Poemas ou Travessuras? escrita por Bianca Fiats


Capítulo 10
Capítulo 10 - A estátua tem sentimentos




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Nunca pensei estar mais errada sobre uma pessoa na minha vida. Talvez tenha sido uma ótima lição. Se todos me julgam mal apenas pela minha aparência, por que não poderia acontecer o mesmo com outras pessoas. Todas as vezes que me encontrava com Scorpius antes do dia em que ele invadiu meu Elysium particular (como havia batizado aquela sala), sempre pensava nele como uma estátua de um anjo vingador de Michelangelo. Uma estátua fria. No rosto sempre trazia o mesmo semblante, e quando raramente sorria, era tão frio e sem sentimentos, que mais parecia fazer por que era de se esperar por isso. Era o batedor, cheio de músculos, alto e distante. MUITO distante. Mas como sempre acompanhava Albus eu não esperava que fosse de todo um mal. Apenas era… Diferente.

Mas era completamente o contrário. Nas últimas semanas depois das aulas nós subíamos para o Elysium (não mais particular). Ele era uma companhia reconfortante e também aterrorizante. Se eu pensasse nele como uma estátua, era fácil confundi-lo com o ambiente. O problema é que entre as árvores do Elysium ele era humano. Scorpius sorria com facilidade, interagia as vezes. Isso quando não estava com o odioso diário e ficava perdido em sua escrita. E isso acontecia muito. Foi quando percebi que ele sorria as vezes para o próprio diário e quando o questionei ele revelou que quando começava a escrever as palavras que vinham não eram narrativas, mas sim poemas. E quando pedi que declamasse um, Scorpius caiu da pedra em que estava sentado (tinha um formato de trono, o que tomei a liberdade de chamar de Pedra do Rei).

Primeiro ele pareceu perplexo e sem graça, então ele sorriu. Em pouco tempo estava rindo. E quando percebi estava acompanhando-o. Scorpius era como um livro complexo, por quem você vai descobrindo aos poucos, coisas que só percebe depois de uma segunda, terceira ou quarta leitura. E isso se procurar nas entrelinhas.

Foi muito interessante quando ele entrava primeiro, e o Elysium aparecia diferente. Ele disse que poderia ser porque a ideia de ‘um lugar tranquilo’ era diferente de pessoa para pessoa. Mas nunca o vi reclamando da minha versão. E jamais iria reclamar da versão dele, por que era...PERFEITA.

Certa vez tinha mostrado para ele meu passatempo com comida (esculturas com palitinhos e ervilhas, frutas cortadas imitando animais, e obviamente ele associou com os rostos espalhados pela escola). Quando ele entrou primeiro no dia seguinte, havia uma praia com itens do Hawaii (muitas frutas), uns bonecos estranhos tocando violão, alguns dançando (os quais rimos muito) e a brisa noturna era agradabilíssima. Outra versão dele foi uma tenda árabe super aconchegante com almofadões por todos os lados, que segundo ele, precisava de um pouco de mimo depois de um difícil jogo de quadribol.

O melhor foi descobrir que ele era um excelente aluno de feitiços e poderia tirar minhas dúvidas mais cruéis, além de me ajudar com dicas para passar nas matérias. Em contrapartida descobri que ele era pior que Albus em poções. Então quando não estávamos relaxando ou conversando (o que descobri que gosto muito de fazer, e ele não se importa de ouvir), fazíamos as lições de casa.

“Bem feito Campbell” Ele me incentivou quando eu consegui finalmente encantar um de seus desenhos.

Parei o feitiço e deixei minha varinha de lado. Havia apenas UMA coisa que me incomodava.

“Scorpius?”

“Sim, Campbell?” Ele estava com o livro de feitiços na mão, procurando por algo mais para que eu praticasse. “Que tal tentar Herbivicus*? Combina com você e seu gosto por plantas…”

“Scorpius!”

Isso o fez me olhar com um sorriso zombeteiro nos lábios.

“O que Campbell? Sou todo a ouvidos, sabe disso.”

“O que Rose vai dizer de nós dois juntos por tanto tempo assim?”

Ele me olhou como se isso nunca tivesse passado por sua mente. Então fez um gesto de ‘tanto faz’ e voltou a procurar outros feitiços.

“Scorpius! Ela é sua namorada e conheço as garotas, elas podem ser terríveis como…”

“Espera, por que você acha que eu estou namorando com Rosie?” Ele parecia um pouco assustado, e um tanto corado.

