Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 26
XXV — Ele Não Deveria Saber.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, olha quem voltou.
Alô, alô Graças a Deus. Eu pela quinta vez estou aqui de novo de frente a essa câmera, como sempre faço né, pra pedir desculpa sobre a demora. Mas é aquele ditado, né?
Espero que não deixem favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão... É sério mesmo! Vocês não sabem como isso é importante para nós escritores e não custa nem dois minutos.



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ANTÔNIO

A cada dia que passo mais ao lado de Marcos me sinto mais completo.

Estar apaixonado me faz sentir vivo, motivado a seguir em frente. Não obstante desde que André ressurgiu do quinto dos infernos eu me pego enfrentando uma angustia que me incomoda exacerbadamente.

São três horas da manhã e estou dirigindo completamente sem sono no meio de uma tempestade até Santa Bárbara, a cidade onde meus pais voltaram a morar depois que eu e minha irmã crescemos.

Barulho de chuva, Belle & Sebastian e motor de carro.

Nenhum desses três barulhos eram bons o bastante pra afastar os pensamentos que me faziam estremecer ao lembrar de cada palavra dita, sorrisos trocados e até mesmo passeios juntos em uma tarde de domingo cinzenta.

Quando estava prestes a entrar no trevo da Estrada Real avistei um restaurante de beira de estrada 24h. Dei seta e logo atravessei a BR, que naquele horário, estava vazia. Quando desci do carro vi alguns ônibus estacionados e alguns de seus passageiros utilizavam a área de fora para fumar. Os ignorando, dirigi-me até a lanchonete e pedi um Mocha e o tomei observando dois filhotes de gatos aninhados juntos, um fazendo o corpo do outro de travesseiro. Isso me era um tanto quanto inspirador.

Enquanto lavava as mãos no banheiro, meu estômago embrulhava ao sentir o cheiro de sabonete líquido de pêssego. Estava pensando no quão aquele cheiro me enjoaria até o resto da viagem quando senti meu celular vibrar no bolso da calça.

Acordei assim, pensando em você.”.

Cliquei no anexo a mensagem. Meu namorado havia enviado uma foto de cueca entre o edredom mostrando o quão animado estava.

Mordi o lábio desejando estar ali junto a ele, mas como não era possível… Não iria lamentar. Ou talvez iria. Ele é capaz de despertar meus desejos mais corpóreos.

Tirei uma foto do banheiro, vazio, e enviei.

Esperando um caminhoneiro aparecer.”. Ri ao imaginar sua reação.

Não tive mais nenhuma resposta. Era bem capaz dele ter acreditado fielmente e estar surtando em Abóboras.

Tenho que pensar duas vezes antes de fazer uma brincadeira com leoninos.

Paguei o café que havia tomado e comecei a caminhar para o estacionamento. Todos os ônibus já haviam partido. O frio que a tempestade havia trazido me fazia tremer a cada passo.

Quando apertei o alarme do carro, ouvi a voz de MEU AMIGO QUE HAVIA SUICIDADO CHAMANDO PELO MEU NOME E ISSO ME FEZ SENTIR MAIS FRIO AINDA. CORRI PARA DENTRO DO CARRO E ESFREGUEI OS OLHOS. IGNORE ISSO. IGNORE ANTÔNIO.

Conectei meu celular ao carregador e vi que havia outra mensagem.

Ah é? Pois saiba que a punheta de hoje não será direcionada a você.”.

Abri a imagem que acompanhava a mensagem e agora Marcos segurava seu membro na mão, completamente enrijecido, com a imagem de uma atriz pornô na televisão ao fundo. O ignorei completamente. Safado.

Dirigi trêmulo por cada cm que faltava até a casa dos meus pais. Quando cheguei, utilizei a chave que eles me confinaram e fui direto pro quarto onde eu costumava ficar. Ao abrir a porta, deparei-me com alguém deitado no meio da cama. Apaguei a luz no mesmo instante com tentativa de não acordar quem é que fosse que estivesse ali.

— Antônio? — uma voz familiar chamou pelo meu nome? — É você?

Acendi a luz na mesma velocidade em que apaguei.

— Quem mais seria? A Pocahontas? — Ela riu, jogou o edredom no chão e veio correndo em minha direção.

Senti falta desse abraço quente.

— A mãe não me disse que estava voltando para o Brasil — soltei-me do abraço, a encarei nos olhos enquanto reparava em cada detalhe que havia mudado e lhe segurava pelos os ombros. — Senti falta dessa sua cara emburrada — envolvi minha irmã caçula em outro abraço.

— Eu entrei de férias e queria fazer uma surpresa, nem eles sabiam que eu viria.

— Onde arrumou  dinheiro pra passagem? — Indaguei encucado.

