Nick voltou à Casa Branca, beirando as laterais, até achar um canto que não tinha sido consumido pela neve ainda, sentando ao lado de alguns arbustos mortos, deixando-o um pouco escondido. Fechou os olhos e encostou a cabeça na parede. Sua consciência pesava, e ele não conseguia pensar em outra coisa se não as consequências que viriam. "Será que esse sacrifício valeu a pena?" ele pensava consigo mesmo "Como a Lizzie vai ficar depois de hoje?"

Seus pensamentos foram interrompidos por murmúrios vindos próximos dali. O rapaz olhou por entre os galhos secos da planta e viu David conversando com seus subordinados.

— Entenderam, certo? - David disse. - Agora vão lá e acabem de vez com a ruiva, e não voltem até terem terminado o serviço, ou eu mesmo acabo com vocês!

Os dois rapazes assentiram e logo saíram. David foi na direção contrária, notando Nick encostado na parede.

— Você foi muito bem, rapaz. - o homem disse, e sorriu.

Nick levantou e com o semblante sério, encarou o homem.

— Espero que esteja satisfeito, eu fiz o que você pediu, agora deixe a minha irmã e o meu tio em paz...

O rapaz virou e tomou rumo para a frente da mansão, mas teve a breve sensação de que o assunto não estava encerrado ali ao ouvir uma das risadas sinistras do homem.

Mesmo que estivesse frio e ameaçando a cair uma tempestade, as ruas estavam cheias, as pessoas passavam apressadas, e pareciam estar bem ocupadas. Nick seguiu caminho na direção de seu apartamento, ainda não tinha um objetivo ao certo, mas seguia com passos rápidos, quase correndo.

Chegando ao prédio, ele subiu as escadas com pressa, pulando alguns degraus. Chegando último andar, ele avistou Nathan no final dele, como se esperasse algo.

— Olá, Nick! - o rapaz o cumprimentou cordialmente.

— Olá... O que faz aqui?

— Bem... Eu vim devolver alguns livros que peguei com a Lizzie algumas semanas atrás e tirar algumas dúvidas...

— Você não vai... Espera, você bateu na porta e ninguém atendeu?

Nathan o olhou confuso e assentiu positivamente. Nick se aproximou e bateu na porta, obtendo silêncio como resposta. O rapaz forçou a maçaneta por um tempo e depois se jogou contra a porta, abrindo-a.

— O que você está fazendo?! - o garoto indagou assustado.

— Vendo se a Ellie está em casa... - Nick respondeu. - Depois eu te explico a situação...

Nathan ficou observando a casa enquanto o outro rapaz andava para lá e para cá, olhando em todos os cantos, à procura da menor. Já exausto e tendo a certeza de que ela não estava ali, e que talvez a ruiva tivesse dado um fim mágico nela, ele voltou para a sala e passou a mão nos cabelos negros, na falha tentativa de arrumá-los. Suspirou demoradamente e depois voltou o olhar para o mais novo, que continuava parado à frente da porta.

— A Ellie não está aqui... - Nick suspirou outra vez e depois coçou o queixo, pensando nas prováveis possibilidades daquele sumiço.

— Ela não fica sempre com a sua irmã? - Nathan indagou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Isso! Vou checar isso agora, me encontra na lanchonete da Úrsula em uma hora que eu te explico o que tá acontecendo...

Após terminar a frase, o rapaz saiu correndo outra vez, descendo as escadas do mesmo jeito que subiu: pulando alguns degraus.

De volta à Casa Branca, o rapaz foi até a ala médica e chamou pela irmã. Após um pequeno diálogo, ele suspirou novamente e outra vez remexeu o cabelo. Dessa vez ele imaginou que a ruiva enfiou a menina na mochila e levou-a consigo, ou talvez ela tivesse dado um fim rápido na garotinha e escondido o corpo.

— Por que? O que houve? - Alice voltou a questionar.

— A Lizzie foi expulsa da cidade e a Ellie sumiu magicamente. Tipo, puf! - para enfatizar a frase, Nick ainda fez um breve movimento com as mãos de algo explodindo - Sumiu!

Alice até riria da situação se não fosse algo sério.

— Já passou pela cabeça de que ela pode estar na biblioteca ou naquela praça que tem brinquedos? Geralmente ela fica por lá quando não está comigo...

— Ô caralho! Você tá me dizendo que eu vou ter que ficar andando pra lá e pra cá que nem um idiota procurando a Ellie?

