A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 6
O banquete


Notas iniciais do capítulo

Um bom tempo sem vê-los e provavelmente ficarei sem postar por essas semanas. Final de ano, autores e leitores desesperados por causa da semana de provas, fics e séries desatualizadas, mas faz parte da vida.
Boa leitura e cuidado para não se confundir.



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A noite caía enquanto Jasmine esperava as outras terminarem de se arrumar. Ela estava vestida com um belo vestido drapeado magenta com algumas flores de decoração, sandálias douradas e um colar e bijuterias douradas. Idun disse a ela para ir ao salão conhecer os outros deuses enquanto as outras se arrumavam e a acompanhou até lá.

Na sala do trono, encontrou Odin e outros dois nórdicos troncudos e grisalhos, sendo que um tinha cabelo longo e o outro tinha cabelo curto e barba longa, conversando com um homem musculoso de pele morena e roupas de linho branco e adornos de faraó, mas o que chamou atenção sobre o tal homem era a sua cabeça, uma cabeça de falcão. Dois homens o acompanhavam, também tinha a pele morena e usavam roupas de linho branco e adornos de faraó.

– Aí está ela! – Exclamou um dos nórdicos, o de cabelo longo. – Gaia caprichou mesmo.

– Olhe a língua, Vili. – Repreendeu Odin. – É nossa convidada.

– Eu sei, mas não falava dela em si e sim de sua singularidade.

– Perdoe meu irmão. Vili às vezes é insensato.

– Vili? Você é um dos três grandes nórdicos?

– Já deve ter ouvido falar de mim. Sim, sou Vili, filho de Borr, irmão de Odin e dessa criatura aqui do lado chamada Ve.

– Vili, o piadista. – Reclamou Ve. – Prazer em conhecê-la, Jasmine.

– Deixe-me apresentá-la aos Grandes Egípcios. – Disse Odin gesticulando para que se aproximasse. – Este é Rá, o faraó dos faraós. – Disse gesticulando para o homem com cabeça de falcão. – E estes dois são Amon e Atum.

– É um prazer conhecê-los. – Disse fazendo uma reverencia desajeitada.

Rá tinha a expressão severa e seu bico era grande e curvado. Bastava uma olhada para descobrir que era o tipo de deus que não deveria brincar. Ao contrário dele, Amon e Atum tinha expressões descontraídas de crianças que iriam aprontar.

– Esta tem bom senso. – Comentou o faraó dos faraós.

– É uma joia rara! – Exclamou Vili. – Tão pura quanto uma nascente.

– Como sabe disso?

– Ora, caro irmão. Eu dei o dom dos sentimentos, da emoção e do pensamento aos humanos. Eu posso sentir o que eles sentem e saber o que pensam.

– Esse sim deu uma jogada de mestre! – Exclamou Atum.

– Vamos. – Disse Amon pegando a garota pelo pulso. – Os outros deuses egípcios estão ali. Pelo menos os que chegaram até agora.

Jasmine não teve tempo de protestar, pois Amon a arrastou até os deuses egípcios. A maioria tinha cabeça de algum animal, o que causou certo receio e curiosidade. Amon a apresentou a Thoth, um deus com cabeça de íbis, e sua esposa Maat, uma mulher de pele morena cabelos negros muito lisos, olhos dourados e batom vermelho que trajava um bustiê de linho vermelho, saia de linho branca sendo sobreposta por outra de linho vermelho, adornos de ouro e uma pena azul escura no cabelo e outra branca na mão.

– Diga-me, o quanto conhece sobre mitologia? – Perguntou Thoth.

– Não muito senhor, apenas o que minhas amigas me ensinaram.

– Um desafio. Adoro desafios.

– Hoje não, querido. – Repreendeu Maat. – Hoje é dia de festa, tanto que conversarei sobre justiça com Forseti pela manhã para não estragar esta noite. E onde estão Mafdet e Seshat?

– Eu não sei. Devem estar em algum lugar.

– Mafdet deve estar brigando com Serket de novo e Seshat deve ter encontrado a biblioteca. – Pronunciou-se Amon.

O deus arrastou a garota de novo. Ele a apresentou a Ísis, uma mulher morena de cabelos negros extremamente lisos e olhos azuis que vestia roupas de linho branco e adornos de ouro, e a Néftis, irmã de Ísis, uma mulher morena de cabelos negros ondulados não muito armados que vestia roupas de linho negro e adornos dourados.

Apresentou-a a Osíris, uma múmia verde vestida como faraó; a Sobek, o deus com cabeça de crocodilo com ar hostil; a Hórus, outro deus com cabeça de falcão, porém com bico menor que o de Rá e com aparência amigável; a Anúbis, o deus com cabeça de chacal; a Bastet, a deusa com cabeça de gato linda em seus trajes de linho laranja e ocre, além de sandálias e joias douradas; às “irmãs gêmeas”, já que alter ego era motivo para matarem um, Hathor, a deusa com cabeça de vaca vestida em linhos azuis, e Sekhmet, a deusa com cabeça de leoa vestida em linhos vermelhos como sangue.

– Tio Amon!

– Raven!

A morena vestia um longo vestido de linho púrpura drapeado de frente única e justo ao corpo, sandálias douradas e ostentava joias douradas, mas isso não impediu que o deus a levantasse e rodasse pelo salão. Em seguida, Amon a colocou no chão.

– Posso ver que começou o meu tour sem mim.

– Desculpe, fiquei realmente empolgado. Como vai minha garota preferida?

– Com alguns desafios novos, como pode ver.

– Jasmine é uma boa garota. Não deve ser um grande desafio. Aposto que será tão boa quanto uma caçadora de Artêmis ou uma amazona.

– Uma o que?

– Talvez não sejam os termos certos. Vamos tentar de novo. Ela será uma nova Atalanta.

– Ataquem?

– Por favor, me diga que sabe o que é um minotauro.

– Eu não sei.

– Ainda afirmo que vai ser a melhor filha de Gaia que pisou na Terra.

– Tio, desde quando você concorda com a comparação dos gregos entre seus filhos?

– Ray, não seja como o seu pai e corte meu barato.

– Por falar nisso, ele estava te procurando.

– O que ele quer agora? Bem, eu vou indo. Depois conversamos.

Amon se distanciou das duas, recebendo um maneio de cabeça da egípcia.

– Meu tio Amon é realmente uma figura. Ele e meu tio Atum juntos conseguem animar qualquer ambiente.

– Não sabia que eram irmãos do seu pai.

– E não são. Eles fizeram questão de que eu os chamasse de “tio” quando criança. Ele já te apresentou a todos os neteru?

– Neteru?

