Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 11
X — Como Eu Poderia Saber?


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, olha quem voltou?
Bem, não há muito a dizer. Espero que gostem do capítulo e bla bla bla.
Não deixem de comentar, favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão... É sério mesmo! Vocês não sabem como isso é importante para nós escritores e não custa nem dois minutos.
Vejo vocês no próximo sábado.



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ANTÔNIO

O dia hoje amanheceu querendo terminar.

Eu sou um cara que não tem problemas com as segundas feiras.

Para mim, quem odeia as segundas é quem está descontente com o emprego, com a sua rotina, com a vida.

Mas pra me contradizer, eu realmente preferiria não viver esta segunda.

Ontem foi o dia em que eu fiquei literalmente o tempo inteiro na cama.

Sabe o que é acordar ás quatro horas da tarde?

Assim que eu cheguei da festa eu comecei a refletir sobre tudo que havia acontecido e quando me dei conta, uma garrafa de Whisky já havido sido consumida.

De toda forma, não tem como mudar o passado.

Não tem nem porque ficar lamentando de ter beijado o meu aluno.

Até mesmo porque desde a primeira vez que coloquei meus olhos naquele rapaz, eu tive a certeza que estaria prestes a me afogar em um oceano de confusão.

Enfim.

Tenho que torcer para conseguir dar um bom desempenho durante toda a aula, afinal, meus alunos não têm culpa deste meu mau-humor.

Já estava prestes a sair, mas voltei ao quarto para dar um beijo em Vênus.

Eu nunca vou amar alguém mais a que eu amo a minha gata.

Pronto. Agora eu estava pronto pra partir.

Eu estava tão acostumado a passar na casa de Marcos para dar uma carona que só percebi no meio do trajeto que ele já não precisava mais de minha carona, já que seu pé estava melhor.

Bem, pelo menos essa foi a desculpa que ele usou.

Fazer o que né?

Vou atropelar quando vir na rua?

Não vou! Ou vou? Talvez. Quem sabe?!

Quando saí do meu carro e dei de cara com a temperatura ambiente, quase voltei para dentro e liguei o ar-condicionado na maior potência. Se eu não soubesse que haveria um climatizador na minha sala de aula me esperando e marcando 19°C, com certeza teria permanecido largado no banco ao som de The Smiths.

Não são nem sete da manhã e o sujeito já começa a soar igual um porco.

Assim não da Brasil. Assim não dá.

Passei na sala dos professores para bater o cartão e encher meu copo térmico com uma enorme dose de café e sem pestanejar tomei o rumo de onde passaria o resto da manhã.

Como de costume, deixei alguns minutinhos se passarem para ver se alguém que estivesse atrasado fosse ainda chegar, mas pelo visto todo mundo, ou quase todo mundo, estava presente ali.

Eu havia combinado com a turma que depois de dez minutos de aula, ninguém iria entrar, pois isso é injusto com quem chegou no horário e já está concentrado. Além de tirar minha linha de raciocínio. Claro que há exceções e todas as justificativas serão ouvidas, mas até então...

Conferi no relógio e estava na hora de fechar a prova.

Só queria entender porque Marcos não havia chegado. Ele era sempre um dos primeiros a chegar.

Fazer o que né? O aluno aqui não sou eu.

Comecei a introduzir o que iriamos estudar neste novo capítulo da apostila dos alunos quando fui interrompida por uma aluna que sentava bem no fundo da sala.

Acho que era a primeira vez que ela falava comigo, mas o tom de sua voz era tão insuportável para meus ouvidos que toda vez que ela fazia um cochicho com seus colegas de classe, era impossível não ouvir e reconhecer quem estava falando.

— Professor? — Ela indagou.

— Sim? — Franzi o cenho fingindo interesse.

— Lembra-se do trabalho sobre a formação do planeta Terra que o senhor passou para a gente?

— Evidentemente. Por quê?

— Não, não é nada não. É que... — Ela pausou recuperando o fôlego, ou a linha de pensamento, sei lá. — É que eu vi que a idade da Terra é 4,5 bilhões de anos...

— Exatamente isso, mas ainda não entendi aonde você quer chegar.

— É que segundo a Bíblia Sagrada, Deus criou a Terra tem quase 6 mil anos.

— E? — Eu realmente não estava entendendo aonde ela queria chegar.

