Ilha de Esme por Edward Cullen da Lua de Mel até a Gravidez escrita por csb


Capítulo 5
CAPÍTULO 05 - RECAÍDA




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5. RECAÍDA

 

Desesperado, saí correndo pela praia como um raio, de modo que, em menos de meio minuto, Bella já estava deitada no sofá, ainda desacordada. Aparentemente, a queda não lhe provocara maiores danos — havia somente um leve arranhão em cada uma das palmas de suas mãos. Suas pálpebras fechadas se mexiam devagar enquanto eu tentava insistentemente molhar seus lábios com um pouco de água.

Senti-me a mais idiota das criaturas; um verdadeiro poço de asneira. Como pude falar de Jacob em nossa lua de mel. Como? Ainda que a intenção fosse verdadeira, porque, de fato, nada podia vencer a felicidade de Bella em minha escala particular de desejos, aquilo foi de uma indelicadeza tremenda. E agora, a dor cruciante do arrependimento se instalara outra vez dentro de mim. Como se, de alguma maneira, eu fosse marcado para cometer absurdos e me arrepender meio segundo depois.

— Bella! Acorde, meu amor... Eu amo você... Desculpe-me... Fui um completo imbecil — minha voz era angustiante.

Repousei minhas mãos frias em sua testa, descendo os dedos até as têmporas. Seus olhos piscaram lentamente, se adaptando ao ambiente a sua volta, acertando o foco das coisas.

— Bella... — Sentei-me no sofá e a coloquei no colo, apertando-a contra meu peito, nossos rostos a centímetros de distância. Repousei meus lábios suavemente em sua boca. Sua respiração falhou e me afastei no mesmo instante — Bella, meu amor...

— Edward...

Ela mirou os olhos em mim por um longo tempo e, depois, numa atitude completamente inesperada, sem pudores ou qualquer lógica, começou a chorar e a rir, tudo ao mesmo tempo, desesperadamente, as bochechas se avermelhando.

Fiquei perplexo, totalmente bestificado pela cena inexplicável.  

— O que está acontecendo, meu amor? O que foi agora?

Bella ficou em silêncio, estudando minha face e então explodiu em gargalhadas outra vez.

Fiquei nervoso. Embora as evidências físicas negassem, teria a queda provocado algum dano interior? E se houvesse, seria ele irreversível? Gemi às inúmeras possibilidades que atravessaram minha mente confusa.

— Pare com isso, Bella! Chega! O que está acontecendo?

— É só que... eu... sou a pessoa mais estúpida deste planeta. E isso é muito engraçado.

— Não vejo graça alguma. — Fechei a cara.

— Isso é porque você jamais compreenderá como eu posso ser tão ingrata à minha própria sorte.

Levei minhas sobrancelhas ao alto da testa em uma expressão de dúvida. Aquilo não fazia sentido algum...

— Explique-se — pedi, aborrecido.

— Primeiro preciso que você me desculpe.

— Eu é que peço perdão, meu amor, por ter sido tão infantil, por mencionar Jacob num momento totalmente inadequado. Não quero machucá-la, mas também não quero perdê-la. Ah, Bella... Você é tudo em minha vida. Você não faz idéia...

— Está vendo — ela me interrompeu —, é por isso que é muito engraçado, pela incoerência de minhas atitudes. Quantas mulheres não dariam tudo para estarem no meu lugar? Amando apaixonadamente e sendo correspondida à altura... Edward, eu me casei com você sabendo de suas limitações, sabendo que não seria fácil... Quero que me desculpe por eu ter sido tão imbecil; pela cena idiota que protagonizei; por querer morrer no momento em que minha vida não poderia estar mais perfeita e feliz.

— Bella...

— Fique quieto! Não terminei! — gritou ela, fazendo-me reprimir um risinho. — Sobre a questão dos hormônios, não posso negar: estou explodindo e não irei prometer um bom comportamento...

Franzi o cenho. Ela continuou:

— Mas preciso que entenda que só você pode me dar o que quero; só você pode satisfazer meus desejos. Mais ninguém... E não quero brigar com o amor da minha vida.

