Nightmare Daughter escrita por LoKs22


Capítulo 1
De Garotinha Sonhadora


Notas iniciais do capítulo

Yoo leitores espero que gostem do que estão prestes a ler. Lembrem de comentar ou favorita se gostaram muito mesmo.

Essa história, como dito antes, era para ser uma One-Shot bem grande, mas minha amiga teve uma ideia melhor e decidi dividi-la em duas partes. Agradeço sinceramente para a Bella Black por ser essa amiga que me deu bastante apoio enquanto escrevia essa One... Digo, Dual-Shot.

Agora vamos para a história.



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Ok, por onde começar? Talvez pelo meu nascimento, que não foi muito normal, mas o que é normal hoje em dia? Uma vez minha mãe teve um sonho muito estranho, ela nunca me falou dos detalhes, entretanto conhecendo meu pai hoje deve ter sido algo realmente bizarro. A única coisa que sei é que o meu pai atravessou a barreira dos sonhos e colocou um pedacinho dele dentro da minha mãe, se é que você me entende. Dias depois minha mãe descobriu que estava gravida. Graças a ajuda de amigos e família ela não teve problemas em criar um lar para mim. Embora meu nascimento seja um mistério na época, todos achavam que ela foi drogada e estuprada no meio da noite, mas não havia nenhum sinal físico disso, ou seja, eu simplesmente *poof* na barriga dela. Ninguém imaginava a verdade sombria por trás disso.

Depois do meu nascimento as coisas ficaram mais tranquilas, eu não tinha nenhum tipo de defeito. Com o tempo comecei a parecer muito com a minha própria mãe quando jovem, cabelos curtos, completamente pretos, uma pele bem branca, eu tinha um gosto estranho pela cor vermelha, então todas as minhas roupas eram diferentes, porém, o vermelho era a cor principal em todas. Pelo que eu me lembre minha mãe usava bastante a cor azul, que aliás era a cor dos meus olhos. Ao longo do tempo que eu crescia as pessoas esqueciam completamente do meu estranho nascimento e eu me tornei uma humana normal. Pelo menos até meus 8 anos de idade.

Foi nessa época que eu comecei a ter estranhos son.. Digo, pesadelos, mas não eram meus pesadelos, se fossem seriam bem mais engraçados de lembrar, eram de outras pessoas. Uma delas era do velho da casa em frente à minha, Sr. Johnson. No começo era tudo um sonho incrível com dinheiro, juventude, mulheres e poder. Porém, pouco depois que eu entrei no sonho dele, aquilo virou um pesadelo. Era muito ruim, primeiro a velhice voltou, em segundo ele perdeu todo o dinheiro e mulheres, em terceiro apareceu homens que espancaram o velho dizendo que ele os devia dinheiro. E foi assim até um deles pegar uma arma e atirar no velho. Após isso eu acordei.

Era assim todas as noites, sempre uma pessoa diferente, começando como um sonho e se tornava um pesadelo. Na verdade, havia vezes que começava como um pesadelo, que ficava pior quando eu aparecia.

Essas pessoas não conseguiam se lembrar totalmente do pesadelo, só partes do final, isso era até normal. Anormal era eu me lembrar de todos os pesadelos que eu invadi, em cada detalhe, do início ao fim e não me conseguir me lembrar duma única vez de um sonho ou até pesadelo que fosse meu, isso era desconfortável.

Mas havia uma coisa boa, que não parecia tão bom. Eu me sentia bem com o pesadelo, não que eu gostasse, mas me sentia.... Satisfeita, como se tivesse comido o doce mais delicioso do mundo 10 vezes seguidas. Hmmmm isso é muito bom.... Quer dizer.... Agora. Na época era muito estranho, eu ficava um pouco nervosa e às vezes até com medo de me sentir tão bem assim. Achava que era errado me sentir bem por ver os terríveis pesadelos das pessoas, por isso que evitava essa sensação de satisfação, como eu era bobinha por fazer isso.

Chegamos à parte onde eu vou desacelerar dos eventos e contar mais detalhes das coisas para não se perder. Alguma pergunta? Não? Melhor assim.

Era sexta de manhã, minha mãe estava na cozinha, eu finalmente decidi falar para ela sobre meus sonhos estranhos. Ela estava lavando algumas louças, eu observava de leve enquanto ela lavava e cantarolava uma música. Eu achava que ela nem tinha me visto entrar.