– É como os deuses egípcios são conhecidos, de forma errônea, mas é melhor que sermos chamados de piramidais, deuses do deserto ou simplesmente egípcios. Neteru é o plural, para homens usamos neter e para as mulheres usamos netert.

– Entendi.

– Quais neteru meu tio te apresentou?

– Só a Thoth, Maat, Ísis, Osíris, Néftis, Hórus, Anúbis, Bastet, Sobek, Hathor e Sekhmet.

– Só alguns deles. Venha. Vou apresentá-la aos outros e dizer algumas coisas sobre os que você já conheceu. Pode não parecer, mas temos uma grande confusão genealógica.

– Como assim?

– Incesto. – Jasmine arregalou os olhos e corou. – Não se preocupe, os gregos também têm.

– Isso é sério?

– Claro que é. Deixarei para falar da sua mitologia mais tarde, preciso te apresentar à minha. Está vendo Osíris? Ele é irmão de Seth, Ísis e Néftis. São quadrigêmeos, todos filhos de Nut e Geb e netos de Rá. Osíris casou com Ísis e Seth com Néftis, mas esse último casal se separou.

– Quem é Seth?

– Está vendo aquele cara com cabeça de um animal esquisito que ninguém consegue identificar conversando com Loki? É ele. Resumindo a história, Seth não gosta muito de Osíris, Osíris é pai de Hórus e de Anúbis, sendo que Hórus é filho de Ísis e Anúbis é filho de Néftis, que conseguiu embebedar o marido da irmã já que Seth não queria dar um filho pra ela, apesar de ter feito o Sobek com a Neith.

– Nossa! – Espantou-se, mas depois ficou cheia de curiosidade. – Quem é Neith?

– Nossa deusa da caça, guerra, tecelagem e também é ligada aos mortos, na verdade é mais fácil fazer uma lista de deuses egípcios que não são ligados à morte. Venha, vou apresentá-la a você.

– Vaca! – Gritou uma mulher egípcia.

– Piranha! – Gritou outra com cabeça de leoa.

As duas mulheres começaram a brigar e rolar pelo chão. Uma multidão se reuniu para assistir a briga e as apostas começaram. Raven suspirou pesadamente.

– Mafdet e Serket. Essas duas se odeiam profundamente.

– Por quê?

– Escorpiões. Serket é a deusa dos escorpiões e dos venenos, ela os ama e Mafdet, que é uma das duas filhas de Thoth e Maat, é conhecida por livrar os homens dos escorpiões, matando as criaturas amadas por Serket. Isso sempre acontece.

– E me fazem passar vergonha, isso é o pior.

A voz provinha de uma deusa egípcia de vestido de linho branco, uma saia de linho dourado o sobrepondo, adornos de ouro e dois colares de ouro e turquesa, sendo que um deles cobria os ombros e se parecia com asas.

– Seshat, é bom saber que veio.

– Vim porque me disseram que eu teria um desafio. É esta a filha de Gaia?

– A própria. Jasmine, permita-me apresentar a Seshat, nossa deusa da escrita. Seshat é a filha de Thoth e Maat e irmã de Mafdet.

– Prazer em conhecê-la.

– Igualmente. Ela ainda está crua, pelo que ouvi dizer.

– Não vamos discutir isso aqui. É uma festa, Seshat e acho que meu pai nos chama.

Raven agarrou o braço de Jasmine e saiu correndo pelo salão, só parando quando estavam fora da vista de Seshat.

– Essa foi por pouco.

– Como assim? Seu pai não está nos chamando?

– Aquilo foi uma desculpa.

– Seshat é muito parecida com Thoth, tem uma ânsia por aprender descomunal, mas ela prefere o campo da literatura e da escrita. Os dois são capazes de esquecer que isso é uma festa e começar a te dar aulas.

– Isso é verdade.

– Pai?! De onde...? Perdoe-me.

– Pelo que? Não precisa abaixar a cabeça, sou seu pai e não seu soberano. Por mim mesmo e pelos outros deuses, está com a mesma mania da Hathor! – Apesar de ter soado um tanto severo para Jasmine, Raven riu, seguia por Rá, o que espantou Jasmine. – Às vezes acho que saiu a qualquer outro deus menos a mim. Talvez a Amon ou Atum.

– Meus tios não têm a mania da Hathor.

– Não, eles têm a mania de me provocar nas piores horas. Algum deus comeu a língua da sua amiga?

– Ela ainda não está acostumada.

– Ela ainda não percebeu que não deve deixar que outros falem por ela o tempo inteiro. – Jasmine corou.

– Não vejo Eliot e Angus pelo salão.

– Não puderam vir, as mães deles não deixaram. Vou deixá-las, por enquanto. Mais tarde, quando a recepção terminar, iremos comer.

Rá se afastou para cumprimentar os outros deuses. Helena surgiu sem saberem de onde. Ela usava um vestido de alças negras, busto branco, saia preta com barra branca na bainha.

– Procurei por vocês por todo lugar.

– Estava falando com meu pai enquanto meu tio resolveu levar a Jasmine para conhecer os neteru. Onde está Diana?

– Não vai sair do quarto até a hora do jantar. Não entendo como consegue implicar tanto com uma peça de roupa.

– Me admira que ela use saias com tantos irmãos.

– Talvez seja por isso.

– E a sua mãe? Quando ela virá?

– Logo.

– Meninas. – Uma moça cumprimentou.

– Thrud, filha de Thor e Sif, a deusa capaz de mudar o tempo com seu humor. – Apresentou Helena.

Thrud era loira, tinha o cabelo ondulado com a franja jogada para o lado esquerdo e as pontas enroladas, além de ser dona de olhos tão azuis quanto o céu. Seu vestido era lilás escuro com desenhos bordados com fio de ouro rosa na barra e usava sapatos roxos, um colar de ouro e um cinto de ouro polido com pedras de um rosa claro e lilás. Sua beleza era descomunal.

– Você é irmã de Magni, Modi e Uller, se não me engano. – Disse Raven.

– Sou sim. Por que esse desânimo?

– Não estou desanimada. – Respondeu a filha de Hel.

– O que foi, Jasmine?

– Ah, nada não. É só... Vocês sabem muito bem o que dizer.

– Você que não se apresenta sozinha.

– Helena!

– Isso não é um problema. – Disse Thrud. – Aposto que não teve chance de se socializar muitas vezes. Ficarei com vocês durante a festa para tentar quebrar esse gelo.

Os portões se abriram e por eles passou um casal peculiar. O homem era alto com cabelos e olhos negros, mas apesar de possuir músculos definidos, sua pele era tão pálida que chegava a ser mórbida. Já a mulher era esbelta, possuía a pele pálida e cabelos negros. Seus olhos eram castanhos e ela trajava um vestido vinho.

