~ Capítulo 11 – Os Elementais ~

Em menos de 24h, Witc e seus amigos viveram uma nova experiência. Ter visto um felino naquelas proporções rodeia-los como presas, um homem com chifres e coberto por folhas, e uma coruja que se transformava em guerreiro nunca passou em suas mentes. Terminado o primeiro teste, Ippy foi o primeiro a retornar para a cabana na manhã seguinte, trazendo Mylla em seu ombro. – Aqui, senhor Wechar. A moça quis relutar, mas não tive dificuldade em captura-la. – A pôs em frente à grande árvore, de onde o druida saiu.

— Sempre me sinto como uma parte dessa sequoia, ou até mesmo, desta ilha. Muito bem, Ippy! Os outros logo chegarão.

— Me solta, me solta, seu bicho... Monstruoso. – Os gritos de Ayurik podiam ser ouvidos a alguns metros dali. Estava impaciente por ser puxado através da blusa pela pantera, que em momentos mostrava suas garras para intimida-lo e seguir em silêncio.

— Vocês são estranhos. Por que ficam falando da magia como se ela existisse? E o que vão fazer com a gente? – Bradou Mylla.

Em seguida, Don surgiu entre as folhagens de alguns arbustos com uma fruta em mãos. – Olá!

— Mas a magia existe, jovem herdeira. Olhe a sua volta. – observou que Witc se aproximava envolto de dezenas de galhos, tal como um casulo de borboleta e por um ser que ela jamais pensou existir, o que a deixou sem palavras.

Liberando Witc, R. Wechar explicou que ele foi trazido por um Arvoroso, um ser que vive naturalmente na forma de árvore, mas que consegue se locomover. Um tipo de guardião da natureza.

Surpreso, Ayurik indagou aos amigos sobre o que trouxe eles. – Ei, Witc! Mylla! Acho que eles são sequestradores e estão disfarçados para roubar nossos órgãos... – Interrompendo a conspiração, Ippy assumiu sua forma de coruja novamente, emanando uma luz azul de seu corpo durante a transformação. – Está bem, isso não sei explicar, mas ainda acho que são sequestradores.

— Não viaja, irmão! Acho que não é nada disso. – Mylla o advertiu.

Parado diante dos três e do lagarto, o druida reuniu Ippy, que pousou em seu ombro, a pantera, bem acomodada sobre a grama no lado direito e o arvoroso do outro. – Esse foi o primeiro teste de vocês, e infelizmente todos reprovaram com a exceção do amiguinho escamoso comendo a fruta. Estão prontos para aprenderem a magia elementar? – Levemente, a brisa tocava o solo e rebatia contra os grandes troncos, criando pequenos redemoinhos com folhas secas, que dançavam entre os níveis da corrente de ar. Serpenteando sobre as gramíneas, as raízes do arvoroso se estendia até os jovens sentados, transportando frutas em suas pontas.

— Então, essa história de bruxos, demônios e esse mundo fantasioso realmente existe? – Witc parecia curioso.

— Sim, herdeiro...

Interrompendo o druida, ele indaga sobre essa denominação. – Por que está nos chamando de herdeiros? O que isso quer dizer? Minha irmã também é?

— Acredito que seu pai já deve ter contado algo, ou não teria o apresentado a mim, no entanto, contarei o que sei para vocês. No início, quando magos, bruxos, druidas e todas as criaturas conviviam pacificamente entre si, quando a natureza reinava soberana sobre todas as formas de vida do planeta, um desafio lançado gerou a maior guerra que o nosso mundo já viu...

— O senhor Shawn já nos contou essa parte. Nefise contra o War Angel, os dois reis do planeta. Eles lutaram pela esfera de energia e a bruxa foi derrotada, sendo banida para o submundo. – Ayurik complementou.

— Mas não foi apenas isso. Vocês sabem que Nefise perdeu a guerra, mas não sabem o que aconteceu aos que lutaram com eles, muitos não sabem. – Todos se sentaram a formar um círculo.

— Você está falando dos imperadores e imperatrizes, as 12 criaturas com magia nível 9, certo? – Witc questionou.

— Sim. Durante a batalha, nem todos sobreviveram. Muito sangue foi derramado. Para evitar que isso acontecesse novamente, em cada geração crianças são escolhidas para herdar o poder dos guerreiros mortos na guerra e protegerem a esfera mágica.

Diferente de Lina que conhecia muito sobre a ciência, Witc demonstrava seu conhecimento em história. – E esses níveis, o que são? Como posso saber qual o meu? As bruxas mortas em Salem há mais de 300 anos atrás, também eram herdeiras?

— Pelo o que estou vendo, alguém aqui andou fazendo suas pesquisas. Não irei falar sobre níveis de magia ainda, apenas digo que está relacionado com o quanto você sabe e domina. Respondendo sua segunda pergunta: Sim. Dezenas de mulheres foram aprisionadas e mortas injustamente naquela época por serem herdeiras. Os humanos temiam as bruxas e demais criaturas sobrenaturais, pois não conseguiam domina-las.

— Suas existências eram omitidas. – Witc o complementou. – Mas elas poderiam facilmente mata-los. Porque não fizeram isso?

— Após a morte de Tituba, uma bruxa do continente Amarelo, seu clã temia uma nova guerra e tentaram fugir. Esforço inútil, pois Tituba já havia confessado que elas praticavam rituais de vudu, que mantinham contato com vários demônios e que um vivia entre eles. Por isso, tomem bastante cuidado e não revelem seus poderes em público, eles não podem descobrir.

