Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão
Notas iniciais do capítulo
Olá leitores, olha quem voltou.
Alô, alô Graças a Deus. Eu pela quinta vez estou aqui de novo de frente a essa câmera, como sempre faço né, pra pedir desculpa sobre a demora. Mas é aquele ditado, né?
Espero que não deixem favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão... É sério mesmo! Vocês não sabem como isso é importante para nós escritores e não custa nem dois minutos.
ANTÔNIO
A cada dia que passo mais ao lado de Marcos me sinto mais completo.
Estar apaixonado me faz sentir vivo, motivado a seguir em frente. Não obstante desde que André ressurgiu do quinto dos infernos eu me pego enfrentando uma angustia que me incomoda exacerbadamente.
São três horas da manhã e estou dirigindo completamente sem sono no meio de uma tempestade até Santa Bárbara, a cidade onde meus pais voltaram a morar depois que eu e minha irmã crescemos.
Barulho de chuva, Belle & Sebastian e motor de carro.
Nenhum desses três barulhos eram bons o bastante pra afastar os pensamentos que me faziam estremecer ao lembrar de cada palavra dita, sorrisos trocados e até mesmo passeios juntos em uma tarde de domingo cinzenta.
Quando estava prestes a entrar no trevo da Estrada Real avistei um restaurante de beira de estrada 24h. Dei seta e logo atravessei a BR, que naquele horário, estava vazia. Quando desci do carro vi alguns ônibus estacionados e alguns de seus passageiros utilizavam a área de fora para fumar. Os ignorando, dirigi-me até a lanchonete e pedi um Mocha e o tomei observando dois filhotes de gatos aninhados juntos, um fazendo o corpo do outro de travesseiro. Isso me era um tanto quanto inspirador.
Enquanto lavava as mãos no banheiro, meu estômago embrulhava ao sentir o cheiro de sabonete líquido de pêssego. Estava pensando no quão aquele cheiro me enjoaria até o resto da viagem quando senti meu celular vibrar no bolso da calça.
“Acordei assim, pensando em você.”.
Cliquei no anexo a mensagem. Meu namorado havia enviado uma foto de cueca entre o edredom mostrando o quão animado estava.
Mordi o lábio desejando estar ali junto a ele, mas como não era possível… Não iria lamentar. Ou talvez iria. Ele é capaz de despertar meus desejos mais corpóreos.
Tirei uma foto do banheiro, vazio, e enviei.
“Esperando um caminhoneiro aparecer.”. Ri ao imaginar sua reação.
Não tive mais nenhuma resposta. Era bem capaz dele ter acreditado fielmente e estar surtando em Abóboras.
Tenho que pensar duas vezes antes de fazer uma brincadeira com leoninos.
Paguei o café que havia tomado e comecei a caminhar para o estacionamento. Todos os ônibus já haviam partido. O frio que a tempestade havia trazido me fazia tremer a cada passo.
Quando apertei o alarme do carro, ouvi a voz de MEU AMIGO QUE HAVIA SUICIDADO CHAMANDO PELO MEU NOME E ISSO ME FEZ SENTIR MAIS FRIO AINDA. CORRI PARA DENTRO DO CARRO E ESFREGUEI OS OLHOS. IGNORE ISSO. IGNORE ANTÔNIO.
Conectei meu celular ao carregador e vi que havia outra mensagem.
“Ah é? Pois saiba que a punheta de hoje não será direcionada a você.”.
Abri a imagem que acompanhava a mensagem e agora Marcos segurava seu membro na mão, completamente enrijecido, com a imagem de uma atriz pornô na televisão ao fundo. O ignorei completamente. Safado.
Dirigi trêmulo por cada cm que faltava até a casa dos meus pais. Quando cheguei, utilizei a chave que eles me confinaram e fui direto pro quarto onde eu costumava ficar. Ao abrir a porta, deparei-me com alguém deitado no meio da cama. Apaguei a luz no mesmo instante com tentativa de não acordar quem é que fosse que estivesse ali.
— Antônio? — uma voz familiar chamou pelo meu nome? — É você?
Acendi a luz na mesma velocidade em que apaguei.
— Quem mais seria? A Pocahontas? — Ela riu, jogou o edredom no chão e veio correndo em minha direção.
Senti falta desse abraço quente.
— A mãe não me disse que estava voltando para o Brasil — soltei-me do abraço, a encarei nos olhos enquanto reparava em cada detalhe que havia mudado e lhe segurava pelos os ombros. — Senti falta dessa sua cara emburrada — envolvi minha irmã caçula em outro abraço.
— Eu entrei de férias e queria fazer uma surpresa, nem eles sabiam que eu viria.
— Onde arrumou dinheiro pra passagem? — Indaguei encucado.
