Sabe aquela dor que parece invadir todo o seu ser e te pressionar a cada segundo que se passa? Pois é, estou mais ou menos assim há horas. Sinto meus olhos arderem e minha garganta apertar quando lembro da fragilidade de Renesmee em meus braços lá na estufa, no dia em que a pedi em casamento. Posso afirmar que aqueles momentos foram os mais felizes da minha vida, naquele instante era bom sentir sua pele macia e seus gestos frágeis porque eu estava ali para protegê-la de qualquer coisa, mesmo que não estivéssemos em perigo. Ela era minha e tinha prazer em estar comigo e ser minha garota, minha noiva e em breve minha mulher. Agora, fraca pela falta de vitaminas, Nessie está ainda mais frágil e dependente de mim. E eu estou aqui, cercado de “sangue sugas” que apesar de sofrerem com o desaparecimento de Renesmee, se contentam em ficar estáticos nessa sala.

– Cachorro imbecil! – O punho de Edward veio pra cima de mim e foi contido no ar por Emmentt.

– Se não ficasse vasculhando a minha cabeça não se irritaria. – Falei quase num sussurro.

– Você pensa que não estamos preocupados? Ela é minha filha idiota! Eu a amo mais que tudo nessa vida e se tem alguém que não se importa com ela aqui, esse alguém é você! Não esqueça que se a mão dela está enfaixada é resultado das decepções que ela teve com você.

As palavras de Edward me atingiram como agulhas. Desmentir não era uma opção; afinal, o que falava não nenhuma mentira.

– Já chega! – Disse Bella, exaltada. - Flora se aproxima, vamos dizer a ela que estamos todos dispostos a lutar. Temos que trazer Renesmee de volta.

– Ainda não consigo entender como eles conseguiram entrar em nossa casa sem que percebêssemos. – Disse Rose.

Olhei de soslaio para Edward e esse pareceu estremecer. Edward se culpava pelo sequestro de Renesmee. Pois a presença de um estranho nunca passaria despercebida pelo seu campo mental.

Alice viu Nessie ao lado da rainha Florence em sua visão. Porém, Nessie estava deitada e visivelmente fraca. Diva, a rainha, parecia velar seu sono. Nessie e Diva estavam prisioneiras em Volterra. Mas como? Como conseguiram levar Renesmee de dentro da sua própria casa?

– Flora está chegando... – Anunciou Jasper.

Em alguns segundos as três fadas posicionaram-se em nossa frente, elas voaram pela janela e projetaram-se no tamanho normal quando se aproximaram.

– Olá. Parecem abalados, aconteceu alguma coisa? Onde está Mari? – A princesa indagou já se desesperando.

– Acalme-se princesa. Mari está na cozinha lanchando com minha esposa. – Disse Calisle. – Nosso problema é outro.

– Digam. Se pudermos ajudar...

– Renesmee foi sequestrada. Minha filha foi levada pelos mesmos inimigos que levaram sua rainha... – Disse Bella com a voz embargada.

As fadas ficaram boquiabertas e pareciam compartilhar de nossa mesma agonia.

– Sentimos muito. – Disse uma delas, sem ser a líder.

– Faremos o possível para trazê-la conosco quando atacarmos Volterra.

Emmentt riu baixo e disse:

– Vocês não vão sozinhas fadinhas. Vamos com vocês resgatar sua rainha e nossa Renesmee.

A loira, Rose, sorriu orgulhosamente para o parceiro e apertou a sua mão.

– É isso mesmo – Confirmou. – Vamos todos! Aro se arrependerá de ter sido tão petulante.

– Como sabem que foi a sua realeza quem levou Renesmee? – Perguntou a princesa.

– Eu vi Nessie e Diva juntas dentro de uma cela – Esclareceu Alice.

A princesa sentiu-se um tanto abalada. Acredito que estar longe de sua mãe e saber que a mesma se encontra num lugar tão hostil foi um verdadeiro choque para suas emoções.

– Quero lembrar que os laços que nos unem como família são fortes. Porém, essa decisão pode culminar num futuro incerto para todos nós e se alguém não quiser juntar-se a nós, entenderemos perfeitamente. – Murmurou Edward olhando para todos.

– Nós vamos... – Disse Emmentt – Por Nessie! – Completou Rose.