Lancei um sorriso torto em sua direção. Seu coração vacilou. Aproximei lentamente minha boca e nossos lábios se encostaram com suavidade.

— Por que você desmaiou? — perguntei assim que ela me permitiu recuar. — O que sentiu?

— Não sei... Fiquei um pouco enjoada. Talvez tenha sido o sol ou somente o susto da queda.

— E agora? Como se sente?

— Estou bem. É até estranho... É como se nada tivesse acontecido.

Não escondi o sorriso.

— Então, sem ressentimentos? — perguntei.

— Ressentimentos? Essa é uma pergunta sem fundamento, Edward...

Ouvi seu estômago roncar.

— Hora do lanchinho da humana — brincou ela, feliz outra vez.

Com gosto, Bella comeu todos os ovos que preparei — e eu costumava exagerar: fazia uma quantidade de comida que daria para duas pessoas ficarem satisfeitas. Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo ali. Era natural que, depois de tantas atividades, Bella se sentisse faminta no fim do dia. Mas, de qualquer maneira, sua fome era excessiva... Fora do normal... Talvez ela estivesse compensando a abstinência sexual buscando outras fontes de prazer.

Ficamos conversando na cozinha por um bom tempo. Bella estava visivelmente exausta, parecia fazer demasiada força para se manter acordada. Suas pálpebras oscilavam como se fossem fechar subitamente a qualquer instante. Aninhei seu rosto em meu peito e entrelacei minhas mãos em seus cabelos. Com a ponta dos dedos comecei a desenhar formas em seu couro-cabeludo. Ela tremeu; depois se aquietou.

— Está cansada? — perguntei.

A resposta não veio. Quando olhei para baixo, vi que Bella tinha adormecido; as bochechas levemente coradas, as pálpebras completamente cerradas, tranqüila e doce como um anjo. Uma maravilha da natureza...

Mantive os carinhos em seus cabelos e o largo sorriso em meu rosto, contemplando-a por um tempo. Depois subimos as escadas em direção ao quarto — ou melhor, eu subi as escadas com Bella nos braços. Coloquei-a na cama delicadamente, e deitei-me a seu lado, meio torto, a mão esquerda apoiando minha cabeça, o cotovelo no colchão. Acariciei seu rosto. Ela não tremeu. Ainda assim, passei a coberta em volta de mim para aconchegar-me melhor a seu corpo quente.

— Sem cobertor, Edward... — disse ela em estado de sonolência. As palavras vagas e soltas. Achei engraçado. — Está calor... Seu corpo frio é tão bom...

Larguei o cobertor e tirei a camisa em menos de meio segundo. Bella se esparramou em mim, braços e pernas, se ajeitou espaçosa, como uma planta subindo pelo muro.

Delicadamente, encaixei sua cabeça no vão de meu pescoço; meu queixo tocando o alto de sua testa. Encostei minha boca em seus cabelos — embriagando-me lentamente pelo perfume floral que exalava dele — e assim fiquei. E poderia ficar para sempre.

Embora os imprevistos, havia sido um dia maravilhoso. Sem dúvida o mais agitado até então. Por uma fração de segundo, desejei ser capaz de dormir; de reviver em sonho cada instante mágico da ilha, um por um: o sol, o mar, as montanhas, o verde, a areia e Bella, no meio de tudo, agigantando a perfeição. Mas logo, logo a vontade se esvaiu: dormindo, eu não poderia gozar da mais singela hora do dia, o sono de minha amada. Era tão doce, suave, atraente... Jamais me cansaria de olhar para ela, de apreciá-la submersa em devaneios, tão indefesa, humana e quebradiça.

De certa fora, com a certeza de que esse meu momento encantado se acabaria em breve — no dia em que a transformação ocorresse; e eu ainda estava bem resistente à idéia —, vi-me preso a uma urgência agonizante de aproveitar cada segundo do sono de Bella. Eu nunca fora preparado para lidar com perdas. Prejuízos, danos, desgraças, privações, tudo isso não se encaixa muito bem às especificidades de um vampiro. Depois que se perde a alma, não lhe resta quase nada que realmente valha à pena quando já se tem uma família imortal. A mim restava... Restava a mais valiosa das almas e matá-la deliberadamente seria a experiência mais difícil e torturante de toda a minha vida...