— Oi mãe – eu disse, com um pouco de remorso.

— Oi filha – Disse ela, sorrindo. – Algum problema?

— Sim, eu acho que já estava na hora de te contar sobre...

— Sobre por que você estava estranha esses dias? – Perguntou ela, me interrompendo.

— Era muito obvio?

— Não, mas eu sou sua mãe, eu sei quando você está com problemas. Só estava esperando a hora em que você ia me contar.

Eu dei uma risadinha boba e continuei.

— Você é incrível mãe.

— Obrigada, filha. Agora vai me contar sobre o seu problema? Espero que não seja sobre garotos.

— O que?! –Eu gritei – Não, não, não. Na verdade, é sobre esses sonhos estranhos que eu estou tendo.

— Que tipo de sonhos? – Disse ela ficando um pouco nervosa e virando o olhar

— Bem, começam como sonhos, mas com o passar do tempo, o sonho fica pior, até virar um completo pesadelo.

— Estranho – Disse ela, enquanto me olhava preocupada – Esses sonhos eram todos iguais?

— Não, mãe. – Disse com cautela e me aproximando dela. – Tem mais. Os sonhos não eram meus.

— Como assim, filha?

— Eram de outras pessoas, nossos vizinhos, pessoas da cidade que eu nunca conheci e até animais.

— Tem certeza que não está imaginando tudo isso? – Disse ela, ficando mais rigorosa.

— Eu achei no começo, mas todo dia era a mesma coisa e ….

Comecei a falar sobre todos os sonhos que eu tive, que viravam pesadelos no final, e como eu me sentia bem sem querer vendo aquilo.

— Espera. – Disse a minha mãe. – Você se sente bem vendo isso.

— Não. –Respondi com vergonha- Só que eu não consigo evitar uma parte de mim se sentir satisfeita com aquilo que eu via, mas eu juro que não gostava dessas coisas.

— Está bem. Eu acredito em você, mas para resolver isso terei que chamar especialistas no sobrenatural.

— Por favor, não chama a Tia Jessie.

— Não, ela não. Vou chamar os Caçadores, eles são especialistas em coisas obscuras e que envolvem o sobrenatural, são mais conhecidos por enfrentar monstros malvados e manter nosso povo seguro contra eles. Caçadores é só um título, eles fazem outros trabalhos também.

— Você acha que eles podem me ajudar?

— Não sei, mas temos que tentar.

— Não acha isso um pouco exagerado?

— Olha, eu não procurei ninguém na última vez que tive um sonho estranho e algo muito muito bizarro aconteceu. Eu não vou arriscar com você, entendeu?

— Sim, mãe.

Ela segurou as minhas mãos e olhou nos meus olhos.

— Quero que você não conte isso para mais ninguém, me ouviu?

— Sim, mãe, eu prometo.

— Os Caçadores provavelmente só virão aqui amanhã, são pessoas ocupadas, mas vou tentar mandar uma carta para eles hoje. Até lá não comente isso com ninguém.

— Entendi isso na primeira vez mãe, prometo não falar sobre isso para mais ninguém.

— Obrigada por entender, filha.

Depois disso eu comecei o meu dia normalmente, não vou comentar como era porque não é relevante para a história. Mas durante esse tempo eu comecei a pensar em algo sobre o que minha mãe havia falado, algo diferente do meu problema. Ela havia mencionado sobre monstros que os caçadores err.... Caçavam, por algum motivo isso soou estranho, mas continuando. Eu nunca havia ouvido falar sobre esses tais monstros, provavelmente porque eu era nova demais para saber, entretanto eu não quis perguntar muito sobre, estava mais preocupada com o meu problema do que com a minha curiosidade.

Durante o jantar minha mãe me falou que dois membros dos Caçadores iam passar em casa e me levar até uma base deles fora da cidade.

— Mas por quanto tempo eu vou ficar lá? – Eu perguntei, depois de ter terminado o jantar.

— Eu vou discutir isso com os caçadores quando eles chegarem – Respondeu – Só espero que não demore muito, não aguentaria ficar sem você por muito tempo.

— Obrigada mãe, eu te amo também.

Ela foi até a cozinha lavar os pratos, eu a segui, querendo perguntar mais sobre os tais monstros.

— Mãe. Quero te perguntar outra coisa.

— O que seria filha?

— Queria te perguntar sobre os monstros dos qual você tinha dito que os caçadores nos protegiam.

