Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 9
VIII — Ignorância, Apego e Ódio.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, olha quem voltou!
Bem, como prometido haveria capítulo novo no feriado (finados) e aqui ele está.
Foi escrito com todo carinho e eu espero que vocês gostem e me falem se querem ver mais sobre essx personagem.
Eu estou muito feliz com o carinho que estou recebendo de vocês leitores. Sério! Muito obrigado.
Vejo vocês no próximo sábado!
Não deixem de comentar, favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão... É sério mesmo! Vocês não sabem como isso é importante para nós escritores e não custa nem dois minutos.



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ALEXANDRA

Ai, que inferno, hein?

Só posso estar em um inferno astral!

Não tem outra explicação.

SÉRIO!

Eu vim a esse diabo de visita de campo só pra passar um tempo a mais com o Antônio pra ver se ele me notava e o que ele me faz? O FAVOR DE SUMIR.

Que inferno!

Eu sou bem trouxa.

Mesmo.

Eu não deveria ter seguido o conselho do meu irmão que me disse que era pra eu continuar insistindo. Afinal, fora por causa dele que cheguei no Antônio lá na biblioteca e... Ele já havia deixado bem claro o que sentia por mim.

And the Trouxa do ano goes to: Alexandra!

Ai, já que não posso ter o amor daquele que amo, ficarei contente em pelo menos ter a amizade com o mesmo.

Talvez assim ele me note, né não?

Já ouviu falar do poder de sedução de uma mulher?

Pois então!

Posso não ter nascido com uma vagina, mas quem se importa?

Não se nasce mulher, torna-se uma.

Se Antônio mesmo já disse que não se importa com o fato de eu ser transexual, vou provar a ele que não sou uma pessoa horrível e sim, digna de sua amizade.

Só espero que ele entenda a minha situação.

E venha cá, se ele acha que vai escapar dessa usando a desculpa do Aluno...

Ele está certo!

Preciso fazer média com aquele professor lindo que só de olhar escorre uma lágrima da minha...

Agora, deixa eu parar de pensar em macho e ir explicar algumas coisas pra esses calouros que se acham por estarem cursando Eng. De Minas na universidade pública mais moderna do país, mas mau-mau sabem a diferença entre os três tipos de rocha e falam PEDRA ao invés de MINERAL.

Aonde já se viu isso?

[...]

Estou sendo uma péssima pessoa em afirmar que estou bem feliz por estar são e salva dentro de casa e bem longe daqueles calouros?

Nossa!

Não existe raça mais chata que calouros.

Se acham tanto por estarem na faculdade.

Mal sabem o que os esperam.

Fazer o que né? Vou matar? Não vou.

Se bem que acho que ficar lá lidando com tanta imaturidade seria bem melhor a que ficar aqui encarando o teto pensando naqueles olhos negros que me remetiam a beleza da noite, seus lábios carnudos e aquela barba que combina perfeitamente com o formato do seu rosto.

Que rosto.

Olhar pra ele é como assistir pornô.

Não acredito que você está se apaixonado Alexandra.

É minha filha.

Nem eu.

Seria uma pena se... Eu já estivesse apaixonada.

De toda forma, combinei de encontrar com meus pais mais tarde. Tenho que preparar esses corpo delicioso que Deus me deu antes de atravessara a cidade pra ir para esse tal restaurante que eles tanto gostam.

Não é me gabando, ok, talvez só um pouquinho, mas quem é Naomi Campbell comparada a mim?

Eu já passei muito tempo tentando me aceitar. Quando afirmo que sou gostosa pra caramba, as pessoas acham que eu estou sendo egocêntrica, mas não! Eu sei muito bem o que é não estar de bem consigo mesmo e não desejar outra coisa além da morte por tamanho desconforto. Se hoje em dia eu tenho condições de me sentir a negra mais gostosa desse país, por que não bater meus lindos cachos de tonalidade Ice Blond na cara deste povo?

Agora chega de falar de mim, vou deixar você ai imaginando o quão gostosa a minha raba é.

[...]

Blue jeans, white shirt walked into the room. You know you made my eyes burn.

Essa música me faz sentir tão empoderada que eu seria capaz de escrevê-la em minha testa.

Por mim eu colocaria apenas um uma blusa branca, um jeans e um salto e estaria mais a que pronta pra esse jantar, mas se eu aparecesse assim minha mãe me bateria até surgir um vestido de alta-costura em mim.

Fazer o que né?

Quem está comendo não está reclamando.

Acabei de me secar e peguei o primeiro vestido que aparecera na minha frente.

Um vestido de renda revelava toda minha sensualidade com o decote até onde coloquei um cinto dourado para marcar a minha cintura. Sem falar da fenda que surgia delicadamente há alguns dedos a cima dos meus joelhos.

Cuidado pra não ter uma ereção me imaginando dentro deste vestido.