— Temos tanto a que conversar — ela riu. — Vamos, sente.

— Nossa conversa terá que esperar um pouco — joguei a mala no chão. — Preciso de um banho quente antes. 

Minha irmã assentiu com a cabeça, tomei às mãos uma muda de roupa e me dirigi para o banheiro mais próximo. Apesar do frio que fazia lá fora, o aquecedor fora capaz de conservar energia o suficiente pra escaldar minhas costas. Neste momento, eu estava  tão ofegante com a presença de Diana que não fiquei enrolando como o usual.

Ao sair do banheiro, fui até o cômodo onde ela estava anteriormente, não obstante ela não estava lá. Desci para a cozinha e ela estava fazendo chá. Maçã e Canela, um dos meus favoritos.  

Quando ela entregou-me a xícara, nos dirigimos até a varanda da cozinha e ficamos ali sentados em uma namoradeira, dividindo uma manta grossa e conversando enquanto o cheiro de terra molhada se misturava com o do chá.

Ela me contava sobre tudo, passeios, a vida universitária na Alemanha, culinária e até mesmo namoro.

— Sim, foi ele quem pagou a minha passagem.

— Seus olhos brilham enquanto fala dele — ri.

— Eu o amo e nunca amei alguém assim — explicou-se. — Estamos juntos desde o primeiro ano, três anos juntos e ele sempre me apoiando.

— Por que escondeu isso de mim por todo esse tempo Diana? — questionei.

— Medo — ela franziu o cenho.

— Não minta pra mim.

— É verdade, afinal, é você quem está financiando meus estudos em Friedrichshafen. Não queria que você pensasse que eu estivesse com distrações ao invés de estudar e desperdiçasse o seu dinheiro.

— Faça-me o favor Diana — balancei a cabeça. — Longe de mim  pensar isso e olha, saiba que estou muito feliz por você ter encontrado alguém que te faça se sentir em casa... Afinal você está vivendo em um lugar bem diferente da sua.

— E bota diferente nisso — ela riu. — Mas muito obrigada por entender.

Aproximei- me meu corpo do seu e dei um beijo em seu rosto.

Continuamos ali até a chuva parar e o sol começar a querer aparecer.  

Havia posto vários assuntos em dia, mas havia um que eu estava com receio de contar. Diana sempre foi uma irmã ciumenta e apegada a mim. Não obstante, depois de me contar sobre Vagner percebi que era besteira manter segredo.

— Está a fim de andar um pouquinho?

— Quer ir à padaria? Mamãe comprou merenda ontem.

— Não é isso, vamos até o alto da cachoeira ver o nascer do sol.

— Só vou pegar meu celular que deixei lá na cozinha — ela esboçou um sorriso.

Lembrei da última mensagem que meu namorado havia mandado e resolvi cutucar a onça.

Bom dia amor, divertiu-se ontem com a sua loira ontem à noite?”.

Espreguicei-me e minha irmã já estava de volta.

— Não está com sono? — perguntei.

Jet lag, meu querido. — ela balançou a cabeça descontente. — Jet lag.

Caminhamos de mãos dadas, como o de costume, até o local.

Estava ficando cada vez mais claro, o único barulho que ouvíamos ali era o gorjear das aves que dançavam no céu sinalizando que o dia estava começando e o agradável cheiro que a chuva havia deixado ainda estava bem forte.

 Não demorou muito e estávamos sentados em uma rocha aninhados esperando o primeiro raio de sol começar a pintar o céu.

Uma brisa gelada passou pela minha nuca e tive certeza que era o momento ideal para contar. Sem hesitar abri a boca e contei.

— Também estou namorando.

— Você definitivamente não podia me julgar.

— Olha, isso começou tem sei lá quanto tempo, nem seis meses — ri. — É bem diferente.

Contei tudo que havia acontecido.

Ela ouvia interessada e às vezes me interrompia pra fazer uma pergunta ou outra.

Naquele momento os raios de sol já esquentavam a minha pele, mesmo com o ar gelado.

— Acho melhor voltarmos, mamãe vai ficar preocupada — ela sugeriu.

 Assenti e apostamos corrida pra ver quem chegasse primeiro até a casa de nossos pais.

O problema é que ela não sabia que eu corria todos os dias de manhã e, pelo visto, ela também fazia o mesmo. Quando estava próximo da cozinha avistei galinhas e diminui cada vez mais a velocidades dos meus passos.

— Não mesmo! — berrei. — Desisto. Não vou passar por aí.

— Pode assumir que está ficando velho e não tem mais pique.

— Olha, não me arrasa não — bradei.

Ela se esforçou pra não rir e espantou as galinhas para o outro lado do quintal. 

— Pode vir.

