Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 32
XXXI — The One That Got Away.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, olha quem voltou.
Vou tentar postar duas vezes na semana até que a história acabar, então, bem, não deve demorar muito pra vocês estarem a par do desfecho de Teus Olhos Meus.
Mas e aí, o que vocês estão achando? Contentes? Tristes? Me contem nos comentários, ficarei muito feliz em saber como vocês tão reagindo com essa fase da história.
Não deixem de comentar, favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão... É sério mesmo! Vocês não sabem como isso é importante para nós escritores e não custa nem dois minutos



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ANTÔNIO

Roguei aos Deuses para que eles o arrebatasse com a minha dor.

O céu aquela noite estava quase que sem nuvens. Um vento fresco entrava pela janela do carro enquanto eu dirigia e se chocava contra meu rosto quente, por conta do choro.

Eu não sabia o que fazer, muito menos para aonde ir. A única certeza que eu tinha naquele momento é que não queria ir para minha casa porque em minha cama ainda havia seu cheiro grudado em meu edredom.

Continuei dirigindo sem rumo pelas ruas da cidade.

Parei o carro no semáforo e vi nossa foto. Senti o ar deixar meu peito. Minhas mãos estavam trêmulas e eu não havia condição alguma de dirigir.

Achei um local para estacionar e desci do carro. Em desespero tentei ligar para Marcos.

Uma.

Duas.

Três.

Inúmeras vezes.

Fora em vão.

Ele me matou dentro do seu peito e pelo visto... Meu corpo havia esfriado.

Não sabia mais o que fazer.

Sentei-me no meio-fio e no mesmo instante senti o celular vibrar no bolso da calça.

“É ele”, pensei aliviado.

Olhei para o visor e: Alexandra.

— Alô? — Ela disse.

— Oi, Alê — respondi, fanho.

— Como você está, nego?

— Péssimo, Alexandra, péssimo.

— O que aconteceu, veado?

— Acabado. Está tudo acabado entre Marcos e eu.

— Jeová, tu que é fiel! Aonde você está?

— Sei lá, pera — olhei em volta procurando um ponto de referência. — Perto do cinema da Praça da Liberdade.

— Caralho! O que está fazendo ai?

— Eu estava dirigindo, mas comecei a passar mal, então resolvi parar o carro.

— Fez certo — ela disse mais alguma coisa que da qual não consegui prestar atenção. — Tom? Ainda está ai?

— Sim, sim! Desculpa.

— Quer que eu vá até ai e dirija até a sua casa?

— De jeito maneira — ri de nervoso. — O último lugar que eu quero ir é pra casa — expliquei a ela sobre meu receio de ir pra casa no momento.

— Vou ai te buscar e tu dorme aqui em casa, ok?

— Não sei nem como agradecer, Alexandra.

— Depois você agradece, meu bem.

— Você vai vir como?

— Já pedi um táxi pelo aplicativo — explicou. — Em meia hora eu estou ai.

— Te vejo em breve.

Desliguei o celular e voltei pro carro.

Deitei o banco e liguei o som.

Frank Ocean... Não.

WIllow Smith...  Não.

Lana Del Rey... Não.

DESISTO. Liguei o shuffle e começou a tocar Electric da Alina Baraz.

"Darker than the ocean, deeper than the sea... You've ot everything, you've got what I need."

Ficou impossível segurar o choro.

Continuei ali, imóvel em um profundo estado de insight. Queria entender o que aconteceu e como que eu lidaria com aquela situação.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, nem por quantas músicas.

Chorei tanto que acabei cochilando.

Acordei assustado com o toque dos dedos cerrados de Alexandra contra o vidro do carro.

Abri um sorriso amarelo ao vê-la e desci do carro para abraça-la.

Conforto.

Como é bom ter em quem confiar.

Entramos de volta ao carro e agora minha amiga o conduzia. Durante todo o trajeto narrei o que havia acontecido. Ela ouvia em silêncio, esboçando apenas expressões faciais. Contar a ela me fazia refletir cada vez mais sobre meus atos.

Chegamos em sua casa e subimos para seu quarto. Eu definitivamente amo a arquitetura grega de sua moradia. Alexandra era de fato uma Deusa grega.

Ela se retirou do ambiente por alguns segundos e voltou com uma garrafa de vinho. Nos servimos e ela se ausentou mais uma vez. Agora, para se banhar. Ao adentrar o quarto mais uma vez e eu, que estava distraído mexendo no celular, levei um susto ao vê-la em um robe azul. Alexandra aninhou-se ao meu lado e encostei meu corpo no dela.

— Preto? — Ela me chamou.

— Oi? — Respondi em meio a um gole.

— Ainda quer falar do episódio?

— Acho que sim — a olhei. — Quanto mais falamos sobre alguma situação que nos incomoda, mais nos habituamos a aquela situação e cada vez fica mais fácil de lidar com ela.

— Quem disse isso?

— Sei lá, amore, você quer que eu diga o nome do autor “et al.” e o ano? — Debochei.

— Plágio é crime, bebe.

— Acadêmicos — revirei os olhos.

Ela me deu um tapa de leve.

— Mas prossiga, você disse que queria dizer algo — pontuei.

— É que acho que vocês deveriam sentar e conversar, diálogo é a base de tudo.

— Isso é óbvio — retruquei. — Só não dá pra ser hoje porque ainda estamos de cabeça quente, eu acho.

— Vocês terminaram do nada, por causa de uma única briga tudo acabou.

Tentei falar algo, mas ela insistiu em continuar falando.