Ela suspirou fundo e disse.

— Eu pensei que você não havia notado aquilo. – Ela respondeu.

— Só vamos dizer que esses monstros, ou bestas como preferir, são criaturas malvadas e horrendas. Eu queria poder dizer mais, só que eu não acho adequado falar sobre isso com você nessa idade, mas quando você for um pouco mais velha pode ter certeza que eu te conto tudo que sei.

— Está bem mamãe.

Eu entendia que minha mãe queria me proteger de saber algo perturbador, mas eu queria saber. Por que eles eram considerados malvados? Como eles eram? E por que eles eram tão perigosos a ponto de ter uma organização inteira focada em caça-los?

Essa curiosidade se foi, temporariamente, quando comecei a ficar com sono. Eu arrumei tudo que tinha que fazer, vesti o meu pijama favorito, que era branco e com corações vermelhos desenhados, e fui dormir.

Naquela noite eu entrei no sonho de um padre, ele era de uma igreja perto da rua onde eu morava, mas sua casa ficava bem mais longe. No sonho ele estava convidando uma garota de rua para sua casa tomar um chá, no meio da conversa entre eles. A garota simplesmente trava, como se o tempo estivesse parado, porém, o padre ainda se movia. Então uma criança com a garganta cortada, cabelo curto e castanho, olhos totalmente pretos, sua pele pálida parecia que estava com frio, vestindo um longo vestido branco com manchas de sangue espalhado apareceu atrás do padre.

— Olá pai – Disse a garotinha da garganta cortada.

Me-me-Melany?! –Disse o padre assustado.

— Então essa é sua nova peça para a coleção. – Garotinha dá uma risadinha assustadora – É ela quem você acha que pode me substituir?

— O que? Como? Quer dizer...

— Ou talvez você nem se importe mais comigo, talvez você queira substituir as outras peças.

Ao redor dele começou a aparecer um monte de garotinhas, aparentemente da mesma idade. Elas eram bastante diferentes entre si, uma era loira, outra ruiva, outra morena, entre outros. Elas também tinham vários ferimentos fatais envolvendo cortes, no peito, na cabeça, nas costas, etc. Quando as garotas apareceram o cenário envolta mudou, parecia que havia virado um porão escuro sem nada além deles e a garota normal também havia sumido.

— Não, quer dizer, elas jamais poderiam te substituir amorzinho. – Disse o padre com um sorriso falso estampado na cara.

— Então quer dizer que você as maltratou, estuprou e as matou só porque você gostava disso?

Eu não tinha entendido o que ela quis dizer naquele momento, antes que me pergunte, só entendi que ele fez algo muito mal para aquelas garotas. Nossa como eu era ingênua. Continuando: O padre entrou em desespero, se encolheu no chão e começou a chorar. Dava para escutar ele sussurrando “me desculpe” bem baixinho.

— Que tal você experimentar o que fez com a gente? – Disse Melany com uma faca de cozinha se formando em sua mão. A mesma faca pareceu nas outras garotas em seguida.

— Não, não, nãooooooo! – Gritou o padre, enquanto todas as garotas o cortavam, lentamente, seu corpo ficava imóvel de tanto medo e seu sangue começava a cobrir todo o seu corpo.

— Boa noite, papai – Disse a garota.

No final ela furou olho dele e eu acordei.

Por que eu contei esse sonho? Foi porque essa foi a primeira vez que eu vi a realidade por trás do pesadelo. Aquelas meninas realmente estavam mortas, elas realmente foram mutiladas, estupradas e mortas pelo padre do meu bairro, incluindo a própria filha dele. Nos outros sonhos eram apenas realidades falsas que pioravam conforme eu ficava lá. Isso me mostrou que certas pessoas possuem algo escondido que é além dos seus desejos não conquistados.

Voltando a história principal. Depois que eu acordei fiz as minhas tarefas normalmente, trocando de roupa, para um vestido simples e longo, todo vermelho e sem nenhum detalhe a mais, além de estar usando as minhas sandálias brancas. Quando era cerca de 10 horas da manhã alguém bateu na porta e eu atendi. Abrindo a porta parcialmente.

Quando abri eu vi duas pessoas, um tipo de padre (não o do meu sonho) com um roupão branco com certos detalhes em azul escuro, um chapéu de clérigo com uma cruz dourada no meio, uma simples sandália de couro. Ele era velho, um pouco gordo e tinha um sorriso bastante confiante.

