Poemas ou Travessuras? escrita por Bianca Fiats


Capítulo 11
Capítulo 11 - Fama maldita!




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Segurava as cartas semanais da família e não sabia se deveria jogar no fogo da sala comunal ou ler. E pela primeira vez nos anos que mudei diante dos outros, senti falta de conversar francamente com meu pai. Mas esse era o assunto que nem o meu antigo eu teria coragem de falar para ele. E queria falar sobre isso com alguém, qualquer um. Alguém que pudesse me entender. Era divertido ser considerado o pegador, era divertido passar o tempo ao lado de belas garotas. Era divertido ser alguém totalmente diferente do meu pai, que era o que todos os parentes ressaltavam quando me viam. Mas também assustador ouvir dos professores: “Quando não age como seu pai, age como seu avô”. E não quero nem imaginar o que esses dois aprontaram.

O menino em mim, o que ficou lá na plataforma teria corrido para o pai. Mas agora eu estava crescido. Ou era assim que eu devia acreditar ser. Mas como eu poderia reagir normalmente quando o meu melhor amigo, senão, quem eu considerava como um irmão, estava com a minha prima? Aonde o mundo vai parar? Acho que consegui disfarçar bem meu descontentamento. Sim, eu não gostei. Nem um pouco. A Rose sempre foi, bem...a Rose. E ela sempre esteve lá. Ali, bem ali há uma distância de mão. Eu acho que desde as fraldas, ela sempre esteve ali.

Agora não estava mais. E já fazia um tempo. Desde a seleção. Quando eu entrei em Sonserina e ela em Grifinória. Casas, que entre os sussurros do corredor eram arqui-inimigas. Ninguém dizia isso em voz alta, mas era difícil ver a confraternização entre dois da casa, que não fosse uma boa rivalidade. Então quando tio Ronald disse para Rose disputar com Scorpius eu não me incomodei. Era sadio e natural, mas...A disputa virou algo mais. E agora Rose não estava mais...ali.

Aproveitei que o dormitório era só meu agora e não tinha que me preocupar com intrometidos e abri meu baú (devidamente minimizado dentro de uma meia preta gigante, que estava no fundo de outro baú). Usando Accio* eu chamei o camafeu. Abri com cuidado o fecho e dentro dele havia uma foto minha e de Rose. Uma rosa-menina murcha de tanto tempo dentro do camafeu, caiu quando a foto se revelou. Levei a flor próximo ao rosto e senti seu cheiro ainda presente, mesmo depois de anos. E me lembrei do Natal em que ganhei o camafeu da minha tia. Ela tinha dado um idêntico para Rose. Lembro da Rose ficar chateada dizendo que queria algo diferente, mas tia Mione segurou nossas mãos juntas e disse que nós deveríamos ficar sempre juntos e cuidar um do outro.

Rose como sempre sendo Rose ainda ficou chateada por que eu tinha ganhado um presente idêntico ao dela. Então lá fui eu, todo hominho aos quatro anos e me aventurei no temido quintal da vó Molly. Não era temido por que era assustador, mas aí se uma pétala estivesse fora do lugar. Vó Molly se tornava uma criatura mais assustadora que o Cerberus. Então, lá fui eu atrás da flor especial para Rose. Achei a Rosa-menina, pequena e com o mesmo nome da minha prima. Seria perfeito e único. Arranquei uma e corri para dentro da casa. Quando ninguém estava olhando eu a puxei para baixo da mesa. Ela gritou e me beliscou, e ia nos denunciar até que eu estendi a flor para ela: “Tó. Agora fica diferente”. Eu peguei o camafeu dela e coloquei a flor dentro. E como todo bom menino que meu pai havia ensinado, sai correndo debaixo da mesa.