Confusa, Mylla parecia não entender bem o que estavam falando. Era fantasioso demais para ser crível. – E nós fomos escolhidos assim como elas? Quem nos escolheu?

— Seus pais escolheram esse destino para vocês ao participarem de algum evento que envolvesse o mundo sobrenatural. De uma maneira mais simples, vocês se tornaram herdeiros porque havia muita magia em volta de sua família antes de vocês nascerem. Como eu disse antes, nos enfrentar era o primeiro teste, e quase todos falharam, pois fugiram, além de que ainda não despertam seus poderes. – Mudando o foco da conversa, Wechar se direcionou ao centro do círculo e informou sobre o passo seguinte: – Agora que já tomaram o café da manhã, podemos começar o teste de habilidades. Sigam-me. – O druida andou até uma rocha com um pouco mais de 50 centímetros de altura, lapidada pela ação da natureza, o que deixou sua superfície superior plana ao longo dos dois metros de comprimento. Wechar dispôs quatro materiais e os deixou geometricamente posicionados. – Sobre essa pedra há quatro substâncias, onde cada uma delas representa um dos elementos. Os pedregulhos significam a rigidez da terra, a folha verde mostrará o caminho do vento, a concha com a seiva de um carvalho representa a água e a folha seca será o combustível para o fogo. Eu quero que cada um de vocês venha à pedra e ponham a mão direita sobre cada um dos elementos.

— Por quê? – Indagou Ayurik.

— Cada ser possui ascendência em um dos elementos, e este, por sua vez, é a base para seus feitiços.

— Certo. Irei primeiro. – Ele se direcionou até a rocha e moveu a mão sobre os objetos, entretanto, nenhum reagiu. – Fiz algo errado?

— Tenha paciência, pequeno. Este é o primeiro contato de vocês com a magia elementar. Não é raro isso acontecer. Vamos, tente novamente.

Ele repetiu o movimento lentamente e desta vez, uma ligeira ondulação surgiu na seiva contida na concha. – Deu certo! Deu certo! – Gritou em comemoração.

O Segundo foi Witc. Posicionou-se, moveu a mão sobre os objetos e uma leve brisa deslocou a folha verde alguns centímetros. – Acho que o meu é o ar. – Comentou.

Mylla foi a terceira. Ela andou até o rochedo e antes de começar o teste, a folha seca voou e se incendiou na sequência.

— Ora! – Disse o druida surpreso. – Temos aqui alguém que já dominará dois elementos. Não brinquem com ela garotos. – Riu. – Você também quer tentar, pequeno? – Agachou-se e perguntou a Don.

Ayurik foi o primeiro e não mexeu nada. O amigão foi o segundo e mexeu só um e ela foi a terceira e mexeu dois. Então, se eu for agora irei mover três e como passei no primeiro teste, serei o mais forte do grupo. Há há há. Pensou. – Eu vou. Alguém podia me dar uma ajudinha? – Witc o colocou sobre a pedra. Don se movimentou sobre cada elemento, todavia, nada reagiu. Ele tentou com a mão direita, esquerda, com a calda e novamente nada adiantou. – Acho que esse brinquedo quebrou. – Comentou após descer da rocha e sair disfarçadamente. Todos riram.

— Não fique triste pequeno, você ainda pode treinar com o Ippy e aperfeiçoar sua habilidade de camuflagem. Para vocês, sugiro que descansem bastante durante o restante do dia, pois amanhã começaremos o treino com os elementos e não será nada fácil, principalmente para você. – Direcionou o olhar para Ayurik. – Seu amigo e sua irmã possuem habilidades herdadas e só precisam de uma faísca para desperta-las, ao contrário de você, que precisará aprender uma. Notei que é bom na água, então iniciará por esse elemento.

— Isso quer dizer que não serei tão forte quanto eles? – Cabisbaixo, Ayurik perguntou sobre seu futuro.

— Não, só quer dizer que terá mais trabalho. Se serve como motivação, um dos imperadores do War Angel era apenas um mago e conseguiu lutar no mesmo nível dos demais.

— Só falta a Lina também ser mais... – lembrou-se do ataque à residência dos Rysers. – Ela é. – Pronunciou baixinho.

***

Dez dias se passaram desde que Shawn foi à ilha. No hospital, Lina despertava pela primeira vez.

— Mamãe? – Chamou por Rose ainda com os olhos entreabertos.

Rapidamente Rose foi ao encontro de sua filha. – Sim, querida? Nem acredito que já está melhor. Ainda bem.

Lina tentou levantar-se, porém, sentiu forte dor no abdome e deitou-se novamente. – Ainda dói muito. – Olhou a sua volta. Percebeu que apenas sua mãe estava ali e que no calendário dizia ser 18 de Agosto. – Por quanto tempo dormi? Onde está o Witc?

— Não se preocupe, filha, ele está bem. Seu pai o levou para a casa de um amigo no dia seguinte ao ataque. Ele irá ajudá-lo em um treinamento. E desde então você esteve em coma, exatamente 11 dias.

— E minhas aulas? Não posso ficar sem estudar por tanto...

A garota foi interrompida por seu pai que acabara de chegar. – Pode sim. Seu irmão está se fortalecendo juntamente com Ayurik, Mylla e Don, e logo chegará sua vez. Vocês precisam aprender algo mais importante no momento, ou não terão nem mesmo uma Déviron Garden para proteger muito em breve.