alguém  morno e insosso, incapaz de divertir uma garota como Miyako, como ele só estava ali porque todos tinham pena dele,mas  na verdade ele não era parte daquilo, não somava em nada, não faria falta…

        A cabeça de Ken dava voltas, latejava, doía… ele nem percebeu quando a dança acabou e Miyako chegou em sua mesa, só foi despertado pela voz da garota.

 

    – Ken-kun? Você está curtindo a festa? Está se divertindo? Nem comeu bolo, não gostou? Se preferir outra coisa eu posso pegar, algo salgado talvez?

    – Não quero nada! – murmurou amargo.

    – Você deveria experimentar o brigadeiro, é um doce brasileiro que a Mimi-chan aprendeu em uma de suas experiências gastronômicas.

    – Não precisa. – ciciou emburrado, mas Miyako não percebeu.

    – Ah, na verdade lá na mesa principal ele já acabou, mas eu guardei pra você. Vou buscar.

    – EU NÃO QUERO! – a música parou e as atenções se voltaram para o ex gênio. – Chega de me tratar como criança ou como um demente. Chega de me sufocar com suas preocupações exageradas; se eu comi, se bebi, se estou interagindo ou me divertindo. Eu não  preciso de uma segunda mãe!

    Ele se levantou abruptamente e passou pela porta de saída, deixando todos aturdidos e confusos. Daisuke ponderou o quanto aqueles sentimentos estavam mexendo com a cabeça, já complexa, do amigo. Motomiya sentiu-se culpado por fazer piada e expor as emoções de Ken,fez menção de se levantar para ir atrás dele, mas Miyako impediu.

    – Eu vou. A treta foi comigo, eu resolvo.– acenou com a cabeça a tranquilizar os amigos e, mirou seu vizinho.– Cuidado Hawkmon pra mim.

    …

    Ken foi abatido pela racionalidade quando suas pernas exaustas precisaram parar a corrida. Um misto de vergonha e arrependimento o tomou por completo. Ele não se reconhecia, nos quatro anos após a batalha final ele foi um poço de calma e apatia, nunca estourou com paparazzis, repórteres e fãs revoltados, mas fez isso com quem não merecia.

    – Tudo bem, Ken-chan. Vocês são amigos e os amigos superam essas coisas.– murmurou um sonolento Wormmon.

    ken sentou-se em um ponto de onibus vazio, cujo poste piscava como se estivesse prestes a desligar. A rua estava morta, não se ouvia um único ruído.

    – Eu sou um lixo, Wormmon...– não conseguiu conter as lágrimas. – Nunca mais vou poder olhar para nenhum deles, principalmente pra ela.

 

    Ninguém tinha clima para continuar a festa. Joe agradeceu a presença e encerrou o evento. Hikari suspirou aliviada, pois já estava igual a Ke; ,prestes a explodir.

    – Ah, Hikari-chan...– Takeru finalmente chamou a amiga.– A Catherine quer saber se tem uma vaga para ela no grupo de dança, pois ela vai estudar na nossa escola.

 

 

 

 

 

 

 

 


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