— Uai professor, e que qual está certo? Em qual eu devo acreditar? — Sua voz dissimulada era tão aguda que literalmente doía.

— Primeiramente, você está em um curso de Engenharia de Minas e não de Teologia. Qualquer consideração religiosa aqui se deve ser deixada de lado, até mesmo porque, vivemos em um país laico.

— Credo, não precisava responder assim. Eu só queria saber em qual eu devo acreditar.

— Acredita naquilo que você acha que deve acreditar. Não estou aqui pra te delegar ideologias e sim, ciências. — Respondi.

— Então você está dizendo que a Bíblia está certa?

— Em momento algum eu afirmei ou neguei isso. — Eu ri balançando a cabeça. Não conseguia acreditar que em pleno 2026 ainda existia pessoas que não soubessem separar a religião de outras as coisas. — Em virtude de quais fatos você pode me afirmar que o planeta tem aproximadamente 6 mil anos?

— Segundo a Bíblia, a idade de nosso planeta seria a seguinte: da criação até o dilúvio se passaram 1656 anos, disso até Abraão foram mais 292. Certo?

— Isso é você quem está dizendo.

Ela continuou.

— Do nascimento de Abraão até o êxodo do Egito se passou mais 503 anos, depois desse período até a construção do tempo foram 481 anos, em seguida teve a época do cativeiro e ela durou mais 1028 anos até o nascimento de Cristo. — Ela fez uma pausa, que mais uma vez fiquei confuso tentando entender seu objetivo. — Do nascimento de Cristo até os tempos do Arcebispo Ussher se passou 1650 anos.

A aluna, que eu demorei séculos pra lembrar o nome me encarava esperando por uma resposta.

— Terminou Késsia?

— Não, é que você ficou me olhando com essa cara... Pensei que quisesse falar alguma coisa.

— A palavra está completamente com você.

— Pois então, seguindo essa linha, estão somados 5610 anos. Porém, já estamos em 2026. Por tanto se somarmos 376 anos desde a era do Arcebispo, vamos obter a resposta que o planeta tem aproximadamente seis mil anos.

— Sinceramente? — Balancei a cabeça. — Não sei nem por onde começar.

— Você vai questionar a Bíblia? — Ela questionou com os olhos arregalados.

— Quem tocou no assunto aqui foi a senhora, então tem que estar disposta a ouvir os meus argumentos assim como eu e o restante da turma escutou.

Ela não respondeu, mas pude ver pelo jeito que ela cerrou os olhos e mexia a boca para os lados que se pudesse, teria usado alguma passagem bíblia pra me mandar tomar no cu.

— Em primeiro lugar, historicamente falando, não da pra saber a exatidão dos anos. Estamos falando de vários mil anos. E nós sabemos que os homens aumentam muita coisa na hora de repassar um caso.

— Então você ta dizendo que o homem mentiu a escrever o livro sagrado de Deus?

— Só estou dizendo que não se deve acreditar em uma historia que foi contada de boca a boca por vários anos. Já brincou de telefone sem fio?

— Isso que o senhor ta falando é pecado, sabia? — Késsia estava realmente irritada.

— Bem, se não gostou dessa minha explicação, deixa eu te dar uma cientifica.

— Não precisa, eu fiz o trabalho.

— Precisa sim, porque pelo visto não entendeu muito bem o que era pra fazer.

— Então me explica. — Ela se ajeitou na cadeira. — Porque não estou entendendo.

— Nós sabemos, ou pelo menos deveriam saber, que a Terra está em constante mudança. Certo?

Eles concordaram com a cabeça.

— Nos utilizamos o método absoluto ou datação radioativa para medir a idade terrestre. Este método é de uma precisão gigantesca e utiliza dos princípios físicos da radioatividade para determinar a idade dos minerais, e determinando a idade dos minerais chega-se a idade terrestre.

— É só isso? — Ela debochou.

— Não. Eu poderia ficar aqui durante o semestre inteiro te explicando de onde os geólogos chegaram à conclusão dos 4,5 anos, mas vocês vão ver geologia geral só no próximo período.

— Ainda acho a explicação da Bíblia mais sensata.

— Daí já é contigo. Te explicar o que você me perguntou eu fiz, não é mesmo?

— Sim... Muito obrigada.

— Que isso, imagina. Faço questão de enviar no e-mail de cada um da turma um artigo falando sobre isso e quem quiser fazer um resumo sobre, darei 1,8 pontos extra.

