O Clã Traven escrita por M Schinder


Capítulo 2
Derramar I: Mansão


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, primeiro: estou postando sem compromisso! Explicação: pretendo sim terminar essa história, mas estou usando-a para relaxar e liberar a mente e conseguir focar-me em Mares Sedutores!
Segundo, não estou tendo tempo de revisar os capítulos! Explicação: eles são enormes e estou escrevendo várias coisas ao mesmo tempo (Mares e um trabalho da facul ><).
Terceiro, depois desse vai demorar um tempinho para sair! Explicação: O Derramar II só sairá quando eu começar o capítulo quatro, tiver postado Mares Sedutores 30 e tiver entregado meu trabalho de Literatura, porque senão não darei conta de tudo T.T
Enfim, espero que entendam e que aproveitem esse capítulo! o//

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/652873/chapter/2

O dia amanhecera chuvoso. Uma grande tempestade ameaçava cair, mas nada parecia impedir os preparativos. As garotas do orfanato Nova Esperança corriam de um lado para o outro tentando terminar de se arrumar e arrumar a maior ala do lugar.

Hinata crescera dentro do orfanato. Tornara-se uma linda adolescente, muito inteligente e educada, mas era completamente desconfiada e quieta demais para sua idade. E, graças a essas características e aos seus olhos perolados esquisitos, ninguém quisera adotá-la.

Ela sempre passava a maior parte de seu tempo estudando ou desenhando. Sempre sozinha ou com as Irmãs. Não tinha amigas de verdade ou, mesmo, colegas falsas. Era o orgulho das freiras em notas e comportamento, mas preocupava-as o fato de estar sempre sozinha. Hinata tinha apenas dezesseis anos, mas já era cotada – pelas outras garotas – para ser freira quando entrasse na maior idade, por nunca demonstrar qualquer interesse por garotos.

Naquele momento, todas estavam reunidas por causa do dia mais esperado pelas garotas. O dia da visita de adoção. As garotas mais novas usavam vestidinhos e penteados fofos para chamarem a atenção dos futuros papais e as mais velhas fingiam que eram comportadas e mantinham-se distantes. Como todas as outras garotas acima dos quatorze anos, Hinata sabia que aquele dia não era para si... Então apenas manteve-se sentada na escadaria de uma sala qualquer e continuou calada, participar daquela bagunça não lhe apetecia.

– Meninas, fiquem quietas! – gritou uma das freiras. Todas se calaram e olharam para a Irmã. A Madre, a mulher que gritara, analisou cada uma delas seriamente. – Muito bem. Hoje, como vocês sabem, receberemos pessoas que estão interessadas em adotar uma garotinha de sorte, então precisam portar-se como nunca antes. Estamos entendidas?

– Sim, senhora! – responderam em uníssono.

A Madre acenou satisfeita e voltou a organizar a sala. Hinata, como normalmente fazia naquele dia, abaixou a cabeça e suspirou. Quando era criança queria ser adotada tanto quanto qualquer menininha ali, mas depois que se passava dos quatorze anos as chances daquilo acontecer eram quase nulas e, mesmo assim, era obrigada a participar de toda a cerimônia. As Irmãs acreditavam que todas tinham que ter esperança. Uma grande analogia com o nome desde lugar. Divagou olhando para as paredes.

A tarde passou devagar. Vários casais entraram e saíram do orfanato. Todos foram bem recebidos e servidos e, em sua maioria, encontraram a filhinha que procuravam. Hinata olhou para cada uma das meninas que estava indo embora e ficou feliz pela sorte delas e de seus novos pais, mas estava ainda mais feliz por aquele dia todo ter acabado. Levantou-se da escadaria, de onde não se mexera durante todo o dia, e foi para perto da Madre.

– Senhora, posso me retirar?

Sem irar os olhos do papel que analisava, ela acenou positivamente, dispensando-a. Hinata olhou uma última vez em volta, a sala principal estava a maior zona e a maioria das garotas mais velhas voltava para seus antigos hábitos. Cansada de tudo aquilo, virou-se e caminhou para seu quarto. Não iria ajudar a arrumar e deixou que elas resolvessem o que faltava.