— Você o ama...

Senti um calor nas extremidades do corpo.

— Eu o amo, mas não sei se gosto mais.

— Preto, isso é impossível.

— Claro que não — me ajeitei na cama. — Sabe quando um amigo que gostamos fica distante, ou, bem, a gente se torna distante?

— Acho que sim.

— Pois então, já dizia a canção que a hora do encontro é também a da despedida — olhei uma notificação no celular e desdenhei colocando o celular no modo não perturbe. — Demorou um tempo para entender a dualidade desses versos.

— E o que eles querem dizer?

— Pessoas se encontram, reencontram, numa estação, num cais, numa rodoviária, em aeroportos, como preferir, enquanto tantas outras se despede e, muitas vezes, quando nos encontramos com nós mesmos nos despedimos de velhos amigos.

— Ou amores — ela disse enquanto coçava a nuca.

— Isso — vibrei. — Você está entendendo.

— Acho que entendi bem.

— O problema é que as coisas não são tão fáceis assim.

— Mas se você sabe o que ta sentindo, fica mais fácil de lidar, não?

— Mas ai que está. É triste reconhecer e admitir isso.

— Imagino, ainda mais pra você, leonino.

Revirei os olhos mais uma vez e joguei a cabeça de lado. Ela riu com minha reação enquanto enchia as nossas taças.

— Mas como que a gente faz para reconhecer que um amor acabou? Amores acabam? — Ela questionou.

— Bem, há quem diga que o que é real não tem fim. Que o amor, ou até mesmo a amizade, quando verdadeira, é para a vida inteira — dei mais um gole no vinho pra molhar a boca seca de tanto falar. — Mas na prática não é bem assim que funciona.

— Como assim?

— A gente pode nutrir um zelo, um afeto pela pessoa pela vida inteira, mas a vontade de estar junto, de trocar, de dividir, não.

— Meu Deus — ela bradou! — Sim! Muito sim. O sentimento pode ser eterno, mas o desejo de manter um relacionamento com a pessoa, nem sempre.

— E é assim que eu me sinto no momento.

— Não fica chateado comigo, ok? Mas acho estranho demais vocês terem terminado assim... DO NADA! Se não fosse essa conversa, eu estaria achando que você não sentia nada por ele, que estavam juntos por conveniência.

— Meu amor por ele vai ser eterno. Daqui 50 anos vão falar o nome dele e eu vou me lembrar do seu sorriso, do seu cheiro, do seu toque... Mas para dividir a vida, as alegrias, os dramas, os cafés, os vinhos, os anos, as belezas e os anos... Eu precisaria estar sentindo bem com essa partilha... Fora que não há empatia da parte dele com meus problemas e a sua companhia não era tão confortável assim.

Não percebi nada disso, parecia estar tudo tão normal.

Talvez a gente fingisse estar.

Ela me deu um tapinha no ombro em sinal de conforto.

— Mas se tem uma coisa que a vida me ensinou da forma mais árdua, foi que para uma relação dar certo, precisa-se de uma boa dose de compatibilidade. Compatibilidade de gênio, de gostos, de pensamentos, de energia — ela focou os olhos no celular, mas ainda prestava atenção na nossa conversa.

Sua expressão era de admiração, como se tivesse muito orgulhosa de estar tendo aquela conversa, mas na verdade, eu fazia a menor ideia do que eu estava fazendo.

— É exatamente isso que você disse e quando uma das partes muda seu jeito de pensar, de sentir e agir no mundo, é natural que a compatibilidade que você disse ceda e com isso o prazer de estar junto arrefece.

— Mas você, mesmo assim, bem lá no fundinho, não acha que essa incompatibilidade é capaz de anular esse sentimento? — Ela indagou.

— Acho que não — franzi o cenho, pensativo. — Creio que nenhuma mudança, evolução ou crescimento de uma das partes é capaz de apagar a importância que certas pessoas tiveram e têm em nossas vidas.

Alexandra largou o celular e segurou-me no ombro.

— Você é incrível, Antônio.

Revirei os olhos, mais uma vez.

— Eu sei — caçoei.

— É sério. Você poderia estar fazendo um show pelo fim do relacionamento e está aqui dizendo entre linhas tortas que sempre temos que ver o melhor lado das coisas, das pessoas.

Não era bem isso que eu queria dizer”, pensei.

O ponto é que não podemos ficar tentando nos conectar com quem não está na mesma sintonia que a gente.

Se tudo pode acontecer a qualquer momento, se nunca somos os mesmos quando acordamos pela manhã, por que teimamos em não aceitar que os relacionamentos também se transformam e que assim como as amizades, às vezes terminam?

Por alguns instantes o silêncio havia tomado conta do quarto de minha amiga. Antes que aquela quietude começasse a me incomodar, ela conectou seu celular em sua caixinha de som através do bluetooth e colocou Ilê Aiyê pra tocar.

Abri um sorriso ao reconhecer os batuques nos atabaques e a beijei no rosto.

— Obrigado.

— Eu que agradeço — ela se aproximou para um abraço. — Mesmo em dor, você me faz constatar que é realmente possível amar uma pessoa e não gostar mais dela.

— Isso é desconcertante.

— Sim, desorienta.

— Mas fingir empatia e afeto é pior que fingir orgasmo, então, o jeito é manter a postura ereta, a mente quieta e o coração tranquilo.

— Eu só acho que Marcos não está reagindo da mesma forma que você.

Pensei na situação e desabei no choro.


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Notas finais do capítulo

Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?

Com certeza todos que leem essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.

Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.



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