A Guardian's Diary 4 - Of Dark and Cold escrita por Lino Linadoon


Capítulo 10
Capítulo 9 - Mordidas de lobos


Notas iniciais do capítulo

Ola de novo! Desculpe pela demora, mas é que é fim de ano, sabem como é né? provas finais, trabalhos finais, recuperação... Universidade não é coisa fácil, não...
Mas aqui está um novo capítulo para vocês! Meus amores!

ATENÇÃO Violência contra animais nesse capítulo. Foi mal... :(



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   Se tinha algo que Jack gostava de fazer era brincar e se divertir com sua filha. Ele tivera a sorte de ter tido uma garotinha que se interessava pelas mesmas coisas que ele, além de puxar tanto sua própria personalidade – como alguns diziam, era como se Domenicha fosse uma mini-Jack!

   Mas, assim como ambos seus pais, Domenicha era competitiva. Desde pequena ela tentava ser a melhor em tudo que conseguia e competições eram com ela mesma! Se a pequena Pooka não ganhava, não sossegava. É claro que ela não passava dos limites, embora chegasse perto vez ou outra. Mas qualquer coisa, digo qualquer coisa mesmo, se tornava uma competição para ela. Como uma simples brincadeira de piruetas no ar.

   Domenicha riu, dando uma pirueta no ar e caindo perfeitamente na ponta dos pés, quando um vento forte a fez perder o equilíbrio, caindo de cara em um monte de neve. A risada alta de Jack Frost ecoou pelos ouvidos agora congelados de Domenicha.

   “Ah, mãe!” A jovem Pooka gritou frustrada, mas não conseguia segurar seu sorriso. “Isso não foi justo!”

   “Tudo é justo, Domenicha!” Jack Frost revidou, ainda rindo.

   “Ah, tudo é justo, não é?” Ela se levantou rapidamente, pulando contra o tronco de uma árvore e rapidamente se jogando para cima de Jack Frost.

   O movimento foi tão rápido que o Espírito do Inverno nem conseguiu reagir. Em um instante ele estava contra o chão, com Domenicha em cima dele. E ela até havia se transformado em Pooka no meio do salto para ganhar mais peso! Jack teve de rir com tudo aquilo, em pensar que ele devia estar acostumado a movimentos rápidos tendo como marido um coelho gigante!

   “Domenicha! Saia de cima!” Jack tentou se mover, mas a Pooka o manteve preso com seus braços grande se felpudos. Ela era naturalmente uma garota forte, mas quando estava em sua forma animal era como se sua força multiplicasse por dois! Talvez fosse algo genético dos Pookas... “Ok! Ok! Peço água!” Mas a garota não se moveu. “Ora, vamos! Você está me esmagando aqui!”

   “Você disse que tudo era justo, não é mesmo?”

   Jack parou. Ele se moveu o máximo que conseguia no aperto da garota e conseguiu virar os olhos, se surpreendendo. Os olhos verde-azuis de Domenicha estavam diferentes, pareciam sem foco e escuros e ela esticava os lábios em um sorriso talvez grande demais, mostrando todos os dentes.

   Ele nunca havia a visto daquele jeito. Tudo bem que ela ficava sempre com o mesmo olhar de predador que Coelhão quando ela competia ou tinha vantagem, mas nunca antes seus olhos ficaram com aquele ar animalesco, completamente sinistro, como se não houvesse consciência por trás deles.

   “‘Nicha?” O Espírito do Inverno chamou, genuinamente assustado. Era como se estivesse olhando para outra criatura e não para sua filha. “Agh! Domenicha!” Ele gemeu de dor quando os braços de Domenicha o apertaram com mais força, as garras – que em algum momento ela colocou para fora – fincaram em sua camisa azul. “Você está me machucando!”

   A Pooka não respondeu, nem se moveu, exceto pelo movimento de seus braços felpudos, ainda em um aperto quase mortal.

   O que estava acontecendo? Aquela não era sua filha! Ela nunca o machucaria daquele jeito!

   Era uma sorte que o cajado não estava muito longe.

