Aishiteru escrita por Samy


Capítulo 3
Três




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— Koushiro e Miyako não são namorados, são apenas amigos muito ligados por curtirem as mesmas coisas. Não liga para o que o Daisuke diz! — O portador do brasão da Esperança tentou apaziguar a situação.

Ken corou de imediato e tentou consertar a impressão que passou.

— Não, não é como se eu me importasse, é… — Ele corria as mãos pelos cabelos, tentando concluir o resto da fala, mas a verdade é que se sentia como se tivesse sido atingido por um raio.

— Olha aqui Ichijouji, vamos parar de “cu doce” todo mundo até os Digimons, até quem te conheceu hoje já sacou que você tem uma quedinha por ela, a questão é que o Koushiro também tá na pista, então trata de abrir o olho e se declarar de uma vez ou vai comer mosca! — Motomiya aconselhou gritando no meio da rua com o dedo na cara do amigo, o fazendo ficar vermelho como tomate.

— Daisuke, como pode dizer que Koushiro-san gosta dela? Você não sabe, ninguém sabe. — Takeru tentou amenizar. — Agora não pode existir amizade entre homens e mulheres?

Daisuke não tinha lá tanta sensibilidade para saber a hora de calar a boca, além disso, queria ver o amigo sair vencedor, não queria que ele perdesse o “jogo”. A sua maneira aquilo era um incentivo.

 

(...)

Durante o restante da semana o ritmo foi o mesmo, todos almoçavam juntos, mas no final da aula as garotas desapareciam, cada dia com uma desculpa diferente. Durante este tempo Daisuke praguejava por não conseguir se declarar e Ichijouji martirizava-se por não conhecer tanto sobre Miyako quanto Koushiro, mesmo assim o almoço ainda era animado.

Uma noite enquanto observava sua irmã toda derretida assistindo um programa romântico na TV, Daisuke sentou-se ao seu lado e a surpreendeu com uma pergunta:

— Jun… Do que as garotas gostam, afinal?

Ela arregalou bem os olhos e piscou duas vezes levando o polegar ao lábio inferior e pressionando:

— Então você quer  impressionar uma garota, han?

— Quero declarar o que sinto e pedi-la em namoro, é isso. Vai em frente, pode me zoar! — Ele falou e aguardou as zoações, mas sua irmã não debochou.

Ela ficou séria e respondeu:

— Bem… Garotas gostam de rapazes populares, que praticam esportes ou tocam em bandas, também aqueles que se sobressaem muito nos estudos. No seu caso tem o futebol, tente se valer disso. Faça sua declaração ser algo memorável, que a garota vá ficar tão emocionada que não vai ter como dizer não.

— Ótimo, nosso time vai jogar na terça e ela faz parte  da animação de torcida. Vou fazer meu melhor jogo e dedicar todos os gols para ela junto com meus sentimentos. — ergueu o punho imaginando a cena? —  O que você acha?

 

— Maninho, acho que depois disso você vai ser o garoto mais popular e cobiçado da escola, mas será comprometido! — Garantiu a ruiva, bagunçando os cabelos do irmão.

Daisuke permaneceu com um sorriso bobo imaginando uma  cena brega de filme americano…

 

(...)

O fim de semana chegou e todos combinaram de se reunirem à noite em um karaokê, a fim de  comemorar o aniversário de 22 anos de Joe Kido. Como conseguiram fechar um local somente para eles, puderam levar os Digimons sem preocupações.

Mais cedo Hikari tinha ido para casa de Miyako para se arrumarem juntas. Passaram a tarde toda no processo, enquanto conversavam sobre o assunto que afligiu a mais nova a semana inteira.

— Hikari-chan, pode ficar despreocupada, como Taichi-kun vai estar presente eu duvido muito que Daisuke tente lhe declarar algo. — Disse Miyako em tom brincalhão, secando os cabelos da amiga.

— Na verdade amiga, vou me declarar para o Takeru-kun, já me decidi! — Hikari falou decidida e Miyako deixou a escova cair ao chão.

— Sério mesmo? Takeru-kun vai surtar! — Deu um gritinho escandaloso.

— E se ele me rejeitar? — Hikari questionou preocupada enquanto Tailmon e Hawkmon brincavam no tapete de dança, fazendo a maior algazarra.

 

— Amanhã o sol ainda vai nascer. Você não precisa de  garoto nenhum para ser feliz. Pode doer agora, mas você supera. — Aconselhou Miyako.

