A Guardian's Diary 4 - Of Dark and Cold escrita por Lino Linadoon


Capítulo 11
Capítulo 10 - Machucados e conversas


Notas iniciais do capítulo

Ola de novo! Bem vindos a mais um capítulo!



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   “O que aconteceu com você?” Foi a primeira coisa que Coelhão perguntou ao ver sua filha sair de um túnel bem em frente à casa da Toca, apoiando metade do corpo em sua mãe. “Jack! O que aconteceu?”

   “Ei, não fale comigo como se foi culpa minha!” Jack retrucou, deixando que Domenicha se apoiasse em seu pai enquanto ajudava Celennis para fora do túnel. “Esse rapaz foi atacado por lobos e tudo o que fizemos foi tentar ajudar.”

   “E-eu agradeço... E sinto muito...” Celennis murmurou em uma voz fina, tímida e quase temerosa.

   As orelhas de Coelhão tremeram ao ouvir a voz desconhecida. Ele examinou Celennis dos pés à cabeça, demorando no grande broche dourado que era a única outra cor na toga cor de neve que ele usava, havia uma estrela incrustada na superfície, uma estrela bem bonita que lembrava uma rosa dos ventos. Enquanto isso, Celennis se encolhia em baixo do olhar pesado do Pooka.

   “Coelhão, você quer matar o garoto com os olhos ou o que?” Jack estralou os dedos na frente de seu marido, o fazendo desviar os olhos finalmente.

   “Quem é você?” Coelhão perguntou, mexendo o focinho levemente.

   “M-meu nome é Celennis...” O garoto estrela gaguejou, deixando o olhar preso em suas mãos.

   “Não liga pra esse canguru emburrado não.” Jack Frost falou, rindo com o revirar de olhos de Coelhão. “Ele não sabe como socializar.”

   “Olha quem está falando.” O Guardião da Esperança disse enquanto fazia Domenicha se sentar de lado para que ele pudesse ver melhor o machucado. A garota riu com o bico de irritação falsa de Jack e sorriu ao ver Celennis tentar esconder suas próprias risadas. “Lobos?”

   “Sim, uma matilha pequena.” Domenicha deu de ombros, sem achar daquilo grande coisa, como sempre. Era quase como se ela não tivesse autopreservação por si mesma, mas ninguém estava ali para questionar aquilo. “Celennis também foi mordido.”

   Coelhão se virou para o garoto estrela e esse ergueu levemente a toga, mostrando o tornozelo marcado. O sangue parecia ter se solidificado contra a pele, mas por sorte não escorria mais, enquanto as marcas dos dentes continuavam com a forma pequena.

   “Muito bem, eu vou pegar alguns curativos...” Ele se levantou e entrou na casa.

   Jack fez com que Celennis se sentasse na grama ao lado de Domenicha.

   “Por favor, não há a necessidade!” O garoto estrela falou rapidamente. “Meu machucado vai se curar sozinho em pouco tempo, eu...”

   “Mesmo assim, é melhor esconder essa mordida antes que ele possa ficar maior!” O Espírito do Inverno retrucou rapidamente com um sorriso torto. “Eu entendo bem de mordidas, tudo bem?”

   “Eca, mãe, que nojo...” Domenicha reclamou, mas riu, enquanto Celennis simplesmente corava daquele jeito estranho e dourado. “Como foi que você acabou acuado por lobos, Celennis? O que estava fazendo no bosque?”

   Celennis se remexeu mais um pouco, entrelaçando os dedos longos e pálidos.

   “Eu estava passeando...” Ele respondeu depois de alguns segundos. “É a minha... Primeira vez nesse planeta... Eu queria ver como era uma floresta como aquela, mas... Esqueci-me dos predadores que vivem lá...”

   “Você é mesmo uma estrela? Como isso é possível?” Jack perguntou rapidamente.

   “Jack!” A voz de Coelhão chamou de algum lugar na casa, surpreendo o garoto. “Você pode vir aqui, por favor?”

   O garoto de gelo revirou os olhos e, dizendo que iria voltar logo, seguiu a voz.

