Novamente Alice - Stories escrita por Sol


Capítulo 2
Família e Amor


Notas iniciais do capítulo

Heyy, eu não morri gente, e o capitulo 56 logo vai sair hauhauah Temos um especial do Ás com os alunos dele, afinal esses pimpolhos são os filinhos de coração dele; E também pq preciso usar referencias nos proxs caps da fic e preciso que entendam ehe
Ta grande, mas nada que tem ai é desnecessário



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Ás

Ainda com um pouco de sono me levantei e me estiquei, estava cedo e Maira ainda permanecia dormindo, mas eu gostava de aproveitar o começo da manhã.

Caminhei lentamente até o quarto ao lado, onde Jás dormia calmamente em seu berço, ainda estava um pouco escuro, por isso tomei cuidado para não tropeçar em nada, cheguei até o berço e fitei meu menino com um sorriso meio bobo, ele estava deitado ao lado de um ursinho de pelúcia e volta e meia remexia os pezinhos, passei o dedo levemente em sua bochecha e sorri quando ele se remexeu calmamente e apertou mais o ursinho.

—Papai te ama! – Sussurrei baixinho. —Muito! – Diminui o sorriso um pouco. —Mas papai tem medo de te perder! – Suspirei, dando uma ultima olhada no meu pequenino e, depois de uma grande luta interna, comecei a me afastar lentamente.

—Ele já acordou? – Maira perguntou, me assustando por um momento, eu havia acabado de fechar a porta do quarto dele quando ela apareceu com cara de sono e emburrada.

—Não, está dormindo como um anjinho. – Respondi com um pouco de ironia, me lembrando do fato dele ter chorado a noite toda e Maira quase ter batido em mim e nele.

—Anjinho seria se dormisse a noite! – Ela bufou e começou a caminhar na direção da cozinha.

—Poxa ele é ansioso! – Reclamei e sorri meio torto, ela apenas deu de ombros, dei um passo em sua direção, mas nesse momento ouvi os resmungos de Jás vindos do quarto, Maira me encarou e suspirou, ameacei me virar e ir ver, mas ela passou me empurrando e entrando no quarto de Jás. —Bem nem tudo é perfeito.

~ # ~

Quando entrei no meu escritório a primeira coisa que notei foi o ruivo parado com cara de piedade.

—Zeck? Que foi?- Tentei ser o mais gentil possível, a expressão no rosto dele realmente causava dó.

—Mary Anne está me enlouquecendo! – Ele disse em alto e bom som. —Estou a um mês de me tornar rei e tudo o que quero fazer é matar minha futura rainha! Quero matar minha mãe! Quero me matar!

Pisquei algumas vezes, vendo-o pegar um copo cheio de agua em cima da mesa e bebe-lo rapidamente, com as mãos tremendo.

—Você precisa de férias. – Resmunguei, me aproximando, não o culpava por se sentir pressionado, ele ainda era jovem e logo iria assumir uma função de grande peso, ser rei de Copas era mais do que ser um líder respeitado, era ter em mãos o destino de todo Wonderland, é ter em mãos o exercito mais poderoso e a possibilidade de usa-los como quiser, era ter um país em crise e em guerra, com mais inimigos que aliados, com um povo faminto e decadente que é ignorado perto dos nobres. Intimamente eu tinha fé em Zeck, em sua bondade e sua capacidade de amar. —Preciso ir dar aulas, quer vir junto?

Os olhos dele brilharam. —Posso mesmo? Os meninos vão estar lá?

Eu sorri e assenti, fazia pouco tempo que ele havia se tornado mestre de Erick e Alli e parecia mais incerto ainda quanto a isso, seria bom para ele ter um contato menos formal com os meninos.

—Vamos então? Tenho umas pestes para adestrar.

—Poxa, Ás, que mal!

—Espera só pra ver.

