War Angel - Renascença escrita por Dálian Miller


Capítulo 3
Capítulo 2 - Cores da Aurora


Notas iniciais do capítulo

Antecipando o capítulo 2
Boa leitura!



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~ Capítulo 2 – Cores da Aurora ~

 

Após o contato com a tumba, Witc foi guiado pelo instinto de sobrevivência, e retornou a sua casa como uma presa desesperada em busca de refúgio. Nada se fazia barreira para o garoto, até que esbarrou contra Zoe, sua tia.

— Calma Witc. O que aconteceu? Olha, sua irmã achou um gatinho, na verdade, uma gata. Ela é muito fofa e manhosa. – O felino andava em volta das pernas de Zoe com a calda levantada, como que se estivesse a pedir mais carinho. – Ela ainda não tem nome, mas pensei em Escófia.

Ele pegou o animal e o pôs entre os braços. – Parece legal – e imediatamente mudou o foco da conversa. – Meu pai já chegou?

— Não, ele ainda não chegou, deve ter saído com sua mãe. – Respondeu Zoe.

Pacientemente, ele aguardou Shawn voltar, no entanto, para o inútil esforço, seus pais haviam saído para fechar os últimos acordos sobre a nova moradia. Durante a tarde, seu amigo Ayurik, um garoto de oito anos, cabelos loiros caídos sobre o rosto, e olhos complicados de distinguir a cor, pois alternavam entre o verde e o azul de acordo com a luz do ambiente, passou o restante do dia lhe fazendo companhia.

Ao longo da noite, ele observou a pequena Lina ousar em alguns passos de balé a pedido de Rose, mas ela não herdara essa habilidade da mãe e sempre acabava por fazer movimentos fora do ritmo. Até que subiram para seus quartos no andar de cima e repousaram.

tic tac do relógio cuco preso na parede frontal da pequena sala entre o quarto de Lina e Witc marcava três horas quando ele vivia mais uma aventura entre tantos sonhos bizarros que costumava ter.

Andando sozinho pelas ruas silenciosas e sombrias de Déviron Garden, Witc seguiu um som familiar. Melodias que ele conheceu através de Ayurik. O som parecia vir do norte. O céu aos poucos se tingia de lilás e dourado, demonstrando os primeiros sinais da aurora.

Para sua surpresa, uma banda de rock fazia uma pequena apresentação na praça da igreja situada a três quadras de sua residência. Eram oito pessoas ao todo. Estavam vestidos com roupas pretas combinadas com outras cores escuras e fortes. Um dos vocalistas vestia uma calça de couro preto, uma blusa cinza azulada de mangas longas e uma capa escura e longa. O outro vocalista era a única mulher dentre os membros, e também usava uma capa com capuz que deixava seu rosto nas sombras.

Apesar do horário incomum, a combinação de localização da banda sob as grandes árvores na praça, onde pequenos fios de luz atravessam suas copas e tornavam a névoa sobre o solo mais opaca, e o fundo destacado pelas cores da aurora impressionaram Witc.

Ele se aproximou a fim de observa-los mais de perto, no entanto, a garota olhou em sua direção, momento em que todos pararam de tocar e o observaram. Ela inclinou levemente a cabeça e subitamente, todos viraram o rosto para outra direção e voltaram a tocar. Witc se assustou e acordou ofegante, tentando entender o que viu em seu sonho.

Horas depois, tomaram o café da manhã e após alguns minutos, Ayurik chegou à casa de Witc e o chamou para ir brincar, já que todos os outros amigos deles estavam aproveitando os novos brinquedos instalados na praça.

— Mãe, eu posso ir?

— Claro que sim, querido. Aproveita e leva sua irmã também, mas tenham cuidado com os carros, essa parte da rua ficou muito movimentada nesses últimos anos.

Droga. Vou ter que levar essa menina chata também. Pensou Witc, mas concordou. – Está bem. Vamos, Lina.

Os três saíram em direção à praça pelas sombras das árvores em frente às calçadas. Eram nove horas da manhã, as ruas mantinham um fluxo tranquilo de automóveis. O local para onde iam devia estar cheio de crianças nesse horário. Ao longo do caminho, eles jogavam conversa fora.

— Você tem uma irmã né? Ela também é chata e irritante como a Lina? – Indagou Witc a seu amigo.

— Estou ouvindo tudo. – Redarguiu Lina com um tom sarcástico. – A mamãe vai saber disso.

— Tenho. Não se lembra de Mylla? Aquela que você só viu uma vez e ficou todo apaí...

Rapidamente Witc o interrompe e o impede de completar a frase. – Já lembrei, já lembrei. Mas... Ela está aqui? Quero dizer, na sua casa?

Ayurik, numa tentativa de brincar com Witc, solta uma risada discreta. – Eu sabia que estava caidinho por ela, mas você sabe que Mylla não casaria com você. Uma vez ela me falou que sonhava em encontrar um príncipe encantado. Ah, ela não está, foi morar com nossa tia.

— E quem disse que eu queria casar com ela? Só falei que ela era bonita, e sou muito novo para pensar em casamentos. – Disse com as bochechas rosadas. – Ontem sonhei com uma banda de rock na igreja. – Falou despercebidamente.