O outro era o oposto, magro, um pouco mais jovem, com uma barbinha malfeita, usando um sobretudo preto, uma calça cinza simples, sapatos de couro preto e eu podia jurar que ele tinha um tipo de arma guardada por dentro do sobretudo.

É tão bom lembrar deles, também é engraçado, eu sentia que havia algo de estranho neles, algo que, sem saber, ia criar meu ódio mortal pelos caçadores.

— Com licença, essa é a casa de Alice Cornelia? – Perguntou o padre.

— Sim, essa é a minha mãe. – Respondi.

— Então você é Juliet Cornelia? – Disse o de sobretudo com uma cara assustadora.

— Ehhh... Sim. Quem são vocês?

— Eu sou Padre Baldric e esse de preto é meu companheiro Sir Gerald. Somos caçadores, mas hoje estamos aqui como investigadores.

Eu me acalmei um pouco, respirei fundo e abri o resto da porta.

— Queremos conversar com sua mãe, ela está?

— Sim, na cozinha.

Eu a chamei, ela permitiu que os dois entrassem, depois ela disse para eu esperar no meu quarto. Eu fingi que ia, porém, fiquei curiosa e me escondi perto da porta da sala, no corredor e escutei a conversa deles.

— Há quanto tempo ela tem esses sonhos. – Perguntou Baldric.

— Há algumas semanas, pelo o que ela disse. – Ela respondeu.

— E o que exatamente acontece neles?

Minha mãe falou exatamente o que eu disse quando eu conversei com ela, sobre o começo, meio e fim dos sonhos. Falou até da minha sensação estranha de satisfeita depois dos sonhos virarem pesadelos.

— Ela se sentia bem com isso? – Perguntou Gerald com uma cara de desconfiado.

—Não é bem isso. – Ela respondeu – Era como se ela tivesse comido algo durante o sonho e no final dele ela se sentia satisfeita. Não sei como explicar de outra forma.

— Entendi. – Disse Baldric.

— Eu acho que sabemos o que está acontecendo com a sua filha.

— Jura?! – Disse ela espantada e ao mesmo tempo aliviada.

— Mas preciso ter certeza de uma coisa. Você ficou gravida quando teve um sonho do qual mal se lembra, certo?

— Sim, foi mais ou menos nessa época que descobri que estava gravida dela, todos acham que colocaram algo em mim e me usaram enquanto dormia, é que eu me lembro de ter visto um homem no sonho. Por quê?

— Achamos que você a teve não durante, mas sim no próprio sonho, entende?

— Como assim?

— Achamos, quer dizer, temos certeza de que o homem na verdade é uma besta conhecida como Bakhtak.

— Ba–o que?

— Bakhtak, vem do idioma persa, significa pesadelo. Eles originalmente só se alimentavam dos pesadelos das pessoas estando no mesmo lugar que a pessoa que está dormindo, mas recentemente seu poder tem aumentando e começaram a fazer mais que isso. Eles conseguiram invadir os sonhos e entrar neles, antes eles só causavam o pesadelo e não participavam dele. Eles também conseguiram se transformar dentro desses sonhos e interagir com a pessoa que dormia. Eles até cresceram de tamanho, antes eles tinham o tamanho de anõezinhos, agora tivemos relatos de alguns com até 2 metros de altura e, como se já não fosse o bastante, alguns deles conseguem falar a nossa língua ou mais.

— Como eles ficaram mais inteligentes?

— Ninguém sabe ao certo. Porém, depois disso, eles se tornaram ameaças para o povo e durante duas décadas tentamos exterminar até o último deles. Quase conseguimos só que um fugiu.

— Você está querendo dizer que minha filhinha é meio-humana meio...

— Bakhtak. Sim, é exatamente o que queremos dizer. – Disse Gerald.

— Mas como esses tais Bakhtaks conseguem fazer tal coisa?

— Eles possuem magia negra dentro de suas almas. Magia que antes não era controlada totalmente por eles. Agora eles, quer dizer, ele pode fazer coisas impensáveis dentro dos sonhos das pessoas.

— Minha filha conseguiria fazer isso?

— Nessa idade e com esse pouco momento de experiência com o poder, não, mas temos que perguntar a ela para ter certeza. Entretanto se ela tiver mais experiência ela pode fazer o que quiser com os sonhos.