   Jack estendeu a mão para o pedaço de madeira e o moveu rapidamente, batendo contra o galho da árvore que se erguia acima deles. O galho balançou violentamente, derrubando toda a neve acumulada sobre os dois.

   Domenicha se afastou com um som baixo, como se estivesse reclamando em um rosnado baixo, e finalmente soltou sua mãe, balançando a cabeça para se livrar da neve que a cobria. Um pouco entrou em seu focinho rosado e ela espirrou algumas vezes.

   Jack Frost se levantou rapidamente, com o cajado bem seguro em suas mãos e colocado em sua frente como defesa – ele nunca iria atacar sua filha!

   “Eita... De onde veio essa neve?” Domenicha riu de seu próprio comentário, espirrando mais algumas vezes pra se livrar do gelo. Ela piscou uma ou duas vezes e se voltou para Jack e, para alivio desse, aqueles olhos de duas cores estavam de volta com seu brilho natural. “Mãe? O que foi?”

   Sim, o que havia acontecido ali? Aquilo foi assustador e, por algum motivo, lembrava Jack de algo que havia acontecido consigo mesmo. Jack se lembrava de ver os seus olhos quando lutou contra Sheila, que transformava seu corpo em um monstro. Seus olhos eram tão estranhamente obscuros quanto os de Domenicha...

   “Mãe?”

   O Guardião da Diversão voltou à realidade com a pequena Pooka o observando com um ar preocupado. O sorriso sinistro também sumira e tudo estava de volta ao normal... O que foi aquilo? Sem jeito, ainda confuso e preocupado com tudo aquilo, Jack deu uma risada.

   “Você devia de ter visto a sua cara!” Ele disse, esperando não estar forçando demais. “Você estava tão focada em me segurar que nem teve tempo de reagir!”

   Domenicha achou o comentário estranhamente fora de contexto, ela se lembrava de pular para agarrar Jack, mas não muito de ficar o segurando. Ela olhou para onde o cajado do Espírito apontava e notou o galho pelado. Ah, então era de lá que a neve veio! É, pelo jeito Jack tinha a pego de surpresa mesmo.

   Ela acompanhou a risada de sua mãe e Jack não pôde segurar um sorriso. Era a mesma risada que ele ouvia desde que a pequena nascera, talvez aquilo mostrasse que não havia com o que se preocupar. Pelo menos ainda não. Jack fez uma nota mental de falar com Coelhão sobre aquilo, ou então procurar respostas por si mesmo.

   Mas de repente a risada foi cortada por um grito alto.

   “Mas o que...?” Mãe e filha ficaram calados, ouvindo.

   O silêncio reinou entre as árvores, até que o grito ecoou alto de novo! E dava para perceber que tentava dizer algo: “Socorro!” E depois mais um: “Me deixem em paz!”

   “Vamos!” Jack rapidamente voou em direção do grito por ajuda, sendo seguido por Domenicha, trotando com toda força. A Pooka tinha mais facilidade em encontrar a origem do som com suas orelhas enormes e Jack deixou que ela o guiasse. Mas tudo ficou em silêncio de repente. O que queria dizer que... “Oh, não...! Ei! Quem está aí?!”

   Eles esperaram por uma resposta, mas não houve mais nenhum grito.

   De repente as orelhas de Domenicha tremeram e ela virou a cabeça em outra direção.

   “Por aqui!” Jack se apressou em segui-la, entrando mais no bosque.

   Mas como eles iriam encontrar alguém ali? Estava escuro, o sol já havia quase sumido atrás do horizonte e os troncos das árvores criavam sombras demais umas sobre as outras. Por sorte Domenicha conseguia ver no escuro, mas para Jack aquilo era outra história.

   Flutuando com o cajado à sua frente, quando chegavam a um lugar mais escuro, Jack continuou em ouvir grito algum, mas conseguia ouvir outra coisa. Rosnados e grunhidos, além de um arfar talvez alto demais.

   Lobos? Jack já tivera alguns encontros com lobos, além de alguns lobisomens – talvez por causa do instinto animal, eles tentaram caçar Coelhão um dia, mas os dois Guardiões se livraram deles sem muita dificuldade – e fosse um ou fosse outro, o Espírito sabia que uma pessoa assustada e desarmada não teriam muitas chances.