— Temos tanto a que conversar — ela riu. — Vamos, sente.
— Nossa conversa terá que esperar um pouco — joguei a mala no chão. — Preciso de um banho quente antes.
Minha irmã assentiu com a cabeça, tomei às mãos uma muda de roupa e me dirigi para o banheiro mais próximo. Apesar do frio que fazia lá fora, o aquecedor fora capaz de conservar energia o suficiente pra escaldar minhas costas. Neste momento, eu estava tão ofegante com a presença de Diana que não fiquei enrolando como o usual.
Ao sair do banheiro, fui até o cômodo onde ela estava anteriormente, não obstante ela não estava lá. Desci para a cozinha e ela estava fazendo chá. Maçã e Canela, um dos meus favoritos.
Quando ela entregou-me a xícara, nos dirigimos até a varanda da cozinha e ficamos ali sentados em uma namoradeira, dividindo uma manta grossa e conversando enquanto o cheiro de terra molhada se misturava com o do chá.
Ela me contava sobre tudo, passeios, a vida universitária na Alemanha, culinária e até mesmo namoro.
— Sim, foi ele quem pagou a minha passagem.
— Seus olhos brilham enquanto fala dele — ri.
— Eu o amo e nunca amei alguém assim — explicou-se. — Estamos juntos desde o primeiro ano, três anos juntos e ele sempre me apoiando.
— Por que escondeu isso de mim por todo esse tempo Diana? — questionei.
— Medo — ela franziu o cenho.
— Não minta pra mim.
— É verdade, afinal, é você quem está financiando meus estudos em Friedrichshafen. Não queria que você pensasse que eu estivesse com distrações ao invés de estudar e desperdiçasse o seu dinheiro.
— Faça-me o favor Diana — balancei a cabeça. — Longe de mim pensar isso e olha, saiba que estou muito feliz por você ter encontrado alguém que te faça se sentir em casa... Afinal você está vivendo em um lugar bem diferente da sua.
— E bota diferente nisso — ela riu. — Mas muito obrigada por entender.
Aproximei- me meu corpo do seu e dei um beijo em seu rosto.
Continuamos ali até a chuva parar e o sol começar a querer aparecer.
Havia posto vários assuntos em dia, mas havia um que eu estava com receio de contar. Diana sempre foi uma irmã ciumenta e apegada a mim. Não obstante, depois de me contar sobre Vagner percebi que era besteira manter segredo.
— Está a fim de andar um pouquinho?
— Quer ir à padaria? Mamãe comprou merenda ontem.
— Não é isso, vamos até o alto da cachoeira ver o nascer do sol.
— Só vou pegar meu celular que deixei lá na cozinha — ela esboçou um sorriso.
Lembrei da última mensagem que meu namorado havia mandado e resolvi cutucar a onça.
“Bom dia amor, divertiu-se ontem com a sua loira ontem à noite?”.
Espreguicei-me e minha irmã já estava de volta.
— Não está com sono? — perguntei.
— Jet lag, meu querido. — ela balançou a cabeça descontente. — Jet lag.
Caminhamos de mãos dadas, como o de costume, até o local.
Estava ficando cada vez mais claro, o único barulho que ouvíamos ali era o gorjear das aves que dançavam no céu sinalizando que o dia estava começando e o agradável cheiro que a chuva havia deixado ainda estava bem forte.
Não demorou muito e estávamos sentados em uma rocha aninhados esperando o primeiro raio de sol começar a pintar o céu.
Uma brisa gelada passou pela minha nuca e tive certeza que era o momento ideal para contar. Sem hesitar abri a boca e contei.
— Também estou namorando.
— Você definitivamente não podia me julgar.
— Olha, isso começou tem sei lá quanto tempo, nem seis meses — ri. — É bem diferente.
Contei tudo que havia acontecido.
Ela ouvia interessada e às vezes me interrompia pra fazer uma pergunta ou outra.
Naquele momento os raios de sol já esquentavam a minha pele, mesmo com o ar gelado.
— Acho melhor voltarmos, mamãe vai ficar preocupada — ela sugeriu.
Assenti e apostamos corrida pra ver quem chegasse primeiro até a casa de nossos pais.
O problema é que ela não sabia que eu corria todos os dias de manhã e, pelo visto, ela também fazia o mesmo. Quando estava próximo da cozinha avistei galinhas e diminui cada vez mais a velocidades dos meus passos.
— Não mesmo! — berrei. — Desisto. Não vou passar por aí.
— Pode assumir que está ficando velho e não tem mais pique.
— Olha, não me arrasa não — bradei.
Ela se esforçou pra não rir e espantou as galinhas para o outro lado do quintal.
— Pode vir.