— Inclusive impedir que vire pesadelos no final?

— Não sabemos, nunca tivemos um relato cujo final foi diferente de um pesadelo.

— O que vocês podem fazer por ela?

— Tentaremos fazer alguns testes na nossa base da floresta, lá é seguro e não iremos fazer nada perigoso ou doloroso com ela, eu garanto. Aviso pode demorar alguns dias até que ela volte.

— Entendo, vamos falar com....

No momento que ela começou essa frase eu voltei para o meu quarto e esperei sentada na minha cama. Eu escutei os passos deles e bateram na porta levemente.

— Filha, sou eu e os caçadores. – Disse ela.

— Podem entrar. – Respondi disfarçando o cansaço que estava de correr até o meu quarto.

Os três entram tranquilamente no meu quarto, minha cama ficava virada para a porta e era encostada na parede, com uma janela na mesma parede por cima da minha cama, uma cadeira a direita perto da minha estante de bonecas e uma mesa com meu kit de costura por cima. A parede era branca e com desenhos de flores vermelhas e uma bolinha amarela no meio delas. O armário, a estante, o cobertor da cama, a cadeira e a mesa. Todos eram vermelhos ou haviam detalhes dessa cor.

O Gerald se apoiou do lado da porta, minha mãe sentou do meu lado e Baldric pegou a cadeira, puxando-a até a minha frente e senta nela. Ele olha para mim sorridente e carinhoso.

— Oi Juliet. – Disse Baldric – Que bom poder conversar com você. Espero não ser um incomodo.

— Claro que o senhor não vai ser um incomodo, só quero descobrir o que está acontecendo comigo.

— Para descobrir tenho que te fazer algumas perguntas. Posso fazer isso sabendo que não vai mentir?

— E por que eu mentiria? – O respondi com uma risadinha no final.

Eu sabia o porquê, se eles achassem que eu gostasse de tudo que estava acontecendo eles iam me fazer coisas que nem imagino ou imaginava. Eu sabia que tinha que mentir em algumas perguntas. O problema era qual delas e como?

— Sua mãe já nos explicou o que acontece nos seus sonhos, mas não soube definir muito bem o que acontece com você depois que o sonho termina. Como você se sente?

— Estranha de começo, ao mesmo tempo em que eu sinto uma sensação de satisfeita. Não dá para definir de outro jeito além desse eu acho.

— Entendi. Você teve outro sonho essa noite?

— Sim, eu ainda não o comentei com a mamãe. Esperamos vocês primeiro.

— Por favor, nos conte como foi.

— Eu não sei se devo, foi muito ruim. Principalmente para quem a pessoa que o teve.

— Se quiser que nós à ajudemos, você precisa nos dizer.

Eu respiro bem fundo, consigo uns segundos para pensar e digo.

— O sonho era de uma garotinha, eu não a conhecia. Ela sonhou que era uma princesa e que tinha um castelo só para ela, conforme ela andava por ele eu me tele transportava para o local onde ela estava. Quando ela chegou à sacada de uma torre do castelo tudo piorou, o tempo ficou nublado, a floresta em volta do muro do castelo pegou fogo e monstros começaram a invadir. Assustada ela se escondeu dentro de um armário, foi só uma questão de tempo para que a encontrassem. Os seres que a acharam tinham vários tamanhos e formas diferentes, pareciam goblins, ogros e outros tipos de monstros de histórias de fantasia medieval. Eles a espancaram, a chutavam, no final eles a jogaram da torre. Só isso

— Nossa, desculpe por ouvir isso. – Lamentou Baldric.

Ele havia caído na minha mentira, apenas com oito anos eu conseguia mentir daquele jeito, era incrível não acha? O pior é que nem foi muito complicado, foi como se essa mentira já estivesse preparada na minha língua sem eu nem perceber.

— Não se preocupe com isso. – Respondi – Mais alguma coisa?

— Sim. Por acaso você se movia ou tentou se mover durante o sonho?

— Não, nunca consegui, na verdade nunca consegui nem manter meus olhos fechados durante nenhum dos sonhos que eu entrei.

— Bem isso é algo bom, quer dizer que a magia ainda não a controla por completo.

— Pera, como assim magia?

— Achamos que seus sonhos vêm de algum tipo de restos de magia negra usadas em rituais que falharam e se acumularam na sua mente, e para recuperarem sua força eles te usam para invadir sonhos transforma-los em pesadelos. Através dos pesadelos, eles absorvem a dor e o sofrimento que a pessoa passou e a transformam em mais magia negra.

