UM ANO DEPOIS

– Fala papai! Vamos, não é tão difícil! Pa-pa-i.

Allison olhava-me sem dizer uma palavra.

– Ok, não quer falar. Mas pelo menos coma a sua comida. Vamos lá - fiz o trajeto de um avião com a colher em direção a sua boca.

Allison continuava a olhar-me, sem fazer nenhum movimento.

Suspirei frustrado, deixando a colher cair no prato cor de rosa dela. Ela riu.

Olhei-a com expressão séria e mostrei meus caninos para ela, que gargalhou.

– Ah, qual é? Isso não é nada engraçado! As pessoas morriam de medo quando eu fazia isso, sabia?

Allison continuou rindo, até que gritou:

– Mamãe!

Olhei para trás e vi Elena chegando com várias sacolas.

– Oi, minha linda - Elena deu um beijo estalado na bochecha de Allison. - O que vocês estavam fazendo?

– Eu estava mostrando meu lado assustador para a nossa querida filha - falei, esperando a bronca.

– Damon!

– Não se preocupe. Ela riu. - falei com cara de tédio - E o que você fez?

Elena olhou para as sacolas e deu um sorrisinho.

– Caroline levou-me para fazer algumas compras para o aniversário de Allison.

Bufei.

– Ah, por favor, Elena! Ela só tem 1 ano! Nem vai sequer se lembrar de que teve essa festa!

– Damon, festa de 1 ano é um marco importante. Não vou abrir mão.

Bufei mais uma vez e tornei a tentar fazer Allison comer.

Elena riu, observando a cena.

– O que tem de tão engraçado? - perguntei.

Elena segurou o riso e respondeu:

– Nada. Só estou apreciando o vampiro malvado Damon Salvatore tendo problemas em fazer uma criança comer.

Lancei um olhar irritado para Elena e ela riu mais uma vez.

– Quer tentar? - perguntei.

Elena empinou o nariz e andou confiante até o meu lado, tomando a colher da minha mão.

– Allison, amor, abre a boquinha. Mamãe quer ver o prato vazio.

A menina pôs as duas mãos na boca e fez que não com a cabeça.

Eu ri.

– Allison, você vai comer isso, agora. - Elena falou mais uma vez e percebi o que ela fez.

Allison abriu a boca e Elena deslizou a colher para dentro.

– Ei! Você usou a hipnose! - reclamei.

Elena virou-se para mim e deu um sorrisinho.

– Situações extremas exigem medidas extremas.

Ela me deu um selinho e falou:

– Tenho que ir. Vou com Caroline resolver os últimos detalhes da festa.

Bufei, mas Elena não se importou. Deu um beijo na testa de Allison e saiu.

Peguei a colher e tentei fazê-la comer.

Ah! Aonde eu fui me meter?

* * *

– Nossa! Como ela está linda! - Elena exclamou ao ver o trabalho de Caroline na nossa filha.

– Eu sei! Ficou incrível! - Caroline deu um gritinho de empolgação.

Allison estava vestindo um vestido branco com um cinto dourado. Seu cabelo estava maravilhosamente penteado. Seus olhos azuis destacavam-se ao natural.

Ela estava linda! Mas é claro que eu não podia admitir isso para Caroline.

– Eu achei um pouco demais - falei em tom de deboche - Ela só tem um ano!

– E é bom começar desde cedo a ter bom gosto - a Barbie rebateu.

– Você chama isso de bom gosto? - provoquei.

– Você é um idiota, Damon!

Ri da reação da loira e Elena me deu um cutucão.

– Não liga para ele, Care. Allison ficou linda e Damon sabe disso.

Elena arqueou as sobrancelhas em minha direção e eu revirei os olhos. Caroline empinou o nariz e falou com o ar de importante:

– Eu não ligo! Sei que fiz um bom trabalho com a minha afilhada.

Elena riu e pegou Allison no colo.

– Vamos ficar discutindo ou vamos descer para a festa?