— Não mesmo!
— Elas não vão fazer nada.
— Eu simplesmente não consigo.
Diana as espantou para mais longe ainda.
Tomei impulso e atravessei o mais rápido que pude.
— Venci — gritei.
— O que você tá fazendo? Um jogo comigo, garoto?
— Tem que comer muita batata doce ainda pra chegar aonde eu cheguei.
— Que gritaria é essa aqui fora essa hora da manhã? — minha mãe surgiu com um cabo de vassoura na mão.
— Antônio e as galinhas — Diana explicou.
— Espero que seja só isso mesmo — mamãe disse. — Entrem, já passei o café.
— Claro que é só isso — abracei minha irmã e ela me beliscou a nádega.
Enquanto tomávamos café explicamos para a mãe o que fazíamos acordado tão cedo e ela começou a atualizarmos sobre as fofocas da família, as quais eu tinha interesse nenhum em saber.
— Sua tia vai ter o terceiro neto e eu aqui sem nenhum — ela disse triste. — Vocês não acham que já está na hora de me dar um?
— Não é pra mim — disse quase que convicto.
— Não vai me dar netos? — ela cruzou as mãos respirando fundo. — Quando você assumiu eu voltei a ter esperanças que você me daria netos, você sabe, eu sempre soube sobre sua condição, mas desde o momento em que me disse sobre sua sexualidade e que independente dela teria pelo menos um filho eu vim contando os segundos para esse dia.
— Não sei, sou muito jovem ainda e não quero que fique com expectativas em algo que não sei se posso cumprir.
— Claro que pode, e tenho certeza, certeza absoluta de que não irá se arrepender, meu filho.
— Tenho que pensar nisso com calma, ok? Eu teria que mudar completamente o estilo da minha vida e... — pestanejei.
— E?
Queria dizer que tinha que esperar Marcos formar primeiro, mas definitivamente eu não estava pronto pra contar para meus pais que depois de muito tempo eu estava com alguém.
— O dinheiro que vou gastar comprando fralda eu posso ir pra Europa.
— Não seja estúpido — ela estapeou-me a nuca. — Com o tempo a vida nos ensina que nos tornamos pais pra termos pessoas melhores a que nós pudemos ser.
Respirei fundo e ela entendeu que não queria mais falar nesse assunto.
Para minha sorte – talvez azar – o telefone começou a tocar no bolso da calça.
Vim quem era e mandei uma mensagem de “Não posso atender agora.”.
— Tudo bem atender — minha mãe disse.
—Ele não quer atender porque é o bae.
— Quem é esse tal de bae?
Diana e eu rimos, mas na verdade eu queria passar a faca que usei pra pegar requeijão em sua garganta.
Ela explicou o que a palavra significava.
— Então você tem alguém e não me contou?
— É muito recente, não queria apresentar alguém que não sei se realmente daria em algo — disse.
— Atchmentira — debochou Diana.
— Diana, reze pra não ter nenhum sapo no quintal se não seu nome vai parar no fundo da boca dele — disse, sério.
— Para de gracinha menino — minha mãe ordenou. — Marque um jantar na sua casa, quero conhecer esse seu, como é que chama? Bae.
— Vou providenciar — disse desejando a morte. — Bem, vou subir e dormir um pouco. Podem me acordar pro almoço.
— Enquanto isso vou ir espantando todos os sapos que eu encontrar — Diana disse.
Revirei os olhos, mostrei os dois dedos médios e segui o meu caminho. Na escada havia encontrado meu pai e o abracei.
Já no quarto, aproveitei que todos estavam lá embaixo e retornei a ligação.
“Bom dia.” Ele disse. “E respondendo a sua mensagem, foi horrível, preferiria que fosse você.”
“É o sonho de muitos.” Ri.
“Leoninos... Como foi a viagem, meu bem?”
Expliquei.
“Ah, e agora graças a minha irmã...” Hesitei em falar. “Sua sogra sabe de nós.”
“O que dizer de sua irmã que eu mal conheço e já odeio?”
“Ah, mas vai ficar conhecendo em breve porque minha mãe vai ir pra Abóboras só pra te conhecer.”
“Você está brincando?”
“Relaxa, o pior que pode acontecer é ela mandar a gente se casar porque quer ser avó.”
“É uma ótima ideia.”
“Só caso quando tiver um anel da Tiffany & Co. no meu dedo.” Caçoei.
Ficamos ali conversando por mais um tempo até que eu adormeci.
Acordei com Diana pulando sobre meu corpo pra dizer que o almoço estava pronto. Peguei o celular pra conferir as horas e havia uma mensagem.
“Caio agora também sabe de nós dois. — Marcos.”
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Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?
Com certeza todos que leem essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.
Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.