– Por Nessie... – Alice se prontificou olhando para Jasper.

– Por Nessie... – Respondeu ele beijando o alto de sua testa.

– Por Nessie e pela mamãe. – Ecoou a voz de Mari aproximando-se da sala.

– Mari... – Flora deu passos largos para abraçar a irmã.

Depois de se cumprimentarem com um forte abraço, a mais velha questionou:

– O que quer dizer com “Por Nessie e mamãe” querida?

A pequena pediu que a irmã se inclinasse para que pudesse lhe falar algo. A princesa ajoelhou-se no chão, fitando seu olhar com o de Mari.

– Flora... – Começou a criança – Eu sei de tudo que está acontecendo.

– Mas, como? – Indagou a princesa encarando todos da família de forma repreensiva.

– Não procure culpados, a família Cullen é muito legal. Eu sei por que os ventos me falam irmãzinha, eu consigo conversar com o ar, a natureza não me esconde as coisas.

Flora parecia confusa.

– Amiga, parece que os dons de sua irmã estão desabrochando... – Uma das fadas explicou, admirada.

A princesa tranquilizou-se e ficou surpresa.

– O que os ventos lhe disseram?

– Enquanto eu dormia, chorei lembrando de mamãe e o meu maior desejo era ouvir a sua voz. Saber onde ela estava e se estava bem. Então, ouvi um sussurro... era ela, mamãe estava cantando. Cantando a mesma música que sempre cantou pra eu dormir. – As lágrimas rolavam no rosto da pequena. – Além disso, o vento soprou em meus ouvidos o que vocês falavam, ouvi quando você ficou chateada com o Sr. Calisle porque ele parecia não querer falar do homem mau que mora longe e que está com a mamãe.

– Que poder estranho Mari. – Die, uma das fadas, comentou.

– Die!!! – Disse Flora num teor repreensivo.

– Irmã – a pequena continuou – eu quero ir. Quero ir com vocês resgatar a mamãe, perguntei ao vento se ele pode nos ajudar e ele disse que sim.

Todos se entreolharam e ninguém sabia muito bem o que fazer. A atitude da criança estava sendo digna de uma internação psiquiátrica, ela não falava coisa com coisa.

– Meu bem... – Começou Flora, acariciando os cachos da menor – Você não pode ir. Não é seguro, sua Madrinha chegou junto com os soldados de Florença e ficará com você. Florzinha, você pode ser o futuro de nosso povo, não posso permitir que vá com a gente. Você é a esperança dos Florences Mari.

– Não. Eu irei sim, eu sinto que preciso ver a mamãe. E agora Nessie também está em perigo, os ventos vão me ajudar quando estivermos lá.

– Mari, não insista. Você fica!

– Flora, não ficarei aqui, vou por mamãe e por Nessie.

– Querida, você é apenas uma criança...

– Irmã, se não deixar que eu vá com você e se vocês falharem nunca assumirei o seu lugar. – Mari fechou o semblante. - Não conseguirei governar um povo sabendo que o sangue de tantos foi derramado sem que eu pudesse ajudar.

Todos ficaram boquiabertos com a atitude da garota. Ela parecia realmente decidida e um tanto teimosa.

– Mari, como é que você poderia ajudar? – A princesa se exaltou – Você é apenas uma criança e não pode fazer absolutamente nada!

Mari mordeu o lábio inferior e se afastou vagarosamente da irmã. Em seguida, correu pelas escadas rumo ao quarto.

– Mari, espere... – Flora fez menção de acompanhar a irmã. Mas foi contida pela fada mais retraída que disse:

– Deixe ela sozinha um pouco. Com certeza não irá querer ver ninguém agora.

– Deixe a menina ir conosco princesa. – Disse Emmentt.

– Estás louco? Mari é só uma criança. Não tem condições de guerrear.

– Talvez a guerra não seja necessária. Temos que saber o que Aro pretende. – Disse Calisle.

– Eu digo para deixar a criança ir porque se perdermos, Aro não se contentará em deixar seu povo em paz. Com certeza irá extingui-lo. O que não seria nada difícil sem a presença da Rainha e da Princesa. – Explicou Emmentt.

