Cidade Zero-Hora escrita por Yellow


Capítulo 3
Serpentário


Notas iniciais do capítulo

- Oi pessoal!
— Então, terceiro capítulo para vocês XD, desculpem se eu demorei a postar.
— espero que curtam :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/650807/chapter/3

Levi planejava tudo para seu final de semana, menos acordar assustado com o mesmo sonho ruim.

Alex, seu melhor amigo, pareceu ler sua mente, e o chamar para fazer alguma coisa em sua casa. Levi sempre o admirou, sendo Alex a única pessoa capaz de aguentá-lo. Alex parecia não medir esforços para arrancar um sorriso do rosto sério de Levi, quando estavam juntos, eram como opostos. Como as duas personas do teatro, enquanto uma chorava e esbanjava tristeza, a outra sorria e exalava alegria.

Quando se levantou do sofá, tomou o devido cuidado em limpar os cacos do copo que caíra no chão misteriosamente. Ian brigaria com ele, caso não fizesse. E se Ian não brigasse, com certeza Patrícia o faria. E Levi se lembrou da mãe nesse momento, e teve saudades dela. Reparou que, desde o dia anterior, ela e Fernando não davam sinal de vida. Não era do feito da mãe fazer aquilo, sumir sem avisar. Geralmente deixava bilhetes, ou pessoas cuidando deles. A escolhida geralmente era a madrinha dos meninos, Beth, amiga de longa data de Patrícia.

Levi se aprontou em tempo o suficiente de Alex não notar a demora e mandar outra mensagem de texto, o apressando.

As rosas do jardim de casa estavam desabrochando. Levi reparou enquanto passava, pisando sobre a grama que a mãe cultivava com tanto amor. As flores eram coloridas em todos os cantos, e isso não representava nada a ele. Patrícia tinha amor em cheirar a tulipa recém-pega, mas ele achava que todas as plantas tinham cheiro de mato.

Saiu pelo portão.

O sol parecia ter deixado a cidade, naquele dia. Era inicio de inverno, junto do recesso escolar. Levi adorava dias de chuva, onde se recolhia a uma coberta, em sua cama quente. Odiava sair na rua. Sua pele alva demais chamava atenção, e as pessoas o olhavam como se fosse um espécime raro.

Afagou sua camisa mal passada, com a estampa de algum anime. A calça de sarja preta delineava as pernas finas. Os cabelos mal arrumados caiam sobre a face, e ele não dava a devida atenção para tal. O costume de andar com as mãos no bolso o fazia parecer corcunda, e tentava se desapegar disso, mas não conseguia.

Assim, andou pelas ruas de Argema, o bairro em que morava. As casas não eram muito diferentes umas das outras, provocando um efeito confuso de repetição em sua mente. Era de manhã, e as pessoas saiam aos poucos de suas moradias. O sol estava encoberto atrás de nuvens cinzentas que pairavam sobre a cidade. O dia cinza não era exatamente motivador para a garota que passou por Levi, com expressão neutra e roupas de corrida.

Ela o encarou com um sorriso torto. Conheciam-se há mais de cinco anos, estudara com ele, e foi uma das pessoas a presenciar a explosão. Levi lembrou a face dela quando o viu sair do fogo, intacto. Ela o olhou com repúdio, medo do garoto imune a chamas. Certa vez, ouviu-a cochichando com as amigas dela que ele era esquisito, mas não deu a atenção devida, achava isso de si mesmo.

Sentiu o celular vibrar dentro do bolso. Quando o pescou, as mãos tremeram e quase o deixou cair. Era uma mensagem de seu pai. Sentiu um buraco no peito quando leu as reticências na tela. Apenas três pontos que poderiam dizer mais de mil palavras ou sentimentos. O que havia acontecido a eles? Por que estavam demorando tanto para voltar? Levi metralhava-se com perguntas que sabia que não conseguiria responder.

Atravessou a rua sem problemas. O movimento de carros aquela hora a manhã havia apenas começado, eram raros os sedãs que passavam pelas ruas largas. Passou na frente de uma loja espelhada e pôde ver as vendedoras preparando o local, viu a própria silhueta no vidro, um rapaz magro e denutrido, tinha de concordar que precisava de mais cor na epiderme, sua brancura assustava a si mesmo. A próxima loja estava fechada…

Não. Estava aberta. Era um espaço pequeno, com uma vitrine alta e escura, impossibilitando de ver o que se passava lá dentro. Era impossível, Levi gritou com si mesmo internamente. Desde criança aquele espaço estava fechado, lacrado com ripas de madeira nas janelas e portas. As bocas da rua diziam que era uma loja de quadro que faliu devido o pouco momento. Os donos haviam viajado, e, quando voltaram, viram que o local havia virado abrigo de dependentes químicos.