   “O que foi dessa vez, Coelhão?” Ele perguntou, procurando por seu marido pelas salas. Mas não era preciso procurar muito, o Pooka estava na cozinha, com um “kit de primeiro socorros” em cima da mesa. Na verdade era apenas um monte de coisas naturais que Jack um dia acharia uma grande besteira, mas que ele sabia agora serem tão eficientes quanto os remédios da sociedade atual.

   “Você conhece aquele garoto?” Coelhão foi direto ao ponto. Jack notou que ele falava baixo, como se não quisesse que Domenicha e o convidado os ouvissem.

   “Não, mas Domenicha parece conhecer.” O jovem guardião esclareceu. “Mas esse é realmente um bom momento para falar sobre isso? Domenicha está machucada e...”

   “Não é estranho que nossa filha fique conhecendo essas pessoas sem nos contar nada sobre elas?” O Pooka bufou, cruzando os braços.

   “Porque ela é uma adolescente? Duh?” Jack revirou os olhos. “Até eu não gosto de falar cada detalhe da minha vida pra ninguém; é, nem pra você Coelhão. Agora dá pra pegar essa sua parafernália e cuidar do machucado da nossa filha?” Ele não esperou resposta, já esticando a mão para os objetos, mas Coelhão o segurou.

   “Ele é uma estrela, você disse?”

   “Foi o que Domenicha disse e ele confirmou.” O Espírito do inverno disse simplesmente. “Por quê?”

   “Eu percebi.” Coelhão disse. “O Povo Estrela foi quase completamente exterminado.” Ele deu uma olhada pela entrada da cozinha, conseguindo ver as portas de entrada da casa. Domenicha conversava com Celennis que parecia tão calado quanto antes. “O que me faz perguntar de onde veio esse rapaz? E porque ele ainda carrega um broche do Império...?”

   “Uou, espere um pouco aí, Coelhão! Você está me perdendo!” Jack colocou as mãos contra o peito felpudo do Pooka. “Como assim extintos?”

   “É muito para explicar.” O Guardião da Esperança balançou a cabeça, o que fez o garoto revirar os olhos, exasperado. “Mas o caso é que Sandman é o ultimo de sua espécie. Ou então assim eu pensava.” Dessa vez Jack esperou, interessado. “Você se lembra de tudo que contei sobre Breu antes dele se tornar quem ele era, eu vivi junto com o Povo Estrela e sei como esse foi exterminando. Porém, nem mesmo Sandy tem uma só imagem do símbolo do Império das Estrelas, mas esse garoto tem.”

   “O que está insinuando, Coelhão?” Jack ainda estava tendo um pouco de dificuldade de seguir aquela linha de pensamento.

   “Que algo não está certo.” O Pooka suspirou, cruzando os braços e se apoiando contra a parede, dava para ver um pouco da entrada dali. “Por anos Sandy aceitara que seu povo havia perecido, mas por todos esses anos ele continuara tentando fazer um contato, uma ultima tentativa desesperada sempre quando ele se sentia só. E por todos esses milhares de anos ele nunca teve uma resposta. Agora, de repente, uma Estrela aparece.” Ele parou por um segundo. “Há duas possibilidades quanto a isso... Ou ele é uma Estrela e por todos esses anos viveu no espaço, talvez procurando por sobreviventes e só agora desceu para encontrar Sandy. Ou então ele não é uma Estrela de verdade...”

   Jack ergueu uma sobrancelha, como alguém poderia fingir ser uma Estrela? Bem, ele ainda não entendia muito bem o que era aquele Povo Estrela, então ele não tinha como opinar.

   “Acho que a primeira é mais correta, Coelhão, o garoto disse que era a primeira vez dele nesse mundo.” O jovem guardião disse finalmente. “Ele parece um tanto abalado, como se tivesse medo de tudo e de todos. Você viu como ele gagueja quando fala? E se os Pookas viveram junto com o Povo Estrela, aposto que ele se assustou ao ver uma Pooka.”

   Coelhão assentiu, mas mantinha aquela cara seria de sempre.

   “Tem razão, Jack...” Ele pensou um pouco mais. “Mas como Domenicha sabe sobre ele?”

   “Talvez Sandy a contou, eu não sei.” Jack sorriu ao pensar em sua filha. “Ela gosta de cavar fundo que nem eu, você sabe, Coelhão. Com certeza ela encontrou alguma informação em algum lugar.” O Pooka assentiu novamente. “Bem, então que tal parar de conversa e ir cuidar dos machucados da sua filha, hein?”