“Bem… Os rumores, e...Bem…” Fiquei sem respostas, porque afinal, tantas garotas tinham falado sobre como ele tinha ‘a pegada’ e que a pessoa que o fisgasse seria muito sortuda. E imaginei que como os dois viviam andando juntos. Com Albus também. Mas nunca tinha passado pela minha cabeça que eles poderiam ser apenas amigos. Então, o que foram aqueles rumores?

“Você acha que eu precisaria de um lugar tranquilo, se isso fosse verdade?” Ele deu de ombros. “Entenda, o que aconteceu foi que… Rose estava sem par para o baile e eu percebi que ela queria muito ir. Não poderia levá-la comigo ou iria, bem, acontecer o que aconteceu. Por isso bolei uma surpresa, com um baile só para ela. Só que alguém viu e, o floco de neve virou bola”.

Ele deu por encerrado e voltou para o livro. Ele deslizou a mão pelo desenho que eu encantei e pareceu lembrar-se de algo, pois começou a folhear novamente o livro.

Um baile só para ela… Ele a amava. Com certeza.

….

“Por que você não me chama pelo nome, Scorpius?”

Ele que estava olhando para o desenho, virou-se rapidamente para mim. Ele cruzou os braços e pareceu ponderar sobre a resposta. Gostava disso nele: nada era em vão. Mas era terrível esperar por uma resposta as vezes. O seu sorriso estava sumido, e agora ele chegou mais perto. Diferente de Albus, ele sempre evitava me tocar. No início achei que era porque tinha nojo ou algo do tipo comigo, mas então percebi que ele me tocava com o mesmo cuidado que tinha com seus desenhos. Scorpius deslizou a ponta dos dedos pelo meu rosto, da lateral da minha testa até o queixo. Segurou com dois dedos o meu queixo e ergueu um pouco meu rosto para olhá-lo de frente, e só agora eu percebi que ele era mais alto que eu.

Ele me olhava como uma cobra olha para sua presa, prestes a dar o bote. Ele soltou meu queixo e segurou a ponta de uma mecha do meu cabelo que teimou em cair sobre meus olhos. Esfregando a mecha entre os dedos, ele finalmente sorriu.

“Eu não quero que aconteça o mesmo com você. Que eles achem que podem te tocar. Se alguém me ouvir dizer o seu nome vão começar os rumores”

“Mas aqui somos só eu e você” Juro que ouvi ele resmungar algo sobre ser perigoso. Mas deve ter sido minha imaginação. Ele se afastou de mim e eu finalmente soltei o ar que estava prendendo. Ele realmente consegue tirar reações inexplicáveis de mim. E quando achava que tinha acabado essa coisa de pele-a-pele, Scorpius aproximou-se de novo e encostou sua testa contra a minha. A mão sobre minha cintura me impedindo de me afastar.

“Sou guloso Campbell, se eu te chamar pelo nome, não irei parar. Nem aqui, nem lá fora” Ele sorriu e virou-se para o livro. “Agora, vamos praticar Petrificus Totalus**. Assim você vai poder se defender de idiotas”

O primeiro será você...Assim que minhas pernas voltarem a funcionar.

♥♥♥

Os dias se passaram e agora cumprimentá-lo pelos corredores tornou-se nossa brincadeira particular. Se passávamos próximos um ao lado do outro ele inclinava a cabeça ligeiramente e soltava “Campbell”, onde eu prontamente na minha voz mais ‘fria-imitação-Scorpius’ dizia “Malfoy”.

Nós fazíamos a matéria de Poções juntos, então pude perceber uma boa melhora em suas atividades, mas ele não podia ver como eu estava ficando melhor em Feitiços. Sou assistente na matéria de Poções, e quando o Prof.Slughorn perguntou para ele o que ele estava fazendo para melhorar, ele foi humilde o bastante para responder que tinha pedido ajuda à assistente da sala. Obviamente o professor adorou o fato e me colocou para ensinar os piores da turma dele. Enquanto gritava mentalmente a injustiça disso, percebi que Scorpius sorria e Albus parecia curioso.

“Eu também quero aprender com a Lib” Albus ergueu a mão imediatamente. Todos os elementos masculinos ergueram a mão e disseram ‘eu também’. O que fez com que o professor Slughorn ter pena de mim e me poupar de dar aulas particulares.