Levi sentiu-se tonto. A cabeça girou em um flash de instante. Quando olhou novamente viu que estava passando pelo local lacrado e acabado pelo tempo. Onde a vitrine enorme estivera em segundo atrás estava uma enorme rachadura em uma parede velha, transbordando mofo. A porta, que de tão torta e mal ajeitada parecia não abrir mais, abriu-se. Uma menina saiu de dentro, notoriamente normal. Tinha cabelos escuros cumpridos que terminavam em pontas roxas. Os óculos jaziam no decote redondo da blusa de alças.

Ela carregava uma sacola transparente, com potes dentro. Ela olhou para Levi, desconfiada. O garoto retribuiu o olhar, e viu de perto como os olhos dela eram completamente diferentes. Totalmente púrpuras, sem parte branca alguma. Era como encarar duas ametistas de perto. Levi sentiu sua coluna congelar e as pernas fixarem-se no chão. Arfou, com a mente fervilhando.

Ela seguiu caminho, sem dar atenção alguma a ele.

Ian não soube dizer o quanto havia andado. Sabia que não estava muito longe da casa de Tália, e que seus pés haviam começado a doer e poucos minutos atrás. Depois de ver a mulher dócil com olhos de serpente, resolveu não olhar para mais ninguém na rua, evitando surpresas.

Agora, andava como um maluco, encarando o chão fixamente. Acompanhou os prédios compactos, pequenos e comerciais de Lima, o bairro comercial, se transformarem nos prédios residenciais e grandiosos do bairro que estava agora. Flores era tido para muitos moradores da cidade, o bairro mais abastecido, e Ian tinha de concordar. Andar por ali era diferente de andar em todo o resto da cidade. As ruas eram melhores confeccionadas e melhor projetadas, era totalmente o oposto de caminhar pelo subúrbio, pelas ruas tortas e becos sem saída a esmo.

Avistou a praia quando foi obrigado a virar a esquina. O calçadão estava vazio, com os coqueiros balançando junto as plantas na orla. A areia dançava ao longe, manchando a paisagem cinzenta. Os navios enfeitavam o mar, eram nebulosos e longínquos, quase desaparecendo nas brumas ao longe.

Bastou virar-se para trás que foi o suficiente para ver o prédio de onde Tália morava. O edifico de vinte andares e detalhes em mármore. Debaixo via ele seguindo aos céus, projetando uma enorme sombra. Era como os outros obeliscos que cercavam a orla da praia da cidade.

Ian tinha passe livre de entrada e saída do local, cedido pela amiga. A escadaria inicial era curta e breve, agradável de se subir e ver a construção aparecendo aos poucos. Logo estava no hall de entrada, seguindo para o elevador. Vislumbrou os tapetes caros que enfeitavam o chão de granito, eram vermelhos com entalhes em dourados, mais caros do que Ian pudesse imaginar.

O jazz clássico que o acompanhou foi breve, seguindo a curta viagem de elevador. Chegou à o apartamento, a cobertura. A porta do elevador abriu dentro da sala de estar da garota, onde Ian pensou que ela estivesse o esperando. Havia enviado uma mensagem para ela, avisando sua ida. Saiu do elevador antes que ele fechasse novamente, andou até a grande parede de vidro do outro lado do cômodo. Fitou as pessoas, minúsculas lá em baixo. A praia parecia-se com uma pintura ao longe, expressando sentimentos amenos com as ondas fracas daquele dia nublado.

— Chegou cedo hoje. — disse uma voz rouca atrás de Ian. Ele se virou em cima dos calcanhares para ver quem era, e viu um homem alto, esguio e com óculos que deixavam seus olhos pouco grandes. Os cabelos eram um emaranhado de cachos loiros caindo sobre a testa, desarrumados como sempre. Rafael estava em pé, apoiado no balcão da cozinha, com seu característico copo de café em mãos. Era o tutor legal da menina, e sempre cuidou de Tália, desde que Ian a conhecera. — Ela está no banho. Disse para eu avisar, caso você chegasse.