~ # ~

A sala em que eu geralmente encontrava os alunos era bem grande, por mais que fossem poucos meninos, de um lado estava um pequeno arsenal, do outro estava uma mesa retangular bem grande e alguns banquinhos, a minha mesa se encontrava bem no centro e as cadeiras dos alunos estavam dispostas em semicírculo em volta dela.

Max e Jeffry estavam sentados conversando e Eizem estava do outro lado sozinho, volta e meia eu vi que Max dizia alguma coisa e ria com Jeff, mas Eizem se encolhia mais na cadeira. Quando viram Zeck eles se levantaram imediatamente, mas o príncipe apenas sorriu e puxou uma cadeira para se sentar ao meu lado na mesa.

—Por que está distante? – Zeck se dirigia Eizem, o jovem demorou um pouco para perceber que era realmente com ele, mas logo se propôs a responder.

—Não é nada de mais, só estou pensando na vida. – Tentou desconversar, mas Zeck e eu percebemos o sorriso malicioso de Max, Eizem era um bom menino, mas Max agia com ele como bem entendia pelo simples fato de sua família ser “superior” a dele.

Vi o príncipe baixar os olhos, é claro que ele sabia da hierarquia social de Copas, mas era obvio que ele não a encarava como uma realidade todos os dias.

Olhei o relógio, ainda faltavam alguns minutos para os outros chegarem. —Eizem crie uma lista de presença para mim e vá colocando os nomes de todos que chegarem, a minha lista ainda não foi atualizada e logo iremos ao pátio, não quero perder nenhum dos pequenos.

—Certo!

Não demorou muito e logo a agitação começou. Eu estava tentando distrair Zeck com conversas quando ele sorriu de ponta a ponta, olhei para trás e vi Erick puxando um Alli completamente emburrado. Os dois pareciam discutir, como sempre, mas pararam imediatamente ao ver o ruivo.

—Meninos. – Zeck sorriu para ele e em seguida abriu os dois braços, Alli imediatamente correu até ele aos tropeços para receber um abraço carinhoso. Erick foi logo em seguida e também se jogou nos braços do mais velho. —Vim ver vocês treinarem. – Ele comentou, fazendo um cafuné nos dois. —Vão se esforçar bastante não é?

—Vamos sim! – Os dois garantiram.

—Hm! Hm! – Ouvi um resmungo atrás de mim, ergui as sobrancelhas e encarei a coisa minúscula que me cutucava. Mitch tinha uma carta de baralho na boca, os Céus sabem como eu odeio quando as crianças cismam de comer as cartas de baralho. —Hm!

—Mitch! Larga isso. – Mandei, mas ele apenas balançou a cabeça de um lado para o outro, aquela coisinha pequena que não deveria ter mais que sete anos achava que tinha alguma moral. —Larga isso, menino, não é de comer. – Puxei a carta da boca dele, fazendo-o resmungar e ficar emburrado, a carta era um três de copas. —Não se come carta de baralho, é a lei básica aqui.

—Não tem essa lei. – Ele resmungou. A vozinha infantil e a garrinha que ele fez com a mão o fazia parecer um filhotinho de algum bicho desconhecido e inútil.

—Mitch! – Eiri entrou correndo atrás do menor. —Não fuja de mim assim.

—Não deixa mais ele comer as cartas de baralho! – Reclamei e Eiri fez bico.

—Eu tentei impedir, mas quando o Allan entrou no quarto ele fugiu. Não é a primeira vez que ele tenta destruí as cartas do baralho.

—O que é que tem eu ai? – Allan, um menino ruivinho e pequenino demais para o quatorze anos que tinha se encontrava sentado no chão perto da porta, os olhos vidrados no nada indicavam que ele estava em seu mundo da lua, de novo.

Ao meu lado pude ouvir a risadinha de Zeck, Alli havia se alojado em seu colo, enquanto Erick conversava com Eizem.

—Allan, onde estão seus irmãos? Vocês vivem em um alojamento a poucos passos daqui e sempre alguém dá um jeito de se atrasar. – Reclamei de novo e o ruivinho apenas deu de ombros.