Comecei a rir lembrando da cara que Rose fez. Algumas horas mais tarde ela apareceu no meu quarto, toda arranhada, enquanto eu ouvia os gritos da Vó Molly. Ela estendeu uma flor parecida com a que eu tinha dado para ela. Abriu meu camafeu e colocou a flor dentro. “Ser diferente estava chato”. E como toda boa menina que a tia Mione ensinou ela me mostrou a língua e saiu correndo…

Queria voltar no tempo só para ter mostrado a língua para ela também. Agora não havia mais rosas ou inocentes brincadeiras no jardim da vó. Agora cada um estava sentindo as marcas de crescer. Estamos trilhando jornadas diferentes. E ela estava com…

Do mesmo lugar de onde surgiu o camafeu, chamei com Accio um livro. Era um livro de herbologia do meu pai, que disse que nunca tinha se dado tão bem na matéria. Eu acho que também não, mas o livro tinha sua utilidade. Abri a primeira página e vi ali outra rosa seca, e fui folheando página após página. Eu sabia o motivo de cada uma delas, infelizmente só eu sabia. Coisas que marcavam nossas mudanças na vida. O primeiro voo de vassoura de brinquedo. O dente caído (e o arrancado para ficar igual), ou quando nós fomos ver os dragões com o tio George. Pobre da vó Molly, sempre uma flor a menos. Até que eu descobri que poderia pegar de outros lugares… Então dei sossego pro jardim da vovó.

Achei que na noite em que seguimos rumos diferentes eu iria parar de colher rosas ou flores similares, mas… Abri nas páginas mais recentes e encontrei uma flor menos ressecada. Ri amargamente da ironia do destino. Eu ainda colecionava, sempre que algo acontecia. Peguei a flor branca que eu tinha furtado da estufa quando estava com Lib (que gentilmente fingiu que não viu). Aquela marcava o... namoro (eca)...do meu melhor amigo com minha prima.

Um pingo.

Olhei para o teto procurando goteiras e franzi a testa. Não tinha goteiras.

Coloquei a flor entre as páginas, fechei o livro bruscamente e joguei o corpo contra o colchão. Estava estirado na cama com o livro no colo e o camafeu na mão. E agora o que eu faria? Fingir que nada demais tinha acontecido?

Estava lá deitado pensando na minha coleção quando ouvi o som de alguém correndo escadaria acima. Pulei com tudo para esconder tudo. Estava guardando o camafeu quando Scorpius entrou com tudo no quarto. Ele bateu a porta e lançou um feitiço para fechá-la. Isso me fez saltar da cama, e quando ele percebeu que era apenas eu, Scorpius me surpreendeu mais uma vez. Ele ergueu as mãos ao alto, gritou frustrado e se jogou contra sua cama, afundando a cabeça no travesseiro. Acho que ele ainda estava gritando.

E eu me peguei encarando o camafeu ainda na mão.

“Eu vou querer saber?”

Scorpius levantou a cabeça do travesseiro e me lançou um olhar atravessado. O que apenas me fez rir.

“O que? É que sua bela entrada me emocionou ao ponto de querer imitá-la algum dia quando… seja lá o que te aconteceu...Bem aconteça comigo”.

A boca de Scorpius era só uma linha, e eu juro que segurei MUITO o riso. Eu me pergunto como poderia ficar chateado com alguém como ele. Todos achavam que conheciam Malfoy. Estavam redondamente enganados.

“Algum infeliz disse que sabia fazer bonecos de voodoo”. Ele finalmente disse.

“E…?”

“É preciso de algo muito pessoal da pessoa, um pedaço de cabelo…”

E alguém pisou na única coisa que mais irrita Malfoy, ou seja, sua imensa vaidade com o cabelo.

“E…?” Eu juro que o que escapou de mim não foi uma risada. Era uma tosse. JURO.

“Imagine que todas as garotas de Sonserina ouviram isso… Eu quase fiquei careca só para chegar até aqui”.

E não aguentei de tanto rir. Especialmente quando uma bota veio voando na minha direção.

“Ei!” O que saiu algo como: he-he-heii. De tanto que estava rindo.

“Grande amigo você é, Potter”

“Vivo para isso” Devolvi a bota dele graciosamente (ou talvez não).

Depois de me recompor sob o olhar irritado de Scorpius, sequei meus olhos.

“Vai andar de chapéu agora?”