Permaneci parado como uma estátua, sem desviar os olhos de Bella até que a luz do sol se espalhou pelo quarto, tocando seu rosto com ternura, fazendo-a despertar enfim.

— Bom dia, Bela Adormecida — sussurrei em seu ouvido.

Ela se desprendeu de mim, me encarou, piscou demoradamente franzindo a testa.

— O que aconteceu? — perguntou. — Não me lembro de ter subido para o quarto...

— Eu trouxe você.

Sua expressão era um misto de dúvida e timidez.

— Não. Eu não dormi na cozinha, em cima do prato, dormi?

Estampei um sorriso no rosto. Algumas horas atrás eu pensava sobre sua alma, algo que certamente merecia inúmeras doses de preocupação. Como ela podia se importar com detalhes tão insignificantes?

— Não me faça esperar pela resposta, Edward — insistiu.

— Bom, se quer mesmo saber — continuei, sorrindo —, a resposta é afirmativa, ou melhor, parte dela. — Deslizei os dedos por sua bochecha. — Sim, você dormiu na cozinha.

— E...

— Não, você não dormiu sobre os pratos. Você dormiu encostada em meu peito.

Ela suspirou, largando os braços sobre o colo.

— O que foi? — perguntei.

— Talvez seja por isso que não tive pesadelos essa noite...

— Você anda tendo pesadelos?

— Às vezes... Mas prefiro não conversar sobre isso.

— Posso cantar a noite inteira se você quiser. A música afasta sonhos ruins...

Ela permaneceu quieta.

— Não quer falar sobre isso, não é?

— Não.

Bufei.

— Tudo bem, então... Seu desejo é uma ordem. Quando quiser estarei aqui, pronto para lhe ouvir. Se for para vê-la feliz, me contentarei mais uma vez com evasivas a minha própria curiosidade... Tomar café e sair, Sra. Cullen?

Seu coração arfou à citação de seu novo nome. Se eu possuísse um coração, talvez o tivesse estraçalhado de vez com a intensidade da emoção que aquelas duas palavras provocaram em mim.

— Eu vou tomar café e nós vamos sair, meu vampiro lindo — assentiu ela, debochada.

Gastamos as horas da manhã passeando pela ilha, explorando lugares diferentes que nem mesmo Carlisle — dono daquilo tudo —devia ter ciência. Não tocamos mais no assunto sexo, nem mesmo sobre os acontecimentos da tarde passada, como se nada tivesse ocorrido de fato. Página virada.

Bella quis aproveitar o mar e atravessamos juntos as ondas, de mãos dadas. Era engraçado observar como era ela quem sempre pisava em buracos na areia ou tropeçava nos cascalhos, se atrapalhando para sair debaixo de alguma onda mais forte. Se eu não estivesse o tempo todo a seu lado, seria aceitável dizer que em algum momento o mar a tiraria de mim para sempre. Arrepiei pelo pensamento.

De tarde, o calor ficou sufocante, insuportável até mesmo para mim, de modo que acatei de bom grado a idéia de nos escondermos dentro de casa. Bella vinha insistindo para que assistíssemos a um DVD na imensa tevê de plasma e naquele dia, concordei, porque não havia tantas opções de divertimento se não estivéssemos aproveitando as belezas da ilha.

Quando os créditos finais do filme acabaram, Bella procurou meu peito, alisando com os dedos minha pele fria, exposta pela abertura da camisa.

— Estou cansada — disse ela.

— Eu a levo para o quarto...

Ela concordou com um movimento de cabeça e se ajeitou em meus braços. Levantei-me e corri depressa, subindo as escadas enquanto ela ria sem parar, ainda desacostumada a meus dotes fantásticos.