E por mais que concordamos que não nos veríamos ou iriamos trocar nada além de nomes pelos corredores eu me vi andando para a sala de Feitiços, aula que eles compartilhavam com os alunos de Grifinória. A minha aula terminava primeiro e por isso estava adiantada. Se alguém questionasse o que eu estaria fazendo lá, sempre poderia dizer que gostaria de falar com o Professor Flitwick ou que ia falar com Albus. Os alunos começaram a sair, demonstrando que a aula tinha encerrado. Entrei quando a porta havia sido liberada de trafego de alunos e vi que Albus e Scorpius estavam conversando ao lado de Rose (que arrumava seu material). Os outros alunos tinham saído e o professor estava na sala em anexo. Aproximei-me do trio e vi que Rose me lançou um olhar mortal.

Eu já sabia identificar esses olhares das meninas. Até tinha catalogado: Olhar 1: inveja; Olhar 2: Ciumes, Olhar 3: Raiva (tem vários itens dentro dessa categoria), Olhar 4: Pena, e assim sucessivamente. O dela com toda certeza era o três. Mas não tinha ido falar com ela, por isso ignorei (tentei) sua presença e caminhei até eles. Scorpius foi o primeiro a me ver, pois estava de frente.

“Campbell”

“Malfoy” Agora saia naturalmente.

“Lib” Albus virou-se imediatamente e me puxou para um abraço. Senti meu rosto ficar vermelho. E senti fuziladas na nuca.

Rose coçou a garganta.

“Oh Rose, está é Lib. Lib, Rose” Ele sorriu, mas logo morreu quando olhou entre nós duas. “Cumprimentem-se, não se mordam”

“Isso foi malvado Albus. Você deveria saber que eu sou uma dama” Retruquei.

“Viu Rose, poderia aprender um pouco com a Lib”

“Nem morta” ouvi um resmungo vindo da garota de Grifinória. Ela estava segurando Scorpius pelo braço, tentando tirá-lo dali, quando ele me olhou curioso.

“O que faz aqui Campbell?”

“Vim falar com o professor. Minhas notas melhoraram muito ultimamente, sabe Malfoy”

Ele sorriu, e não foi o sorriso padrão-para-Hogwarts. Isso pareceu chamar atenção de Albus que agora coçava minha barriga (com a mera desculpa de procurar um ponto de cocegas).

“Espera aí. Nunca vi vocês dois conversando antes. De onde se conhecem?”

“Das docas” respondi ao mesmo tempo em que Scorpius dizia: “Dos jardins”

Rose e Albus olharam para nós e estavam prestes a nos questionar quando algo entrou pela porta aberta da sala. Uma esfera que rolou até os nossos pés, apitou e então explodiu.

Várias coisas aconteceram nesse meio tempo: Albus tentou me proteger e no puxão caímos sobre um armário cheio de xícaras (os quais todas quebraram). Scorpius que estava mais perto de Rose foi protegê-la também resultando em algumas mesas e cadeiras empurradas. E um professor muito bravo apareceu perguntando de onde tinha saído tanta lama e sapos. A sala era uma confusão só, e antes que pudéssemos explicar o que aconteceu fomos fadados as palavras do professor Flitwick:

“10 pontos a menos para cada casa: Grifinoria, Sonserina e Corvinal. E vocês vão ficar aqui e limpar essa bagunça. Xícaras consertadas, lama fora, sapos transformados em pedras. Quero a sala do jeito que estava antes”

Albus resmungou algo sobre baixinhos invocados. E lá se foi minha tarde tranquila.

“E pela falta de respeito vão arrumar a sala de estoque de poções, de transfiguração e a minha”.

Fui tentar amenizar nossa pena, que obviamente era injusta. Dessa vez Rose concordou que eu teria mais chances de dialogar com o professor, por ele ser o diretor da minha casa. Quando entrei na sala dele, tentei pedir desculpas por Albus e quando eu estava tentando explicar sobre o ocorrido, o professor estendeu a mão e me parou.

“Quem sabe de um mal poderemos tirar um bem? Será bom ter amigos Srta. Campbell” dito isso piscou, ofereceu-me um cupcake e me dispensou.

E voltei com a cara no chão e sem coragem para dizer que nosso castigo adicional (em partes), era por minha causa.

–--

Herbivicus: Faz uma planta crescer imediatamente.

Petrificus Totalus: Faz com que o alvo fique paralisado temporariamente. Um bruxo mais experiente é capaz de paralisar determinadas partes do corpo, como o braço ou a perna, por exemplo.


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