The Little Girl escrita por Swimmer


Capítulo 17
Mother


Notas iniciais do capítulo

Olá, batatinhas saltitantes!
Com muitas músicas felizes e comida consegui terminar de escrever esse capítulo. Não vamos esquecer meu vizinho gritando na rua enquanto escrevo isso. São duas da madrugada.

Lembrem-se, Marie = Zhang, Maria = di Angelo.

Boa leitura.



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—Nico? Sentimos tanto a sua falta - uma garota de gorro verde correu até ele e o abraçou forte.

Ele reconheceria aquele abraço em qualquer lugar ou universo alternativo. Fechou os olhos e abraçou a garota de volta. Agora ela estava bem menor que ele. A menina que tantas vezes o abraçara durante a noite, contara histórias e até mesmo cantara, com sua voz desafinada estava agora em sua frente. Essa versão usava uma saia marrom e uma camisa branca, junto com as botas preferidas. Bianca di Angelo segurou a mão do irmão e o conduziu pela sala.

—Filho! - uma mulher alta, morena e magra, usando um vestido preto e os cabelos presos num coque o chamou.

—Mamãe? - ele travou no caminho.

—Meu pequeno - ela o abraçou. Assim como Bianca fizera, Maria di Angelo o apertou contra si. Ele sentiu o aroma de limão e inspirou tão fundo quanto podia. O abraço da mãe, ao contrário do da irmã, era algo novo, mas tão aconchegante quanto. Pela primeira vez, ele se sentiu totalmente seguro, como se nada pudesse atingi-lo ali.

—Mamãe, eu...

—Não fale nada, meu amor. Fiz biscoitos pra você - ela segurou o braço dele e o conduziu até um sofá de veludo branco.

Maria pegou um prato cheio de biscoitos com gotas de chocolate, cookies, e entregou pra ele. Cookies... essa palavra alfinetava seu cérebro, estava se esquecendo de algo... Os biscoitos pareciam tão deliciosos, por que se preocupar?

Levou um até a boca mas no último segundo não mordeu.

Por algum motivo, se lembrou da madrasta. Isso, Perséfone. Por que o pai não a deixara para ficar com a mãe?

Tudo bem, ele tinha tido todo aquele trabalho com as romãs, mas... um sino tocou em seu cérebro. Um sino não, uma orquestra inteira.

Os gregos tinham como costume que aceitar comida era um sinal de que se era um convidado, e quando comeu a romã, Perséfone não pôde mais deixar Hades, porque era sua convidada.

Mas o que podia haver de tão ruim em comer uns biscoitos?

—O que tem nesses biscoitos? - ele perguntou.

Bianca sentou ao seu lado e mãe ficou atrás do sofá, mexendo no cabelo dele. Aquilo dava vontade de deitar no sofá, que se parecia muito com uma nuvem, e dormir.

—Amor. E as gotas são de chocolate Amedei. Era seu doce favorito, querido - Maria beijou a testa de Nico.

O cookie parecia tão saboroso. Seria uma pena desperdiçar. Marie ficaria uma fera se ele desperdiçasse um cookie tão lindo.

Marie. Ele se levantou num pulo, de repente acordado. Estava sob o efeito de Hipnos. Tinha que sair dali.

—Sinto muito. Não posso - ele colocou o biscoito de volta no prato. - Queria poder ficar, juro, eu... - ele não conseguiu continuar. Estava chorando como quando era uma criança assustada. Como chorara quando Bianca morrera. Como chorara quando ela decidira seguir em frente.

—Nós sabemos - Bianca também se levantou e pegou a mão dele.

—Tenho orgulho de você, meu pequeno. Poderia escolher ficar aqui pra sempre, mas preferiu o presente. Temos que desapegar do passado, Nico - Maria enxugou as lágrimas que caíam e deixou a mão no rosto do filho.

—Vocês não estão realmente aqui, estão? - ele deu um riso triste.

Bianca negou com a cabeça.

—Já me fui há muito tempo. E você me deixou ir. Eu protegia você, mas você não precisa mais disso.

—Somos suas lembranças. Sempre estaremos com você - Maria tirou a mão do rosto dele e colocou no topo da cabeça - bem aqui. E aqui - com a outra mão ela tocou o peito dele onde ficava o coração.

Ele abraçou as duas, um abraço desajeitado e molhado. Foi sua vez de apertá-las contra si como se sua existência dependesse disso. Fechou os olhos e aos poucos foi soltando, um pouquinho de cada vez.

Quando abriu os olhos elas não estavam mais lá, apenas o chão de mármore branco. Levou alguns minutos até ele voltar a realidade, secar o rosto e olhar em volta.