— Idiota você já é! - a loira sorriu. - E sim, é isso mesmo que você vai fazer.

O rapaz bufou e saiu da sala, outra vez correndo, mas acabou parando subitamente, visto que quase atropelou Thomas, que saia de uma das salas. Ele já ia continuar a sua corrida quando uma mão segurou seu ombro. Olhando para trás, ele viu o tio.

— Que bom que está aqui. - o homem sorriu. - Quero conversar com você...

Nick arqueou uma sobrancelha, mas seguiu o tio para dentro da sala. Alex sentou atrás da sua mesa de trabalho, enquanto o sobrinho sentou na cadeira que tinha na frente dela.

— Espero que não entenda mal a minha decisão é que não fique com raiva de mim, mas você sabe que isso foi necessário... Desde o começo eu sabia que essa garota era um problema.

— Não é comigo que você deve se preocupar... - Nick pensou alto, e visto que não poderia voltar atrás, resolveu continuar. - Talvez você não tenha percebido, mas esse foi só um teatrinho armado pelo David, assim como a morte de Josh. Por mais que você tenha expulsado a Lizzie, você não a conhece tão bem como eu, talvez você não conheça ninguém direito, porque você não consegue ver um problema bem na sua frente. A Lizzie ta puta, e quando ela fica puta todo mundo se fode, ainda mais que você deixou o Josh morrer daquela maneira... Se eu não tivesse posto um fim naquilo com certeza tudo ficaria pior...

Nick fez uma pausa e fitou o tio com o semblante sério, depois balançou a cabeça negativamente.

— Cedo ou tarde ela vai voltar, primeiro ela vai matar a Olívia, depois o David, aí ela virá atrás de você, mas a ruiva vai me deixar por último, como um prato principal, ela vai me multilar, servir para os zumbis, e quando eu estiver quase morto ela vai esfregar a minha cara no asfalto até que fique só os ossos, e como se não bastasse, ela ainda vai botar fogo nos meus restos... - o corpo de rapaz estremeceu só de pensar nisso. - Tudo isso porque eu fui obrigado a trair a confiança dela, poupando a sua vida e a da Alice, porque eu sei que ela vai ficar bem lá fora... Mas ela é vingativa...

Alex estreitou os olhos e fitou o sobrinho por alguns instantes, engolindo em seco.

— Isso não vai acontecer, Nick, ela será fuzilada se voltar. Vá pra casa e descanse, você só está irritado...

O rapaz tomou impulso e se levantou, se retirando da sala, batendo a porta com força. Outra vez voltando a correr, ele saiu da mansão e foi na direção da lanchonete, lembrando-se que tinha marcado de se encontrar com Nathan.

Entrou e sentou em uma cadeira do fundo, onde estava mais vazio. Por algum motivo ele estava nervoso, como se presentisse algo. Começou a bater os dedos na mesa, em um constante movimento de batuque, mesmo que sua intenção não era fazer uma música. Tudo o que conseguia pensar era em formas horríveis que poderia morrer.

Juliette sentou em sua frente e sorriu, em seguida indagando:

— O que foi?

O rapaz parou de bater na mesa e levantou o olhar, forçando um sorriso.

— Nada... Só pensando aqui...

A garota segurou em suas mãos e o fitou intensamente.

— Você sabe que pode me contar, não é bom ficar guardando coisas ruins para si. - ela disse em tom gentil.

— Fazendo uma síntese, eu menti, uma pessoa foi punida por uma coisa que não fez, e agora essa pessoa deve estar tão puta comigo que com certeza deve estar preparando a minha cova já... - seu corpo estremeceu outra vez.

A garota fez uma cara de surpresa antes de voltar a falar.

— Você deveria dizer a verdade então...

— Acho que agora é tarde demais... - o rapaz voltou a ficar nervoso e começou a batucar na mesa outra vez.

Juliette sentou ao seu lado e sorriu. Os dois mantiveram o olhar até a garota segurar seu rosto, se aproximando até que seus lábios estivessem juntos, ficando um tempo assim.

— Tudo vai ficar bem. - ela disse após os dois se afastarem.

Nick suspirou e continuou a fitá-la. Os dois foram interrompidos pela chegada de Nathan, que se sentou à frente dos dois e ficou encarando-os. Juliette se despediu rapidamente e se retirou da mesa. O mais novo esperou ela se distanciar e depois esboçou um sorriso.

— Que feio, Nick, traindo a Lizzie... - e riu depois disso.