Ele estava mentindo na cara dura, minha mãe sabia e ela ainda os deixou fazer isso. Eles acharam que a verdade era demais para eu aguentar. Eu entendia o porquê, mas minha mãe odeia mentiras e odiaria que eu caísse nelas. Além do mais, magia negra não consegue fazer tal coisa sozinha, isso era obvio, aquilo não era um ser vivo, magia é poder e poder sempre é controlado por alguém. Minha experiência em contos de fantasia infantis me ensinou isso. Sempre havia um vilão controlando tudo que envolvia magia negra e essas coisas. Pelo menos era nisso que eu acreditava.

— Eu vou conversar em particular com o meu amigo em sua sala de estar, espero que não se importe.

— Não se preocupem, fique à vontade.

Eles saíram calmamente, antes de fecharem a porta, Gerald me olhou irritado, acho que ele viu que eu menti, não que isso fosse fazer muita diferença. Então eu olhei para a mamãe.

— Mamãe, porque eles mentiram? –Perguntei de forma inocente.

— Você percebeu? Era meio obvio mesmo.

— Mãe, como a magia ia simplesmente entrar em mim e me controlar por vontade própria, eu sou criança, mas não sou ingênua, pelo menos não tanto.

— É verdade, eu devia ter avisado a eles que você é fã de fantasia.

— Mas então qual é a verdade? Por favor, me conte. Eu juro que aguento.

— Eu não acho certo, eu disse que guardaria segredo disso.

— Mas eu sou sua filhinha. – Eu apelei para o beicinho e o olhar fofo. Mesmo sabendo a verdade eu queria que ela me contasse. Ela nunca manteve nenhum segredo de mim, nem do dia que me teve, embora não tenha contado em detalhes.

— Está bem, mas não vou te contar tudo. Essa coisa de invadir sonhos veio do seu pai, ele faz isso para ter exatamente o que acontece com você, ele se alimenta das coisas que acontecem nos sonhos quando viram pesadelos, assim ele fica mais forte, sendo capaz de ser uma ameaça para os caçadores.

— Se os caçadores estão atrás dele, será que ele é uma criatura?

— Não, não, de onde você teve essa ideia? –Ela parou por alguns segundos e começou a entender tudo.

— O quanto você escutou da minha conversa com os caçadores?

— Praticamente tudo.

— Então porque você queria que eu te contasse garota?

— Porque eu não gosto quando minha mãe esconde coisas importantes de mim, como o fato de eu ser meio-monstro.

— Eu queria esconder isso para o seu bem.

— Eu entendo. Mas eu acho que posso aguentar a verdade depois de tudo que eu vi.

— Ok, mas você ainda vai com os caçadores até a base deles, eles tentaram descobrir um jeito de tirar os poderes de monstro que você tem.

— Entendido, mamãe.

— E nada de mencionar nada disso com os caçadores. Eles não sabem que você sabe disso e eu garanti para eles que você ia cair no conto deles.

Quando a conversa acabou escutamos passos e os dois haviam voltado para o meu quarto.

— Então, Juliet. Eu e meu amigo Gerald decidimos que é melhor levar você até nossa base hoje e fazer alguns testes durante a tarde. Já irei avisar que vou precisar anestesiar você com uma seringa, o que pode doer um pouco. Você aguentaria?

— Por que ela precisa ser anestesiada? – Disse a minha mãe irritada. – Você não disse que o processo seria inofensivo.

— Sim, mas é capaz da magia dela rejeitar todos os nossos métodos enquanto ela estiver acordada. – Ele respondeu – Você entende, não é Juliet?

— Está bem, eu acho que aguento uma injeçãozinha. – Eu disse com um pouco de desconforto.

— Ótimo, arrume suas coisas, iremos lá daqui há uma hora.

Eu e minha mãe ficamos esse tempo arrumando minhas coisas, eu também não vou dizer o que eu arrumei para colocar na mala. A única coisa que vou dizer é que todas as minhas roupas eram vermelhas como sempre. O resto eu acho que vai ser desnecessário para a história.