Ela não era tão durona quanto tentava parecer, embora tenha dado uma lição na amiga, já tinha tido seu coração partido uma vez e não desejava essa dor pra ninguém, mas sabia que poderia acontecer com qualquer um.

A noite chegou, Miyako, Hikari e Iori  se encontraram no térreo  e passaram na casa de Takeru, mas o loiro não estava em casa, também não atendia o celular. Sendo assim, eles seguiram para o local marcado.

 Hikari achou estranho afinal Takeru tinha combinado de seguir com eles, ficou preocupada, mas tentou relaxar e não demonstrar. Talvez ele tivesse precisado resolver algum contratempo e seu celular bugou, por isso não avisou. A noite só estava começando e ele ainda poderia chegar.

 

(...) 

Em Tamachi

 

“—Venha a festa do Joe-senpai! Por favor, “Ken-chan”! —” Miyako usou a forma carinhosa para suplicar, bem foi em tom brincalhão, mas depois de ouvir seu nome pronunciado assim…  a mente de Ichijouji parou de trabalhar, ele ficou lá entorpecido olhando para ela, que falava mil coisas sobre ser divertido, todos estarem lá. Ele nem sequer se deu conta de quando concordou com um menear de cabeça e todos comemoraram.

 

Seus pais e Wormmon pareciam mais animados do que o próprio. Todos os simples passeios que o jovem anunciava que faria com os amigos, os pais vibravam de alegria deixando-o até um pouco encabulado. Ken era um rapaz muito quieto até mesmo em casa, seu quarto era silencioso e em seu tempo livre ele adquiriu o hábito de desenhar, era como se novamente tentasse criar um mundo perfeito, mas desta vez ele não precisava das trevas.

 

Essas malditas trevas… Ken já havia encontrado a redenção, mas secretamente seu passado ainda o assombrava, em sonhos. Ele preferia guardar  para si, não queria preocupar seus entes queridos e seu parceiro Digimon, todavia, nem sempre ele tinha noites completas de um sono pacifico. Desejava poder se consultar com um psicólogo, mas ninguém sabia sobre os Digimons.

 

 Após entrar em sua nova escola sua inspiração para desenhar aflorou, agora, além de uma fuga, havia se tornado um prazer  Até Wormmon às vezes arriscava a fazer arte com tintas coloridas, mas seu vício tinha se tornado as novelas, animes e tokusatsus em especial o clássico Kamen Rider Black RX que  passava em reprises de  nostalgias, segundo  a pequena larva,  lembrava muito sua digievolução como Stingmon.

Ken estava de saída, despediu-se de seus pais e pegou seu pequeno amigo nos braços, mas internamente ainda se questionava se deveria mesmo ir, afinal Izumi Koushiro certamente estaria presente e depois das palavras de Daisuke ele não sabia se queria ter que encontrá-lo. Mas… Gostava mesmo de Miyako não tinha como negar mais para si mesmo, embora ainda negasse para os amigos, mas o que fazer com isso? Por que ter que fazer algo? As coisas poderiam muito bem continuar como estão. Eles se veem pelos corredores, almoçam juntos, se divertem nos finais de semana… Tudo isso já estava  tão 

perfeito, parecia que ele saiu de sua escola fria e tristonha, para cair dentro de um sonho e era complicado demais pensar em querer mais do que isso, talvez porque ele ainda fosse muito novo? Talvez por nunca ter se interessado por uma garota dessa forma? Ele realmente não sabia o que fazer com aquele sentimento novo, ou melhor, com a descoberta dele.

(...)

Mais tarde, na festa…

 

— Hikari-chan você está muito bonita! — Daisuke elogiou e Veemon concordou com a cabeça.  Ele também iria com o trio, mas teve que ajudar a mãe com as compras e acabou se atrasando.

 

— Obrigado Daisuke-kun e Veemon! — A castanha agradeceu risonha.

— Não vai dizer que eu estou bonita? — Miyako provocou se fazendo de ofendida.

— Eu não! Meu nível de demência não chegou a tanto. Por que você não pergunta para o Ichijouji ou o Koushiro-san? — Cotovelou a amiga.

 Daisuke sempre achou a amiga bem bonita, claro que não era aquela beleza delicada, ela era diferente, tinha todo um estilo geek de se vestir. Ao  contrário do que as garotas imaginam, usar óculos não desmerece ninguém, em determinadas pessoas pode deixar até mais interessante, basta saber ter estilo.

— Perguntar o Ken-kun? — Miyako  cantarolou surpresa, em seguida deu de ombros e voltou ao tom brincalhão de sempre. — Vocês ficam querendo me arrumar dor de cabeça. Depois dizem que garotas que só pensam em romance?