Bella se enfiou no banheiro e fiquei esperando por ela deitado na cama macia. Eu era extremamente grato por sua discrição ao evitar trocar de roupa em minha frente — já era uma boa ajuda.

Fazia então uma semana que estávamos na ilha. Fechei os olhos. Oito dias que eu havia me casado com Bella. Uma semana desde nossa maravilhosa e inconseqüente noite de amor. Tremi à simples lembrança do prazer. Talvez eu também estivesse alcançando o ponto do insuportável...

— Edward?

— Estou aqui — eu disse, sem abrir os olhos.

Bella suspirou, hesitando. Ouvi o martelar molhado de seu coração... Era diferente... Ai, meu Deus: era do modo como batia quando ela utilizava-se de algum artifício de sedução. Franzi o cenho na tentativa de prender meus olhos na cara, para que eles não saltassem sozinhos pelo desejo de descobrir o que quer que estivesse me esperando do lado de fora...

— O que você acha? — perguntou ela.

Então havia mesmo algo diferente... Um arrepio gelado atravessou meu corpo. Abri os olhos lentamente...

Bella estava vestida com uma peça preta, cheia de babadinhos de rendas que se prendiam delicados em suas coxas. Juntei toda a coragem para resistir àquilo — somente um louco conseguiria se controlar facilmente e eu não estava muito convicto de que permaneceria na insanidade por muito tempo.

— O que você acha? — insistiu ela, dando uma pirueta.

Pude vê-la em diferentes ângulos; cada pedacinho de seu corpo onde o tecido preto caía com extrema gentileza e onde simplesmente não existia tecido algum.

Argh! Tive de segurar as mãos rentes ao corpo, porque temia que elas pudessem agir sozinhas, desesperadas pelo prazer do toque.

Se Bella percebesse como mexia comigo, se notasse qualquer vacilo em meu olhar, eu estaria perdido de vez, porque, munida pela certeza de que naquela noite seus desejos urgentes pudessem ser plenamente satisfeitos, ela não me deixaria em paz até realizá-los.

Ela esperava pela resposta com a expressão de interesse. Pigarreei e disse:

— Você está linda. Sempre está.

— Obrigada — disse ela, meio azeda. Por seu semblante de decepção, certamente não era o que ela esperava.

Bella subiu rapidamente na cama. Eu a abracei, puxando-a mais para perto, cuidando para não focar excessivamente nas outras partes de seu corpo que ficaram à mostra por sua posição confortável.

— Quero fazer um acordo com você — disse ela.

O quê? Acordo? Eu não esperava por isso... Não seria amor a palavra certa? Quero fazer amor com você, isso sim seria aceitável.

— Não farei mais acordos com você — respondi, secamente.

— Ainda nem ouviu o que tenho a propor.

— Não importa.

Ela suspirou.

— Droga. E eu, na verdade queria... Ah! Deixa para lá.

Revirei os olhos. Eu estava na fronteira crítica de exigências de minha própria curiosidade. E Bella sabia disso, deixando a isca propositalmente solta no ar.

Como parte do plano, ela fingiu não se incomodar com a ausência de uma resposta. Fechou os olhos com indiferença, como se estivesse prestes a pegar no sono, embora eu soubesse que, em seu íntimo, ela estava gostando de minha tortura particular.

— Tudo bem — disse enfim, as palavras escapulindo de minha boca com uma fluidez fora do comum. Ela se mexeu rapidamente, tal qual um predador de tocaia esperando para abocanhar a presa. — O que você quer?

Bella trincou os dentes por um segundo, mordeu os lábios e eu pude notar um sorriso reprimido. Droga, droga, droga! Coisa boa não podia ser...

— Bom, eu estava pensando... Sei que toda essa história de Darmouth era só para ser um disfarce, mas, sinceramente, um semestre de faculdade não iria me matar — disse ela e eu reconheci na mesmo hora as palavras que tantas vezes eu havia usado. Como um eco... — Charlie vai ficar emocionado com histórias de Darmouth, aposto. É claro que pode ser constrangedor se eu não conseguir acompanhar todos os nerds. Ainda assim... 18, 19. Não faz muita diferença. Afinal, eu não vou estar com pés de galinha do ano que vem.

