Como Não Esquecer Essa Garota escrita por Eponine


Capítulo 11
Quando Nymphadora me fez uma pergunta




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Beastie Boys - So What Cha Want

Toda essa tragédia começou no último dia de aula quando eu comentei com Louise que minha família ia viajar para visitar minha avó:

— Você podia fazer uma festa em casa.

O que mais que um garoto de quinze anos poderia fazer por seu primeiro amor?

— Pai, será que eu posso ficar?

Frio? Com certeza: Vovó está em seus últimos anos de vida, mas era minha chance perfeita de ganhar reputação contra cultura em Hogwarts já que eu tinha virado um monitor. Comprei dois barris de cerveja, escondi no quarto de Ronald tudo de quebrável, e mandei um convite para todos que eu conhecia para que aparecessem dia 12 de julho de 1986. Era férias de verão do meu quinto ano e eu tinha acabado de ganhar meu crachá de Monitor.

— Cara, tem que ser hoje. — Joe parecia pronto para uma guerra, mas na verdade quem ia para a guerra era eu. Aquele seria o dia que eu conseguiria algo com Louise, definitivamente. — Você vai tomar algumas cervejas e vai chegar nela, certo?

— Certo!

Eu tinha feito uma playlist ferrada com a ajuda de Nymphadora. A casa tinha superlotado porque Thomaz e Franchesca também haviam convidado um monte de pessoas. A casa estava cheia, o som estava alto, a cerveja estava trincando na mão de todos, estava perfeito!

Era o melhor dia da minha vida!

Caminhei por minha casa lotada de gente, sorrindo feito uma besta, com uma caneca gigante de cerveja nas mãos. Eu estava me sentindo o cara mesmo só conhecendo 10% dos convidados. Eu já tinha passado das quatro cervejas quando quem realmente importa chegou. Ela estava tão linda com a roupa mais simples que eu já tinha visto na vida que eu quase desmaiei. Louise deu um bom olhada ao redor, parecendo se familiarizar com o local:

— Ei. — sorri, entusiasmado.

— Eiii, Bill! — riu ela. — Isso está demais, tem muita gente aqui!

— É... São amigos! — Ela sorriu enormemente e eu viajei nas covinhas em suas bochechas. Ela molhou os lábios, aparentando estar tímida. — Você quer cerveja?

— Claro, eu vou ver se tem alguns amigos por aí. — assenti e assisti ela desaparecer na multidão.

Voltei para a sala de estar onde Franchesca estava entretendo os convidados com suas histórias e aventuras. Tomei mais umas duas cervejas nesse meio tempo e eu já estava começando a ficar torto e sem entender nada. Engatei em uma discussão longa sobre o novo filme do Pink Floyd e fumei mais de cinco cigarros nesse meio tempo. Um dos garotos que estava conversando comigo estava bolando um cigarro e ofereceu-me um trago.

Claro que não era cigarro e não ajudou nem um pouco.

Notei a ausência de alguém e definitivamente não era Charles.

— Ei, Audrey... — apertei o ombro de uma garota de cor-de-rosa e descobri não ser Audrey. Andei pela festa mais um pouco tentando acha-la e a avistei sentada ao lado de Joe, segurando uma garrafa de vinho vazia. — Audrey...

— Bill, vamos brincar do jogo da garrafa lá no jardim. — sorriu ela, levantando-se. — Eu nunca joguei, mas Joe disse que é bem legal.

Joe e os outros garotos estavam rolando de rir, Audrey provavelmente não sabia que o jogo era bem sexual. Tentei me concentrar em minha dúvida:

— Onde está Dora? — ela olhou ao redor, curiosa.

— Não sei...

O desespero mortal me bateu. Nymphadora era um ser perigoso sóbrio, bêbado então era capaz de causar uma catástrofe épica. Subi as escadas desesperado, entrando em todos os quartos, tendo surpresas nada agradáveis (Franchesca e Thomaz na cama de Percy, argh), até finalmente abrir a porta do meu quarto.