***

Outro dia chuvoso começava. Hinata estava sentada em sua carteira, olhando para a janela. Ela andava mais distraída que o normal e seus professores chegaram a chamar-lhe para conversar, mas não resolvera nada. Ela continuava sentindo-se estranha. Não dormia direito há dias, seus olhos estavam mais sensíveis a luz do Sol e, grande parte das vezes, achava que estava sendo observada,

– Hinata!

Assustada, ela olhou para o lado e viu uma de seus colegas implorando por seu caderno. Sakura era outra garota do orfanato e, normalmente, era boazinha, mas muito irresponsável. Sacudindo a cabeça levemente, sorriu delicada para a outra garota e entregou o objeto. Aliviada, a menina se levantou e começou a ler a dissertação que não era sua.

~//~

Em outro país, para ser mais exato, na Escócia, perto da fronteira com a Inglaterra. Dentro de uma sala escura e sentado a uma mesa de magno preto, estava um senhor muito bonito e elegante. Ele estava sério e olhava para as três mulheres, que se sentavam do outro lado da mesa, com muito desprezo.

– Eu tinha avisado... Vocês passaram dos limites ao tentarem passar por cima de minhas ordens! – a frase terminou com um grito e um soco na mesa. As mulheres recuaram alguns milímetros, mas não demonstraram nada além disso.

– Mas senhor...

– Quieta! Eu não quero saber. Sumam da minha frente e parem de tentar se meter em assuntos que não são seus! – ordenou irritado.

Sabendo do poder e da influência que ele possuía e por ainda estarem tentando conquistá-lo, as mulheres apenas concordaram e saíram sem dizer mais nenhuma palavra.

O homem, ainda muito irritado, pegou seu celular e apertou o dois de sua discagem rápida. O “tu, tu” da chamada não durou nem três segundos e uma quarta mulher atendeu a outra linha.

– Residência dos Traven, boa tarde – a mulher ouviu o nome do patrão e ficou tensa. Há dias que não tinha notícias dele. Ouviu-o dar suas ordens e ficou extremamente surpresa, não esperava receber aquelas ordens nunca.

– Estamos entendidos?

– Sim, senhor – concordou e ouviu o telefone ser desligado com força.

~//~

Hinata espalhou seu material por seu quarto e jogou-se na cama. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios ou sentir-se sozinha. Era ridículo achar que iria parar de ser observada apenas por estar sozinha, mas não conseguia evitar em se manter afastada de todos. Não acreditava que pertencesse àquele lugar. O convento é o único lugar em que posso ficar em paz... Pensou cansada. Sabia que as meninas e as freiras acreditavam que se tornaria uma Irmã algum dia, mas ela apenas passava mais tempo na capela do que na rua para fugir dos olhos... Olhos ocre que lhe perseguiam desde que era uma criança.

Batidas rápidas e firmes ecoaram pelo quarto. A menina pulou da cama, sabendo quem era, e arrumou-se rapidamente, espanando o vestido que era seu uniforme da escola. Uma – das muitas – Irmã que morava no convento entrou e analisou o lugar com cuidado.

– Está impecavelmente organizado, senhorita.

– Obrigada – agradeceu simples.

Estava cansada. Queria dormir, mesmo sabendo que poderia ter pesadelos, mas ficou curiosa em ver uma das freiras ali, àquela hora. A vistoria dos quartos era feita apenas aos finais de semana e era a própria Madre quem verificava o cuidado das meninas. Hinata encarou a mulher, com seus olhos perolados reluzindo, e perguntou:

– Aconteceu algo, Irmã?

– Nada. Só passei para avisar que ninguém poderá sair de seu quarto sem a companhia de uma das Irmãs. Tudo bem? O jantar será trazido até aqui e qualquer problema você deve chamar alguma de nós. Ok? – Hinata olhou-a com confusão, mas acenou positivamente. – Ótimo. Tenha uma boa noite.

***

A Madre estava preocupada. Muitas das Irmãs olhavam-na com confusão e seriedade, ninguém sabia o que estava acontecendo. Era meia-noite e, depois de ter garantido que todas as garotas ficassem trancadas, as Irmãs reuniram-se na sala da superiora para descobrir o que estava acontecendo.

– Senhora, irá nos contar por que as meninas devem ficar trancadas? Isso não faz sentido... – comentou uma das freiras mais novas.

Hesitante, a Madre olhou para as outras freiras mais velhas, mas decidiu que seria melhor explicar para as novatas o que estava acontecendo. Talvez eu consiga evitar que isso se alongue. Pensou ansiosa.

