Amor & Preconceito escrita por L CHRIS


Capítulo 10
Capitulo IX - Melodia dos lábios


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, pessoal! Boa leitura para todos!



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Quando criança tinha o sonho de mudar o mundo.

Lembro-me como se fosse hoje, tinha nove anos quando achei um gatinho abandonado na rua, ele tinha fome, sede. No momento em que peguei aquele gatinho em minhas mãos tive certeza que cuidaria dele e que o faria feliz. Lembro-me que papai esbravejou-se quando me viu entrar com o gatinho, disse que sua casa não era lugar para receber aquele animal cheio de doenças e que ele o queria bem longe dali. Era muito nova naquele tempo para entender qualquer coisa, mesmo assim achei a atitude de papai injusta, afinal, o que o pobre gatinho tinha feito de mal para ele? O gatinho só tinha fome, sentia frio, estava abandonado. Lembro-me de ter ficado triste e ficado um dia inteiro sem comer por conta do ocorrido, talvez, algo dentro de mim quisesse sentir a mesma dor que aquele gatinho sentiu. Mas mamãe levou o pobre gatinho para uma casa de adoção, e só fomos embora quando eu tive certeza que ali ele seria bem tratado. Nunca me esqueci dessa historia, muito menos daquele frágil gatinho, da atitude do meu pai, e o exemplo que minha mãe foi. Sei que era muito nova quando tudo isso aconteceu, e o que o correto fosse eu nem me lembrar. Mas eu me lembro. E essa historia me faz refletir, às vezes não precisamos fazer nada de ruim para sermos odiados e julgados, só basta sermos diferente. Porque o diferente causa ódio, gera ignorância nas pessoas, a falta de compreensão machuca. Afinal o que aquele pobre gatinho fez para meu pai sentir tanta raiva dele? Talvez a sexualidade seja um gatinho, e se você não for o que as pessoas esperam, você se torna um gatinho abandonado e odiado. Papai não tinha motivos para não gostar do felino, mas ele não gostou. Da mesma forma que ele não iria gostar de Valentina se soubesse que ela gostava de garotas, ou de mim, se soubesse que gosto de Valentina.

Eu sou como um gatinho triste e cansado de se esconder.

– Querida, vamos?

A voz de mamãe me faz fechar minha caderneta e coloca-la dentro da bolsa, estávamos na igreja – como todas as manhãs de domingo íamos à missa pela manhã – a missa havia acabado há poucos minutos e todos estavam despedindo-se uns dos outros.

Particularmente eu não gostava de missas, quer dizer, eu tinha fé, gostava da igreja, mas aquelas pessoas pareciam procurar naquele lugar uma forma de apagar ou amenizar seus pecados. Era tão óbvio o quanto eram pecadores e mesmo assim se sentiam seres superiores.

Isso era decepcionante.

– Sim, mamãe.

Levantei do banco onde estive quase toda a missa e caminho para fora da igreja.

Caminhamos em silencio até o lado de fora da igreja, papai como um dos pastores mais conhecidos da cidade sempre ficava depois da missa para conversas com alguns fieis.

Fomos ao encontro do meu Jordan que nos daria uma carona até em casa, ele estava com Ebby sua noiva e futura mulher, mesmo com a grande torcida para os dois ficarem juntos, era tão estranho vê-los como um casal, a falta de sintonia entre eles era algo quase palpável.

Mas para meu azar, os dois não estavam sozinhos, já que uma presença desagradável estava entre os dois.

– Olá, queridos – mamãe começa com um sorriso cordial – minha nossa, Alec. Quanto tempo – mamãe cumprimenta o bom moço Alec com um beijo no rosto – você sumiu de casa. Apareça para tomar um chá. Norah adora você.

As palavras de mamãe me fazem revirar os olhos.

Por que os pais tem a terrível mania de deduzir o que é bom para seus filhos? Será que eu sou a única pessoa a enxergar o quão patético Alec Simons era? Penso com desdém.

– Eu tenho certeza que Norah me adora, senhora Carter - os olhos de Alec estavam fixos em mim, aquilo me deixou ainda mais irritada – a propósito Norah, você já falou com sua mãe sobre minha festa no sábado?

Encaro Alec furiosa, abro e fecho minha boca para não soltar um palavrão.

Qual é o problema daquele garoto?

– Uma festa? – Minha mãe indaga confusa – Norah, você não me disse nada...

– Eu não vou.

– Por que não? – Mamãe insiste.