Ele resmungou algo contra o travesseiro. Então virou-se encarando o teto.

“Só espero que não façam um boneco de voodoo inverso para Rosie. Você sabe como essas garotas são. Assustadoras”

Engoli em seco. Todas as risadas que eu poderia ter sumiram. Rose, que era ainda mais vaidosa com o cabelo que Malfoy. Por que eu estava me preocupando com o cabelo dos dois? Virei-me para a porta e estava pensando quanto tempo demoraria para tirar o feitiço da porta e descobrir a senha de Grifinória.

QUE SE DANE A SENHA.

Corri para o meu baú e puxei minha vassoura de trás dele e corri para a janela.

“Aonde vai Potter?”

“Treinar.” Resmunguei.

“O treino de quadribol só acontece amanhã, e, você esqueceu que estamos nas masmorras e as janelas dão para o lago? ”

“Malfoy ou você tira o feitiço ou eu arranco seu cabelo e dou para todas as garotas de Lufa Lufa”

Ele ergueu uma sobrancelha.

“Falo sério!”

Ele bufou e tirou o feitiço. “Mas só porque você pediu com tanto amor e carinho do seu coração”.

♣♣♣

O que as meninas tanto fazem enfiadas no banheiro? Se ela não sair nos próximos 10 minutos eu vou entrar e arrancá-la pelos cabelos (mau pelo trocadilho). É obvio que quando pensei na minha atitude de herói eu sobrevoaria a janela do quarto dela, e Rose estaria me esperando de braços abertos, ou ao menos estaria esperando feliz. Acontece que, era de Rose que estamos falando. Então quando sobrevoei a torre de Grifinória, encontrei três garotas brigando aos gritos, uma menina chorando num canto e Rose estava se trocando assoviando a canção do conto dos bardos. E obvio que quando ela me viu lançou uma bombinha Weasley (quem anda com uma dessas ou guarda no criado mudo?), e eu me vi caído em cima de uma gárgula, que apenas riu da minha cara e me jogou de seus braços.

Vamos dizer que não foi a minha mais bonita queda. Nem silenciosa. Muito menos longe da vista de certa diretora chamada McGonagall que acreditou que eu estava aprontando e descontou pontos de Sonserina, e me fez ouvir um sermão por horas.

Eu vou comprar uma orelha falsa do tio George. E isso significava mais uma carta dos meus pais. Pelo menos não recebo berradores, como meu tio Ronald recebia.

Encurtando a história, aqui estou, em frente ao banheiro, depois que finalmente consegui parar em frente à casa de Grifinória e esperei Rose sair. Aliás, vassoura confiscada (apenas uso em treinos e jogos). E Rose me agradece por ser seu herói? Nãooooo….Claro que não. Então depois de algumas voltas sem sentido por Hogwarts (que eu quase acredito ser porque ela tentou me dispensar), ela finalmente virou-se para mim e disse: “É o banheiro feminino. Não pode entrar aqui”.

“Posso sim”.

E ela colocou a varinha dela na ponta do meu nariz. Convencido. “Não posso.”

“Ótimo. Eu já volto”.

E aqui estou...Há uns cinco minutos. Estou de costas para o banheiro obvio. Ninguém entra com ela lá dentro. Estavam faltando 3 minutos para os dez que tinha pensado, quando Scorpius apareceu do meu lado.

“Você sabe que o banheiro masculino é por ali não é?”

Olhei feio para ele. Como ele ousava? Ele deveria ser… a máscara que ele usa. Sei lá, Malfoy tinha que agir como fez no baile e ser o príncipe dela. E protegê-la, mas não, ele me olhava com um sorriso falso nos lábios.

“Rose está usando. Não saio daqui enquanto ela não sair por essa porta” E apontei para trás.

Scorpius colocou a mão no queixo pensativo. E depois de uns instantes afirmou algo com a cabeça. “Mas aquelas meninas do primeiro ano PRECISAM usar o banheiro.”

“Usem o de baixo”. Dei de ombros. “Já disse que não saio daqui enquanto Rose não saia”

“Mas…”

“Sem mas. ”

“Vai ficar aí pelo resto da sua vida então”

Isso me chamou atenção.