   “Vão embora!” A pessoa finalmente voltou a gritar, para o alivio de Jack. O pior ainda não havia acontecido. Mas havia pânico na voz do desconhecido.

   Mas, por mais escuro que estivesse o bosque, a cada passo que eles davam, mais luz iluminava o caminho. As sombras das árvores, que deviam estar voltadas para a direção para a qual eles iam por causa do sol poente, agora se esticavam para a outra direção. Não era uma luz amarela como poderia se esperar de uma lanterna antiga, mas não era exatamente a luz branca e artificial de uma lanterna led.

   Domenicha foi na frente, ouvindo o som dos lobos enquanto esses notavam sua chegada.

   “Domenicha, espere!” Jack pulou de um galho para o chão, finalmente chegando à fonte da luz. Ele piscou algumas vezes, seus olhos já muito acostumados com o escuro e demorou para ele ver quem havia sido acuado pelos animais.

   Se Jack tivesse de descrever o que ele via, a única coisa que poderia dizer era que estava de frente com uma luz viva. A pessoa não segurava lanterna alguma, ela mesma era luz, brilhando contra uma rocha alta com olhos negros arregalados, desviando dos lobos negros que o acuava para as pessoas que havia acabado de chegar.

   Mas aquela pessoa não era desconhecida para Domenicha, era Celennis, o garoto estrela.

   Os lobos rosnaram alto para Domenicha, que abaixou suas orelhas, rosnando de volta. Ela era muito maior que aqueles cães crescidos e, embora não tivesse dentes tão afiados, ela não estava com medo, nem preocupada. Que a atacassem! Eles iam ver o que é bom!

   Domenicha fez um show, cortando o ar com as garras expostas. Os lobos deram um passo para trás, mas continuaram com os dentes de fora. A Pooka já havia enfrentado alguns lobos antes, além de outros animais – quase enfrentara um urso, mas seu pai entrou no meio, é claro – então ela estava acostumado a ver seus inimigos recuar com seu tamanho fora do normal.

   Jack se apressou até o garoto que o encarava com olhos arregalados.

   “Você está bem?” Ele perguntou, desviando os olhos do garoto para sua filha. Mas Domenicha estava fazendo um bom trabalho fazendo os lobos recuarem passo a passo. “Você está ferido?”

   O garoto não disse nada, como se estivesse em choque, e só deu uma olhada para baixo; havia uma marca profunda de mordida em seu tornozelo nu, mas o sangue que manchava a área não era vermelho, era dourado, como ouro líquido e até mais parecia Areia do Sono do que qualquer outra coisa.

   “Vai ficar tudo bem, a gente...” O Guardião não terminou a frase.

   Domenicha gritou de dor, dando alguns passos para trás. Um vermelho forte começou a brotar em seu flanco, fazendo-a cambalear enquanto se afastava. Outro lobo havia a pego de surpresa, a atacando por trás!

   “Domenicha!” Jack agarrou o cajado com força, se preparando para fazer aqueles animais pagarem por atacar sua filha, mas não foi preciso.

   De repente, Domenicha se lançou contra o lobo que a mordera, não como um Pooka, mas como uma fera de verdade atacando sua presa. O lobo se remexeu em seus braços, rosnando e ganindo enquanto garras cortavam seu pelo. Então a Pooka fez algo que o Espírito do Inverno não esperava.

   Com tremenda força, ela fincou os dentes no flanco do animal, como que retribuindo a mordida. O lobo ganiu alto e os demais se prepararam para atacar.

   Jack foi rápido, lançando uma rajada de vento gelado contra os predadores, os fazendo quase deslizar pela neve branca. Domenicha instintivamente soltou o lobo cativo que, ganiu, correndo para longe com passos mancos. Os outros lobos o seguiram, sumindo por entre as árvores.

   “Domenicha?” Jack se abaixou ao lado da filha que arfava alto, mas sem dificuldade. “Domenicha?”