– Hades, você chegou! – Exclamou Néftis. – E trouxe Perséfone com você.

– Até que enfim! – Gritou Loki. – Ficar bêbado só com Néftis e Seth não tem graça. Tem que ser com a turma toda!

– Oi para vocês dois também. Isso quer dizer que chamou a sua ex também, Loki?

– Nem sonhando! Angr iria arrancar a minha cabeça.

– Deixe de desculpas, Loki. – Rosnou Seth. – A Angr sempre bebeu com a gente.

– Mas ela vai arrancar a minha cabeça de baixo se me vir. TPM de giganta é foda.

– Eita porra!

– Você e seus amigos têm sempre que tumultuar o ambiente. – Disse Perséfone.

– É graças a eles que consigo aguentar sua ausência no verão e na primavera.

– Eu devia ter trazido a mamãe, já que estava no Olimpo e você me arrastou de lá até aqui.

– Perse, não comece, por favor.

– Essa moça linda deve ser a sua filha, não? – Perguntou Néftis.

– Que moça?

– Desculpe por chegar sem avisar, papai. Vou não fazer isso de novo.

A voz doce e suave pertencia a uma jovem de beleza extraordinária capaz de atrair a inveja de Afrodite. Sua pele era muito pálida, quase tanto quando a de Hades. Seu cabelo negro caía até os tornozelos e seus olhos eram tão negros quanto os do pai. Seu vestido era um tomara que caia negro cuja saia arrastava no chão e tinha bordados de fio de prata na bainha, as mangas, separadas do vestido, eram longas e quase arrastavam no chão. Ela também usava sapatos de um vinho escuro e um cinto de pano vinho com bordados florais mais escuros que incrivelmente lembravam sangue espalhado pelo local, além de dois braceletes de prata por cima das mangas e um colar de prata com granadas magenta, sendo que a principal lembrava uma grossa gota de sangue.

– Achei que nunca a veria. – Comentou Helena.

– Quem é ela? – Perguntou Jasmine.

– Macária. – Respondeu Raven. – Ela é filha do Hades e da Perséfone. É a deusa da boa morte.

– Boa morte?

– Uma morte tranquila durante o sono ou quando atinge um grande estado de felicidade, a forma como todo mundo gostaria de morrer, mas poucos conseguem. Macária fica completamente invisível aos mortais graças ao domínio completo sobre os poderes das trevas e quando ela se aproxima do escolhido para morrer, dizem que um cheiro bom e doce pode ser sentido.

– Se ela fica invisível aos mortais, então como podemos vê-la?

– Porque não somos quaisquer mortais, somos semideusas, lembra? Metade do nosso sangue é divino.

– Mesmo que metade do sangue de vocês seja divino, não acredito que ela queira de esconder. – Disse Thrud. – Ela não se socializa com nenhum deus grego fora sua família, Hipnos e Tânatos. Eu nunca a vi conversando com deuses de outra mitologia. Ouvi dizer que nem mesmo frequenta as Reuniões dos Deuses da Morte e do Submundo e Associados.

– Há uma reunião assim?

– Minha mãe as frequenta, mas ela nunca me deixou participar de uma. Semideuses são proibidos.

A porta novamente se abriu e uma rajada do vento da noite entrou. Não havia ninguém, mas quando se fecharam lá estava Árion.

– E aí tio suquinho, tudo em cima?

– Ah, o cavalo que saiu do saco do meu irmão. O que faz aqui?

– Ouvi dizer ia ter festa, então apareci.

– Pai, quem é ele?

– Seu tio-primo Árion, filho do Poseidon e da Deméter e irmão da sua mãe e irmão gêmeo da praga de gelo que pode trazer o inverno de Westeros se ficar puta.

– Chama logo de princesa Elsa que está bom.

– De quem ele está falando? – Perguntou Jasmine.

– Despina. – Respondeu Helena. – Seu nome é temido e não deve ser pronunciado entre os gregos.

– Princesa Elsa é a sua bunda. – Despina disse após abrir as portas e adentrar no salão.

– Árion!

– Que foi, tio? Derpina é minha gêmea. Tem que curtir comigo.

– Seu filho de uma égua fugida transformada em deusa!

– Realmente, isso foi inesperado.

A nova voz era gélida como o inverno e provinha de uma mulher de pele glacial, cabelo branco como a neve e olhos azuis claros como gelo. Ela vestia calça azul que lembrava gelo de uma cor mais escura, blusa ¾ branca, armadura de peito com ombreiras pontiagudas de um azul glacial que chegavam a parecer gelo, assim como a proteção e metal em seus antebraços, além de calçar botas marrons com detalhes brancos. Seu nome era Skadi e se as armas não tivessem sido proibidas no salão e no salão de jantar, ela estaria andando com um arco do mesmo metal e flechas brancas como a neve.

– Não esperava que outra deusa do inverno comparecesse. – Disse Skadi.

– Esse cavalo estúpido me arrastou até aqui.

– Também te amo, mana.

– É hoje que eu vejo um caminhante branco. – Disse Amon recebendo um olhar de reprovação das duas deusas.

– Amon, controle sua língua. – Ordenou Rá.

– Despina. Minha querida tia-prima. – Disse abraçando a rainha do gelo.

– Macária. Minha melhor parente.

– E eu? – Perguntou o equino.

– Você não conta.

– Não nos deram a oportunidade de nos conhecermos, mas sei que foi horrível o que fizeram com vocês dois.

– Ainda possui o coração de uma criança. – Disse com certo alívio.

– Uma criança com a qual todos deveriam aprender.

– AAAAAAAAAAAAAAHHHHH! – Gritaram alguns saltando para algum lugar de medo.

– Que susto da porra Hel! Quer matar seu pai do coração?!

Hel não respondeu. Ela era dividida em duas metades, a primeira, onde perpetuava o cabelo preto era de uma mulher atraente de maquiagem pesada, já a segunda era um cadáver em decomposição que dava para ver seus ossos e maxilares. Se não fosse por seu vestido preto e branco de saia longa e mangas compridas, seria possível ver alguns de seus órgãos. Além do vestido ela usava botas negras com detalhes brancos, braceletes preto e branco e um colar de platina branca com pingente de metal negro difícil de identificar.

– Você...! – Começou a deusa da boa morte.

– Sabe quem eu sou? – Perguntou Hel.

– Como poderia não saber?! É a minha madrinha! – Disse a abraçando e arrancando exclamações dos presentes.

– Madrinha?!

– Madrinha?! – Disseram Hades e Perséfone em uníssono, tão brancos quanto fantasmas.

– Isso é sério?