Golpe baixo! Golpe baixo! Bella estava se tornando especialista no assunto... Por que diabos estava fazendo isso comigo? E ainda se utilizando de um argumento que durante tanto tempo fora o maior tormento de sua vida: envelhecer.

Fiquei em silêncio — tive de raciocinar para não errar, porque qualquer falha poderia ser fatal.

Precisei confirmar o ponto chave da questão:

— Você esperaria. Você continuaria humana.

Ela assentiu com um movimento de cabeça.

Só de pensar na idéia minha mente se alegrou, dando saltos de excitação. Era tudo o que eu sempre desejara; adiar a transformação, curtir um pouco mais as preciosidades humanas tão fascinantes para mim: o rubor de seu rosto, a temperatura calorosa da pele, o pulsar contínuo de seu coração, o cheiro tentador — mas incrivelmente delicioso — de seu pescoço, o sono, as mudanças lentas e constantes de seu corpo. Engoli em seco, completamente perdido, sem saber o que dizer.

— Bella, por que está fazendo isso comigo? — eu disse entredentes, o tom de leve irritação. — Já não é mais difícil sem isto? —peguei um babadinho de renda em sua coxa e ao raspar a mão em sua perna, sem querer, foi como se o próprio fogo tivesse sido injetado em meus dedos no lugar em que nossas peles se tocaram. Afastei a mão na mesma hora. — Não importa, não vou fazer nenhum acordo com você.

— Quero ir para a faculdade.

Como era teimosa...

— Não quer não. E não há nada que valha arriscar sua vida de novo.

— Mas eu quero ir. Bom, não é tanto a faculdade que eu quero... Quero ser humana por mais um tempinho.

Francamente, quem entende a cabeça das mulheres? Aquilo não fazia sentido algum...

— Você está me deixando louco, Bella. Já não tivemos essa discussão umas mil vezes, você sempre pedindo para ser logo vampira?

— Sim... Mas... Bom, eu tenho motivo para ser humana que não tinha antes.

— E qual é? — perguntei por perguntar.

— Adivinhe... — disse ela, se arrastando nos travesseiros para me beijar.

Retribuí o beijo, sem muita intensidade.

— Achei que entendesse meus argumentos... — reclamei. — Você não disse que se casou comigo sabendo das dificuldades que enfrentaríamos? Ou agora não se lembra disso?

— Sim. Eu disse. Mas também disse que não prometeria nada a respeito de meu comportamento. Você é que está com a memória perdida... Posso até apostar o motivo... Você também me quer, Edward Cullen. Sinto muito, mas não vai conseguir resistir por muito tempo... — Ela me encarava, enrolando os próprios cabelos nos dedos.

Bufei.

— Pare, Bella. Você é humana demais, regida por seus hormônios.

— Aí é que está e vou repetir: não quero esperar anos como uma recém-criada louca por sangue para que parte disso volte à minha vida.

O pior de tudo é que seus argumentos faziam sentido. Fiquei quieto.

Para minha sorte, Bella bocejou.

— Você está cansada. Durma, amor. — Aliviado, comecei a cantarolar sua cantiga de ninar.

— Fico me perguntando por que estou tão cansada —murmurou ela com sarcasmo. — Isso não pode ser parte de seu esquema nem nada, não é?

Limitei-me a rir e continuei cantarolando.

— Porque do jeito que ando cansada era para eu dormir melhor.

Parei de cantar e fiquei pensativo, moendo silenciosamente a dúvida: deveria eu mencionar o assunto “pesadelos”? Bella poderia se irritar e talvez, como vingança, rasgasse as próprias roupas em minha frente só pelo prazer da tortura...

Articulei as palavras de forma mais discreta:

— Você dorme feito uma pedra, Bella. Não disse uma palavra sequer dormindo desde que viemos para cá. — Bom, essa parte não era verdade, mas de fato ela não dissera nada de tão importante. — Se não fosse pelos roncos eu pensaria que estava em coma.