—Eu cheguei na hora. – Alli resmungou, ele e Mitch eram os mais problemáticos, eram os menores da classe e sempre davam um jeito de se atrapalhar com alguma coisa.

—Hoje! Porque durante a semana toda você deu um jeito de se atrasar. Arrumar um relógio não lhe fará mal. - Ele mordeu o próprio dedo e se encolheu. —Certo! – Me voltei aos outros. —Não posso esperar eternamente pelo Kenny e nem pelo Kyllie, agora precisamos decidir como será a dinâmica de hoje.

—Vamos comer cartas de balalho. – Mitch propôs e recebeu como repreensão um forte tapa de Eiri. —Ai! Não me bate. – E em seguida ele deu de volta o tapa mais forte ainda no mais velho, que o retribuiu com um beliscão, Mitch choramingou e ameaçou morder Eiri, então se lembrou de que era a vitima, pelo menos em sua cabecinha. —Ás ele tá me batendo!

—O Kenny me bate todo dia e eu não reclamo batendo de volta. – Allan resmungou, puxando o pequenino para longe do irmão.

—Podemos continuar? – Todos ficaram em silencio e eu aceitei como um sim. —Os mais velhos já estão mais avançados com as armas magicas, por isso hoje vamos nos dividir em grupos, Max, Eizem, Jeffrey, Kenny e também o Erick, que está bem mais avançado. – O loirinho ficou um pouco encabulado e se limitou a baixar os olhos para o chão, Max olhava-o furtivamente, mas não faria mais nada perigoso, não depois de ser castigado pelo pai por causa da ultima ‘brincadeira’ de mau gosto. —Eiri e Allan já começaram a domina-las, então formarão uma dupla. Allister, Kyllie e Mitch... – Suspirei quando eles me lançaram olhares de piedade. —Não adianta fazer essas carinhas, não vão ficar de folga hoje. Agora vão lá escolher as espadas e sejam rápidos.

Max e Jeff rapidamente se levantaram, Eizem e Erick os seguiram um pouco desanimados, Allan parecia se esforçar para se manter atento no caminho e acabou sendo puxado por Eiri, enquanto Mitch e Alli deram as mãos e foram quase se arrastando e fingindo chorar.

—São bons meninos. – Zeck comentou, sorrindo e eu tive que suspirar.

—É... Mas se não ficar de olho eles enrolam.

—Socorro! UM MONSTRO! – Todos nós paramos para olhar quando a porta se abriu e um menino ruivo de cabelos bagunçados, que se debulhava em lagrimas, passou correndo por ela. —Socorro! – Ele correu até mim e me abraçou, assustado, logo em seguida ouvimos uma risada abafada e lá estava ele, Kenny, um jovem de quase dezessete anos que agia como se tivesse cinco, ele retirou uma máscara de monstro do rosto, revelando os cabelos castanhos, os olhos cor de mel e uma cicatriz na bochecha, que ele ganhou quando tentou defender Allan de um cachorro enorme.

Dos três irmãos, Kenny era o mais atentado, problemático, espaçoso, teimoso, trapaceiro e atencioso, ele era filho de um nobre poderoso e nasceu sendo fruto de uma traição, a mulher dele jamais soube até poucos anos atrás, ela achava que Kenny era adotado, o nobre então mandou os três filhos para o alojamento do exército para que os meninos não sofressem com a guerra que se formou naquela casa.

Kyllie ainda soluçava em meus braços e eu tentei consolá-lo, fuzilando Kenny que ainda ria.

—Isso não tem graça! – Zeck se manifestou revoltado e o rapaz imediatamente parou de rir, encarando o irmão mais novo, que estava realmente assustado.

—Vá lá escolher uma espada. – Mandei. —Depois conversamos sobre isso.

Ele bufou e encolheu os ombros, correndo até Jeffrey e pulando nas costas dele.