Quando o tempo acabou, uma carruagem preta com detalhes brancos em volta, puxados por dois cavalos marrons e um homem de cartola e roupa preta, sentado na parte de cima da carruagem, segurando as correias dos cavalos. Baldric abriu a porta da carruagem para mim, algo bonito da parte dele, mas Gerald ainda me olhava estranho.

Quando a carruagem partiu eu senti uma emoção, como se eu estivesse partido em uma jornada, ao mesmo tempo em que estava preocupada com o que ia acontecer. Eu sentia que queria muito ir ver algo importante lá, algo que mudaria toda a minha vida. No caminho nós passamos pelo centro da minha cidade, era bem cheia e barulhenta, mal dava para entender o que as pessoas falavam. A carruagem estava bem quieta, Baldric estava olhando uma agenda pequena e Gerald ficava olhando pela janela, evitando qualquer contado visual comigo. Decidi perguntar algumas coisas para Baldric.

— Com licença, Baldric. – Eu disse, ele parecia distraído em seus pensamentos no momento que o chamei.

— Oh, o que foi Juliet? – Perguntou ele depois de sair dos seus pensamentos.

— Eu tenho uma pergunta, é sobre as bestas que vocês caçam.

— Dependendo da pergunta, diga.

— O que tem de tão diferentes nessas criaturas a ponto de terem que criar vocês?

— Você está perguntando por que nos caçamos as bestas?

— Sim, mas espero que você diga mais do que apenas “eles são malvados e horrendos” como a minha mãe, quero saber realmente o que tem sobre eles de tão ruim.

— Bem, errr... Como eu posso dizer isso de uma forma tran...

— Quer saber por que garota?! – Gritou Gerald. – Porque essas bestas machucam, matam, devoram e mutilam pessoas sem pensar. Imagine um lobo andando em duas patas com garras afiadas e dentes mais ainda, arrancando cada membro do seu corpo facilmente e o devorando cru. Entendeu agora? Eles são mais perigosos e foras de si do que animais comuns. São mais habilidosos e rápidos precisando de um treinamento muito preciso para podermos matar elas. Além do mais alguns deles possuem o controle de magia negra, se conseguissem controlar a magia melhor eles poderiam ir para qualquer lugar sem se esforçar muito.

Eu fiquei espasmada. Fiquei com uma cara de surpresa muito absurda, de olhos e boca bem abertos. Isso não foi por causa da resposta, e sim do jeito que ele me respondeu.

— Olha só o que você fez Gerald! – Gritou Sir Baldric – Ela agora está assustada.

— Não precisava ser grosso, Sir Gerald. – Respondi com raiva. – Isso se você merece ser chamado disso. Hmpf.

Eu virei para a janela com uma cara debochada e de braços cruzados. Os dois estranharam a minha reação, principalmente Gerald, mas no final voltamos ao silencio dentro da carruagem e o barulho da cidade continuou.

Depois de umas poucas horas saímos daquela parte da cidade e fomos direto para a saída, aparentemente a base deles ficava fora dos limites da cidade. No caminho Padre Baldric começou a conversar comigo.

— Então, Juliet, você tem algum amigo na escola? – Perguntou ele formalmente.

— Mais ou menos, eles são só outras crianças que eu brinco. Eu mal converso ou os visito.

— Mas você tinha pelo menos uma pessoa para chamar de melhor amigo ou algo assim?

— Na verdade havia sim, uma garota da mesma idade que a minha, nos sempre ficávamos brincando no parque, mas um dia ela sumiu, disse que mãe dela estava mal e que tinha que ficar em casa com ela e o pai. Depois disso eu nunca mais escutei nada sobre ela.

— Há quanto tempo já faz isso?

— Alguns meses, eu já até havia me esquecido dela. É uma pena, ela era uma boa amiga.

— Espero que um dia você a encontre de novo.

— Obrigada.

Nossa toda essa lembrança está me deixando com sede, vou beber um pouco de agua. Não se preocupe, ainda falta muito tempo até anoitecer, garanto que uma pausa não vai afetar tanto assim. Já volto, não saia daí. O que eu estou falando, você nunca sairia.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler até essa parte, novamente, se gostou muito comente e favorite, pode acompanhar também se quiser marca-la como lido. Novamente quero agradecer a Bella Black por me apoiar enquanto escrevia essa One... Digo, Dual-Shot (De novo, eu sou retardado por acaso?). Se você achou que esse capitulo teve altas revelações espera só para ver o próximo. hehehe Espero ver vocês no próximo capitulo. Bye Bye.