– Sim. Você cuidou de mim a minha infância inteira.

– Como sabe?

– A sua sombra. Ela sempre esteve presente, principalmente quando meus pais viviam brigando.

– Se dependesse deles, você já estava morta.

– Hei, eu fui uma ótima mãe!

– Para Melinoe, talvez, mas para Macária, devo admitir que fomos um pouco negligentes.

– Nós não fomos!

– Vocês a deixaram brincar em um penhasco enquanto brigavam sobre a estadia de Adônis. Tive que levá-la ao meu palácio, onde permaneceu por três anos.

– Está igual a mim. – Disse Loki. – Não me olhe com essa cara, Hel. Eu sou o seu pai!

– Que não pagou a pensão até hoje.

– Fui. – Foi sua última palavra antes de mergulhar nos corredores de Valhalla e sumir da vista de todos, incluindo a da filha justa.

– Isso é algo que não se vê todo dia, não é Ve?

– Vili, poupe-me de seus trocadilhos com visão.

– O que acha, irmão? Os gêmeos são bem vindos? – Perguntou Vili para Odin.

– Contanto que não causem problemas, mas o cavalo deve ficar no estábulo.

– É ruim hein!

– Árion, se você começar, eu juro que congelo todas as suas tintas.

– Onde é o estábulo mesmo?

– Idun, por favor.

A deusa levou Árion até o estábulo particular de Odin. Diferente dos outros estábulos, este era super limpo, a palha ainda tinha cheiro fresco e lá havia um corcel cinza com pelo preto, mas o que mais chamava atenção eram suas oito patas.

– Este é Sleipnir, a montaria de Odin e filho de Loki.

Dito isso, Idun saiu deixando Árion com Sleipnir.

Visita? Não esperava visitas.

– Você não fala como eu né?

Talvez. Quem é você?

– Árion, o cavalo mais veloz do mundo.

Só se for de Midgard. Eu sou Sleipnir, o mais veloz dos nove mundos.

– Começando brigas?

– Um pesadelo?!

Sinnen, o que faz aqui, criatura?!

– Só vigio minha amazona, mas não posso entrar na festa.

– Nem eu. Deixaram minha irmã, mas não me deixaram, sacanagem.

Deixaram uma égua na festa? – Perguntou o cinzento.

– Não. Despina não é uma égua. Ela é humana e por incrível que pareça somos gêmeos.

Como isso é possível?! – Dessa vez a pergunta partiu do pesadelo.

– Deméter resolveu se transformar em uma égua para fugir de Poseidon, ele virou um cavalo, fodeu-a e depois nós dois nascemos.

Essa história se parece com a minha, mas diferente.

– Como assim?

Meu pai era um cavalo escravo chamado Svadilfari que estava trabalhando, Loki virou uma égua branca no cio para chamar atenção dele para o dono dele não cumprir a aposta, Loki correu para longe, ninguém me contou o que aconteceu depois e aqui estou eu.

– Pelo menos não tem o inverno de Westeros como irmã que odeia a sua outra irmã.

Não, mas eu tenho o trio temível composto por um lobo gigante, uma serpente gigante, uma meio-morta; duas gêmeas sem importância que aparecem de vez em nunca; um fraticida que foi transformado em lobo e o morto pelo fraticida.

– Cacete! Você é uma mistura de As Crônicas de Nárnia com Game of Thrones!

Por que As Crônicas de Nárnia? – Perguntou Sinnen.

– Ora, se parece com o primeiro filme. Você pode lançar uma paródia: “As Crônicas de Asgard: o lobo, a serpente e a meio-morta.”!

HAHAHAHAHAHA Porque eu não pensei nisso?!

De volta ao interior do palácio, todos estavam na sala de refeições. Diana, que tinha finalmente aparecido, vestia um belo vestido laranja, embora tivesse teimado em manter seu cabelo preso nas costumeiras tranças bárbaras, e estava sentada junto de seus irmãos solteiros. Raven se encontrava sentada com os Três Grandes Egípcios. Thrud estava com seus pais e irmãos. Despina se encontrava com Skadi, os filhos dela Freya e Frey e seu ex-marido Njord, além de um rapaz que Helena indicou ser Fjölnir, o filho de Frey e de uma giganta. Helena estava com sua mãe, juntamente com Hades, Perséfone, Macária e Jasmine, apesar de ser visível o quão tensa a mesa era, o que mais incomodava eram os olhares de ódio trocados por Despina e Perséfone.

– Sua mãe e a irmã dela não se dão bem? – Perguntou Jasmine à Macária.

– Não muito. Minha avó abandonou Despina após o parto sem mesmo lhe dar um nome e foi procurar pela minha mãe. Ela e Árion foram criados pelo titã Anitos, que deu esse nome para ela. Desde então, ela nutre um profundo ódio pela minha avó, pela minha mãe e pelo meu tio Poseidon.

– Isso é triste.

– Eu sei, mas não há muito que fazer.

– Então, diga-me, filha de Gaia. – Começou Hades. – Você não tem pretensões em tomar o Olimpo, tem?

– É o que?!

– É como eu imaginei. Incapaz de começar uma guerra sozinha.

– Hã?

– Pai!

– Quer um conselho? Continue com a boa alma que Vili disse que você tem, mas seja forte para enfrentar o julgamento dos deuses.

– Que julgamento?

– Estão te testando para julgá-la como uma possível ameaça ou não desde que puseram os olhos em você. Não se preocupe, os nórdicos não a trouxeram para traí-la, mas devo alertar sobre Loki. Por mais que eu seja amigo dele, é minha obrigação dizer para não confiar nele. Entende?

– Sim, eu acho.

– Os olimpianos não vão te julgar como os aesir, os vanir e os neteru estão fazendo. Para a maioria deles você é uma ameaça por causa de sua mãe. Para a outra parte, uma possível aliada para derrubar o Olimpo.

– O que minha mãe fez?

– Ela...

– Hades, se Despina continuar aqui, eu vou embora!

– Acalme-se, Perséfone. Despina não será tola de causar problemas aqui e Skadi não a deixará causar problemas.

– O que o faz pensar que Skadi é eficiente contra Despina?

– Diplomacia não é o seu forte, minha querida esposa.

– A diplomacia grega é tão comovente quanto um saco de batatas. – Comentou Hel.

– Para a sua informação, nós sabemos dialogar.

– E punir os outros por ciúmes é uma forma de diálogo.