Ela não gostou da piada e a ignorou completamente.

— Eu não fico agitada? Que estranho. Em geral rolo por toda a cama quando tenho pesadelos.

Já que ela mesma tocara no assunto, então eu estava pisando em terreno seguro. Pigarreei.

— Você anda tendo pesadelos todas as noites?

— Nítidos. Eles me deixam tão casada! — Bocejou. — Nem acredito que não fico falando a noite toda.

Refleti sobre a possibilidade de continuar, resolvi arriscar:

— Sobre o que são?

— Coisas diferentes e iguais. Você sabe, por causa das cores...

— Cores?

— É tudo brilhante e real. Em geral, quando estou sonhando, sei que estou. Nesses não tenho consciência de que estou dormindo e isso os torna mais apavorantes.

Fiquei nervoso.

— O que a apavora?

Ela tremelicou e eu segurei sua mão com delicadeza.

— Principalmente...

— Principalmente? — insisti.

— Os Volturi — disse ela. Era estranho perceber que não podia ser só isso... Mas resolvi segurar a pergunta na boca.

— Eles não vão mais nos incomodar. Você será imortal em breve e eles não terão motivos.

Vi a desolação em seu rosto.

— O que posso fazer para ajudar? Posso continuar cantando a noite toda... Espantar os sonhos ruins...

— Não são tão ruins assim. Alguns são bons. Tão... coloridos. Debaixo da água com peixes e corais. Tudo parece que está acontecendo de verdade... Talvez esta ilha seja o problema. Aqui tem muita luz.

— Quer ir para casa? — perguntei, afagando seus cabelos em volta do rosto.

— Não. Ainda não. Podemos ficar mais tempo?

— Podemos ficar o tempo que quiser, Bella — prometi.

— Quando o semestre começa? Eu não estava prestando atenção antes.

Suspirei e comecei a cantar. Bella dormiu tão depressa que nem teve tempo de se irritar com minha indiferença à sua pergunta.

Aconteceu no meio da noite...

Eu estava com a cabeça recostava na cabeceira da cama, com Bella nos braços, pensando sobre minha vida — como fazia todos os dias. De repente, seu corpo começou a tremer, sacolejando pela cama. Ela suava frio e se agarrava violentamente aos lençóis, desesperada.

Com delicadeza, sacudi seus ombros. Ela arfou e despertou num rompante, os olhos aflitos fitando os meus com um quê inexplicável de decepção, como se estivesse triste por ter sido acordada de um pesadelo... Não consegui compreender e deixei passar.

— Bella? Está tudo bem, meu amor? — perguntei, alisando seus cabelos no alto da testa. A outra mão firme em seus ombros.

— Ah! — exclamou ela. E então um jorro de lágrimas de desesperança transbordou de seus olhos, molhando toda a face, das bochechas ao queixo. Ela lutou insistentemente contra aquilo, levando suas mãos ao rosto, mas o fazia em vão.

A imagem refletida no espelho denunciava minha expressão confusa. Abracei Bella com força, seu rosto se ajeitando embaixo de meu queixo. Ficamos um tempo assim, e depois afastei seu corpo levemente.

— Bella? Qual é o problema? — comecei a enxugar suas lágrimas com meus dedos frios, mas enquanto o fazia, outras pareciam surgir instantaneamente, como uma bica sem fim.

Fui tomado pelo pavor.

— Foi só um sonho... — disse ela. A amargura de suas palavras acabava de confirmar minhas suposições: estranhamente, Bella lamentava acordar de um pesadelo.

— Está tudo bem, meu amor, está tudo bem. Estou aqui. —Envolvi seu corpo. — Teve outro pesadelo? Não foi real, não foi real. — Falei sem pensar que talvez pudesse estar desagradando ao invés de ajudar.

Ela sacudiu a cabeça, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— Não foi um pesadelo. Foi um sonho... bom. — As palavras saíram entrecortadas.

— Então, por que está chorando?