– Prestem bastante atenção – pediu séria.

Hinata saiu de seu quarto. Por mais que tivesse tentado segurar, a vontade de ir ao banheiro fora maior. Ela, realmente, procurou uma das Irmãs, para acompanhá- -la, mas não encontrou ninguém e foi “obrigada” a ir sozinha. Quando estava pronta para voltar para seu quarto, olhou para o corredor vazio e revirou os olhos. As freiras estavam reunidas em algum lugar. Provavelmente na sala da Madre. Concluiu com um dar de ombros.

Como uma das mais velhas, ela já passara por aquela situação antes. Todo ano, quase na mesma época, algumas meninas apenas desapareciam e a Madre fazia um grande caso daquilo. Podia ser descaso da parte dela, mas Hinata acreditava que elas não desapareciam e, sim, fugiam. O orfanato não era ruim, mas era muito severo e todas as garotas sempre falavam em ir embora. Elas apenas se adiantaram e foram. Pensou lógica. Hinata pensara em fazer aquilo, mas os olhares sempre voltavam e faziam com que ficasse.

Sem fazer muito barulho, fechou a porta do quarto e trancou-a. Se uma das Irmãs descobrir que eu sai, vou ter sérios problemas. Pensou jogando-se na cama, cansada o suficiente para dormir.

Depois de a última Irmã sair, a Madre caiu sentada em sua cadeira e suspirou cansada. Acalmar todas aquelas freiras era uma tarefa complicada, mas não impossível. A vantagem de serem tantas era a verdadeira questão. Com um número tão grande, sempre era mais fácil ficar de olho nas garotas. E, mesmo assim, algumas garotas ainda somem. Pensou pesarosa.

Ela estava quase adormecendo quando batidas frenéticas, na porta, ecoaram pela sala. Olhou para o relógio assustada: três e meia da manhã. Preocupada, correu para abrir a porta.

– O que aconteceu? – questionou preocupada.

– Senhora...hã...Bem... – enrolou-se uma das Irmãs mais jovens. Ela, como a superiora, ainda estava de pijamas. – Tem uma moça querendo falar com a senhora. Ela afirmou que é urgente!

Arrumando-se da melhor maneira que podia e, extremamente irritada por estar recebendo uma visita àquela hora, a Madre pediu que a outra a guiasse até sua visitante tardia. As duas caminharam até a porta da frente e encontraram a mulher que chegara tão apressadamente. Ela possuía brilhantes olhos vermelhos e uma postura extremamente altiva. Por um momento, a Madre achou um desrespeito da mais jovem por ter chamado aquela mulher de moça.

– Como posso ajudá-la? – perguntou voltando a ficar séria.

– Gostaria muito que a senhora lesse esta carta – falou entregando um envelope pardo. – E cumprisse as minhas exigências.

Ultrajada, a Madre abriu a carta.

***

Hinata sentiu-se ser sacudida fortemente. Abriu os olhos assustada e cansada e olhou para o relógio, quase quatro da manhã, encarou a freira de maneira confusa: - O que está acontecendo?

– Levante-se! – ordenou a Irmã puxando-a para ficar em pé. – Ande logo, a Madre quer vê-la imediatamente!

A garota deixou-se ser puxada, ainda com sono, e sentiu-se ser arrastada para fora de seu quarto. Ela encarou as próprias roupas com muitas dúvidas e estava se preparando para reclamar, graças ao frio que sentia, quando foi empurrada para dentro da sala da superiora e ouviu a porta ser trancada.

A lareira estava acesa e a Madre estava em pé, olhando para uma senhora que bebia chá calmamente. Hesitante, a menina caminhou para perto da mais velha e parou encarando-as.

– A senhora mandou chamar-me? – perguntou baixinho.

A Madre viu o brilho de interesse da “convidada” e sentiu um calafrio subir por sua espinha. Sentiu tristeza ao perceber que uma das melhores garotas que conhecia ira embora. E nem fazia ideia de para onde...

– Sim, Hinata. Sente-se, por favor. Quero que conheça esta senhora – falou olhando para a senhora sentada. Esperou que a menina se acomodasse e continuou: - Esta é Yuhi Kurenai, governanta da famosa família Traven, e veio a esta hora especialmente para vê-la. Senhorita Yuhi, esta é a Hinata.