– Estarei ocupada. E outra, papai odeia que eu saia a noite. Ainda mais para festinhas. – Sorrio sarcasticamente para Alec que retribui com uma piscadela.

– Mas que bobeira, querida. Gilbert adora Alec, somos praticamente da mesma família. Então, ela irá Alec.

Quando mamãe se afasta, Alec faz questão de se aproximar, as vezes eu sinto como se não falássemos o mesmo idioma, quer dizer, quanto mais pedia para ficar longe, mas ele se aproximava.

– Eu posso te pegar as nove no sábado? – Seu corpo estava próximo do meu, me afasto.

– Qual o seu problema? – Esbravejo em um murmuro.

– Meu problema? – Alec sorri tocando a minha mão – Norah, nós ainda iremos casar. Escreva o que eu digo.

Solto nossas mãos.

– Nunca!

– Você é minha, Norah Carter. Você apenas não descobriu ainda.

Suspiro fundo e apenas ignoro aquele dialogo.

Era impossível aguentar a presença de Alec, ele era simplesmente detestável.

Encaro mamãe e percebo que ela conversa distraída com algumas pessoas.

Caminho para longe deles, eu precisava respirar, Alec me deixava furiosa.

Caminho entre os fieis da igreja, como filha do pastor era difícil passar despercebida entre as pessoas, que em sua grande maioria queria um “Minuto da minha atenção.”

– Norah!

A voz me chama atenção e me faz olhar para trás, engulo a seco e sinto minhas mãos geladas.

Vejo Paul vindo em minha direção sorridente, ele estava acompanhado por sua namorada, qual era mesmo o nome dela? Droga. Eu não consigo me lembrar, talvez, seja por conta da figura que caminhava séria ao seu lado.

Valentina me encarava fixamente, mas ela não trazia sorriso nos lábios.

Meu coração acelera.

– P-paul...- Gaguejo sem jeito – o que fazem por aqui?

O homem alto e simpático me dá um abraço afetuoso.

– Eu vou ficar encarregado por pintar a igreja, fico feliz em encontra-la aqui.

Abro um meio sorriso e concordo em silencio, meus olhos desviam para Valentina, mas ela não me encara nos olhos.

– Fico feliz por está encarregado da pintura, Paul. Você é talentoso, fará um ótimo trabalho.

– Eu também. É bom voltar a pintar, querida.

Encaro agora a linda morena que estava ao seu lado, só então me lembro que seu nome era Cibele.

Abraçando-a com um sorriso, digo:

– É muito bom tê-los, aqui.

Todos concordam sorridente

– Minha mãe adorou suas pinturas, ela está ali. – aponto para mamãe a chamando para se ajuntar a nós, talvez aquela fosse à maneira mais rápida que encontrei para não encarar Valentina.

Assim que mamãe se aproxima, faço as apresentações formais e logo o assunto surgem, era obvio o quão animada mamãe ficou em conversar com Paul e aquilo me fez sorrir. Mesmo que por dentro um grande desconforto tomasse conta do meu peito.

Desvio meu olhar para Valentina e posso perceber que ela mexe em seu celular, suspiro e em uma tentativa grotesca de chamar sua atenção eu começo a tossir.

Assim que atrai seu olhar digo:

– Podemos conversar um minuto?

Valentina parece dá de ombros e apenas me segue em silencio.

Quando estamos a certa distancia de todos eu decido começar, afinal, não tinha como adiar o assunto.

– Me desculpa por ontem...

– Norah, estou cheia das suas desculpas – Valentina me interrompe impaciente – sabe, se você não quer se relacionar com uma garota, eu entendendo. Se você gosta de garotos, eu também entendo. Mas eu não consigo entender é essa sua mania de achar que está sempre fazendo algo errado. Essa sua indecisão está me matando, Norah. Eu só quero que seja sincera comigo – Valentina me encara nos olhos – você só me quer como amiga? É isso?

Engulo a seco e olho ao redor, estávamos no fundo da igreja, ninguém ali estávamos nos vendo, só estávamos eu e Valentina.

Talvez fosse a hora de dizer a verdade.

Apertando meus dedos contra o tecido do meu vestido procuro as palavras certas para começar, mas era tão frustrante a minha tentativa falha de dizer qualquer coisa, tudo que consigo dizer é:

– S-sim. É, eu...

– Chega – interrompe Valentina novamente – eu desisto.

Quando vejo Valentina se afastar de mim sinto minhas pernas fraquejarem, tudo que mais queria naquele momento estava novamente partindo e mais uma vez minha covardia ganharia o jogo.

