DOIS ANOS DEPOIS

Allison jogou-se na neve, frustrada.

– Não! Chega! Desisto! Já estamos aqui há duas semanas e ainda não consegui aprender a esquiar! Amanhã nós vamos embora, não serei mais humana e ainda não terei aprendido a esquiar! - ela exclamou.

Elena e eu rimos da sua angústia.

– Ally, você conseguiu esquiar - Elena falou divertida.

– Na pista das crianças pequenas - minha filha retrucou. - Eu tenho 20 anos! Como eu posso ter conseguido esquiar somente na pista para crianças de 8 anos?

Rimos de novo.

– Acalme-se Allison, você ainda tem hoje para aprender - Elena falou alisando seu cabelo.

Minha filha bufou.

– Eu sou um caso perdido! Era para essa ser a minha última aventura como humana! Foi para isso que viemos! Mas eu não consegui nada!

– Por falar nisso - Elena começou -, você já conversou com Theodore sobre virar vampira, não é mesmo?

Allison assentiu.

– Tivemos essa conversa assim que começamos a namorar. Ele sabe que é isso que eu quero. Ele também vai se transformar. Depois que o tio Ric aceitar.

Ah! Então ia demorar...

– Theodore realmente quer isso, Ally? Ou está fazendo por você? - Elena perguntou com um leve tom de preocupação.

Allison pensou um pouco.

– Talvez um pouco dos dois. Acho que mesmo com a repulsa do tio Ric pelo vampirismo, ele se interessou pelo tema. É claro que essa decisão que ele tomou, boa parte é por minha causa - minha filha falou.

– Ally, tenha certeza de que ele faz isso porque quer. E não por você. Porque se ele algum dia se arrepender, botará toda a culpa em cima de você. E não queira se culpar por isso - Elena falou carinhosamente.

– Tudo bem, mãe. Vou falar com ele quando voltarmos - Allison concordou.

– E quanto a você? - foi a minha vez de perguntar - Está totalmente certa dessa decisão?

– Sim, pai. Nunca estive tão certa - ela respondeu com um largo sorriso.

– Mesmo que isso signifique que você perca Theodore? - perguntei novamente.

– Pai, maior que o meu amor por Theodore, é o meu amor por vocês. Eu não quero perder vocês. E eu sempre admirei o que vocês são. Eu me imaginava sendo vampira. Eu não disse antes porque talvez quando crescesse esse sonho passasse. Não passou. Apenas ficou adormecido porque tinha outras coisas que eu queria no momento - ela respirou fundo antes se continuar. - Então pai, sim, esta é a minha resposta final. Quero ser uma vampira.

Ela falou com tanta convicção que ninguém suspeitaria da sua decisão.

Ainda assim, eu ainda continuava receoso do que poderia acontecer caso ela sofresse mais uma decepção amorosa. Mas ela já tinha 20 anos. Eu precisava respeitar sua decisão.

– Então, vocês vão me ensinar a esquiar ou não? - ela perguntou com um sorriso divertido.

Elena e eu trocamos um sorriso.

– É claro que sim!

* * *

Elena acabara de acender a fogueira. Já passava da meia-noite. Ansiosa, Allison saiu de sua barraca. Estávamos acampando em um dos picos de Bariloche.

Elena foi até ela e deu-lhe um abraço. Minha namorada tirou um anel do bolso e entregou-lhe.

– Bonnie fez isso para você antes de virmos. É o de anel de dia.

Allison sorriu. Decidida, ela caminhou até mim.

– Você tem certeza? - perguntei mais uma vez.

– Faça isso, pai. Eu quero ser vampira - pediu.

Mordi meu punho e dei-lhe meu sangue. Quando ela terminou de beber, segurei sua cabeça com as minhas duas mãos. Olhei fundo em seus olhos procurando sinal de dúvida. Não encontrei.

Com um estralo, quebrei o pescoço da minha filha.

Elena abafou um grito e correu até onde Allison caíra.

– Onde estão as bolsas de sangue? - perguntei.

Com a cabeça, Elena apontou para a nossa barraca. Entrei e peguei o que seria o suficiente para Allison quando ela acordasse.

Depois, sentei-me ao lado de Elena para esperar nossa filha acordar. Minha namorada recostou sua cabeça em meu ombro e deu um suspiro. Consegui ler seus pensamentos.

E se desse errado? E se Allison fosse a única no mundo a não voltar como vampira depois de morrer com sangue de um? E se ela não gostasse de ser vampira? Eu também compartilhava essas preocupações.

Quando Elena apertou minha mão em busca de conforto, lembrei-me do que tinha planejado falar para ela durante essa viagem. Percebi que esse era o momento certo.