Então, como eu estou decidida a beber algumas – várias – taças de vinho já que só assim eu serei capaz de suportar a minha irmã, deixarei o meu carro elétrico de folga na garagem e pegarei um táxi até o restaurante.

Enquanto esperava, decidi deixar o orgulho de lado e fazer o famoso papel de trouxa – mais uma vez – e mandar mensagens para Antônio. Claro que é só pra saber se Marcos passa bem, é claro.

“Antônio, e aí, está tudo bem com o tornozelo do seu aluno? Por favor, me mantém informada. Beijinhos!”

Ficarei encarando a tela do celular igual uma otária por alguns segundos até que fui surpreendida com o barulho da buzina do táxi.

Peguei minha bolsa de couro vegetal que meu querido irmão trouxe de Bariloche, conferi se todos os documentos, cartões, bolsa de maquiagem e necessaire e parti em direção ao restaurante.

No caminho, tudo em que eu conseguia pensar era naquela ro... Opa! Naquele restinho bonito do Antônio.

— Motorista? — A chamei.

— Sim, senhora? — Ela respondeu.

— Ai, senhora está no céu, por favor né mon amour.

O que posso fazer por você então? — A motorista me abriu um sorriso.

— Como pode ser gostar de alguém e esse tal alguém não ser seu?

— Não é muito nova pra conhecer essa música não? Me alembro que de mais nova eu escutava essa música o tempo todo.

— Me conte mulher, como superou?!

— Não superei! Estamos casados há quase vinte anos.

— Ai, mas eu não quero me casar com aquele idiota.

— Então o que a senhora. — Ela pausou e riu. — Então o que você quer com ele?

— Aquele corpo sobre o meu me fazendo gemer de dor e prazer.

— Desculpa, mas eu não consigo acreditar nisto. — Vi um olhar me fitar pelo

— Em que?

Você me perdoe às palavras, mas com tanto homem no mundo você vai sofrer por uma rola que você nem sabe se vale a pena? — Sua voz estava tão séria que se ela não tivesse soltado uma gargalhada no fim eu teria ficado aterrorizada pro resto da minha vida.

— Que mulher sábia! Você deveria estar no planalto, sabia?

— Se fosse há alguns anos atrás eu falaria que jamais iria pisar naquele ninho de rato, mas agora que o país foi liberto da corrupção, eu adoraria atuar na bancada dos direitos humanos.

— Pois teria o meu voto.

Continuamos conversando até o fim do trajeto. Gostei tanto daquela mulher que não pude deixar de pegar seu número. Sem sombra de dúvidas eu não chamaria outra taxista a não ser aquela.

Assim que desci do carro dei de cara com o gostoso do meu irmão tragando um Marlboro Red, um lindo ruivo com corpo atlético trajando um terno gravite.

Caminhei em sua direção e de longe já pude sentir o cheiro de seu perfume.

Trocamos um abraço e antes que pudéssemos dizer uma só palavra nossa mãe deu um grito nos matando de vergonha.

— Queridos, entrem logo.

Obedecemos, é claro.

Logo nos acomodamos na mesa onde estava minha irmã mais velha, seu marido e meu pai.

Cumprimentei a todos com um sorriso e conferi se minha mensagem havia sido respondida.

Ah, mas é claro que não.

Larguei aquele objeto eletrônico sobre a mesa e voltei à atenção para minha família.

Minha família é um tanto quanto engraçada.

Meu pai é psiquiatra, minha mãe é formada em Linguísticas, meu irmão Lucas é advogado e a insuportável da minha irmã é pediatra.

No momento, eu estou tentando ignorar essa voz de quem come ovo e arrota caviar que a minha irmã tem. Não vejo a hora de mudar pra fazer meu Doutorado e ficar bem longe dessa mulher asquerosa.

Durante o jantar, meu pai sugerira fazer um brinde.

Lutei com todas as forças que tinha para não revirar os olhos. Eu definitivamente amo a minha família, mas aquilo que eu tenho como irmã e cunhado me fazem esquecer a definição de família e pensar em diversas maneiras de coloca-los a sete palmos de profundidade.

— Quero brindar a esta família que é unida, feliz e saudável. Mesmo com todas as diferenças.

— E bota diferença nisso, não é Seu Cláudio? — Disse o, até então, genro perfeito.

— Por que você disse isso? — Perguntou minha mãe apoiando os cotovelos sobre a mesa e escorando o queixo nas mãos entrelaçadas.

— Pra início de conversa, vocês têm três filhos e só um deles é capaz de te darem netos já que tem dois homossexuais na família, né? Alê nasceu homem, mas cortou o negócio fora. E o Lucas... bem, vocês sabem... Ele não é fã da coisa. Além de ser adotado.

— Meu filho, pra início de conversa minha condição sexual não te diz respeito e quem disse que por eu não ter útero não posso ter filho? — Eu estava literalmente tremendo de raiva. — E outra meu querido cunhado, o Lucas pode ter filhos biológicos sim! Ainda mais que o último namorado dele era um Homem trans dono de um útero em perfeitas condições. — Pausei mais uma vez, mas quando eu estava prestes a continuar tentando entender a fala daquele ignorante, fui cortada por meus pais.