O olhar de Hel conseguia ser mais penetrante que o de Despina, apesar da face impassível. Havia morte e vazio em seus olhos, mais que em qualquer outro deus da morte ou do submundo. Duros, penetrantes, solenes, vazios, temíveis eram muitos os adjetivos para os olhos de Hel e a metade cadavérica contribuía para o terror de encará-los. Por mais que o desconforto dos integrantes daquela mesa fosse visível, Jasmine notou que Helena e Macária não o sentiam, pelo contrário. Helena estava acostumada e Macária não parecia abalada com a presença da “madrinha”. Em contrapartida, Perséfone estava furiosa e ao mesmo tempo sem palavras.

– Não vai demorar. – Comentou Helena.

– Hã?

– Pela animação, os deuses logo vão começar a trocar de lugares.

Não demorou para a previsão de Helena se confirmar. Conforme a conversa fluía e o hidromel e o vinho eram servidos, os deuses começaram a se levantar e a trocar de lugar. O próprio Hades se levantou para ficar com Loki, Néftis e Seth, os quatro começaram a beber e jogar truco. Thrud foi para a mesa delas, sem se importar com a presença de Hel. Ela e Macária trocaram algumas palavras, mas depois começaram a conversar sobre flores, romãs, vinho, dias de sol, submundo e morte justa e indolor. Amon e Atum se juntaram a Ve e Vili e os quatro começaram a beber e falar um monte de coisas aleatórias e desconexas. Raven e Diana também se juntaram a elas na mesa, embora Diana tenha reclamado uns bocados do vestido. Perséfone tinha se levantado e se encontrava com os vanir, mas só depois que Despina e Skadi se retiraram do salão para caminhar. Frigga continuava ao lado de Odin, com Rá na mesa. Bragi tocava e cantava, às vezes usava uma harpa, outras um bandolim e outras uma guitarra. Idun, sua mulher tinha que alimentá-lo e dar-lhe vinho, ou ele iria se esquecer de comer e assaltaria a despensa depois. Seshat também migrou para a mesa delas, foi então que a conversa sobre literatura começou sendo que a deusa egípcia mostrava paixão ao falar de todos os seus autores preferidos e seus estilos. Anúbis, Hórus e Sobek estavam em uma discussão com Bastet. Thoth, Maat e Forseti, que era filho de Balder e sua esposa Nana, se encontravam em uma discussão jurídica acalorada.

– Isso parece uma taverna. – Comentou Raven perplexa.

– Bem vinda ao estilo nórdico de ser. – Disse Diana dando um longo gole em seu hidromel.

– Quantos desse você já tomou? – Questionou Helena.

– Só umas três canecas. Meu pai só me deixa beber uma nos banquetes, mas uma é pouco!

– Disso eu não me queixo. – Raven deu um gole em seu vinho. – Tenho que repor minha taça sem que meu pai veja. Ele só me deixa tomar uma única taça em ocasiões especiais.

– Parece o meu pai. – Comentou Thrud. – Ele não me deixa beber muito, mas bebe que nem a minha mãe.

– Sua mãe bebe tanto assim? – Questionou Seshat.

– Como um guerreiro.

– Meus pais não ligam para isso, mas minha mãe disse que vai cortar meus livros se eu voltar para casa bêbada.

– Os meus também não ligam para isso. – Comentou Macária. – Meu pai me ensinou a ter responsabilidade na hora de beber.

– Isso que vocês bebem, é bom? – Questionou Jasmine.

– Você nunca bebeu?! – Espantaram-se Diana e Raven.

– Se vai começar agora, apenas um gole de vinho. – Helena estendeu sua taça para a grega. – Hidromel é mais forte.

Jasmine não soube o que fazer. Todas as mulheres e garotas da mesa a olhavam com expectativa. Ela pegou a taça e deu um pequeno gole. Sua língua estranhou a bebida, o que a fez largar a taça e tossir.

– Parece suco de uva, mas tem algo estranho nele.

– Bem vinda ao mundo do álcool. – Brincou Raven. – Próximo gole, quando o mundo parar de girar.

Enquanto o banquete acontecia, Despina e Skadi tinham saído para dar uma volta. A deusa grega carregava um pedaço de pudim. Os ventos noturnos de Asgard eram frios, o que agradava as duas deusas, porém um vento anormal quase fez com que as saias de Despina voassem. Olharam mais a frente e viram um pesadelo parado e Árion e Sleipnir discutindo.

– Nem vem! Eu cruzei primeiro! – Exclamou o equino de crina pitada.

– Fui eu! – Reclamou o equino com 8 patas.

Parem de reclamar que eu nem vi.

– Eles estão apostando corrida? – Perguntou a nórdica com gota na cabeça.

– São cavalos. Há poucas coisas que eles podem fazer.

– Lerigou! O que faz aqui fora?

– Se continuar assim, vai ficar sem pudim.

– Eu me comporto! Prometo.

Pudim?! – Exclamaram os outros dois em uníssono.

Despina estendeu o prato com pudim para que seu irmão gêmeo comesse. O cavalo devorou com muita satisfação.

– Você tem sorte de poder estar lá dentro comendo essas coisas deliciosas, mana.

– Eu quase não como e você sabe disso.

– Tem que comer! Senão vai virar uma fêmea de caminhante branco! Isso me deu uma ideia. O que acha de nos fantasiarmos de caminhante branco e montaria no próximo Halloween?

– Eu não vou a festas.

– Não por vontade própria. Pina, tente se divertir.

– Não tenho tempo para isso.

– Pina! Vai... Por mim. – Ele fez a cara do gato de botas.

– Se vocês dois não fossem cavalo e mulher, juraria que eram os meus gêmeos quando pequenos. – Disse Skadi.

– Seus gêmeos?

– Freya e Frey. Sou a mãe daqueles dois e infelizmente puxaram mais ao pai do que a mim.

– Seus gêmeos são fodas! Despina, por que não tem um colar como o da Freya?

– Arrumo um no mesmo dia em que você arrumar um navio voador e aprender a navegar.

– Maldade.

– É melhor voltarmos. – Disse Skadi aos risos. – A brincadeira da noite já vai começar.

– Mas antes pode fazer o campo para jogarmos Stoneball?

– Stoneball?

– É um jogo que eu e Despina inventamos. Como somos muito diferentes, tínhamos que inventar brincadeiras e Stoneball é ótima para cavalos.

Como se joga? – Perguntou o de 8 patas.

– É simples. Precisamos de uma superfície congelada e lisa, como um ringue, só que redondo. Depois pegamos as pedras mais arredondadas que tivermos e começamos a jogar. É igual a bola de gude, só que a gente desliza as pedras e tenta acertar as do adversário como no curling. Se conseguir tirar a pedra para fora da arena, a ela é sua. Ganha quem pegar as todas as pedras dos outros ou quem pegar mais pedras quando alguém interromper o jogo para ir embora. Acho até que roubaram a ideia do curling da gente.