“Como assim? Está falando que ela está passando mal e que pode morrer ai dentro? E você não deveria estar preocupado?”

Agora o idiota sorria de verdade, não, ele estava rindo.

“Não é nada disso. É que esse banheiro tem um retrato lá dentro que tem abertura para outro banheiro. E Rose me pediu a senha esses dias porque estava chato ser seguida até mesmo no banheiro. Então provavelmente ela esteja…” Ele parou e pensou “No banheiro das masmorras”

“Por que exatamente tem um retrato-senha no banheiro? E como você consegue todas essas senhas?”

E Scorpius deu de ombros, mas agora ele estava rindo de verdade. “Agora você poderia deixar essas senhoritas usarem o banheiro?”

Eu.Ia.Matar.Rose.

♣♣♣

Depois de minhas infrutíferas tentativas de cuidar da minha prima, eu desisti. Sim, era feio agir assim, pois ninguém da minha família iria agir assim. Mas se eu quisesse trilhar meu caminho para ser diferente (mesmo que significasse ser a ovelha negra) eu deveria começar agora. Então aqui estava, no pátio central de Hogwarts, deitado no banco de pedra, mãos detrás da cabeça usando como travesseiro. Meus pés sacudiam contra a grama e vi Pirraça carregando uma guirlanda de...aquilo eram frutas? Ah sim, frutas cortadas como se fossem flores. E ele decorou a estátua de Dumbledore com a guirlanda como se fosse um colar. Isso arrancou um sorriso do meu rosto. Ele segurava várias outras guirlandas e parecia estar se divertindo fazendo essas brincadeiras bobas (que sei que ele usava como distração para as perigosas), e portanto, me deixou em paz. Eu estava tão distraído que não vi quem fazia sombra em cima de mim.

“Está atrapalhando meu banho de sol”

“Mal-humorado”

A voz de Rose me fez ficar irritado. Virei de lado no banco e de costas para ela. O que ela deve ter achado ser um convite para se sentar.

“Sai daqui gorda”

Ela bufou. “Falou o obeso trestálio**”

“Eu não estou com humor, sua...traidora”.

Eu não precisei olhar para ela, para saber que ela revirou os olhos. “Olha quem fala”

Quando não respondi, recebi um soco no ombro. Me virei com agilidade que havia desenvolvido por causa dos jogos, e ao fazer isso a derrubei sobre mim. A abracei forte e ela ofegou.

“Eu prometi que iria protegê-la. Não esqueci da minha promessa”

Ela tentou sair dos meus braços, irritada.

“Prometeu para quem? Não tem por que…”

Tirei o camafeu de dentro da minha blusa. Quando percebi que estava na minha mão quando sai do quarto, consegui uma corrente (o qual não direi de quem era, só precisou como pagamento um beijo) e coloquei como colar. Rose parou de se mexer e olhou para o camafeu. Só nós dois sabíamos que ele abria, e só nós sabíamos o que tinha dentro.

“Você...guardou”

Ela esticou as mãos entre nossos corpos e pegou o camafeu com cuidado entre os dedos. Aproveitei que sabia que ela não iria fugir de mim dessa vez e passei a mão pela sua bochecha. Com a outra afastei as mechas do seu cabelo.

“É claro que sim, e você? Tem o seu?”

Ela corou e puxou uma correntinha de dentro da própria blusa.

“Ainda tem minha rosa-menina”

–-

*Accio: Faz com que as coisas venham até você. Até da maior distância possível. Pode tanto apontar para o objeto desejado ou falar "Accio" mais o nome do objeto desejado.

** Trestálio: Aparentemente uma mistura de Cavalo com Dragão, pela pouca quantidade de carne no corpo que deixa os ossos a mostra, e ao invés de pelagem, a escama negra-reluzente que os cobre. Suas asas parecem as de morcegos, e apesar disso tudo, são seres extremamente dóceis e tímidos. Alguns bruxos dizem trazer maus presságios pelo fato de que só podem ser vistos por quem já viu a morte.


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