Ao lado dele, um pouco à esquerda, Thalia tinha o olhar perdido, os olhos azuis estavam vermelhos como se tivesse chorado. Na frente deles, Hipnos segurava Marie no colo. Ele tinha os mesmos olhos azuis de Morfeu, mas parecia mais alguém saído da última revista de verão. Os cabelos eram claros, como palha, e não vestia um terno caro, mas sim uma camisa social branca e jeans bege. Não parecia ter mais de trinta anos. E não usava sapatos.

O local onde estavam era um salão grande, com paredes brancas e douradas e sem portas. O som de água corrente era alto, e, se não soubesse o que era, Nico teria isso direto até a origem do barulho.

—Fico feliz que estejam de volta - ele disse, numa voz calma. - Marie estava me contando sobre o pequeno problema de vocês, certo?

A menina assentiu.

Nico queria pedir que lhe entregasse a sobrinha, mas isso não ajudaria no grande plano de pedir ajuda. Hipnos parecia um cara legal, mas Hades também pareceria se não reclamasse tanto.

—Os venho observado desde sua conversa com seu pai, filho de Hades. Descobriram rápido, aliás - ele encarou Thalia.

—Vai nos ajudar ou não? - ela resmungou.

—Não está ajudando - Nico murmurou pra ela.

—Não gosto de lembrar de certas coisas. Já tive histórias demais por hoje - ela respondeu, irritada.

—Marie viu algo como aquilo? – Nico perguntou sentindo o peito apertar.

—Desculpem por aquilo, não posso deixar qualquer um ir entrando. Parabéns, aliás. Mas não sou cruel. As crianças têm passe livre aqui, elas são puras, já os adultos... preciso de um jeito de saber quais deles podem entrar sem quebrar o equilíbrio. A última vez em que um meio-sangue obteve êxito em escapar do feitiço foi em... 1783. Faz tempo. Raramente sou despertado, e normalmente fico irritado, mas o que posso fazer? Adoro crianças. - ele sorriu para Marie.

O chalé 15 no acampamento que o diga, pensou Nico.

—O único com quem converso, mais ou menos a cada década, são seus pais - ele apontou Thalia e Nico - Hades é um bom ouvinte e não preciso acordar pra falar com ele. Zeus me diz as novidades, tipo "Ei, Hipnos, o novo IPhone sai esse mês" ou "houveram duas guerras enquanto você cochilava" - ele riu.

—Realmente interessante - Nico interrompeu antes que ele começasse a dizer quais os assuntos das conversas com Hades. - Nós viemos pra saber quem é o... - Nico levou um chute de Thalia - idiota que está atrás da Marie.

—Admiro vocês. Levaram só dois dias entre descobrir, me achar e aparecer aqui. Realmente determinados. Mas como com certeza já sabem, se é verdade o que ouvi sobre vocês, nada com os deuses é de graça.

—Mas é claro que não - Thalia suspirou.

—Não sou tão ruim. É fácil. Dez anos atrás, tive dois filhos, gêmeos. A mãe morreu no parto, mas fiz questão de que estivessem em boas famílias e sempre por perto. Infelizmente separados, juntos chamariam atenção. Okay, estou enrolando, preciso que levem os dois com vocês e os deixem no acampamento. É só isso e a informação é de vocês - Hipnos entregou Marie para Nico.

Quando um imortal diz "só isso" nunca é só isso.

—Precisamos discutir a questão, se nos permite - Thalia puxou Nico para um canto.

—Consegue levar todos pra New York? - perguntou ela.

—Acho que sim. Se não, pegamos um avião - ele deu de ombros.

—É bom que você consiga. Podemos arrumar um lugar pra dormir hoje e encontrar as crianças, e amanhã pegamos elas e damos o fora daqui - ela disse séria.

—Acha que vai dar certo?

—Você não conhece meu poder de persuasão - ela arqueou uma sobrancelha. - Tudo bem, - ela se virou e falou mais alto - se você jurar pelo Estige que vai nos dar os nomes e endereços, que não há monstros no meio e que as crianças não são nada iguais ou pior que os Stoll.

—Feito - o deus dos sonhos estendeu a mão.

—Feito - Nico apertou a mão dele.

Juramentos feitos, eles se viraram para a porta que aparecera atrás deles.

—Uma última coisa. O que aconteceria se não conseguíssemos sair daquela ilusão? - Nico se voltou novamente para Hipnos.

O homem apenas apontou uma janela na parede que com certeza não estava lá antes. Através de um vidro era possível ver dezenas de pessoas num sono profundo, todas vestidas de branco, espalhadas num piso totalmente branco.

Nico voltou a visão para frente, onde a porta estava. Trocou novamente um olhar com Thalia, segurou Marie firme e a empurrou.

Depois de sentir como se o todo o ar tivesse sumido de seus pulmões, ele abriu os olhos. Era como se nunca tivessem atravessado a parede de névoa, estavam os três ali parados, exatamente como quando tinham saído, de frente pra parede.