   A Pooka ergueu os olhos para sua mãe, antes de fechá-los ao sentir a dor da mordida no seu lado.

   “Ah, droga... Isso vai deixar uma marca...”

   O Espírito do Inverno suspirou aliviado, se ela estava fazendo piada, então é porque estava bem. Ele deu uma olhada no machucado, afastando os pelos manchados de sangue. Não era uma mordida muito profunda, devia de ter a mesma gravidade da mordida no pé do garoto estrela.

   “E-está tudo bem?” A voz suave, quase tímida, surpreendeu mãe e filha.

   “Sim, e você?” Domenicha perguntou rapidamente.

   Celennis demorou em responder, como se não soubesse falar direito.

   “E-estou bem... Logo vai melhorar...” Ele desviou os olhos para o pé machucado, o sangue dourado continuava cobrindo sua pele pálida, mas os cortes dos dentes pareciam menores.

   “Como você faz isso?” Domenicha perguntou, interessada e completamente ignorando seu próprio machucado. “É porque você é uma estrela?”

   “Uma estrela?” Jack perguntou sem entender.

   As bochechas de Celennis de repente ficaram douradas e ele se remexeu no lugar, tomando cuidado para não se apoiar no pé ruim.

   “S-sim...?” Ele murmurou quase sem jeito. “E-eu acho que devia se preocupar mais em cuidar de seu machucado do que se preocupar com o meu...”

   “Mas é claro! Venha, ‘Nicha.” Jack puxou a Pooka para ficar de pé de novo, ela cambaleou um pouco com o flanco machucado, mas ficou de pé sem problemas. “Volte à sua forma humana, vamos para a Toca. E você vem com a gente.” Ele apontou para o garoto estrela que se surpreendeu.

   “N-não precisa, e-eu estou bem!” Ele gaguejou, como se estivesse com medo. Domenicha se perguntou se não era realmente o caso.

   Sem dificuldade, Domenicha voltou à sua forma humana, ficando menor que Jack Frost e esperando que talvez naquela forma ela não intimidasse o garoto. Mas Celennis não parecia menos abalado do que antes, na verdade parecia mais. Lágrimas quase invisíveis apareceram em seus olhos negros.

   “Você diz que está bem e está aí chorando!” A garota quis se esticar até a estrela, mas ainda era um pouco difícil andar. “Você vai vir com a gente e vamos cuidar de seu machucado!” Celennis estava prestes a retrucar, quando Domenicha o cortou. “Por favor.”

   Celennis cambaleou mais uma vez, os olhos arregalados, com as lágrimas começando a descer. Ele engoliu um soluço e assentiu.

   “Ótimo.” Jack colocou um braço em volta da filha, que se apoiou nele, levantando a perna. Sem pelos, agora dava para ver melhor o machucado, parecia um pouco pior do que antes. “Precisa de ajuda também?”

   “N-não... Eu posso andar...” Como resposta, Celennis mancou alguns passos até ficar mais perto dos dois.

   Domenicha fez um túnel e desceu por ele com ajuda de Jack e depois ainda ajudou Celennis a fazer o mesmo, embora ele dissesse que não precisava. O caminho pelo túnel foi silencioso e o Guardião da Diversão tomou aquele tempo para se perguntar como aquele garoto pálido poderia ser uma estrela – aquilo explicaria o brilho que vinha dele, era a única coisa que dava para afirmar.

   Enquanto isso, os lobos tentaram se afastar do grupo pela escuridão, o que foi um erro. Não seria uma surpresa que no dia seguinte as pessoas que moravam nas proximidades falassem sobre os cadáveres de lobos encontrados pela floresta, todos com o pescoço quebrado.


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Notas finais do capítulo

Eu gostaria a agradecer a todos que ainda leem essa história embora eu seja uma idiota que não consegue postar muitos capítulos...
Realmente, obrigado! E espero que estejam gostando dessa história, por todos esses anos essa série tem sido o meu bebezinho, do qual tenho infelizmente negligenciado bastante. Mas saber que vocês ainda estão aqui já é o bastante para que eu continue escrevendo ela.
Muito obrigads! :3



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