   O Espírito do Inverno na verdade nem esperou resposta, simplesmente pegou o kit de pequenos socorros e saiu da cozinha. Coelhão o seguiu ainda perdido em pensamentos. Celennis podia muito bem ser uma Estrela que procurava pelo resto dos sobreviventes de seu povo, mas por algum motivo havia algo ali que Coelhão não conseguia entender. Ele estava com a pulga atrás da orelha, que por sorte não era no sentido literal.

—G—

   Domenicha observou enquanto sua mãe entrava na casa e, assim que estavam sozinhos, ela se voltou para o garoto Estrela.

   “Você é uma estrela como Sandman, não é?”

   A pergunta foi tão repentina que Celennis demorou para reagir, piscando uma ou duas vezes antes de encontrar sua voz.

   “S-sim...” Ele disse finalmente, suas bochechas amareladas.

   “Eu pensei que seu povo tivesse... Sumido...” Domenicha hesitou na ultima palavra. Ela sempre esquecia o quão delicada ela era, delicada como um coice de mula.

   “Sim... Todos se foram...” Celennis desviou os olhos para as mãos pálidas, entrelaçando os dedos de modo nervoso. Dava para ver que ele não queria falar sobre aquilo.

   “Mas você não se parece nem um pouco com o Sandy...” A Pooka tentou mudar um pouco a direção da conversa.

   “Assim como cada humano e... Pooka não são um idêntico ao outro.” O garoto riu levemente, meio sem jeito, mas uma risada de verdade. “Somos raças diferentes...”

   Domenicha assentiu, interessada, mas o que ela realmente queria falar era sobre coisas que ela sabia que não devia falar. Coisas sobre Breu e quem ele foi um dia, por exemplo...

   “Aliás, a gente nem se apresentou direito, não é?” Ela tentou desviar seus pensamentos com um sorriso. O garoto se virou para ela com uma expressão indecifrável e ela simplesmente esticou a mão na esperança de conseguir alguma coisa. “Eu sou Domenicha!”

   Celennis desviou os olhos da garota para sua mão estendida e depois de volta para ela. Seus olhos negros se encheram de lágrimas mais uma vez e Domenicha se perguntou se havia feito alguma coisa errada. Por acaso estender a mar para o Povo Estrela era algum tipo de sinal mal visto? Sandy não parecia ter problema com aquilo...

   “... Sei...”

   “O que?” Aquele murmúrio foi tão fraco e quieto que se Domenicha não fosse metade Pooka, ela não iria ter ouvido.

   “Eu... É um prazer...” Celennis disse mais alto finalmente e ele sorria, embora lágrimas ainda ameaçassem começar a descer. Ele estendeu uma das mãos e apertou a de Domenicha. “Eu... Sou Celennis...”

   “Eu sei.” A garota jogou de volta com uma piscadela, o que fez o garoto corar mais.

   Domenicha segurou a mão pálida e pequena da Estrela e, por algum motivo, aquele aperto era tão confortável, tão amigável, que era simplesmente surpreendente.

   Isso a lembrava de um aperto de mão que ela havia uma vez dividido com Demetria em um de seus pesadelos. Mas por um motivo completamente diferente. O aperto de Demetria era estranho, frio e deixava um formigamento estranho pelo braço de Domenicha, como se ela tivesse sentido um choque; era um toque estranho que a fazia querer mais, que fazia seu sangue ferver de um modo assustador e estranho, não era medo, mas era quase isso.

   Mas o toque de Celennis era totalmente o contrario. Era suave, terno e tão amigável que ela poderia vomitar arco-íris em qualquer momento, caso aquilo não fosse impossível e nem ridículo. Apertar a mão do garoto Estrela fazia seu coração ficar mais leve e acordava as borboletas em sua barriga que só apareciam vez ou outra perto de um certo garoto-fada que ela gostava muito.

   Era um toque amigável que só demonstrava carinho. O que era estranho, sendo que essa era a primeira vez que eles se encontravam – pelo menos de verdade. Talvez fosse algo que Estrelas faziam, Domenicha também se sentia bem abraçando seu padrinho, por exemplo...

   “Domenicha...?” Celennis chamou timidamente, ele já havia secado suas lágrimas com a manga longa da toga branca.