— Quê? Quem disse que a gente namora? - Nick se pronunciou em tom indiferente. - Acho que depois de hoje eu já posso riscar essa ideia da minha lista...

— Só por causa disso? Ah, relaxa, eu não vou contar nada.

Nick deu uma leve risada e depois balançou a cabeça.

— Não por isso... É que... Bem, acho melhor eu explicar direito. - ele coçou a nuca e suspirou. - Sabe o David Thompson, aquele cara que tem um olho azul e o outro cor-de-mel? Então, ele fodeu com nossas vidas, literalmente, e ameaçou matar a minha irmã e o meu tio se eu ficasse contra ele diante das suspeitas de que algo estaria acontecendo dentro do estádio que tem no sul, então ele armou um teatrinho pra que a Lizzie fosse expulsa da cidade, no qual eu tinha que mentir se não íamos todos morrer... Resumindo, a merda ta feita, a Lizzie deve tá puta comigo, e o David deve estar planejando algo mais...

Nathan engoliu em seco e o fitou assustado.

— Seria um péssimo sinal se eu dissesse que eu vi o David entrando no estádio cerca de meia hora atrás?

Nick arregalou os olhos e levantou rapidamente, saindo da lanchonete com pressa. Tomou rumo à Casa Branca, imaginando que o pior ainda estava por vir.

Ao chegar, viu David carregando Alice, esta desacordada, em seu ombro. Notando a presença do rapaz, o homem sorriu:

— Ora, veja só! Eu já ia atrás de você...

— Achei que a gente tinha um trato... - Nick disse, elevando um pouco o tom de voz - Eu fiz o que você pediu!

O homem colocou a loira no chão, com certa indelicadeza, e abriu mais o sorriso.

— Bem, eu menti...

Nick lançou-se à frente para golpeá-lo, mas sentiu sendo puxado para trás, impossibilitado de se mover, notando um sorriso maligno sobre o ombro esquerdo.

— Finalmente está fazendo algo que presta, Ray! - David exclamou. - A única vez que você me foi útil foi quando pegou a Ruivinha fugindo!¹

O homem puxou as mangas e acertou um soco no estômago de Nick. Vendo que o rapaz permaneceu cabisbaixo, David levantou seu rosto, pegando-o pelo queixo.

— E no fim, você se junta com a Ruivinha... - ele comentou e acertou o rapaz com um soco no rosto, e depois mais outro, e mais outro. Sorriu e ergueu o rosto do rapaz outra vez. - Mas eu não vou matar você... Seria fácil de mais. Vamos fazer um joguinho...

Ele segurou Nick pego pescoço e começou a apertar, fazendo ele ficar sem ar. Nick sentiu algo gelado em volta do tornozelo e depois foi arrastado para perto das grades que cercavam a mansão, ouvindo algo se fechando em seguida. David o chutou algumas vezes, notando que o rapaz tentava levantar e depois repousou um dos pés sobre o jovem, pisando com força nele.

— Vê isso aqui? - o homem balançou um molho de chaves no ar, atirando-o na neve em seguida, um pouco afastado do rapaz. - A chave que abre a algema presa na sua perna tá alí, mas eu não acho que você vai conseguir pegá-la antes dos infectados chegarem...

David deu as costas e pegou a loira do chão, jogando-a sobre o ombro, como um saco de batatas, em seguida. Se pôs a andar na direção de um carro que tinha próximo dalí, mas parou no meio do caminho.

— Ah, isso aqui é seu. - o homem tirou uma arma da cintura e atirou-a perto da chave. - Vamos logo Ray, você tem trabalho ainda, vá para o portão Sul e abra-o, e em hipótese alguma deixe alguém fechar até que a cidade esteja tomada.

O rapaz assentiu e se pôs a a correr. David foi até o carro, jogou Alice no banco de trás e depois sentou no banco do motorista, puxando o rádio do bolso. Por mais que Nick estivesse agonizando por causa das pancadas, ele ainda se esforçou em ouvir os próximos passos do homem.

— Danny, depois que você e seu companheiro terminarem de abrir as portas, voltem e levem a Olívia, ela está terminando um serviço na Casa Branca. Eu estarei esperando naquele local de sempre... A casa laranja desbotada. Caso vocês demorem demais eu vou deixar as instruções naquele quarto...

Após isso ele deu partida no carro e logo se distanciou. "Merda..." o rapaz pensou consigo mesmo, ainda incapacitado de se mover.