* * *

Quando cheguei à sala, meu queixo caiu.

– Caroline, quem são todas essas pessoas? - perguntei chocado com a quantidade de adultos e crianças presentes.

– Bom, sinceramente não sei. - ela confessou - Pedi para minha mãe chamar todas as pessoas que tinham filhos até três anos.

– Então, quer dizer que você chamou para a minha casa, pessoas que nem você mesmo conhece? - perguntei, sentindo a raiva chegar.

– Sim - Caroline respondeu simplesmente.

– Caroline, você... - comecei a bronca, mas fui interrompido.

– Damon! - Elena repreendeu - É bom para nossa filha conhecer outras crianças.

Elena foi com Allison em seu colo e Caroline ao seu lado para o centro da sala, onde cumprimentou estranhos.

– Tio Damon! - uma voz ecoou no meu ouvido.

Virei-me a tempo de ver Theodore Saltzman pular em cima de mim.

– Já disse que não é para me chamar de tio, garoto - falei, em leve tom de irritação.

Theodore soltou-me e riu olhando para mim:

– Sim, tio Damon.

Ele saiu correndo antes que eu pudesse fazer alguma coisa. Logo depois Alaric e Jo aproximaram-se com Megan.

– Até no dia do aniversário da sua filha você fica mal-humorado Damon? Imagino então quando você fica de bom humor - Jo zombou.

– Talvez quando eu pôr meus dentes no pestinha do seu filho - retruquei.

– É uma pena que isso não vai acontecer - Alaric falou, batendo suas mãos em minhas costas de um jeito amigável.

Fiz um cara de tédio e falei com Megan:

– Pensei que você fosse pular em cima de mim como seu irmão fez.

Ela me mostrou a língua e eu a peguei no colo.

– Me solta! Me solta! - ela gritava enquanto eu a girava no ar.

Por fim, Jo lançou-me um olhar e eu a pus no chão novamente.

– Você é chato! - ela reclamou, fechando a cara.

– E você me adora - rebati, piscando.

Ela empinou o nariz e afastou-se. Jo foi atrás dela e Alaric continuou do meu lado, rindo.

Depois, ficou sério e perguntou com tom de voz baixo:

– Como está sendo? Com a Allison?

Suspirei e olhei para a minha garota. Ela estava olhando com as sobrancelhas franzidas para um menino loiro, provavelmente da mesma idade que ela.

– Allison é uma das melhores coisas que me aconteceu, cara - disse e um esboço de sorriso nasceu no meu rosto.

– Nunca pensei em ser pai. - continuei - Nem mesmo quando eu ainda era humano. E a paternidade caiu como uma bomba em cima de mim. Acho que desde da primeira vez em que a peguei no colo, eu senti que ela era minha. E depois que Elena expôs seu desejo, eu quis lutar contra. Não queria admitir o que meu coração já sabia. E hoje, estou feliz com a minha escolha. Não me arrependo de não ter deixado Carl e Ravenna levarem-na. Se isso tivesse acontecido, eu iria me condenar pelo resto da minha eternidade.

Meu olhar parou sobre Allison. Tão linda, tão frágil.

De repente, senti algo estranho. Ouvi um som diferente, só não consegui identificar o quê.

Olhei para todos os lados, mas por impulso, detive-me apenas ao que estava próximo de Allison.

E então em milésimos de segundos, eu vi.

O lustre balançava quase que imperceptível para os olhos humanos. Mas não para os meus.

Em instante, tirei Allison da mira do lustre, que caiu exatamente onde ela estivera há poucos instantes.

As crianças começaram a chorar, inclusive a minha filha. Elena postou-se ao nosso lado em um segundo. Carregou Allison, dizendo-lhe palavras de consolo.

Olhei para o lustre no centro da sala. Ele tinha caído do nada e não tinha causado nenhum incêndio. Isso não tinha explicação.

Meu celular vibrou e tomei um choque ao ver de quem era a mensagem.

"É bom terem cuidado.

Estou a caminho.

Mamãe"