— Ainda bem que foi só um sonho, isso é ridículo! Ninguém deixaria isso acontecer de verdade.

— Pois é... – Riu.

— Calem a boca! Quero chegar logo e ir tomar sorvete. Você vai brincar comigo, não vai Witinho?

— Vou Lina. – Confirmou, apesar de inconformado.

Ao atravessarem a rua, Ayurik começou a ouvir um som vindo da igreja. Ele já tinha escutado aquela melodia. Era uma canção de seus cantores favoritos.

— Acho que estou ouvindo algo, tipo uma música que conheço. – Comentou Ayurik ao apressar seus passos.

— Por que está correndo para a pracinha? – Indagou Lina.

— Também não sei. Você tem certeza que ouviu uma música vinda de lá? Não escutei nada, e pode ser algum vizinho.

— Eu tenho certeza Witc. Veio de lá. – Respondeu com firmeza.

Eles andaram em um ritmo mais acelerado até que chegaram ao final do quarteirão, atravessaram a última rua antes da igreja e entraram na praça.

Surpreendentemente, o que Witc sonhou na noite passada estava acontecendo. Tudo se encontrava como ele viu: As roupas, a quantidade de pessoas no grupo, o local do pequeno show, até os vocalistas e o capuz da mulher era igual ao do sonho. Ele não havia contado com todos os detalhes, mas seu amigo e Lina puderam avistar a cena com clareza.

Continuaram andando como se não soubessem de nada e observando tudo com os mínimos detalhes. Aquele palco parecia ter sido montado por grandes profissionais. Estava localizado entre quatro árvores, as quais permitiam que o brilho do Sol atravessasse os espaços entre os galhos gerando uma iluminação impecável sobre os membros do grupo.

Os três andaram até o outro lado da praça para tentarem encontrar as crianças, entretanto, todas tinham sumido.

Mas como isso teria acontecido? Ayurik se questionou. – Até o momento em que fui à sua casa, o parquinho estava cheio de crianças e não tinha nenhuma banda cantando aqui. Para onde eles foram? Como saíram tão rápido daqui e o mais curioso: Como aquela banda de rock montou tudo tão depressa, e por que não conseguimos ver os seus rostos? – Questionou.

Devia ter muita alegria, mas o local estava tomado por uma energia negativa. Não se sentindo bem, acabaram retornando para a casa de Witc.

Já estava quase noite quando o senhor Ryser chegou. Ele retirou seu casaco e o ajustou às costas da poltrona que sentaria. Acomodou-se bem e observou a iluminação do cômodo. Apenas as luzes de dois abajures, um de cada lado da estante de livros, ao lado direito de onde ele repousou, estavam acesas e tornavam mais claras, as paredes de pedra e o tapete com mosaicos que alternavam entre as tonalidades do marrom.

— Você quer conversar comigo, filho? O que o meu pequeno aventureiro aprontou desta vez? – Brincou. – Sua tia me disse que gostaria de me falar algo ontem, mas acabou dormindo antes.

— Eu não fiz nada de errado, pai. – Respondeu Witc cabisbaixo.

Shawn falou baixo perto do ouvido do filho e sorriu de canto de boca. – Sua tia fez uma comida horrível e você jogou tudo para o cachorro?

— Pai, nós não temos cachorro e também não foi isso. – Respondeu sorrindo.

— Não tem? – Ele surpreendeu a todos com um belo embrulhe que continha furos do lado. As crianças ficaram curiosas para saber o que tinha dentro.

— Papai, por que a caixa tem esses buraquinhos? – Perguntou Lina tentando observar por entre as brechas.

— É o novo amiguinho de vocês, que por coincidência, ganharam outro amiguinho, ou melhor, amiguinha. Já vi a Escófia e a achei digna de pertencer a nossa família. – Riu após sua frase um tanto irônica.

Os olhos de Lina brilharam quando seu pai retirou o pequeno beagle da caixa e o entregou em seus braços. – Witc, ganhamos um cachorrinho, vamos brincar com ele lá na rua? Melhor, vamos procurar tesouros pelo jardim?

— Não filha. Já está tarde para crianças irem brincar na rua. Amanhã vocês o mostram para o Ayurik. Agora é hora de irem para a cama, vamos.

— Papai! – A garota insistiu.

Com vigor, ele impõe sua autoridade paterna. – Sem contestarem. Amanhã o dia será longo e sei que vocês irão se divertir muito, mas antes devem dormir bastante para terem energia de sobra.

— E qual o nome dele? – Murmurou Lina.

Entrando na conversa como quem não quer nada, e com uma xícara de chá em mãos, Rose sugeriu que escolhessem Joy. Era um nome curto e alegre, assim como o pequeno beagle. Ninguém se opôs e logo se acostumaram.

Sentado sobre o sofá, Witc notou que seu pai havia desviado totalmente do assunto anterior, e desistiu da conversa.

Após algumas horas, toda a casa adormeceu, terminando com um silêncio estonteante, um dia de muitas aventuras e descobertas, mas também de mistérios.

Na janela da sala, pelo lado externo, um rosto que os observava atentamente, notou que a folha do calendário que marcava o dia 22 de Julho caiu, e ambos desapareceram logo em seguida como um vulto entre as sombras.

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Pesadelo

Até breve!!! :D :D :D