—Andem logo com isso! – Gritei e me voltei a Kyllie. —Não tenha medo, é só o Kenny sendo Kenny. – Ele me fitou com um bico e eu sequei suas lágrimas, nos primeiros anos como professor eu tentei assusta-los, porque estava com ódio do mundo e achava que todos eram projetos de nobres mimados e insuportáveis, mas depois de conviver com eles aprendi que não eram muito diferentes de mim, então o que me custava ser gentil?

—Eu não vou deixar nenhum monstro de verdade te machucar. – Garanti e os olhinhos dele brilharam.

—Jura?

—Juro! – Então ele sorriu. —Agora vai lá com os outros. Teremos um dia longo.

—Tá. – Ele me abraçou novamente e sorriu para Zeck antes de correr até os outros, no meio do caminho Kenny o parou e o abraçou, sussurrando algo em seu ouvido, se eu o conhecia bem sabia que estava pedindo desculpas, Kenny podia ser arteiro, mas odiava ver os irmãos mais novos tristes, Kyllie era o mais novo, com apenas onze anos e era o que Kenny mais atentava e ao mesmo tempo protegia.

—Está vendo? É isso todo dia. – Murmurei para Zeck.

—É incrível Ás, seu trabalho tem um sentido. – O ruivo comentou meio encantado. —Logo me tornarei rei e não sei nem como agir, não é com Mary Anne que quero me casar e governar para um monte de nobres não me parece agradável.

—E quem disse que é para os nobres? – Indaguei e ele ergueu os olhos, surpreso.

—Ás...

—Veja esses meninos, imagino que saiba que eles serão a sua guarda pessoal certo? Eles serão especialistas, espiões, guardiões e assassinos. Seu pai teve sua própria guarda e todos foram treinados pelo meu tio, se lembra? - Ele assentiu em silencio. —Eles servirão você e a sua rainha, porque você é o líder deles, você é o homem que vai ter a justiça e a força do estado em suas mãos, para os nobres isso pode não ser nada, mas para os pobres que vivem nas vilas e que mal têm o que comer ou vestir e se matam de trabalhar em fazendas e mercados para conseguir uma miséria, Zeck, você não faz nem ideia do que um líder justo pode significar para eles.

—Eu... Nunca pensei assim. – Ele admitiu cabisbaixo.

—Te ensinaram a pensar no luxo e no poder de Copas. – Eu sorri.

—Acho que entendo um pouco aonde você quer chegar, tenho que aprender a ver além do que me dizem não é? – Ele sorriu e se levantou. —Se importa se eu ajuda-los?

—Vá lá.

Ele caminhou até os meninos, que experimentavam as armas e já estavam quase acabando.

—Senhor? - Ouvi uma voz me chamar e rapidamente me voltei à fonte.

—Alli? - Me surpreendi ao ver o menino parado ao meu lado. — O que foi?

—Não consigo usar nenhuma dessas espadas, toda a vez que tento ou elas ficam pesadas de mais ou simplesmente não consigo me acostumar a elas. -Ele soou sincero e um tanto desanimado.

—Ora e quanto a-

Apontei para o colar que ele usava, mas fui interrompido antes de terminar o que tinha a dizer.

—Não! - Ele levou a mão ao colar e baixou os olhos. —Não posso arriscar isso. É tudo o que tenho do meu pai.

Suspirei, me ajoelhando para encara-lo melhor e olhei em seus olhos. —Se seu pai te deixou algo tão poderoso é porque confiava que você pode usá-la e o fato de não se encaixar com nenhuma espada se dá por causa de sua magia. Cedrik disse que esse colar esconde uma grande arma e é disso que precisa agora. - Ele desviou o olhar, desconfortável. — Até agora só treinamos as lutas que não precisavam de armas, mas não posso mais adiar isso. Pense com calma e ao menos tente usa-la.

Ele assentiu e se afastou um pouco, indo para um canto distante dos outros e eu o acompanhei.

—Acha que meu pai acreditava que eu poderia ser poderoso como ele? - Alli indagou, com os olhos brilhando um pouco.

—Tenho certeza. - Respondi de modo confiante e me surpreendi com o sorriso simples e sincero que ele abriu, não era algo falso, ele estava realmente feliz.