Despina fez uma arena circular congelada para os cavalos de forma que não ficasse grande, mas também que não fosse do tamanho de um círculo de bolas de gude comum. Quando terminou, Skadi a arrastou para dentro enquanto os cavalos e o pesadelo procuravam por pedras arredondadas e discutiam sobre pudins e corridas.

No salão, comida e bebida circulavam como se nunca acabassem, as conversas se tornaram altas e divertidas e o ambiente ao mesmo tempo em que era selvagem era familiar. Jasmine se impressionava como os nórdicos eram ruidosos e amigáveis e que aquele ambiente para eles era completamente normal, mas o que a impressionou mais foi ver que a grande maioria dos egípcios aderiu aos nórdicos.

– OS ESCUDOS! – Gritou Vidar. – TRAGAM OS ESCUDOS!

Foi então que alguns homens nórdicos pegaram escudos de madeira da era viking, se amontoaram no meio do salão e ergueram os escudos para formar um caminho. Logo uma multidão se formou ao redor dos escudos, além de elásticos e cordas serem distribuídos.

– Vai começar meninas. – Disse Diana suspendendo a saia do vestido até as coxas e amarrando-a com um elástico e em seguida com uma corda, revelando as botas marrons que usava.

– Você veio de bota?! – Surpreendeu-se Raven.

– Claro! Sempre temos a brincadeira dos escudos quando está todo mundo bêbado em grandes comemorações.

– O que é a brincadeira dos escudos? – Perguntou Jasmine.

– É o que está acontecendo. – Dessa vez quem respondeu foi Thrud, após executar o procedimento e arrancar os sapatos. – Nós vamos subir naqueles escudos.

– É muito legal! Venham!

– Se forem subir em um escudo, tirem os sapatos. – Aconselhou Helena. – Saltos não foram feitos para isso e teremos menos acidentes.

Uller, Magni e Modi subiram nos escudos, seguidos por Thrud, Diana, Frey e Sif, uma loira de olhos azuis usando calça cinza, blusa branca, saia vermelha, botas marrons e armadura dourada. Os nórdicos começaram a pular de escudo para escudo. Raven executou o mesmo procedimento e subiu com Helena. Não demorou para outros deuses fazerem o mesmo. Hades, Loki, Thor, Seth, Néftis, Sekhmet, Hathor, Ve, Atum, Vili, Amon, Hórus, Anúbis, Sobek até mesmo Freya, Macária e Seshat entraram na brincadeira. Alguns saíam para que outros pudessem entrar e circular livremente. Uns dançavam, outros apostavam corrida e outros até arriscavam umas acrobacias, que muitas vezes não davam certo e terminavam com um deus no chão, um deus esmagando outro deus com o escudo ou até mesmo um deus sendo salvo por outro deus, geralmente o último acontecia com as deusas.

Foi então que Jasmine foi empurrada para a multidão e erguida em cima de um escudo. Ela tentou passar de um escudo para o outro e conseguiu, apesar de estar trêmula. Quando tentou passar para o segundo, pisou em falso e só não caiu de cara no chão porque foi segurada.

– Obrigada, Balder.

– De nada. Ainda não pronta para subir em um escudo de vestido.

– Foi assustador! Eu não sei se vou conseguir subir em um escudo nem de calça. – Disse fazendo o deus rir.

– É questão de costume.

– Hades, desça a sua filha dali! – Exclamou Perséfone.

– Deixe a menina se divertir. Até Despina está lá em cima.

– Hades!

– Está tudo bem. – Disse Sigyn, a esposa de Loki, uma mulher de cabelo loiro claro e olhos azuis que vestia um vestido cor de menta com detalhes dourados e um cinto dourado e azul claro. – Ninguém vai deixá-la se machucar.

– Sig! Por que não foi beber com a gente?

– Eu não gosto muito de beber.

– Hades, venha aqui porra! – Gritou Seth. – As disputas já vão começar! E vê se acha o puto do Loki!

– Que disputas? – Perguntou Jasmine a Balder.

– Espere o povo beber um pouco mais.

Não demorou para os convidados ingerirem mais bebida, logo os escudos sumiram dando espaço para o chão vazio. As mesas encheram novamente e Bragi parou de tocar para beber sozinho. A mesa de Jasmine voltou com as mesmas deusas de antes, porém Hel tinha se retirado do salão e Balder tinha se juntado a elas assim como Tyr.

– Cadê a Nana? – Perguntou o deus maneta.

– Se retirou para dormir. Agora que acabou a música, vamos ter que ir atrás do rádio.

– Não será necessário. Eu já o trouxe.

Quem falava era uma mulher muito alta, como todos usavam a padronagem humana, ela aparentava ter 2,15 de altura, pele queimada pelo vento, selvagens cabelos castanhos e olhos estranhamente vermelhos. Ela usava uma saia preta com uma corrente de bronze, botas negras com detalhes em bronze e um top preto com suporte de bronze, deixando sua barriga à mostra. Ela carregava o equipamento de som sem nenhum esforço.

– Angrboda! O que faz aqui?! – Perguntou o maneta.

– Me chamaram para beber, mas pelo visto serei a DJ da noite também.

– Avó?

– Oi pra você também Helena.

– Quem é ela? – Perguntou Jasmine para Seshat.

– É Angrboda, ex-esposa de Loki e mãe da Hel e dos irmãos dela, Fenrir e Jormungand. Ela está com a aparência humana e não aparenta ser a giganta que é.

– Onde estão eles?

– Não seria uma boa ideia que os dois adentrassem aqui.

– Os gigantes se diferem muito dos deuses?

– Claro, mas isso não é informação para agora. – Disse Helena.

– Por que se sujeitar a isso, Angr? – Perguntou Balder.

– O que seria de uma festa sem música e uma disputa de dança?

– Você vai filmar o Loki soltando a franga e chantageá-lo depois não? Ou vai por na internet para todos rirem? – Perguntou Tyr.

– Quem sabe.

– É por isso que eu não me caso.

Angrboda instalou o equipamento e começou a selecionar as músicas. Sucessos disco começaram a tocar mesclados com músicas modernas. Grupos se juntaram no meio do salão para dançar. Njord, Amon, Ve, Atum e Vili foram os primeiros a inaugurar as danças em grupo ao som de “The Fox”, sendo que Njord ficava no meio e tinha um neter e um aesir de cada lado. Em seguida foram Anúbis, Sobek e Hórus dançando “Gangnam Style” e Hades, Néftis, Seth e Loki dançando YMCA.

– YMCA é sacanagem! – Reclamou Tyr. – Balder!

– O que foi? Eu gosto da música.

– Tyr, não reclama. – Disse Diana.

– Beleza, uma irmã bêbada.