– É um prazer finalmente conhecê-la, senhorita Hinata – pronunciou-se pela primeira vez. Hinata notou que Kurenai não era inglesa e que seus olhos eram vermelhos, mas vazios e distantes. – É muito bom saber que tem sido tão bem tratada aqui.

– O prazer é meu, senhora Yuhi – respondeu sem graça.

Sua expressão era tão transparente quando água. Kurenai podia ver a confusão e a curiosidade com clareza e ficou surpresa por ver uma garota tão pura. O que Minato está pensando ao levar esta garotinha para aquela casa... Perguntou-se se lembrando dos moradores da mansão. Kurenai pousou a xícara com delicadeza, encarou os olhos perolados, nada comuns e muito diferentes, e encontrou suspeita neles. Pelo jeito, a menina era pura, mas não boba.

– Gostaria muito, Hinata, que, antes de tudo, você lesse esta carta e pensasse um pouco – avisou entregando o mesmo papel pardo que dera para a freira quando chegara ao orfanato.

Rapidamente, Hinata pegou a carta e abriu-a. A escrita era refinada e clara e a tinta parecia estar desbotada, o que mostrava o quão a carta era antiga. A garota ficou parada por alguns segundos, tentando decidir se começava a ler ou não, mas a curiosidade foi maior que a precaução. Ficou chocada com o que estava escrito:

“21 de Junho de 1997

Querida Hinata,

Deixei-te há alguns dias no orfanato e, sabendo que você logo poderia voltar, resolvi escrever esta pequena carta. Não, não sou seu pai – sou o melhor amigo dele e seu padrinho. Sua segurança foi confiada a mim, por seu pai, e você deveria ter ficado comigo, mas não achei adequado que uma garotinha vivesse com um senhor solteiro e seus filhos.

Então, agora que está uma moça, achei correto trazê-la para a família que Hiashi, seu pai, escolheu para você. Peço desculpas por demorar tanto, mas você merecia crescer com bons exemplos femininos, para tornar-se uma verdadeira mulher. Porém vir para cá será sua decisão, espero que aceite.

Seu padrinho, Minato Traven”

Hinata encarou a mulher sentada a sua frente: - O que isso quer dizer?

Kurenai percebeu que atitude da garota mudara visivelmente. De confusa e envergonhada, ela passara para séria e fria. Parecia ter mudado completamente sua personalidade, a desconfiança cobriu os olhos perolados e fez com que uma sombra escura cobrisse seu rosto. Aquela mudança fez com que a governanta se lembrasse de alguém muito próxima a si...

– Quer dizer, senhorita Hyuuga, que meu chefe é seu padrinho e quer que você faça parte de sua família. Ele irá adotá-la – explicou breve. Kurenai percebeu a luz de o Sol começar a aparecer pela janela. Já está amanhecendo. Eles já devem estar dormindo. Concluiu voltando sua atenção para a menina.

– Hyuuga? – perguntou sem entender nada.

– Desculpe, você não deve saber... Hyuuga era o sobrenome de seu pai – respondeu séria. – Agora que leu a carta, seria adequado que me ouvisse antes de tomar uma decisão. Posso?

Hinata olhou mais uma vez para a carta. Ela também notara que o Sol estava nascendo, mas apenas pensara no sono que havia perdido. Saber que tinha um padrinho em algum lugar e descobrir seu sobrenome, algo que fazia parte de uma identidade que não conhecia, fora um completo choque. Por um momento hesitou, não tinha certeza se queria saber o que ela tinha para dizer, mas a vontade infantil de conhecer as próprias origens falou mais alto.

– Claro, pode começar.

A governanta ajeitou-se melhor na cadeira. A expressão impassível nunca abandonou seu rosto, em nenhum momento de sua narração: - A senhora poderia nos deixar sozinhas? – a Madre não hesitou em deixar a sala. Hinata olhou questionadora para Kurenai, mas ela apenas voltou a falar. – Muito bem. Seu pai e meu chefe, Minato, conheceram-se na faculdade e logo se tornaram amigos. Mas seu pai tinha uma doença incurável, que graças a Deus você não tem, e ficou muito pior depois que você nasceu, ele pediu que Minato cuidasse de você, mas o senhor Traven preferiu deixá-la aqui, por seu apenas uma garotinha e ele só ter filhos homens. Agora, ele quer que você volte para a família dele. Como a filha que deveria ser.