– Elena - comecei. Ela levantou a cabeça e olhou para mim. - Eu estive pensando... Nós dois estamos a tanto tempo juntos, passamos por tanta coisa, mas eu ainda acho tem algo errada. Ainda acho que você não é completamente minha.

– Damon, o que você...

– Deixe-me terminar – pedi. - Nós moramos juntos, dormimos juntos, temos uma filha de 20 anos e mesmo depois de tudo que passamos, ainda existe algo me incomodando. Nós ainda somos namorados.

– Damon, o que você está querendo dizer com isso? - ela perguntou completamente confusa.

– Estou dizendo que não quero mais ser seu namorado.

Lágrimas encheram os olhos de Elena imediatamente.

– Damon! Não, por favor! - desesperou-se.

– Porque quero ser seu marido - completei.

O olhar de tristeza deu lugar a um misto de surpresa e choque.

– Damon... Você... Você... - ela não conseguiu falar.

Tirei uma caixinha do meu bolso. Dentro dela, tinha um lindo anel de diamante que eu tinha comprado meses antes.

– Elena Gilbert, você aceita se casar comigo e fazer esse vampiro egoísta ainda mais feliz?

Elena não respondeu. Mais lágrimas desceram e supus que agora eram lágrimas de alegria.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela me beijou. Nos beijamos de um jeito intenso e carinhoso.

Quando nos separamos, olhei em seus olhos e perguntei com um sorriso brincalhão:

– Isso é um sim ou um não?

Ela colou nossas testas e com um sorriso largo, respondeu:

– É claro que isso é um sim!

Beijamo-nos mais uma vez e eu deixei a caixinha cair. Interrompi o beijo para pôr o anel no dedo da minha noiva. Ela adorou.

Antes que pudéssemos retomar o beijo, Allison acordou.

Com olhar perdido, ela inspecionou o local. Quando seus olhos pararam em Elena e eu abraçados, ela deu um sorriso provocativo.

– Allison, não pense bobagem - Elena advertiu afastando-se de mim.

– Eu não disse nada - ela falou levantando as mãos.

Elena aproximou-se da nossa filha e, com um sorriso terno, falou:

– Você tem que completar a transição. Não está com fome?

De repente, Allison sentiu o cheiro do sangue. Vi o desejo em seus olhos.

– Tome - dei-lhe a primeira bolsa de sangue.

Ela bebeu com ferocidade. Quando terminou, seus olhos endureceram, e seus caninos apareceram. Sua transição já tinha sido completada.

– Eu quero mais! - ela pediu com voz sedenta.

Elena deu-lhe mais uma. E mais outra. E assim foram-se sete bolsas de sangue.

– Chega Allison! Isso é o suficiente - Elena avisou.

Percebi que Allison não queria parar, mas quando nossos olhares se cruzaram, ela percebeu que precisava. Então obedeceu.

– Então, como está se sentindo? - Elena perguntou com voz doce.

– Viva - Allison respondeu - Acho que mais viva do que nunca. Posso sentir tudo, ouvir tudo, ver tudo. É... Mágico!

Elena e eu entreolhamo-nos com um sorriso.

– Eu quero hipnotizar alguém! - Allison exclamou.

– Bom, isso vai ser um pouco difícil já que estamos há quilômetros de distância de civilização - falei.

Allison suspirou desanimada. Mas o desânimo logo passou.

– Já sei! Vamos apostar uma corrida? Agora posso competir com vocês!

Elena e eu rimos mais uma vez e Allison levantou-se. Observamos nossa filha correr por toda a extensão da floresta e voltar em dois minutos.

Ela então subiu em uma árvore, retirou um tronco e partiu-o ao meio. Logo depois, ela pegou uma pedra e cortou sua mão.

Maravilhada, Allison observou sua pele ser curada magicamente.

– Ser vampira é maravilhoso - ela sussurrou completamente encantada.

Sem aviso, ela jogou-se em meus braços e falou:

– Obrigada. Muito obrigada.

Em seguida, jogou-se nos braços de Elena.

Foi aí que ela percebeu o anel.

– O que é isso? - ela perguntou apontando para o pequeno objeto de diamante. - Não me lembro de tê-lo visto antes.

Elena olhou para mim e deu um sorrisinho. Sorri de volta.

– Mãe? Pai? O que está acontecendo? - nossa filha perguntou confusa.

– Está acontecendo que seu pai, depois de mais de 20 anos, finalmente me pediu em casamento.

Allison arregalou os olhos, surpresa.

– Não acredito! É sério mesmo?! - ela perguntou olhando para mim.

Assenti.

– Pai! Que bom! - ela exclamou, abraçando-nos - Estou tão feliz por vocês!

– E eu estou feliz pela gente! - falei - Estou feliz pela família que seremos daqui para frente.