Ele olhou por cima dos óculos meio caídos. Seus olhos de cor verde vibrante deixavam Ian fascinado. O calor saiu do copo e embaçou as lentes riscadas dos óculos. Rafael era um historiador, e passava a maior parte de seu tempo lendo livros, Ian quase nunca o via. Reparou que a barba crescia rala na lateral da face.

— Então… — disse para Ian, tentando quebrar o silêncio constrangedor. — Como você está, rapaz?

Ian estranhou por um segundo o pronome de tratamento, então se lembrou do jeito antiquado de Rafael.

— Não muito bem. — Se dirigiu para o sofá. Sentou-se, afundando nas almofadas confortáveis. Olhou para o teto e pensou se aquele apartamento onde moravam apenas duas pessoas não era maior que sua casa inteira. — Sabe quando mundo não parece mais fazer sentido?

— Sei... — ele concordou. Soprou o café. — Sei muito. Mas diz não fazer sentido como? Há várias interpretações...

— É muito estranho falar isso. Acho que estou enlouquecendo de vez. Tudo que eu acreditei minha vida inteira parece sumir, desaparecer. Tudo que eu achei ser impossível está se tornando realidade, a minha realidade. Sei que pode ser confuso, mas venho tento alucinações, sabe?

— Sei, eu entendo perfeitamente. Eu mesmo, quando me sobrecarrego com tarefas acabo sonhando acordado. Eu chamo de stress acumulado. — Ele tomou o café, engolindo com vontade o líquido preto.

— Não, não desse jeito. Eu sei o que você quer falar, mas é pior, no meu caso. — Ian se ajeitou no sofá, ficando ereto. Olhou diretamente nos olhos cor de jade do homem. — Rafael, você crê em coisas irreais?

— Cara, e sou um astrólogo, historiador e filósofo. — Ele riu de si mesmo. — Acreditar em tudo é o que faço. Mas depende muito, que tipo de diferente você fala?

— Mulheres com olhos de cobra. — Ian deixou escapar, sem rodeios.

Rafael olhou para ele, o olhar cerrado colidiu com Ian, causando-lhe um choque. Os dedos nervosos de Ian envolveram a almofada que estava no colo. O maxilar de Rafael ficou reto, uma linha sem expressão.

— Há quanto tempo você não dorme direito? — perguntou a Ian.

As expectativas do menino de ser entendido se despedaçaram dentro do peito.

— Duas semanas. — admitiu, de cabeça baixa.

— Procure dormir… — Ele virou-se de costas. — Você realmente parece muito mal…

Rafael andou para o corredor, sumindo ao virar e entrar em um cômodo. Ian aproveitou o intervalo de tempo para olhar as medalhas de Tália, penduradas na parede ao lado da televisão. Eram de metais pesados, e tintilavam conforme o vento mandava. Agrande maioria dourada, mas algumas coloriam com prata os medalhões de ouro. Pensava no que disse a Rafael, e da fora que ele reagira. O olhar estreito que lançou, os lábios rijos de inquietude.

— Pensa rápido! — anunciou uma voz eufórica, do outro lado do local.

Uma almofada atingiu a nuca de Ian, o empurrando para frente. Virou o pescoço dolorido e viu Tália. Ela estava.. Tália. Ian ainda procurava um adjetivo para descrevê-la, e em mais de cinco anos de amizade, não achara. Tália compartilhava a mesma idade de Ian — dezessete anos. Tinha pele num tom moreno intenso. Os cabelos, recém-secos, caiam em longos cachos pelas costas. Vestia-se com um shorts e uma blusa de manga cumprida e pano fino. Na camisa, havia a imagem de uma anja queimando aos poucos.

Ian deixou para olhar por último o que achava mais bonito. O rosto. Tália tinha um nariz fino e uma boca pequena e estreita. As feições meio angulosas meio redondas eram atraentes, principalmente à luz do dia. Os olhos estavam da mesma cor que Ian sempre duvidara que fossem de verdade. Não eram castanhos, tão pouco verdes. Eram âmbar, um amarelo tão forte que outra cor não seria tão específica em descrever. Eram os únicos olhos cor de âmbar que Ian havia visto na vida, pareciam brilhar por conta própria.

Ian a olhou dos pés a cabeça, e riu com si mesmo, lembrando que á sentira uma paixão platônica por ela, na sexta série. Esse fora o motivo da aproximação repentina dele, mas os anos passaram e a amizade deles se tornou mais forte que o amor platônico de Ian, o que fez ele soterrar o sentimento.