Suas mãos pararam no colar e ele fechou os olhos. Sorrindo.

Logo um brilho surgiu em meio a suas mãos e o colar foi puxado com força, inicialmente o que vi foi uma única lágrima cair do olhar dele e o brilho do colar se intensificar e tomar a forma de uma espada transparente.

—Céus… - Alli parecia chocado. —Ela é perfeita e leve. Eu sinto como se todo o poder que tenho estivesse em harmonia com ela.

—E é linda, deixe me ver. - Ele a entregou para mim e sem muito esforço pude notar a quão bem feita ela era, o seu cabo parecia feito de diamante, o que a tornava ainda mais perfeita. —Quem a fez tem, sem dúvidas, muito talento. - A devolvi e ele voltou a observá-la com enorme fissura.

—Ela foi feita pelo tio Johan. - Alli murmurou, sorrindo. - Papai disse que ele ganhou do tio Johan quando os dois eram jovens e viajavam juntos, por conta de seu poder ela ficou muito famosa, papai era um viajante famoso sabia? – Alli parecia orgulhoso. — Ele me disse que eles estavam em uma situação de perigo muito grande e o titio deu-lhe essa espada e fez uma pra ele para se proteger, ele disse que essas espadas simbolizam o laço de amizade deles. Essa espada era um dos bens mais preciosos do papai e ele deu para mim.

—É a prova de que ele confiava que você seria tão digno quanto ele. Agora vamos ver do que ela é capaz e você vai precisar de muito treino para dominá-la, não pense que será fácil.

—Certo! – Ele sorriu feliz.

—Alli! Olha só o que eu achei! – Mitch chegou correndo, com um punhal de cabo azul claro e lâmina negra em mãos, ele ergueu e mostrou para nós.

—Mitch isso não é uma espada! – Lembrei-o, mas ele apenas mordeu os lábios e encarou o punhal.

—Mas eu gotei.

—Mas eu mandei você escolher uma espada.

—Mas eu gotei.

—Mas o objetivo é saber usar uma espada.

—Mas...

—Tudo bem eu desisto, fique com ele para você. – Ele sorriu largamente e deu pulinhos de felicidade. —Podemos ir para o pátio agora?

Todos concordaram, já com suas espadas em mãos.

Espadas E punhal.

~ # ~

—Céus o dia foi longo! – Zeck resmungou, havia grudado em Kyllie e não parecia ter a intenção de largar, não pude deixar de notar que Max e Eizem pareciam a um passo de se matarem, os olhares de ódio que lançavam para o outro eram repelidos apenas por Jeffry e seu pudim.

Estávamos em volta de outra mesa, onde os cozinheiros do castelo haviam deixado o lanche para os meninos.

—Vocês foram bem hoje! Passamos parte do dia nos dedicando as armas e senti um avanço com os menores, Allan eu gosto de te ver atento pelo menos na hora da luta, espero que continue assim. Acho bom que descansem, pois o chapeleiro não vai pegar leva na magia.

—Ai! Magia é difícil! – Allan resmungou.

—Deve ser porque exige concentração? – Max ironizou, recebendo um olhar torto do ruivinho.

Sentei no banquinho ao lado de Zeck e Kyllie, o pequeno estava bem interessado nas torradinhas.

—Um mensageiro veio aqui. – Zeck disse, me surpreendendo. —Disse que Maira mandou avisar que pretende sair e que o Jás é por sua conta.

—Nossa... Tenho que relatórios a terminar e o Jás não vai me deixar quieto.

—Leva um dos meninos. – Ele encarou Kyllie, que parecia estar gostando de receber atenção do príncipe, por um momento pensei em Erick também, mas com Maira e ele no mesmo local eu não tinha certeza se daria certo.

—Eiri! Kenny! – Chamei os dois e Eiri rapidamente apareceu em minha frente, minha felicidade era saber que pelo menos ele era obediente, ao contrario de Kenny que demorou mais até chegar a mim. — Minha esposa vai sair com as amigas e preciso de alguém para me ajudar a distrair o meu filho, podem me emprestar o Kyllie e o Mitch?