 

— Não imaginamos nada Miyako-san, nós observamos é diferente! — Iori pontuou e seu tom sério arranca risos dos amigo, menos de  Miyako, que mostra a língua. 

(...)

Todos já haviam chegado ao local combinado e trocado cumprimentos, apenas Takeru não pode comparecer e enviou uma mensagem no celular de seu irmão, Yamato. Hikari suspirou de frustração ao ouvir a notícia, sem perceber ela deixou que seus ombros baixassem.

 

Mimi e Sora foram as primeiras a fazer um dueto no pequeno palco, os Digimons atacavam o bufê, Daisuke tentava agradar Hikari, como sempre, e Ken sentia seu suprimento de ar sendo cortado a cada vez que olhava para Miyako.

— “Diz que ela está bonita, diz alguma coisa!” — Ele repetia para si, enquanto a observava remexendo-se de leve o corpo ao som da música. — “Anda fala idiota, não deve ser tão difícil assim!” — os petiscos e aperitivos não poderiam ser mais apetitosos, mas Ichijouji não tinha fome alguma, na verdade aquela sensação de nó em seu estômago apenas aumentava.

Quando ele resolveu abrir a boca para falar, a voz de Koushiro verbalizou seus pensamentos:

— Você está muito bonita hoje, Miyako-san!

— “Filho de uma…” — Ken contorceu o rosto franzindo o cenho e praguejando Koushiro em pensamento. Como ele se atreveu a roubar o elogio que ele estava tomando coragem para fazer?

 

— Hunf! Só hoje, não gostei! — A  elogiada brincou, dando de ombros e fazendo beicinho em protesto. 

Koushiro encenou levar um golpe e todos gargalharam.

—  Super combo da Katarina Pentakill! Não… Você sempre é bonita… hoje você está mais! — Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. — Você está sempre me desarmando! — Suspirou dando uma risadinha e todos riem ainda mais.

Em seguida Mimi chegou animada  a fim buscar Hikari e Miyako para o palco. Daisuke ficou comentando sobre seu plano brilhante para se declarar para Hikari e nem se deu  conta que Taichi estava  sentado bem na sua frente, com braços cruzados e testa franzida. 

— Deve ter muita coragem para admitir que vai se declarar para minha irmã, na minha frente? — Brincou o líder veterano, em tom ameaçador.

Daisuke se contorceu na cadeira, com uma expressão de medo, se enrolando ao tentar formular uma desculpa.

— Se estiver disposto a encarar o irmão ciumento é porque você gosta dela de verdade! — Yamato brincou dando tapas nas costas de Daisuke, que quase o faz cair com a cara nos petiscos sobre a mesa e todos riem.

— Não sou tão ciumento assim. Você deve ser bem confiante para se declarar na frente da escola toda. Tem meu respeito só pela sua coragem. Vá em frente com seu plano, boa sorte! — Desejou o veterano.

Daisuke sorriu de orelha a orelha, acabara de ganhar o apoio do irmão de sua princesa, isso só lhe deu mais força para seguir com seu plano. Ele assentiu alegre, olhando para Yagami e erguendo o polegar.

 

— Não acredito que você incentivou o garoto a pagar este mico! — Yamato cochichou em tom debochado.

— Não é mico, é romantismo cara, as garotas gostam disso, declarações melosas em público. Existem até programas sobre isso na TV— Taichi analisou levando a mão ao queixo. — Você que é um grosso e não entende nada sobre ser romântico, por isso a Sora te deu um pé na bunda!

— Argg! Como é que é? Você quer brigar é? Pode vir seu imbecil, vou te mostrar quem vai sair com um pé na bunda!

Todos miraram os dois “adultos” a se comportar como crianças briguentas, as gotinhas se formam nas cabeças dos espectadores.

— Algumas coisas nunca mudam! — Comentou Koushiro, parando de digitar no seu notebook, estalando a língua enquanto balançava a cabeça em negação.

 

— Fico feliz que estejam todos aqui! — Joe sorriu, observando os amigos se divertindo, cada um a sua diferenciada maneira.

 

As emoções daquela noite estavam apenas começando. Sora correu até a mesa e arrastou  o aniversariante para frente do palco, fazendo sinal para que todos a seguissem.

Joe ficou parado sem saber o que as garotas estavam armando, mas percebeu que Mimi havia deixado o local. As luzes se apagaram e quando  brilharam, revelaram  a garota no palco, usando um vestido idêntico ao que ela usava da primeira vez que foram ao Mundo Digital, até mesmo o chapéu, as luvas e as botas. O rapaz riu com a nostalgia e agarrou a caixa de bombons em forma de coração, jogada pela amiga.