Qual é seu problema, Norah Carter? Seja uma mulher de fibra! Apenas vá lá e agarre aquela garota.

Pela primeira vez eu escutei minha voz interior e fiz uma curta corrida atrás de Valentina, não importava o quanto errado isso fosse aos olhos dos outros, era isso que eu queria fazer, eu faria.

Seguro em seu braço e Valentina me encara, não dou muito tempo para nada ser feito, apenas avanço meu corpo para perto do seu e quando dou por mim estou em seus braços.

Minhas mãos tocam sua nuca e só então posso perceber que minha respiração estava acelerada, como se eu estivesse corrido uma maratona, o nervosismo havia tomado conta de mim, podia sentir minhas pernas bambas e meu estomago arder.

Valentina me encara nos olhos e só então posso notar o sorriso tímido que nasce em seus lábios, isso me faz sorrir também.

Sinto sua mão tocar minha cintura e estremeço novamente.

Eu nunca havia beijado alguém antes, não fazia ideia do que fazer, ou, como agir, mas Valentina me passava à segurança que precisava, estando ali ao seu lado me fazia relaxar.

Eu queria aquele beijo o quanto ela queria.

A nossa respiração de tão próxima, era quase que uma só, pude sentir quando os lábios quentes e macios de Valentina tocaram os meus, e naquele momento eu não tenho duvidas, beijaria Valentina.

Toco seu rosto com meus dedos trêmulos pela emoção e começo uma leve caricia enquanto sinto o toque lento dos seus lábios.

Eu não sei explicar muito bem o senti aquele momento, mas a sensação que tive é que o mundo parou quando senti o sua língua tocar minha boca, a sensação foi engraçada em um primeiro momento, fazia cócegas, mas era bom.

Sorri.

Nossas línguas dançavam uma melodia lenta dentro de nossas bocas, era um movimento suave, mas havia rastros de anseios em nossos toques.

Mesmo com a minha experiência zero em beijos, eu sabia que aquele beijo era bom, e levando em consideração a experiência ruim das pessoas em relação ao primeiro beijo, me senti uma garota de sorte.

O nosso beijo durou o suficiente para me tirar o ar, Valentina tinha um halito fresco, era gostoso senti-lo e mesmo com o fim do nosso beijo, eu podia sentir seu gosto.

Respiro fundo e só então posso notar que a maçã do meu rosto queima de vergonha.

Valentina me encara e um sorriso escapa dos seus lábios.

– Isso foi...

– Maravilhoso. – Termino sua frase.

Valentina concorda sorridente.

Aproximo meu rosto do seu e beijo seus lábios lentamente, eu sabia que precisava ir, uma hora dessa mamãe já estava me procurando, e seria uma questão de tempo para me achar ali com Valentina. De qualquer forma, eu não poderia partir sem dizer o que estava preso em minha garganta.

Segurando firme nas mãos de Valentina, começo em um murmuro enquanto a encarava nos olhos:

– Eu nunca imaginei que iria gostar tanto de você, Valentina – Suspiro – eu sei o quão complicado é gostar de alguém tão insegura como eu. Mas acredite, não está sendo fácil para mim também – pressiono meus lábios – então... Eu te peço, seja paciente comigo. Eu também estou apaixonada por você.

Só quando noto o sorriso nos lábios de Valentina que pude me sentir mais Aliviada, era bom saber que minhas palavras haviam confortado, talvez, fosse exatamente isso que ela quisesse ouvir desde o inicio.

Parabéns, Norah Carter. Sinto-me orgulhosa de você! Elogio-me em pensamentos.

– Norah! – Ouço a voz de mamãe distante.

Respiro fundo e abraço Valentina apertado, ela me beija. Mas agora, um beijo rápido, apenas com os lábios.

– Até amanhã, Norah. Te pego no mesmo horário de sempre.

Abro um sorriso.

– Até amanhã, Valentina.

– Norah, querida. – A voz de mamãe se torna mais próxima.

– Eu realmente preciso ir. – anuncio desanimada.

Valentina concorda com um meio sorriso, obvio que não queríamos nos despedir, afinal, aquele foi nosso momento tão esperado, era natural que quiséssemos aproveitá-lo ao máximo.

Mas tivemos que nos despedir, mas antes de partir eu a beijei novamente.

Era incrível como seu beijo era leve.

Leve como uma melodia.

Melodia dos seus lábios.

Lábios de Valentina.


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Notas finais do capítulo

Eai? O que acharam? Até o próximo capitulo pessoal!