Kenny olhou para o irmão mais novo e o viu assentir rapidamente. —Tudo bem então, se ele quer.

—Mitch com certeza vai querer. – Eiri comentou.

—E acho bom o senhor maneirar as brincadeiras com os menores Kenny, e pare de bater no Allan, eu disse para ajuda-lo a treinar e não para usa-lo como saco de pancadas. – Reclamei, olhando nos olhos de Kenny, ele apenas murmurou um pedido de desculpas e abaixou a cabeça. —Certo, avisem Cedrik que eles vão estar comigo e vocês podem ir a minha casa busca-los depois que acabar a aula de magia. E quando forem busca-los vão com Cedrik, não quero vocês andando sozinhos a noite.

—Certo! – Kenny depositou um beijinho na testa de Kyllie e se afastou sorrindo, Eiri foi falar com Mitch, que pareceu se empolgar com a ideia, eu encarei Zeck.

—Vamos? Mary Anne já deve estar louca atrás de você. – Comentei e ele suspirou. –Vamos Kyllie? -O menino assentiu e se levantou, fazendo Zeck o seguir. —Até amanhã, quero todos aqui e na hora! Estão dispensados.

—Erick e Alli, querem ir para casa descansar um pouco? – Zeck se ajoelhou em frente ao loirinho, que assentiu rapidamente. —Vou leva-los então, pode ser?

—Pode. – Alli respondeu rapidamente, se aproximando de Zeck e colocando a cabecinha em seu ombro, o príncipe apenas riu e o puxou para seu colo, sinceramente ele os mimava de mais.

—Vamos então? – Os chamei, pegando Mitch também, Eiri terminava de amarrar um cadarço do sapato dele, o que parecia uma tarefa difícil, já que o pequeno estava tentando falar com Alli de todo modo e se mexia bastante.

—Mitch sossega. – Mas foi em vão, ele apenas ignorou o irmão e se mexeu mais. —Ah! Mitch, porque você tem que ser tão do contra? Desisto, vai desamarrado mesmo, espero que tropece também.

Eu sorri e baguncei o cabelo dele. —Não se preocupe, se ele sobreviveu com cadarço desamarrado por sete anos ele sobrevive mais hoje.

~ # ~

Entrei em casa e imediatamente me senti mais tranquilo, aqui pelo menos eu poderia me dar o luxo de relaxar, Kyllie e Mitch pareciam encantados com o tamanho da sala e eu sorri. Alguma vantagem esse trabalho tinha que me garantir.

—Até que enfim em! – Maira resmungou, ela estava sentada no sofá e Jás estava no chão brincando com um ursinho de pelúcia e umas cartas de baralho. Os olhos dela passaram dos meus para os dois meninos. —E crianças.

—Essa é minha esposa e aquele ali é meu filho. – Apontei para ambos, fazendo os meninos se sentarem no sofá. Jás jogou o ursinho para de pelúcia do outro lado do sofá e meio segundo depois estava esperneando e chorando. —Sério isso?

Eu iria até ele, porém Kyllie se adiantou e começou a fazer caretas fofas para Jás enquanto Mitch correu para pegar o ursinho, logo estavam os três rindo e se distraindo.

—Pensando bem... – Maira se levantou e parou ao meu lado, beijando meu rosto. —Gostei deles. Pode trazê-los mais vezes. – E assim ela saiu sem esperar qualquer resposta minha, Maira sempre foi linda, era impaciente e fútil, mas aprendi a conviver, ela não era difícil de agradar e o segredo era não ficar perguntando muito, mas por mais que eu tentasse, eu não conseguia ama-la.

—Certo, pentelhos, eu vou fazer um suco, não se matem.

~ # ~

A primeira coisa que notei ao voltar para a sala foi que Mitch não estava lá, a segunda foi que Kyllie havia sentado Jás em seu colo e fazia um cafuné nele, meu menino estava tão calminho que não parecia ele, deixei os copos de suco na mesinha e logo passei a procurar Mitch.