– Por que agora?

Hinata sabia que tinha muita coisa faltando naquela história, principalmente o fato de ela não ter comentado nada sobre sua mãe, mas algo lhe dizia que não poderia recusar ir com aquela mulher.

– Porque você tornou-se uma moça e não precisa mais ficar em um lugar que não lhe deixa tranquila... – respondeu séria.

A garota travou. Como ela sabe que não estou tranquila aqui? Perguntou-se ao se lembrar da sensação de ser observada. Sacudindo a cabeça levemente, voltou sua atenção para o que ela estava falando.

– E lá você terá uma família, coisa que lhe foi privada quando você ainda era um bebê – completou um pouco menos fria. – O que acha? Será uma felicidade enorme para meu senhor tê-la conosco.

– Eu preciso pensar... – respondeu sincera. Era coisa demais para apenas uma madrugada.

– Eu preciso de uma resposta, senhorita Hinata – insistiu séria. – Acabou de amanhecer e a viagem até a casa de meu chefe é muito longa.

Hinata olhou para ela com ainda mais suspeita. Aquela insistência não era normal. Não tinham lhe dado uma escolha? Vendo que não teria escapatória, decidiu que, pelo menos, poderia conseguir mais algumas respostas.

– Posso falar com seu chefe, meu padrinho?

***

Ele estava quase adormecendo quando seu celular começou a vibrar. Se fosse qualquer outro telefone, apenas ignoraria... mas era seu número particular e só um grupo restrito de pessoas possuía aquela número. Espero que seja importante.

– Alô?

– Hã, senhor Traven?

Ele sentou-se na cama, não reconhecia aquela voz de lugar algum, mas o timbre delicado e hesitante fez com que uma onda de nostalgia passasse por sua mente. A ansiedade subiu por sua garganta...

– Quem é? – perguntou sério. Quem poderia ser àquela hora...

– Aqui é a Hinata... Hyuuga –aquele nome foi como um baque e Minato logo se lembrou de quem possuía aquele timbre de voz melodioso. Sentou-se rapidamente e olhou pela escuridão do quarto, surpreso. – Hã, eu recebi sua carta e preciso responder, mas gostaria de conversar com o senhor primeiro...

Não! Respondeu internamente. Não agora! A coisa que Minato mais odiava era sentir-se encurralado e, ELA ligar justamente naquele momento, era o tipo de situação que odiava. Não que não quisesse conhecê-la e contar o que precisava e, até mesmo, apenas conversar com a filha de seu melhor amigo, mas ainda era muito cedo. E eu não faço ideia das coisas que Kurenai pode ter dito a ela! Pensou irritado.

– Claro, querida – respondeu tentando manter-se sereno. – O que gostaria de saber?

– O que o senhor achava de meu pai? Como ele era? – questionou direta. Por algum motivo desconhecido para si, Hinata sempre tivera vontade de saber sobre seu pai e não sua mãe.

A voz dela demonstrou apenas interesse e um toque de tristeza. Ficou evidente a falta que sentia de carinho familiar. Minato esperava qualquer coisa, menos aquelas perguntas e aquelas reações. Sentiu seus músculos relaxarem e caiu novamente sentado.

– Não estou abusando muito em perguntar, não é? – ouviu a voz hesitante murmurar.

– Não, querida. São perguntas completamente normais nesse tipo de situação – respondeu delicado. Não importava quem fosse, Minato sempre seria gentil com um Hyuuga, eles tinham certo controle calmante sobre ele e falar sobre seu melhor amigo sempre o relaxava. –Ele era uma ótima pessoa, encantador. Às vezes, era frio e distante, mas era só uma forma de protegeros próprios sentimentos. Foi um ótimo amigo, o melhor que eu poderia ter e ajudou-me com muitos problemas, quando você nasceu ele tornou-se a pessoa mais feliz do mundo...

***

Hinata desligou o telefone com cuidado. Ouvir aquele homem estranho falar sobre seu pai, outro homem estranho, com tanto carinho fez com que algumas de suas dúvidas sumissem e certa confiança surgisse. Perguntara quando iria conhecê-lo, mas a resposta “em breve” não fora satisfatória. Percebeu que ficara encarando o telefone e que Kurenai esperava uma resposta.

– Senhorita? – a governanta percebera que os olhos perolados estavam cheios de lágrimas e ficara preocupada. O que o senhor Minato pode ter dito? Perguntou-se confusa. – Está tudo bem?