Flora levou as mãos à boca após arfar de horror, seus olhos marejaram e logo começou a chorar inconsolavelmente. No impulso, caminhei até a fada e a aproximação fez com que ela aceitasse meu abraço, a princesa apoio seu rosto em meu ombro nu e senti algumas lagrimas molharem a região, seu cheiro de flores era inebriante e seu sofrimento evidente.

– Nós vamos trazê-las de volta. – Falei próximo ao seu ouvido e lembrando-me de Nessie.

Depois de alguns minutos, a princesa se recompôs e sussurrou um tímido “obrigada”, seguido de um sorriso forçado. Em seguida, voltou para junto das outras fadas.

– Mari vai conosco para Volterra – Ela anunciou receosa – E partiremos em dois dias, preparem-se e torçam para que não seja tarde demais. Nós e nosso exercito iremos pela floresta, vocês usarão o recurso que costumam utilizar. Precisamos estar todos lá, eu agradeço o apoio nesse guerra, apesar de eu estar ciente que se não fosse pelo sequestro de uma de vocês, não iriam conosco. - A família Cullen pareceu envergonhada nesse momento, exceto Calisle – Porém, também entendo essa atitude porque sempre procuramos proteger aqueles que amamos e não faria sentido nenhum colocarem suas cabeças em risco indo conosco, a princípio. Não levarei Mari comigo agora porque tenho de decidir muitas coisas com o meu povo e ela não se sentirá muito bem diante de tanta apreensão. Então eu peço, vigiem e cuidem de minha irmã, não voltaremos mais aqui. Encontraremo-nos em Volterra para o grande resgate.

Todos da família assentiram e assim como entraram pela janela, vimos as fadas partirem. Na casa agora restou a esperança, todos os casais se abraçaram numa mistura de medo e companheirismo. Seth compartilhava a angustia de Jasper e Alice e apesar do abraço do casal, não soltou a mão de Alice nenhum minuto.

Subi as escadas para ver a criança, no quarto de hospedes ouvi seu choro quase silencioso. Entrei no quarto sem muito barulho já que a porta estava entreaberta.

– Oi Jacob. – Disse ela enxugando o rosto com as palmas das mãos.

– Olá, ainda está triste? – Indaguei, sentando-me à beira da cama.

– Sim.

– Bom, não precisa mais ficar assim. Sua irmã disse que você vai com a gente resgatar sua mãe e Nessie.

– Eu sei, os ventos já haviam me dito.

Franzi o cenho, confuso. A pequena acredita mesmo que o vento fala com ela...

– Estou triste lobinho, tenho saudades da mamãe e agora de Nessie. – Disse desatando-se a chorar.

Aproximei-me da pequena, encostando-me na cabeceira e amparei a criança em meus braços.

– Você e Nessie são muito amigas não é mesmo? – Tentei conter o embargo em minha voz e distrair Mari.

– Sim. Ela é muito legal e tão carinhosa. Ia adorar que fosse minha irmã... E ela te ama tanto Jake, não entendo porque vocês brigam tanto.

– Porque eu não a mereço pequena. Como você mesma disse ela é muito legal.

– Você também é lobinho. Nessie sempre falava o quanto você era um homem bom e como seria lindo o casamento de vocês.

– Falava? – Afastei-me um pouco, surpreso.

– Sim. E eu gostava muito de ouvir. Nessie tinha planos lindos e sei que vocês se amam, não podem ficar brigados. Apesar de ela não me falar, sei que não estão bem.

– Você é muito esperta sabia? – Falei sentindo meus olhos arderem um pouco, a culpa me corroía por dentro como o mais poderoso ácido poderia corroer a matéria. Renesmee sempre me amou de verdade e agora fui eu o precipitado. Preciso trazê-la de volta, nem que seja ao menos para pedir seu perdão. Feri os seus sentimentos, a sua pureza e coloquei em duvida o seu caráter. Não sou digno desse amor.

– Oi... – Bella adentrou o quarto.

– Mari, os outros sairão para caçar daqui a pouco. Não quer ir com eles querida? Precisa saciar sua sede...

A pequena relutou um pouco, mas afastou-se de mim e dirigiu-se à sala para ser guiada em uma caçada.

– Jake... preciso falar com você. – Disse Bella, segurando-me pelo braço, quando fiz menção de sair do cômodo.