Alguns alunos vibraram.

— Ficou alguma dúvida Késsia? — Indaguei.

— Não, era só isso mesmo. Só continuo achando que a Bíblia está certa.

— Alguém disse uma vez que religião é como um pênis. É bom ter uma. É bom ter orgulho dela. Mas por favor, não saiam sacudindo ou agitando em público. E os mais importantes não tentem enfiá-la dentro da minha garganta a força.

— Que baixaria. — Ela sussurrou, mas infelizmente consegui entender.

Voltei a minha atenção pra minha mesa procurando onde eu havia deixado o copo com café e dei um enorme gole.

Agora sim eu estava pronto para dar início na aula.

Me esforcei tanto pra esquecer os argumentos da minha aluna que quando vi já estava na hora de liberar os alunos para o intervalo.

Peguei meus fones na bolsa e me dirigi para o bosque.

Tudo que eu queria naquele momento é ficar sozinho.

Não se tratava apenas de uma questão de querer, e sim, de uma necessidade.

Depois de escutar algumas músicas enquanto eu fazia vários nadas, decidi ir até o refeitório, que naquele momento já deveria estar vazio, e comprar uma fatia de pizza de brócolis.

Estava prestes a pegar a bifurcação que me levaria até o meu destino quando de longe avistei alguém conhecido.

Marcos?!

Se ele está no campus, por que diabos não foi assistir minha aula?

Bem, isso não me importa. Ele já tem idade suficiente pra saber o que faz.

Mas uma coisa que não entendi é porque ele está mancando.

Será que fizemos algo além de beijar e eu não consigo me lembrar?

Misericórdia!

Acho que está na hora de parar de beber um pouco.

Eu definitivamente iria ignorar sua presença e ir lanchar, mas o rapaz me fez favor de olhar em minha direção e não demonstrou nenhuma reação.

Acenei.

Fui ignorado.

É. Tem algo acontecendo e é melhor eu descobrir o que é o quanto antes.

Apertei os passos em sua direção e há alguns metros de distancia o chamei com a voz ampla.

— Marcos, está tudo bem? — Perguntei.

— Está sim. — Ele começou a andar.

— Por que não compareceu a aula hoje?

— Isso não importa.

— Se foi pelo o que aconteceu, esquece isso.

— O que aconteceu? — Ele enrubesceu.

— Ótimo. Entendi.

Ele não disse nada.

Aquele clima estava me dando vontade de soca-lo até a morte, mas ai, tão bonito o rosto.

Pena que estava demonstrando ser um babaquinha.

— É só isso que você queria saber, professor? — Marcos indagou.

— Sim.

— Ótimo. — Ele deu de ombros. — Passar bem.

Marcos deu uma conferida no seu celular e seguiu seu caminho arrastando um das pernas novamente.

O puxei pelo braço e ele se virou me fitando nos olhos.

— Que porra é essa que está acontecendo mano? — Cerrei os dentes. — Da pra me dizer pelo menos por que está mancando? — Questionei.

— Meu testículo esquerdo está doendo, está bom cara? Foi por isso que não assisti à aula.

— Já foi ao médico?

— Você ta louco? — Debochou.

— Que pensamento mais ignorante.

— Mas começou a doer no caminho daqui.

— Olha, hoje é um dos dias mais quentes do ano, e como você deve saber, ou pelo menos deveria saber, o testículo estica para perder calor porque se ele ficar muito quente pode matar os espermatozoides e o que deve está acontecendo é ele estar sendo esmagado pelas suas pernas enquanto você anda. — Pausei para cumprimentar uns alunos que passou por nós. — Vá ao banheiro e o ajeite na cueca.

— Quer ir junto e me dar uma mãozinha, veado? — Ele disse em um péssimo tom.

Eu não consegui nem responder aquele comentário.

— Eu realmente queria entender como você pode ser tão insípido.

Se não fossem minhas aulas de ioga, olha, é melhor nem dizer o que eu seria capaz de fazer.


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Notas finais do capítulo

Quero deixar os créditos para a fonte de onde tirei as informações sobre os dados bíblicos: Autor Original: Ivo S. G. Reis; fonte: Recado das Letras - Site do Autor - http://ivosgreis.prosaeverso.net/.

Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?

Com certeza todos que leêm essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.

Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.



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