— Você já foi melhor nisso. — ela disse.

— Com certeza. — ele anuiu.

Ela se aproximou, e Ian viu a menina que tinha quase seu tamanho. Tália literalmente não parecia-se com a campeã estadual de muay-thai que era. Ela afundou no sofá confortável, ao lado de Ian.

— Rafael me contou que você não está bem…

— E talvez eu não esteja mesmo… — disse. A mão de Tália o pousou no ombro, acolhedora. Havia uma pulseira dourada no pulso, que tintilou com o movimento — Está tudo uma bagunça, meus pais sumiram desde ontem, acho que isso está me afetando…

— Há cinco anos meu pai me deixou aqui, nesse apertamento, nessa cidade, dizendo que era melhor para mim. Ele sumiu. Claro, ele me dá dinheiro todo mês e sempre quando peço, mas isso é traumatizante também.

— Onde quer chegar com isso?

— Só quero te dizer que, ficar sem pais não é ruim, não totalmente. Certamente que temos nossos momentos de privacidade, e que eles ajudam muito, mas você vai aprender a se virar. Além do mais, seus pais apenas saíram, relaxa, eles vão voltar. Não é como se eles estivessem mortos ou coisa do tipo.

Ian se reclinou para frente, olhando amistosamente para ela.

— Preciso me distrair, espairecer a mente.

— Você não é o único. — ela respondeu. Levantou-se e pegou algo em cima da mesa de centro. Eram dois papéis finos e coloridos. — Consegui isso ontem. — Mostrou a ele os ingressos coloridos, com letras garrafais formando as palavras OS DELTAS. — Sei que não é lá essas coisas, mas é uma boa distração. Topa?

Ian sorriu e admirou o dom de Tália, de saber do que ele precisava, quando ele precisava.

Levi sempre ficava sem graça ao tocar a campainha da casa de Alex.

Era raro o fazer, geralmente o amigo já estava na porta esperando-lhe, ou se encontravam na rua. Ficava sem graça por causa da mãe de Alex, que, iconicamente, havia inventado o apelido de “cara de suicida” para Levi.

A casa de Alex era como as outras da rua de casinhas projetadas. Muros vermelhos, jardim com plantas maltratadas na parte da frente, um portão enferrujado que rangia conforme a brisa e uma campainha defeituosa que funcionava apenas se a apertasse com força.

Logo saiu uma mulher de dentro da casa. Era baixa e sorridente. Os cabelos escuros caiam em uma trança grossa pelas costas. O tom de pele de dona Mônica era idêntico ao do filho, um castanho brilhante bonito, que Levi invejava, queria ter um terço daquela cor. As sardas embaixo dos olhos eram granuladas e distantes.

— Levi. — ela anunciou, como se ele não soubesse quem ele mesmo era. O vestido floral que vestia balançou. — Alex me avisou que você vinha…

Ela não abriu espaços para cumprimentos, virou-se de costas e berrou o nome do filho. Alex apareceu quando a mãe entrou. Ele vestia roupas despojadas que sobravam no corpo fino. A manga da blusa sobrava e cobria alguns dedos. Os olhos eram escuros como carvão, mas pareciam brilhar mais do que os de Levi. O cabelo era um grande emaranhado de fios confusos e cacheados.

Ele afagou o cabelo em um gesto característico.

— Preciso conversar com você. — Levi disparou, em seguida lembrou-se que não havia nem ao menos o cumprimentado.

— Bom dia para você também. — Alex rebateu. Abriu o portão de forma preguiçosa. As flores voavam com o vento forte que logo se transformaria em uma enxurrada que tomaria conta da cidade.

Alex apontou com o queixo para Levi entrar, ele o fez.

A casa de Alex não era muito diferente das outras do bairro, um sobrado com cômodos embaixo e quartos na parde superior. Levi estranhava o toque feminino excessivo que havia ali, mas lembrou-se que a mãe de Alex era divorciada. AS flores dos vasos dos móveis pareciam nunca morrerem, as roas em um escarlate lustroso.