   E só então a garota notou que ainda estava segurando a mão dele.

   “Ah, foi mal.” Ela soltou com um sorriso bobo. “Eu só estava pensando em algumas coisas... Tipo... Como a sua pele brilha!”

   O garoto riu levemente, suas bochechas ficando mais escuras.

   “É... É uma coisa de estrela...” Ele murmurou sem jeito.

   No mesmo instante, o casal Guardião saiu da casa com o kit de primeiro socorros que tinham.

   “Aqui estamos!” Jack se abaixou na frente de Celennis, enquanto Coelhão ficou frente à filha. “Olha, eu vou cuidar do seu machucado porque Domenicha já está bem acostumada com as patas desajeitadas de seu pai enquanto você não está...”

   O Pooka revirou os olhos enquanto a garota ria alto. A Estrela apenas riu baixinho com as bochechas douradas, e dava para ver que ele iria retrucar contra aquilo. Mas nem foi preciso, Jack instantaneamente parou ao ver o pé de Celennis.

   “Onde... Para onde foram seus machucados?” Ele perguntou, realmente surpreso.

   As marcas das mordidas haviam quase completamente sumido, os buracos causados pelos dentes do lobo que o atacou agora não passavam de cicatrizes pequenas. O único real sinal de qualquer tipo de machucado era o sangue dourado que ainda cobria a pele pálida.

   Coelhão mexeu um pouquinho o focinho, mas ele já esperava isso, afinal o garoto era uma estrela.

   “E-eu disse que não precisava de ajuda...” Sem jeito, Celennis puxou o pé para de baixo da roupa branca. “Só preciso lavar e tudo bem...” Ele se remexeu, ficando de pé para mostrar que estava bem. “Mas, mesmo assim, muito obrigado por tudo! Tanto por me salvar dos lobos quanto por se preocuparem comigo, mesmo!”

   “Sem problemas.” Jack sorriu, embora ainda estivesse um pouco surpreso com aquilo tudo. Tudo bem que os Guardiões naturalmente se curavam mais rápido que o normal, mas aquilo era simplesmente absurdo de tão rápido! “Mas uma dica, se você vai mesmo passear um pouco mais pelo planeta, tenha certeza de não se meter com uma matilha de lobos novamente!”

   Celennis riu levemente.

   “Vou ter isso em mente da próxima vez...”

   “Eu posso te levar até a saída, senão você vai se perder por aqui.” Jack se levantou.

   “Foi um prazer te conhecer, Celennis!” Domenicha falou rapidamente, sorrindo de modo a mostrar todos os dentes, embora os que mais aparecessem fossem os incisivos de coelho. “Quem sabe a gente se vê por aí, não é? Ai! Pai! Cuidado aí!”

   “Pare de se mexer.” Coelhão disse simplesmente, ainda cuidando do machucado da filha.

   “Sim... Talvez a gente se encontre por aí...” A voz da Estrela saiu mais fraca que antes, mas ele sorria, seus olhos negros estavam um pouco vermelhos por causa das lágrimas de antes, mas Jack preferiu não falar sobre aquilo, ele simplesmente guiou o garoto para um dos túneis.

   Domenicha tinha que admitir que, embora tivesse acabado de conhecer Celennis, ela gostava dele. Esse estava sendo o ano de conhecer novas pessoas, não é mesmo?

   E de qualquer modo, ela estava feliz por outra Estrela estar ali entre eles, Sandy merecia uma boa companhia. Ela se lembrava da emoção de seu padrinho ao descobrir que o garoto era uma estrela como ele...

   “OW! Pai! Você quer arrancar um pedaço de mim ou o que?!” Seu grito quase ecoou pela Toca.


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Notas finais do capítulo

Esse é provavelmente o ultimo capítulo que postarei esse ano, os próximos virão apenas depois do ano novo. Ou quem sabe algum vai acabar aparecendo depois do natal, quem sabe?
De qualquer modo...
FELIZ NATAL! FELIZ HANUKKAH! E BOAS FESTAS PARA QUALQUER OUTRA RELIGIÃO QUE ESTÁ POR AÍ OU PARA QUEM NÃO TEM RELIGIÃO MESMO!
e
FELIZ ANO NOVO se eu não chegar aqui antes! XD



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