Não tinha problema nenhum com pessoas que não entendiam as outras. Inclusive, Sofia tinha plena consciência de que era uma delas, ainda que não faltasse a imersão em esforços para evitar. Mas forçar as suas crenças em alguém era algo que nunca poderia olhar com bons olhos. Olhou com olhos frios para um papel. Sabia que personagens baseadas em novelas eram assim, cheias desse tipo de conflito moral. Mas não sabia se conseguiria se simpatizar por Luiza. Ela era uma jovem que tratava mal qualquer um que não acreditasse nas mesmas coisas que ela, mas a história muitas vezes a colocava numa posição de vítima. Ia ser difícil. Isso lembrava a mãe de Carla, uma amiga que tivera na escola que não queria que elas andassem juntas porque os pais de Sofia – ainda não separados – eram budistas. Carla tinha doze anos e percebia o absurdo nisso, mas a amizade foi se esfriando de qualquer maneira. Quando conseguisse realizar a personagem Luiza, estaria quebrando a barreira do desgosto, certamente. E guardaria aquele script pra sempre para se lembrar disso.