Uma garota de madeixas verdes estava concentrada, sorrindo para um quadro em minha cabeceira. Ela estava com um vestido cinza rasgado e customizado com alfinetes, acompanhado de um coturno de salto gigante.

— Ei, criança! — sorri. — Eu estava te procurando!

Dora assustou-se, colocando o quadro no lugar. Seu cabelo passou para alaranjado.

— Eu estava só dando uma olhadinha. — deitei-me em minha cama, exausto, sentindo a vibração dos móveis por conta do som alto. Ela foi até a prateleira e pegou algumas medalhas, sorrindo. — Você ganhou muitas competições.

— É... Faz tempo.

— Seus pais devem estar orgulhosos. Agora que você é monitor. — ela sentou-se na cabeceira da cama e pegou outro quadro. — Você é muito inteligente.

— Obrigada. — sorri para o teto. Alguns minutos depois eu notei o olhar de Nymphadora enquanto ela torcia seus dedos, aparentemente nervosa. — Ei, sabe quem chegou? Louise.

— Caralho, finalmente achei vocês! — Franchesca praticamente arrombou a porta. Dora levantou-se em um pulo e eu demorei alguns segundos para me situar — Vamos jogar!

Eu já estava tropeçando em minhas próprias botas – mas muito animado – enquanto descia as escadas para o jardim. Fiz questão de levar Louise até o jardim para que ela também entrasse na brincadeira. Pisquei para Joe e aquela era a minha confirmação de que eu me daria bem naquela noite.

— Ok, ok, vamos as regras! — Franchesca também parecia meio bêbada, não conseguindo ficar de pé direito. Fiz questão de pegar um lugar estratégico, bem de frente para Louise. Ela parecia sorridente e confiante, mal podia imaginar o que lhe esperava. — Mão no peitinho, pode. Mão dentro da calça...

— PODE, MAS NÃO AQUI! — gritou Joe, fazendo todos gargalharem.

— Bill, que tipo de brincadeira é essa! — sibilou Audrey, em pânico ao meu lado. Gargalhei tanto que nem notei que a garrafa já estava girando. Parou em uma menina que eu nunca vi na vida. Berrei e bati palmas enquanto a garrafa girava novamente, parando em Joe. Gritei tanto que minha garganta até doeu. Os dois se levantaram e ficaram quase um minuto inteiro em um beijo. Nymphadora apertou minha coxa, tensa.

— Acho que vou sair...

— AAAAAAAAAAAH — gritou Franchesca. A garrafa havia parado em Nymphadora. Gritei em seu ouvido, aplaudindo. A garrafa girou mais uma vez e demorou para escolher sua vitima, e quando finalmente parou, foi em mim. Na minha mente bêbada, era impossível a garrafa ter parado do meu lado, não tinha lógica, ela tinha que parar em algum lugar de frente para Dora e não ao lado dela.

O pessoal estava muito animado, eu ainda não tinha entendido o que havia acontecido, Dora parecia estar a ponto de um infarto. Eu ainda estava rindo feito um idiota quando olhei, fascinado, para o cabelo verde neon de Nymphadora, completamente encantado.

— Anda, não temos a vida toda! — gritou Franchesca, segurando a garrafa. — Anda, Nymphadora!

Eu não estava assustado com o rosto próximo de Dora, afinal, ela gruda o rosto dela nas pessoas quando vai falar, mas eu estava assustado com a ideia de beijá-la. Eu via Dora como uma irmã, eu sempre vi, entretanto, eu estaria sendo um péssimo mentiroso se não dissesse que havia uma tensão quase tocável entre Nymphadora e eu. Era triste e vibrante, era um monte de palavras que não saíam nem a força e olhares pesados, cheio de medos e sentimentos.

Toquei meu coque e tirei alguns fios de meu rosto enquanto Nymphadora olhava para para baixo, parecendo ofegante em um sorriso tímido no canto da boca. Se eu pudesse voltar no tempo, eu não mudaria o que eu disse, mas eu gostaria de sentir aquele segundo novamente.