E o entendimento de tudo que havia acontecido caiu sobre os ombros do rapaz de uma só vez. O cansaço que parecia ter desaparecido, a noção de onde estava, e o pior, a dor de perder aquelas que amava de novo. Mas ele era ótimo em esconder seus sentimentos, ignorou aquilo tudo e se concentrou em checar se Marie estava bem.

Pegou as armas do chão e entrou em um diálogo super educacional com a sobrinha.

—Quando a gente vai visitar o tio Hipnos de novo? – ela perguntou.

—Não tão cedo, eu espero – Nico respondeu, colocando-a no chão e pegando-a pela mão.

—Por que não?

—Porque moramos muito longe.

—Por que moramos muito longe?

—Por que é onde os amigos dos seus pais moram.

—E por que eles moram lá?

—Porque... porque sim.

—E por que sim? Ele me deu esse papel, tio Ico. É pra você – ela abriu a outra mão, exibindo um pedaço quadrado de cartolina, escrito com tinta dourada.

Ele pegou o papel da mão dela e leu.

—Parece um endereço – ele passou para Thalia.

Ele esperava algo como “Mesmo? Descobriu sozinho?” mas ela só olhou o papel distraída, assentiu e devolveu. Colocou as mãos nos bolsos e continuou andando.

Eles andaram mais alguns metros em silêncio, os passos ecoando no caminho de volta pelo túnel. Com toda a delicadeza que Nico conseguiu juntar – o que realmente não era muita – ele pegou a mão de Thalia. Ela levou um susto e olhou para baixo, levantou o rosto e o encarou sem expressão. Mas não tirou a mão dali.

Pegaram o ônibus que levaria os turistas e seguiram. Compraram algumas roupas quentes numa lojinha, durante o dia a temperatura estava agradável, mas enquanto o sol se punha o ar ficou gélido. Passaram mais tempo do que parecera em sua visita a Hipnos e não planejavam passar tanto tempo ali.

Se hospedaram no primeiro hotel que encontraram. Eles não aceitavam dólar e o único quarto que conseguiram pagar o com dinheiro que tinham trocado era pequeno, com duas camas e um sofá, mas era quente.

Thalia jogou a mochila numa das camas, pegou algumas peças de roupa e entrou no banheiro. Ela ainda não tinha dito uma palavra desde que tinham voltado.

Nico improvisou uma cama para Marie empurrando o sofá contra a parede e juntando travesseiros e cobertas. Tirou os sapatos dela e a colocou lá. Ao invés de dormir ela começou a pular, como se fosse uma cama elástica.

Não eram nem oito da noite mas a experiência deixara todos morrendo de sono. Marie não parecia pronta pra admitir isso.

—Ei, ei, ei! Que tal dormir um pouco?

Ela balançou a cabeça e continuou pulando.

—Me conta uma história? – ela pediu alcançando a incrível altura de vinte centímetros no salto.

—Só se parar de pular.

Ela se sentou e ficou encarando o tio.

Nico pegou roupas limpas pra ela na mochila e tentou inventar algo enquanto a trocava. Acabou com uma versão de Cinderela em o príncipe era um semideus romano e a Cinderela grega que confundiu muito a menina. Ele foi pegar um cobertor e quando voltou ela estava dormindo. Nada de banho, então.

Alguns minutos depois Thalia saiu do banheiro e ele entrou em seguida. Tomou um banho rápido e vestiu roupas mais confortáveis. Secou o cabelo na toalha do hotel e a pendurou para secar.

Ele saiu do banheiro e olhou em direção a sobrinha. Ela continuava dormindo agarrada ao cobertor. Sentada na ponta de uma das camas, com a porta da sacada aberta, estava Thalia. Nico se aproximou lentamente, sem fazer barulho.

Quando Thalia se distraía não prestava atenção em mais nada. Quando percebeu que ele se aproximava tentou secar o rosto rapidamente, mas mesmo que tivesse conseguido, os olhos vermelhos a entregariam.

Nico nunca fora do tipo se envolvia nos problemas alheios, sempre observava de longe até que tudo se resolvesse. Com Thalia era diferente, algo dentro dele fazia com quisesse ajudá-la com o que quer que fosse.

Ele deu a volta e se sentou ao lado dela, passou um braço ao redor dos ombros dela e gentilmente puxou a cabeça da morena, fazendo com que ela se apoiasse nele. Ninguém disse nada. Thalia chorou, por qualquer que fosse o motivo, até não conseguir mais e Nico ficou ali, abraçando-a e olhando o céu estrelado lá fora.


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Notas finais do capítulo

Amedei é um chocolate italiano, caso alguém tenha ficado na dúvida.
Novamente, se algo ficou confuso (segurança menos sete) podem perguntar mesmo. Minha mente é muito confusa.
Não tenho nada pra tomar o precioso tempo de vocês hoje, então...
Beijoss



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