– Está sim, senhora Yuhi – responde passando as mangas de sua camisola em seus olhos. – Ele apenas respondeu à minha pergunta. Seu chefe é muito gentil.

Kurenai nunca imaginaria ouvir seu patrão ser chamado de gentil novamente, mas sabia que não deveria ficar surpresa. Igualzinha ao Hiashi. Uma grande sorte. Concluiu satisfeita.

– E então, tomou sua decisão? – inquiriu voltando a ficar séria. Hinata ajeitou- -se na cadeira e acenou a cabeça.

***

O carro era todo brilhante. Hinata ficou surpresa ao ver um motorista esperando-as. A garota voltou-se para a Madre, que a observava com tristeza, e sorriu delicada.

– Obrigada por tudo. A senhora sempre será como uma mãe para mim – – afirmou abraçando-a.

– Pode voltar sempre que quiser – respondeu recompondo-se. – Aqui sempre estará de portas abertas para você.

Hinata sorriu mais uma vez, agradecida, e virou-se para ir embora. Kurenai cuidara de toda a papelada enquanto ela arrumava suas coisas. A mais velha esperava segurando a porta do automóvel, Hinata entrou e sentou-se colada a janela; Kurenai entrou e fechou a porta.

– Podemos ir, Kurenai?

A voz do motorista era baixa e com certa insinuação – Hinata não conseguiu descobrir de quê... A governanta olhou para o espelho retrovisor com reprovação, pelo jeito ela também notara seu tom sugestivo.

– Claro, Kakashi. Leve-nos embora – respondeu séria. – E, senhorita Hinata, aconselho que descanse, será uma longa viagem.

No final das contas, a governanta quem acabou adormecendo. Eram dez horas da manhã, estavam viajando há quase cinco horas e Hinata não entendia como a outra conseguia dormir. A menina estava agitada demais para pensar em descansar.

– Está com fome, senhorita?

Hinata olhou para o motorista com receio, ele não lhe dirigira a palavra em nenhum momento de toda a viagem então a garota não sabia como reagir àquela pergunta. Kakashi sorriu gentil ao ver sua hesitação e ajeitou o retrovisor para que pudesse vê-la melhor.

– Desculpe por ter lhe surpreendido, senhorita – pediu calmo. – Mas não queria falar nada enquanto a Malévola estivesse acordada.

A garota não conseguiu evitar a risada ao ouvir o modo como ele chamou a governanta. Vendo que conseguira a simpatia da nova senhorita da casa, Kakashi ficou um pouco mais relaxado.

– Eu sou Hatake Kakashi, motorista pessoal e faz tudo da família Traven. Qualquer problema saiba que eu sou a pessoa a quem deve chamar! Vou ajudá-la sem hesitação – apresentou-se animado.

Hinata sorriu para ele. Estava feliz em saber que haviam pessoas divertidas dentro daquela família: - Sou Hinata, hã... Traven, agora. É um prazer conhecer o senhor.

– O prazer é meu, senhorita – devolveu recebendo um novo sorriso. – Mas e então, está com fome?

Ela acenou com a cabeça e sentiu o carro parar naquele instante. Bem no meio da estrada, havia uma loja de conveniência. Kakashi deu um sorriso brincalhão para ela.

– Espero que não se importe com comida de estrada.

***

Hinata agradeceu pela comida e serviu-se com vontade. O motorista estava pagando a conta quando Kurenai entrou como um furacão na lojinha e lançou um olhar extremamente irritado para ele.

– O que pensa que está fazendo, Kakashi? – perguntou irritada.

A garota não mexeu nenhum músculo e apenas continuou a comer. Kakashi a avisara que Kurenai reagiria daquela maneira exagerada e energética. Ela tem que ser assim para conseguir controlar os filhos de nosso patrão. Ele explicara tranquilo. A nova Traven ficou imaginando como seriam seus novos “irmãos”.

– A menina estava com fome – explicou puxando uma cadeira para ela, a governanta, se sentar. – Dê um tempo para ela e logo voltamos a viajar.

Kurenai olhou para ele com raiva, mas concordou e aceitou o lugar que lhe estava sendo oferecido. Kakashi puxou outra cadeira e sentou-se entre as duas, com um sorriso feliz no rosto.