Procurei no quarto do Jás e no banheiro, olhei a cozinha, alguns quartos de hospedes e a sala novamente. Comecei a me dirigir ao meu quarto, não era possível que aquela criaturinha tivesse se escondido tão bem, ouvi um barulho de pote caindo e corri até o quarto.

—Mas oque? – Assim que abri a porta, me deparei com a incrível cena de Mitch com as mãos sujas de tinta verde, as cartas de baralho misturadas a sua volta, algumas completamente amassadas e sujas e uma carta em sua boca, além do punhal jogado no chão. Olhei para a estante e me lembrei do pote de tinta que havia deixado lá mais cedo, ele deveria ter rodado até achar. —Mitch! O que está fazendo? - Ele baixou os olhos por um instante, mas logo ergueu um lápis todo sujo de tinta.

—Eiri me ensinou a escrever.

—E no que você escreveu? – Indaguei já me abaixando para juntar as cartas.

—Aqui ó... – Ele pegou o punhal com cuidado e me mostrou o cabo, onde escreveu de um jeito torto o próprio nome e o do irmão. Apenas suspirei, pegando uma das cartas, era uma carta com o naipe de copas e estava rasgada ao meio, algumas outras eram do naipe de paus e ele só havia pegado algumas de cada, lembrei então que Eiri havia falado que não era a primeira vez que ele fazia isso, olhei as cartas amassadas e reparei que eram todas de copas, as de paus estavam intactas.

—Mitch! – O chamei. —Por que destrói as cartas? – Ele deu de ombros e ameaçou se levantar, mas eu o segurei pelo braço e o sentei ao meu lado novamente, separei as cartas amassadas com naipe de Copas das cartas intactas. —Já viu esses símbolos antes não é? – Ele deu de ombros novamente, sujando as cartas de Copas com a tinta que tinha nos dedos. —Eu sei que viu. Paus é o símbolo de Neal. Está destruindo as cartas de Copas de propósito? Olhe para mim! – Ele me encarou e pude em seus olhinhos cristalinos uma fúria surpreendente. —Por quê?

—Porque eu os odeio. – Ele respondeu rispidamente, ainda olhando em meus olhos. —Quero que todos morram!

—Não diga isso Mitch! – O repreendi seriamente, mas ele nem ao menos desviou o olhar. —Não deseje a morte de todos, você nem ao menos os conhece.

—Mas conheço meu irmão, não me lembro dos meus pais, mas ele sim. Posso ser pequeno, mas sei que o que significa ser prisioneiro e é o que somos. – Ele baixou os olhos e cerrou os punhos. —Meu irmão chora em silencio todas as noites e tudo o que posso fazer por ele é fingir que não estou vendo. Mas eu sempre vejo.

Desviei meu olhar dele para as cartas, no meio de todas as rasgadas, amassadas e pintadas, havia uma sobrevivente, eu rapidamente a peguei e senti meu coração se apertar um pouco, a única carta sobrevivente era um Ás.

—Por que não estragou essa?

Ele segurou minha mão e me olhou nos olhos, dessa vez com toda a doçura possível. —Porque eu te amo e queria que fosse meu papai.

Senti as lágrimas pontarem, mas me controlei e o puxei para meus braços, o envolvendo um abraço apertado. Ele começou a chorar baixinho, porque acima de tudo era apenas um menininho assustado, mas também senti que talvez, se em uma próxima vez, eu tivesse que encarar aquela fúria em seus olhos novamente, poderia ser fatal.


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Notas finais do capítulo

Nossa Karol, mas deu bastante foco pro Mitch!! - Sim e sim e sim... Convenhamos que esse 'assunto' é crucial para o Ás conseguir o apoio necessário para vencer tanto a guerra contra a rainha, como a guerra contra si mesmo!
EU AMO O ZECK!!!!!!!!!!!!!!
: )



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