— Não mesmo!

— Elas não vão fazer nada.

— Eu simplesmente não consigo.

Diana as espantou para mais longe ainda.

Tomei impulso e atravessei o mais rápido que pude.

— Venci — gritei.

— O que você tá fazendo? Um jogo comigo, garoto?

— Tem que comer muita batata doce ainda pra chegar aonde eu cheguei.

— Que gritaria é essa aqui fora essa hora da manhã? — minha mãe surgiu com um cabo de vassoura na mão.

— Antônio e as galinhas — Diana explicou.

— Espero que seja só isso mesmo — mamãe disse. — Entrem, já passei o café.

— Claro que é só isso — abracei minha irmã e ela me beliscou a nádega.

Enquanto tomávamos café explicamos para a mãe o que fazíamos acordado tão cedo e ela começou a atualizarmos sobre as fofocas da família, as quais eu tinha interesse nenhum em saber.

— Sua tia vai ter o terceiro neto e eu aqui sem nenhum — ela disse triste. — Vocês não acham que já está na hora de me dar um?

— Não é pra mim — disse quase que convicto.

— Não vai me dar netos? — ela cruzou as mãos respirando fundo. — Quando você assumiu eu voltei a ter esperanças que você me daria netos, você sabe, eu sempre soube sobre sua condição, mas desde o momento em que me disse sobre sua sexualidade e que independente dela teria pelo menos um filho eu vim contando os segundos para esse dia.

— Não sei, sou muito jovem ainda e não quero que fique com expectativas em algo que não sei se posso cumprir.

— Claro que pode, e tenho certeza, certeza absoluta de que não irá se arrepender, meu filho.

— Tenho que pensar nisso com calma, ok? Eu teria que mudar completamente o estilo da minha vida e... — pestanejei.

— E?

Queria dizer que tinha que esperar Marcos formar primeiro, mas definitivamente eu não estava pronto pra contar para meus pais que depois de muito tempo eu estava com alguém.

— O dinheiro que vou gastar comprando fralda eu posso ir pra Europa.

— Não seja estúpido — ela estapeou-me a nuca. — Com o tempo a vida nos ensina que nos tornamos pais pra termos pessoas melhores a que nós pudemos ser.

Respirei fundo e ela entendeu que não queria mais falar nesse assunto.

Para minha sorte – talvez azar – o telefone começou a tocar no bolso da calça.

Vim quem era e mandei uma mensagem de “Não posso atender agora.”.

— Tudo bem atender — minha mãe disse.

—Ele não quer atender porque é o bae.

— Quem é esse tal de bae?

 Diana e eu rimos, mas na verdade eu queria passar a faca que usei pra pegar requeijão em sua garganta.

Ela explicou o que a palavra significava.

— Então você tem alguém e não me contou?

— É muito recente, não queria apresentar alguém que não sei se realmente daria em algo — disse.

Atchmentira — debochou Diana.

— Diana, reze pra não ter nenhum sapo no quintal se não seu nome vai parar no fundo da boca dele — disse, sério.

— Para de gracinha menino — minha mãe ordenou. — Marque um jantar na sua casa, quero conhecer esse seu, como é que chama? Bae.

— Vou providenciar — disse desejando a morte. — Bem, vou subir e dormir um pouco. Podem me acordar pro almoço.

— Enquanto isso vou ir espantando todos os sapos que eu encontrar — Diana disse.

Revirei os olhos, mostrei os dois dedos médios e segui o meu caminho. Na escada havia encontrado meu pai e o abracei.

Já no quarto, aproveitei que todos estavam lá embaixo e retornei a ligação.

Bom dia.” Ele disse. “E respondendo a sua mensagem, foi horrível,  preferiria que fosse você.”

É o sonho de muitos.” Ri.

Leoninos... Como foi a viagem, meu bem?

Expliquei.

Ah, e agora graças a minha irmã...” Hesitei em falar. “Sua sogra sabe de nós.

O que dizer de sua irmã que eu mal conheço e já odeio?

Ah, mas vai ficar conhecendo em breve porque minha mãe vai ir pra Abóboras só pra te conhecer.

Você está brincando?

Relaxa, o pior que pode acontecer é ela mandar a gente se casar porque quer ser avó.

É uma ótima ideia.”

Só caso quando tiver um anel da Tiffany & Co. no meu dedo.” Caçoei.

Ficamos ali conversando por mais um tempo até que eu adormeci.

Acordei com Diana pulando sobre meu corpo pra dizer que o almoço estava pronto. Peguei o celular pra conferir as horas e havia uma mensagem.

Caio agora também sabe de nós dois. — Marcos.”


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Notas finais do capítulo

Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?

Com certeza todos que leem essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.

Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.



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