A iluminação da casa atrás de nós, a boca rosada de Dora, minhas mãos formigando, o riso animado de Audrey, o verde das madeixas da criança... Inesquecível.

— Eu não posso beijá-la, ela é minha irmã! — Não foi uma confirmação, foi uma pergunta para mim mesmo, e para Nymphadora. Os olhos gigantes, as sobrancelhas e o piercing na esquerda, as sardas. Havia algo ali que destruiu minha noite em segundos.

— É, realmente, isso é meio incestuoso. Vamos de novo! — anunciou Franchesca. Minha animação para o jogo voltou em segundos, mas Nymphadora saiu da partida, dizendo que iria buscar mais uma cerveja e voltaria mais tarde. Ela não voltou, eu beijei quase a roda inteira, menos Louise.

Foi a pior noite da minha vida e tudo que eu queria era que todos fossem embora. Mas como se ter tido uma noite horrível não fosse o suficiente, eu vi Louise aos beijos com um garoto negro, no canto da sala de estar. Comecei a me sentir muito mal e subi em direção do meu quarto, pronto para desmaiar em minha cama:

Slowdive – Sleep

Havia uma pessoa escondida debaixo das minhas cobertas, fungando. Eu soube que era Nymphadora pelos coturnos no chão, então apenas tirei minhas botas e deitei na cama pequena, ignorando as fungadas. Era uma colcha de retalhos feita por minha mãe, e eu não gostava muito dela, por isso estava no armário. Nymphadora provavelmente estava fuçando lá e pegou.

— Entra aqui! — sussurrou ela.

Virei-me e peguei a coberta, me cobrindo também. Parecia uma mini cabana. Seu cabelo estava novamente alaranjado e eu sorri, curioso. Ela parecia ter chorado um pouco, mas eu não me incomodei com isso:

— Eu poderia fazer uma tabela de emoções com seu cabelo. — sussurrei.

Ela deu um breve sorriso.

— Azul quando você está muito nervosa. Preto quando você está sendo maldosa... Vermelho quando está muito irritada... Branco quando você está assustada ou com medo. Louro quando você está calma, ou triste. Alaranjado quando você está ‘normal’, eu acho. Cor de rosa quando você está muito feliz... E verde? Hoje ficou verde.

Dora ficou em silêncio enquanto eu analisava cada sarda em seu rosto.

— Verde é quando meu coração vai sair da estratosfera — sussurrou. Ela ficou me olhando da mesma forma que eu fiquei fitando-a, sem nenhum pudor, apenas com a música alta no andar debaixo. Eu estava quase caindo no sono quando Nymphadora começou a falar:

— Eu sou feia? — perguntou baixinho.

— Não... Claro que não, criança. — sussurrei de volta.

— Eu me acho feia. — sussurrou ela, eu estava tão sonolento que eu mal conseguia abrir o olho. Ela começou a entrelaçar meu cabelo. — Uma vez, quando... Quando eu estava na casa de Frankie, eu tentei ficar parecida com ela. E quando eu me olhei no espelho eu vi o quão feia eu era. Eu me odiei por ter feito aquilo.

Continuei em silêncio, agora me sentindo terrivelmente mal por ter ouvido aquilo. Virei-me para ela novamente, tentando manter os olhos abertos.

Ela fechou os olhos, finalmente dormindo.

Seu cabelo estava louro escuro.


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Notas finais do capítulo

Eu dou espaçadas na idade deles de forma gigantesca, então uma hora vocês estão acompanhando os quatorze, ai já é quinze, pisca já é dezesseis, mas fiquem tranquilos que está tudo sob controle hahahaha

Muitas festas estão por vir, aquela época incrível de descobertas, AAAAHHHH, SMELLS LIKE TEEN SPIRIT

Muita música boa!

Espero que gostem!!!