– Há algum problema, tio?

– Sim, Thrud. Se chama praga de ex-mulher. Por isso que eu não me caso. Já pensou se arrumo uma igual a Angr e depois me separo?

Angrboda colocou Trilher para tocar. Todo mundo se manifestou e começou a dançar que nem o Michael Jackson com Osíris liderando, porém Hades foi para o cantinho com sua esposa.

– Eu não devia ter deixado a Hine ter ficado com a alma do Michael! Agora ela tem aulas de dança com ele sempre que quer. Porra, eu queria ter a alma do Michael no Hades!

– Você perdeu a alma do Michael?! Quando foi isso?!

– Na última Reunião dos Deuses da Morte e do Submundo e Associados.

– Isso existe?!

– Claro que existe. Decidimos quem vai ficar com a alma de que famoso lá.

O deus do submundo só voltou a se animar quando a música que preenche os salões era “I Will Survive”. Todos, com exceção de Rá, Odin e Frigga, que não saíram da mesa principal por um minuto, e de Jasmine, Helena, Seshat, Macária, Despina, Tyr e Forseti começaram a dançar.

– Isso é sacanagem! Não existe macho quando essa música toca!

– Não fique assim. – Disse Macária docemente. – Pense que todos estão se divertindo.

– Vendo por esse lado...

– Irei chamar Despina para dançar. Quem sabe ela se divirta também. – Com isso, a deusa da boa morte saiu da mesa para se juntar a sua tia-prima.

– Como é que Hades conseguiu ter uma filha tão doce?

A seleção continuou com “It’s Raining Men”. Foi então que alguns soltaram a franga e saíram de todos os armários possíveis. Logo veio “Macho Man”, que confirmou todas as suspeitas de Tyr de que aquela seleção tinha sido feita de sacanagem, por outro lado ele não pôde conter os risos quando viu Seth e Loki dançando em cima da mesa como duas peruas.

– É melhor vocês semideusas irem dormir porque amanhã vai ser puxado.

Apensar de nenhuma palavra ser proferida, Helena e Jasmine assentiram. Tyr foi até o meio da pista e voltou com Diana jogada de qualquer jeito pelo ombro e empurrando Raven. Helena e Jasmine os seguiram por entre os corredores até chegarem aos quartos. Cada uma entrou e se preparou para dormir, menos Diana, que Tyr teve que jogar na cama e sair.