Por fim, chegaram ao quarto do Alex. O cômodo quadrado e confortável, com a cama revirada devido a preguiça extrema do menino em arrumar. Algumas roupas vazavam do guarda-roupas. O notebook estava jogado em cima do travesseiro, projetando uma luz fraca contra a colcha de estrelas de Alex. A janela entreaberta deixava o local escuro, com apenas um fio de luz que entrava e deixava a nuvem de poeira visível, ela se movimentava lentamente, indo de um lado para o outro, partículas se desfazendo no ar.

Alex se jogou na cama. Levi se limitou a sentar-se na cadeira na escrivaninha. Correu o olhar pelos papéis esparramados ali. Folhas com desenhos, um mais bonito que o outro.

— O que aconteceu de tão grave? — Alex perguntou, direto. Se ajeitou de forma que a cabeça ficou sendo sustentada pelo cotovelo. Os olhos negros abertos, revelando a curiosidade.

Levi voltou-se para Alex, deixando os desenhos de lado.

— O quê?

— Não se faça de desentendido. — Alex disse. — Você nunca vem aqui. Sempre tenho que ir até você. Deve ter acontecido algo de muito ruim para você sair de casa.

— Não é isso. — Levi protestou. Alex arqueou uma de suas sobrancelhas do outro lado do cômodo, Levi desistiu nesse instante. Suspirou fundo, começou: — Meus pais sumiram e tudo está estranho na minha vida.

— Ok, até aí tudo bem, tirando o fato de sua mãe ser superprotetora, ela não deveria sumir. — Alex virou os olhos para cima, pensante ao encarar o teto, colocou os lábios para o lado.

Os dedos de Levi desceram até um desenho,e foram leves ao o pegar. Na folha estava a imagem da princesa Leia, segurando uma pistola apontada para baixo. Seus traços eram finos e bem-feitos, tudo perfeitamente detalhado.

— Ou! — Alex chamou-o a atenção. — Deixe a minha Leia aí! — Ele jogou uma almofada em Levi, que deixou o desenho na mesa em seguida. — Continuando. Oque você quer dizer com estranho?

Levi pensou no que dizer, talvez se falasse demais Alex o acharia um lunático.

— Eu venho sonhando com uma coisa que aconteceu comigo, há anos…

Levi começou a ditar a história de quando quase fora queimado vivo, junto com os outros meninos. Contou os detalhes de como o cano viera a explodir, de como as mortes foram traumatizantes. A expressão de Alex foi apenas piorando, deixando a boca escancarada e os olhos arregalados. Era a primeira vez que contava aquilo a ele, havia prometido a si mesmo o manter longe de seu passado estranho e de suas loucuras sem fundamento.

Quando acabou, Alex arfou de uma vez o ar que prendeu desde o começo da história.

— Meu Deus. — disparou. Seus olhos grandes levavam a Levi vontade de rir, mas o momento não era oportuno. Sentiu-se menino diante de tudo, queria sumir. — Você é como…

— Sem comparações com super-heróis, por favor. Eu só estou te falando isso porque confio em você. Acha que isso pode simbolizar algo de ruim para mim…

— Meu povo diz que sonhos ruins sobre memórias piores são apenas casos não resolvidos… — Levi se lembrou que Alex era cigano, ou metade. A mãe de Alex era uma cigana, mas se casou com um homem ordinário, e nunca ensinou os costumes e tradições para Alex. Diziam boatos na escola que Alex e sua família eram uma espécie de bruxos, mas nada que Levi desse ouvidos. Acha tudo uma grande bobagem. Alex era seu melhor amigo, e a única pessoa que tinha paciência com ele. — Talvez você só não esteja em paz com você mesmo.

— Talvez. — Levi lamentou, virando o rosto para o lado. Os cabelos caíram sobre a face, tingindo a visão por um tempo.

— Vamos lá, você precisa espairecer. Respirar novos ares. — Alex se levantou da cama com um salto que deixou Levi com inveja, certamente não faria aquilo em situação alguma em sua vida. Pescou algo no bolso, tirou dois cupons escuros. — Vamos. — Entregou um para Levi, que pegou, relutante.

Levi demorou para decifrar o que estava escrito no cupom pequeno de letras atrofiadas.

— Show de Magica de Fantastíc… — Leu as palavras em voz alta. Levantou o olhar para Alex, sorrindo — Sério mesmo?

— Meu pai é produtor do cara. — Explicou. — Sei que não é algo muito bom, mas é uma distração.

Levi assentiu, concordando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

- O que acharam?
— A história vai começar a deslanchar a partir daí, espero que estejam gostando



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cidade Zero-Hora" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.