 

— Há alguns anos, fomos transportados para o  Mundo Digital, já éramos bons amigos, mas isso só fortaleceu nossos laços. Conhecemos nossos parceiros e travamos muitas batalhas em prol da paz, durante este período Joe-kun sempre esteve lá para mim, seja para segurar minha bolsa pesada, seja para aturar meus ataques dramáticos… Quando voltamos para este mundo e quando eu tive que viver nos Estados Unidos, eu pensei que… Pensei que iria morrer de tantas saudades, mas agora eu voltei para ficar e pode ser brega, pode ser ridículo, mas eu quero que aceite esta canção que é especial para nós… Quero que aceite… — Mimi hesitou por alguns minutos, mas gritou em seguida com toda emoção. — Quero que aceite esta canção junto com os meus sentimentos!

Joe  ficou segurando a caixa de chocolates em forma de coração, lembrou-se de que era  idêntica a que ele deu a ela muitos anos atrás, antes do ocorrido com Wendimon e Wallace no Colorado.

Para sorte de Mimi a música começou a tocar e era a mesma que ela cantou no Digimundo para acordar o Gekomon Shogun, era realmente marcante para eles e Taichi era quem mais sabia disso.

 (...)

 

A música  não tinha letra romântica, mas  tinha um peso para eles. Ao fim da apresentação, estavam todos muito emocionados principalmente pela declaração corajosa  de Mimi.  Cada um se  perdia em suas questões pessoais… Daisuke encarou Hikari, longamente, como se quisesse dizer que logo seria a vez dela receber uma loucura romântica. Hikari se perdeu na canção e se culpou por não ter tido a coragem da amiga e se declarado para Takeru de uma vez. Miyako estava filmando com o celular, quando acidentalmente esbarrou em Ken, ambos trocaram um demorado sorriso.

 

— Joe-kun você aceita meus sentimentos? Eu gosto mesmo de você. — Mimi era assustadoramente fora dos padrões de garotas japonesas, na verdade ela era bem única e isso era tão encantador quanto assustador. 

Por um momento, Taichi, Yamato e Koushiro trocaram olhares preocupados, Joe era reservado e sério, provavelmente nunca pensou em receber uma declaração pública e poderia julgar cafona e invasiva, poderia se sentir exposto e acuado, Temeram uma reação  negativa que acabasse magoando Mimi, que embora já fosse maior de idade, às vezes se mostrava bem infantil.

— Cla-claro que aceito Mimi-san… — Joe ajeitou os óculos embaçados. — Eu também senti muito a sua falta e…  Nossa, eu não esperava por essa.— puxou o ar com dificuldades.— Eu também gosto de você. — a última frase foi embargada, quase sussurrada.

Como timidez nunca fez parte do dicionário da veterana portadora do brasão da sinceridade, ela se atirou nos braços do rapaz e o beijou apaixonadamente, como em uma cena de novela ou filme romântico, sob aplausos e assovios.

Ken  errubeceu diante da inesperada cena, não era normal ver casais trocando beijos em público, o que o deixou um tanto desconfortável. Iori não estava diferente e optou por remexer em seu celular, julgava aquilo desnecessário. 

O recém casal saiu para a sacada afim de conversar sobre o ocorrido, Taichi e Daisuke subiram ao palco para cantar Yamato, Koushiro e Iori se divertiam zoando os  “péssimos cantores” . Sora e Miyako foram buscar o bolo e acender as velas, Hikari se ajeitou na cadeira observando os Digimons se divertindo, quando... o inesperado aconteceu, Takeru cruzou a porta de entrada, mas ele não estava sozinho.

 

Taichi e Daisuke pararam no meio da estridente e aguda cantoria, Sora e Miyako quase deixaram o bolo cair, com a surpresa.

 

— Oi pessoal,— Takeru chamou atenção de todos. Patamon voou de sua cabeça até os outros Digimons. — eu disse que não viria, mas minha amiga quis conhecê-los. Esta é Catherine Deneuve,  a digiescolhida que Taichi e eu conhecemos na França, e sua parceira Floramon. — a bela loira  parecia uma boneca de porcelana, ostentava um sorriso gentil no lábios rubros e delicados, trazia em seus braços uma Floramon. — Ela me mandou um e-mail hoje e me surpreendeu ao dizer que estava no Japão e queria conhecê-los!

 


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