— Porque acordei. — Agora tudo se encaixava perfeitamente. Bella passou a mão aflitamente em torno de meu pescoço, procurando um abrigo reconfortante.

— Está tudo bem, Bella. Respire fundo.

— Foi tão real! — Chorou mais intensamente. — Eu queria que fosse real.

— Fale-me dele — insisti. — Talvez eu possa ajudar.

— Estávamos na praia... — Sua voz falhou. Ela afastou o rosto e me procurou no escuro com olhos tristes, ainda marejados.

— E...? — instiguei.

— Ah, Edward...

— Conte-me, Bella — pedi, louco de preocupação.

Ela não disse mais nada. Apenas abraçou-me com força, tocando os lábios fervorosos nos meus. Nossas bocas misturadas eram a pura expressão do desejo, da necessidade irracional, da busca incessante por satisfação, que ambos tentávamos controlar com dificuldade. Senti o sabor salgado de suas lágrimas. Naquele instante, estávamos juntos, presos à mesma vontade alucinada e inconseqüente.

Buscando uma brecha de fuga em meu descontrole, hesitei, empurrando seu corpo para trás com delicadeza, lutando contra os braços e mãos que pareciam querer o contrário.

Eu estava no limite. Em silêncio, minha mente começou a arquitetar formas seguras para que eu pudesse me entregar ao amor outra vez... Haveria um meio de canalizar os excessos do ato a outro ponto de vazão que não o próprio corpo de Bella? Por que se houvesse, eu tinha então uma chance concreta... Eu poderia... Milhões de alternativas cruzaram minha mente, e, subitamente, fui tomado por uma pontada de esperança à idéia mais clara e concreta que pulsava aflita dentro de mim.

Preferi esperar alguns dias, cimentar melhor a hipótese, ter certeza de que seria mesmo possível e principalmente seguro...

— Não Bella — insisti.

Seus braços caíram de lado, derrotados; as lágrimas jorrando impetuosas, misturadas à sua visível insanidade.

— Me d-d-d-despulpe — murmurou.

— Não posso, Bella. Não posso... — gemi em seu pescoço.

— Por favor, Edward... Por favor...

Não sei muito bem os motivos que detiveram meu medo.

Talvez tenha sido por vê-la sofrer, querendo-me loucamente; ou a brecha oportuna que eu mesmo encontrara para mantê-la em segurança... Tudo o que sei é que, depois de assistir ao filme de amor acelerado que atravessou minha cabeça — nossa própria história —, eu a puxei com urgência, rendendo-me com um gemido.

Nossas bocas furiosas se encontraram; meus lábios puxando os seus; seu hálito doce mergulhando fundo em meus pulmões. Com apenas uma tentativa, rasguei sua camisola de rendas pretas e a joguei para qualquer lugar bem longe de mim. Bella tremeu; suas mãos se enrolaram intensamente em meus cabelos, as unhas tentando inutilmente arranhar minha cabeça, descendo até as costas.

Não havia mais o frio de minha pele, não havia o calor de seu sangue. Juntos, entrelaçados em um só, nossos corpos se equilibravam impecavelmente.

Lembro-me de ouvi-la gritar, lembro-me também da corrente de arrepio que deslizou de meu quadril ao pescoço em menos de meio segundo. Houve um completo desaparecimento, como se eu saísse de mim por alguns instantes, e houve um estardalhaço de madeira se quebrando nos momentos em que minhas mãos procuravam desesperadas por socorro na cabeceira da cama. Lembro-me da ansiedade, do cheiro, do toque e do encanto. E lembro-me principalmente, da felicidade latejando cada célula de meu corpo quando soltei meus braços e pernas pesadamente e me lancei de costas no colchão para contemplar o teto escuro, que a partir daquele minuto se transformou na mais perfeita aquarela de cores — a alucinação depois das doses cavalares de prazer sorvidas com as belezas delirantes do amor.

— Eu amo você, Bella... — Com os olhos vidrados ao alto, foi tudo o que consegui dizer.


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Notas finais do capítulo

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