— Se ele gosta de homem, porque vai namorar um homem com vagina? — Meu cunhado questionou.

— Porque ser homem não tem nada a ver com o sexo biológico. — Lucas respondeu.

— Você foi muito infeliz na sua fala. Seria de bom grado que você se desculpasse com meus dois filhos. — Meu pai sugeriu com a voz mansa.

— Pai, isso não é necessário. — Minha irmã disse me deixando com mais raiva ainda. — Esse ser tem é inveja de mim! Sempre teve! Não aceita o fato de sermos gêmeas e ela ter nascido homem e eu mulher. Ela sempre quis ter tudo que eu tinha, até mesmo uma vagina. De tanta inveja ela virou isso daqui que ela é hoje.

— Inveja eu tenho é da Beyonce, de você eu tenho é pena. E não é necessário mesmo, ainda mais porque não sou Jesus pra perdoar aqueles que me tacam pedra.

— Alexandra, não fala assim! — Às vezes eu me esquecia do tamanho da fé que minha mãe possuía.

— Quer saber? Não sou obrigada a ficar aqui com esses dois seres aborígines.

— Mãe! Você vai deixar essa promiscua falar assim comigo?

— Vou sim Roberta. Eu só queria saber onde eu errei com você porque não consigo achar nenhuma justificativa pra você ser tão metida a besta. — Respondeu minha mãe em bom tom.

— Eu não vou ficar aqui pra ser humilhada. — Minha irmã disse com voz de choro.

— Pode ficar querida, eu que não divido o ar com você por mais um segundo. — Me levantei bruscamente e comecei a dar passos pesados fazendo com que todos no imenso salão fossem capazes de escutar os barulhos do meu salto.

Eu não sou obrigada a passar por essas coisas. Não mesmo.

Ninguém tem que me aceitar. Quem tem que me aceitar é eu mesma e olha, eu estou completamente bem comigo mesma. O que terceiros tem a obrigação de me fazer é me respeitar e me tratar com o mínimo de educação a que todos os seres humanos tem direitos.

Eu só rogo aos céus que um raio de inteligência caia sobre a cabeça da minha irmã para mandar embora toda essa estupidez.

Comecei a sentir um vibrar dentro da minha bolsa.

Nem me dei o trabalho de ver quem era.

Com certeza era minha mãe ligando para se desculpar e pedir para que eu voltasse para o restaurante.

Mas era tarde demais.

Se eu chegasse tão perto da minha irmã eu não sei do que eu seria capaz de fazer.

Mexi na minha bolsa na procura de um cigarro, mas fora em vão.

Meu celular começara a vibrar novamente e ao ver o remetente no visor, senti meu coração palpitar.

“Está podendo falar?”

“Claro! Aconteceu algo? Seu aluno está bem?”

“Ah, está tudo bem. Não recebeu as minhas mensagens?”

“Não... Era algo importante?”

“Ah, eu te respondi sobre o Marcos e depois te convidei pra ir comer uma pizza. Eu fui muito rude com você e mesmo assim você foi um anjo comigo.”

“Profissionalismo”

“Sei.”

Ele deu uma risada que me deixou toda arrepiada.

“Mas então, aceita comer uma pizza como pedido de desculpas?”

“Acabei de jantar com meus pais, mas se você me pagar um drink eu não irei recusar.”

“Fechado. Nos encontramos no Vanguard Bar ou quer uma carona?’

“Se quiser me pegar aqui na zona sul, eu aceito a carona.”

“Zona sul? Está perto da minha casa então. O que acha de vim pro meu apartamento? Da pra gente conversar melhor, ao menos que você queria sair pra ver gente nova e tudo mais.”

“Não. Por mim seu apartamento está perfeito.”

“Fechado, me envia a sua localização por mensagem que mais rápido que adormecer eu irei aparecer ai.”

“Beijos! Até daqui a pouco.”

“Até.”

Esse diálogo acabara de acontecer ou eu estou sonhando?

Eu não acredito que em poucos minutos estarei sozinha com Antônio em seu apartamento.

Enquanto eu esperava, mil coisas se passaram na minha cabeça.

É melhor eu nem comentar.

De toda forma, não demorara muito e um carro preto parou rente a mim e abaixou os vidros.

— E aí gatinha, você vem sempre aqui? — Antônio brincou me abrindo um sorriso amarelo.

Eu espero que não tenha deixado claro o quão lubrificada eu estava naquele momento.


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse capítulo da Alê, querem ver mais dela ou preferem que fique mais focado em Antônio/Marcos? Me contem o que vocês estão achando sobre a história, me deem dicas, sugestões e falem sobre o que não tão gostando de ver.
Beijinhos e até o próximo capítulo!

Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?

Com certeza todos que leêm essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.

Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.



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