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Notas finais do capítulo

Rá, o deus-sol egípcio, é representado como tendo cabeça de falcão. Ele andava na barca solar de leste a oeste, representando assim o passar do dia. Rá é antecessor de vários deuses e também foi marido de algumas de suas filhas.
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Amon e Atum são divindades antigas, que ao se fundirem com Rá deram origem à vida terrestre.
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A mitologia egípcia é repleta de incesto e confusões familiares, principalmente no que diz respeito à árvore genealógica.
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Thoth é o deus da sabedoria, da astronomia, astrologia, matemática e tudo mas que for do campo científico e intelectual.
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Maat é a esposa de Thoth e deusa da verdade e da justiça, é representada como uma mulher com uma pena na cabeça. Sua pena é colocada na balança junto ao coração do morto, se o coração for mais leve que a pena, o dono vai para Aaru, o paraíso, se for mais pesado, era devorado por Ammit, um mostro, e o dono condenado à eternidade no Duat.
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Mafdet é uma das filhas de Thoth e Maat, ela é representada como uma mulher com cabeça felina que mata escorpiões para livrar os humanos de seu veneno.
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Serket é a deusa dos escorpiões e do veneno, ela é representada como uma mulher com um escorpião na cabeça. Alguns registros contam que os egípcios acreditavam nas propriedades curativas da picada do escorpião. Não há histórico de confronto com Mafdet, mas falando sério, juntar uma deusa que gosta de escorpiões com outra que os mata, só pode dar briga.
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Seshat é a outra filha de Thoth e Maat, ela é a deusa da escrita e é representada como uma mulher com escrevendo em uma longa folha de papiro e uma cannabis na cabeça, alguns dizem ser a planta que fazia o papiro ou uma estrela, tirem suas conclusões.
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Ísis, é a deusa da maternidade e fertilidade, associada com a natureza e a magia, filha de Geb e Nut, a terceira a sair do útero rasgado de Nut, esposa e irmã de Osíris, mãe de Hórus e em algumas versões mãe adotiva de Anúbis.
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Néftis foi a última a sair do útero rasgado de Nut, é irmã de Osíris, Seth e Ísis, já foi esposa de Seth e é mãe de Anúbis. Dizem que Seth, já com inveja de Osíris, não queria lhe dar um filho, então ela foi, enganou Osíris que era seu irmão e cunhado e dessa união nasceu Anúbis. Alguns mitos dizem que ela abandonou Anúbis em uma plantação de papiro ou algodão para salvá-lo de ser morto por Seth e Ísis o achou, outros mitos dizem que ela o entregou a Ísis para protegê-lo.
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Osíris é o deus do submundo, o filho mais velho de Nut e Geb e portanto herdeiro do trono, além de pai de Hórus e Ánubis (algumas versões) e irmão de Seth, Ísis e Néftis. é representado como uma múmia. Dizem que ele e Ísis se amavam ainda no útero. Não bastava ser faraó e querido por todos, despertando a inveja de Seth, anda mais depois que o outro descobriu que tomou chifre, Osíris foi enganado pelo irmão em uma festa e trancafiado em um sarcófago e atirado ao Nilo. Ísis consegue encontrá-lo e escondê-lo em uma plantação de papiros (talvez a mesma em que encontra Anúbis), mas Seth descobriu, o cortou e o espalhou pelo Egito. Ísis, em algumas versões sozinha e em outras com ajuda de Néftis, conseguiu reunir seus pedaços, com exceção do pênis que tinha sido comido por peixes, então ela teve que fazer um de magia. Ela, Néftis e Anúbis o mumificam, é então que por força de magia, ela consegue revivê-lo mesmo em múmia e transa com ele, e foi assim crianças que Hórus nasceu.
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Seth é o deus da violência, do deserto, da traição, representado por uma cabeça de um bicho todo esquisito e o segundo a sair do útero, como Osíris foi o primeiro e roubou seu direito, ele retalhou o útero da mãe na hora que saiu, fazendo Ísis e Néftis somente saírem depois. Algumas versões ele é o pai de Anúbi, em outras, ele levou chifre de Néftis com Osíris. Alguns mitos dizem que ele era estéril como o deserto, outros o colocam como pai de Sobek com a Neith.
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Neith é a deusa da caça e por vezes da tecelagem, é a mãe de Sobek juntamente com Seth.
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Hórus é o filho de Ísis e Osíris, concebido após o pai voltar à vida transformado e múmia por Anúbis quando o zumbi transou com sua mãe na forma alada. É representado com a cabeça de um falcão. Ele vingou seu pai matando seu tio Seth (em algumas versões só castrou).
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Anúbis é o deus da morte e juiz dos mortos, fruto de uma relação extraconjugal entre Osíris e Néftis, em algumas versões é filho de Seth, e meio-irmão-primo mais velho de Hórus. Foi abandonado por sua mãe pela sua segurança e achado e criado por sua tia Ísis. Juntamente com as duas mães, ele ajudou no ritual de Osíris e o transformou na primeira múmia da história. É representado com uma cabeça de chacal. Anúbis se casou com Anput, sua contraparte feminina, e teve uma filha, Kebechet.
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Sobek é o deus das águas do Nilo, é violento e temperamental. É o filho de Neith e Seth.
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Bastet é uma deusa com cabeça de gato e deusa dos gatos, que eram sagrados no Antigo Egito. Matar um gato era crime punível com a morte. Ela era filha e esposa de Rá.
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Hathor é a deusa do amor, da música e das festividades, filha de Rá e esposa e ama de leite de Hórus, com quem teve quatro filhos: Imseti, Hapi, Duamutef e Kebehsenuef, cada um dele era associado a um ponto cardeal, guardava um órgão do morto e tinha uma deusa tutelar (Ísis, Néftis, Neith e Serket). Hátor é representada ora por uma mulher com disco solar e chifres de vaca e ora com cabeça de vaca. Ela é o alter ego de Sekhmet.
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Sekhmet é a deusa da guerra e das doenças, ela é representada com uma cabeça de leoa, foi filha e esposa de Rá e esposa de Ptah, o deus dos arquitetos e artesãos. Ela foi enviada para punir os ingratos e os hereges, mas ficou tão obcecada por sangue que passou a matar indistintamente. Tiveram que encher tonéis de vinho, que ela confundiu com sangue, já que àquela altura não conseguia distinguir mais nada e matava tudo que se mexesse, para embriagá-la e recolhê-la. Após se recuperar da ressaca, Hathor apareceu em seu lugar e Sekhmet ficou adormecida dentro da "irmã".
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Atalanta era uma caçadora de Artêmis tão rápida quanto Hermes e Íris que recebeu uma profecia que dizia para ela não se casar, pois seria sua ruína. Com isso, para adiar a ideia de casamento, ela decidiu que só se casaria com quem a derrotasse em uma corrida. Hipomene, o juiz de suas corridas, decidiu tentar a sorte e não só a desafiou como pediu a ajuda de Afrodite para que conquistasse seu amor. A deusa lhe deu então deu três maçãs de ouro, para que este os deixasse cair no decorrer da corrida com Atalanta. Quando Atalanta via os pomos no chão, deslumbrada com sua beleza, parava para apanhá-los, dando a Hipomene a vantagem. Os dois se casaram, mas Hipomene esqueceu de glorificar Afrodite, ela os indusiu a transar num templo de Zeus (ou de Réia) e ambos foram transformados em leões.
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Netér é um ser cósmico sem forma definida podendo assumir várias formas, seu plural é Neteru no masculino e Netert no feminino. É também um termo erroneamente usado para identificar os deuses egípcios.
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Thrud é a filha de Thor e Sif e meia-irmã de Magni, Modi e Uller. Ela era considerada uma deusa regente do tempo cuja raiva trazia as nuvens escuras de chuva e as tempestades, e o bom humor deixava o céu da cor de seus olhos azuis.
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Hades, o deus do subbundo, é filho de Cronos e Réia e irmão de Zeus, Hera, Héstia, Poseidon e Deméter. Ele também é pai de Macária e em algumas versões de Melinoe.
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Perséfone é a filha de Zeus e Deméter que foi raptada por Hades e acabou casada com ele. Ela teve Macária com Hades e Melinoe e Zagreus com Zeus. Alguns mitos dizem que teve Melinoe com Hades ou Zeus travestido de Hades no submundo.
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Macária é a deusa da boa morte (aquela morte tranquila e natural sem arrependimento ou no auge da felicidade, sem sofrimento), é filha de Hades e Perséfone e dizem que foi de união forçada entre ambos. Ela prefere buscar as pessoas que foram justas em vida, dizem que é possível sentir um agradável aroma de flores antes de Macária as levar embora. Ela também fica ao lado das almas que leva no julgamento e quase todas as almas que busca, vão para os Elíseos. É muito boa e doce e como tem total controle sobre os poderes das trevas, ela os usa para ficar invisível perante os humanos (e quem sabe dos deuses).
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Melinoe é a deusa dos fantasmas, aqueles que não tiveram um sepultamento adequado. Ela era metade branca e metade negra (não como Hel). Ela vagava pela terra com uma legião de fantasmas, assustando todos que passassem por seu caminho. Ela é filha de Perséfone e Zeus transformado em Hades, em alguns mitos seu pai é Hades.
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Zagreus é filho de Zeus e Perséfone. É dito que Zeus violou Perséfone ainda virgem em forma de cobra (ou dragão), dando origem a essa criatura. Hera mandou os titãs o destruírem e ele foi retalhado pelos seus inimigos. Algumas versões dizem que seu coração sobreviveu, então Zeus o deu para Sêmele comer, que teria engravidado mais tarde de Dionísio.
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Sleipnir é o cavalo de 8 patas, montaria oficial de Odin e filho de Loki transformado em égua e o cavalo Svadilfari. Ele é o filho mais velho de Loki.
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As gêmeas sem importância são Eisa (fogo) e Einmyria (cinzas), filhas de Loki e da giganta de fogo Glut. Não há mais informações sobre elas, por mais que eu tenha pesquisado.
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O trio temível são os filhos de Loki e da giganta macumbeira Angrboda: Fenrir, o lobo gigante, Jormungand, a serpente de Midgard, e Hel, a meio morta.
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Os outros dois são filhos de Loki e Sigyn: Vali (o fraticida) e Narfi ou Navi ou Narvi, que foi morto pelo irmão por inveja (já vi essa história em algum lugar) e seu irmão foi transformado em um lobo.
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Forseti é filho de Balder e Nana e deus da justiça, em seus salões ele fazia julgamentos, nunca contou uma mentira na vida.
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Stoneball é um jogo inventado por mim que mistura curlling com bola de gude. Bem, uma menina congelada e um cavalo precisavam inventar algo para brincar na infância.
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And this is the end! Essas confusões familiares e linhagens dão um nó na cabeça.
Nos vemos no próximo capítulo, daqui quando as provas acabarem.