— Problemas com os pais? – perguntei – o que aconteceu com seus pais? – ela me encarou com um olhar triste e eu me arrependi de ter perguntado, fiquei com medo de que, agora que ela está se soltando mais, eu tivesse estragado tudo e ela começasse a me bloquear de sua cabeça novamente. Mas ela não fez isso, ao contrário, ela falou.

— Não aconteceu nada com eles, eles só não ficavam muito comigo – ela parou de falar por uns segundos mas começou a contar, quase sussurrar, olhando pro chão –eles nunca pararam de trabalhar pra cuidar de mim, sempre contratavam babás e mais babás, e sempre que eu me apegava a alguma delas, eles demitiam e contratavam outra. Até de escola eles estavam sempre me mudando.

— Eu não entendo o porque – eu disse e ela olhou pra mim – quer dizer, por que tiveram você então? Não que não seja maravilhoso não ter você existindo nesse mundo mas... – soltei uma risadinha da minha frase terrível e quando a encarei de novo eu quase consegui ver um sorriso ali também.

— Eles só me tiveram porque precisavam de alguém pra herdar a empresa, Edward. Eles eram materialistas demais, não queriam nem que outra pessoa que não tivesse o seu sangue ficasse com ela. Eles se preocupavam mais com a empresa do que comigo.

— Isso é muito triste, me desculpe, eu não sei o que dizer.

— Está tudo bem – ela respondeu com um suspiro e olhou em volta, o que me lembrou que uma pergunta ainda não havia sido respondida.

— Mas eu ainda não entendi a relação com esse lugar.

— Aos 11 anos eu tinha uma babá chamada Sue, ela foi uma verdadeira mãe pra mim e a que ficou comigo por mais tempo, eu me apeguei muito a ela e sempre contava tudo o que eu fazia e acontecia no meu dia, ela ia comigo a todos os lugares que eu queria, me ajudava em tudo que eu precisava e fazia a comida mais maravilhosa do mundo. Um dia ela me trouxe nesse lugar e ela estava diferente, estava triste. Ela se sentou comigo no seu colo e disse que ela teria que ir embora. Eu não pensava mais que meus pais fariam isso comigo novamente, mas eles fizeram. Eles demitiram a Sue porque eu havia me apegado demais a ela e isso não seria bem pra empresa no futuro.

Bella parou de falar por um longo tempo e eu me aproximei dela. Foi quando eu vi que ela estava chorando. Eu fiquei sem saber o que dizer, então apenas a abracei muito forte e deixei que ela molhasse a minha camisa. Eu nunca a tinha visto tão vulnerável e ao mesmo tempo que estava triste pela história dela, eu estava feliz por ela finalmente se abrir comigo e deixar que eu a entenda.

Depois de alguns minutos em silencio ela se afastou de mim e voltou a falar.

— Depois que a Sua foi embora eu nunca mais amei ninguém. Eu não queria me machucar novamente então as outras babás que eu tive foram apenas mais babás. É por isso que eu sou como eu sou agora. Eu tento me convencer que é culpa dos meus pais, que eles me fizeram ser fria como eu sei que eu sou, mas no fundo eu sei que não é verdade, foi eu que quis me fechar aos meus sentimentos e me afastar de todo mundo. Eu sou terrível assim porque eu quis – ela terminou de falar e começou a chorar novamente, dessa vez mais forte. Meu coração ficou apertado e senti vontade de chorar também. Eu abracei Bella novamente, mais forte que dá ultima vez.

— Você não é assim como diz Bella, eu posso ver, tem mais ai dentro que você só tem que aprender a colocar pra fora novamente – eu disse acariciando seus cabelos – não se culpe, por favor, eu sei que você é uma pessoa maravilhosa.

***

— Não se culpe, por favor, eu sei que você é uma pessoa maravilhosa – ele disse com aquela voz doce e eu pude sentir que ele estava sendo sincero.

Então eu finalmente consegui parar de chorar e apenas fiquei nos seus braços e deixei que Edward me fizesse cafuné. Acho que ficamos uns cinco minutos assim, mas pra mim parecia uma eternidade. Era muito bom receber carinho novamente e a muito tempo eu não me sentia tão a vontade com alguém. A ideia de que a pessoa com quem eu me sentia assim era Edward me assustava, mas eu apenas tentei esquecer isso por um tempo.

Quando eu fiquei mais calma levantei a cabeça do seu ombro e olhei pra Edward. Ele me encarou com intensidade e aproximou o seu rosto do meu.

— Você pode sempre se abrir comigo, quando quiser– ele disse com a voz baixa e então me beijou.

Eu fiquei sem entender o que estava acontecendo e como sua boca de repente tinha parado na minha boca. Me afastei dele com muita dificuldade tentando me soltar dos seus braços e o empurrei pra longe de mim. Ele me olhou confuso e eu pensei “sínico”, acabei então com a minha mão na cara dele.

— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – gritei.

— O que? – ele perguntou – o que eu fiz?

— O QUE VOCÊ FEZ? VOCÊ ME BEIJOU.

— Sim, pra mim você conhecia isso, você já me beijou antes.

— Mas não em um momento assim Edward, você se aproveitou de mim, se aproveitou do meu momento de vulnerabilidade. Não acredito que você fez isso comigo.

Naquele momento eu estava mais magoada do que brava. Eu havia confiado em Edward e pensava que ele estava sendo sincero comigo e sendo um amigo, mas ele só havia se aproveitado pra me dar uns pegas. Eu não cometeria esse erro novamente. Comecei a calçar meus sapatos que havia tirado pra me sentar e peguei meu telefone pra ligar pra um táxi.

— O que você está fazendo? – ele perguntou.

— Estou indo embora.

— Por que? Me desculpa Bella, eu não tive essa intenção, por favor não vai embora, foi o momento, eu não quis te magoar.

— Cala a boca Edward, você já me magoou, e agora eu vou embora.

Alguém atendeu do outro lado do telefone e eu pedi um táxi urgente. Em menos de dez minutos ele chegou e eu entrei, mesmo com Edward me puxando pelos braços e me implorando que eu o perdoasse e não fosse embora.

Foi uma longa viajem até em casa e uma noite ainda mais longa.