O silêncio era algo normal para Hinata e ele não se importava em permanecerem daquela maneira, mas queria saber um pouco mais daquela família e seus empregados. Ainda mais porque irei conviver com eles daqui em diante. Pensou curiosa.

– São só vocês que trabalham para os Traven? – começou colocando algumas batatinhas em sua boca.

– Não. Há mais três empregadas e dois cozinheiros – Kakashi respondeu solicito.

– E quem mais mora na mansão? – sondou curiosa. Tentava descobrir mais coisas sobre o senhor Minato, mas não foi a resposta que conseguiu.

– Nós, os empregados, e os senhores da casa, os filhos de nosso patrão.

– Filhos?

Agora, que parara para prestar atenção, foi que ela percebeu que aquela informação sempre estava no plural. Encarou o motorista ainda mais interessada, queria muito saber o máximo que poderia sobre aquela família.

– Na carta, que o senhor Traven deixou para mim, ele também menciona seus filhos. Quantos são exatamente?

– Oh! Na época eram só cinco, mas um tempo depois nasceu o caçulinha e, hoje, são seis – respondeu Kurenai rápida e precisa. Ninguém conhecia aquela família melhor do que ela.

Seis!? Perguntou-se Hinata chocada. Por um momento, ela achou que teria um ataque de pânico. Por ter sido criada em um convento, nunca, em sua vida, tivera que lidar com garotos, nem mesmo na escola e, daquele dia em diante, teria que conviver com seis deles. Um arrepio ameaçou subir por sua espinha. Sinto que estou com sérios problemas...

– Senhorita Hinata... – continuou Kurenai chamando a atenção da menina. – Peço que tenha um pouco de paciência com os garotos, mesmo indo para a escola, eles não são acostumados a lidarem com outras pessoas e nem tem muitas visitas, na verdade, raramente as tem... E as idades são variadas, mas o mais velho tem vinte e oito e o mais novo, quatorze. As personalidades são mais variadas e distantes ainda... Creio que deveria evitar...

– Pare, Kurenai, por favor – pediu Kakashi rindo. – Pare de cavar a cova deles na mente dela! Deixe que ela os conheça antes e depois tire as próprias conclusões – sugeriu um pouco misterioso.

Hinata ficou ainda mais curiosa, mas percebeu que o motorista tomaria uma enorme bronca por ter interrompido Kurenai e voltou toda sua atenção para a comida. É com isso que tenho que me preocupar, por enquanto... Pensou satisfeita demais por estar comendo para pensar em outras coisas.

***

Depois de saber sobre seu padrinho, seu pai e seus novos irmãos, Hinata estava crente que não ficaria surpresa com mais nada, mas ela comprovou com os próprios olhos que estava errada... e muito! Quando viu a Mansão, sua boca caiu aberta. Ela era enorme. Tinha três andares e um imenso jardim. Ela ficou imaginando quantos quartos haveria ali e há quantos anos ela fora construída.

– Uau! – exclamou sem conseguir se conter. – Como ela é linda!

– Seja bem-vinda a sua nova casa, senhorita Hyuuga – desejou Kurenai com um sorriso. Ela ainda não estava certa dessa decisão precipitada de Minato, mas faria o possível para que ela fosse feliz ali, com eles. – Pode entrar e explorar, apenas evite os quartos dos garotos, está bem? Eles são meio chatinhos com suas coisas... Tenho várias coisas para resolver, então vê-la-ei só na hora do jantar. Kakashi levará suas malas e você para seu quarto.

A adolescente concordou e viu-a andar rapidamente para a entrada de serviço, que ficava nos fundos da casa principal. O Sol das duas horas estava mais intenso que o normal, para os dias frios da Inglaterra que estavam chegando, e Hinata sentiu-se bem com o calor aconchegante. Kakashi parou ao seu lado, com uma única mala em uma mão e um leve cumprimento educado em direção a casa.

– Vamos, senhorita?

Ela sorriu educada e, enquanto atravessavam o jardim, percebeu que desejava dar-se bem com sua nova família. Espero que possam ser confiáveis e bons, para variar. Pensou um pouco receosa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Enfim, o que acharam?
4000 palavras é a média dos próximos capítulos, por isso demora tanto rsrs!
Deixem seus reviews contando-me o que esperam etc! :3

Eu e a Blue esperamos ansiosas por eles :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Clã Traven" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.