A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 37
Reunião de Pais parte 5


Notas iniciais do capítulo

Eu devia estar estudando, arrumando o quarto, penando com o TCC, mas cá estou eu, trazendo mais um capítulo cheio de confusão.
Aviso: Se alguém tiver estômago sensível, não se esqueça de pegar um saquinho e não leia à noite. Algumas informações podem ser muito pesadas.



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— Cara, suas mitologias têm problema. – Comentou Leo com Marcos, que estava com Eliot e Angus.

— Por isso que somos traumatizados. – Comentou Marcos. – Em pouco tempo já traumatizaram o acampamento inteiro.

— Devo concordar, chuvisco. – Disse Eliot. – Perdi as contas de quantas vezes Diana teve que tapar os olhos da criança.

— Não se preocupe, depois você se acostuma.

— Quer dizer nunca. Você viu aqueles buracos?!

— Eu acho melhor te contar o mito ao invés de Sienna. Ela pode te traumatizar.

— O que acham de espionarmos para ver o que elas vão fazer? – Sugeriu Eliot.

— Sound it off, this is the call! Rise in revolution! It's our time to change it all! Rise in revolution!

— Angus! – Reclamou o loiro retirando os fones do moreno.

— Hey!

— Isso é metal?

— É Skillet e você está me atrapalhando.

— Queremos ver o que as deusas estão fazendo.

— Azar o seu, eu quero é dormir.

— E o que está esperando para sair daqui?

Angus o olhou seriamente, o que raramente fazia e o puxou para perto de si.

— Angus?

— Eu não posso sair. – Sussurrou em seu ouvido.

— Eu posso cuidar de tudo, se quiser.

— Não irá saber.

— É a sua sina.

— É.

— Por que não saímos para beber, só nós?

— Está me convidando para sair?

— Estou, sarnento.

— Vai se arrepender, eu bebo muito.

— Eu sei. Já perdi as contas de quantas vezes segurei seu cabelo para vomitar. – Riu. – Sequestramos uma garota?

— Claro e a gente para em um motel também.

— Motel é caro, vamos para a casa dela que é perto mesmo.

— Até que enfim pôs o cérebro pra funcionar, Bonnie.

— Por que eu sou sempre a Bonnie?

— Porque eu sou o ativo da relação.

— Deuses, sou passivo de um emo depressivo!

Os dois começaram a rir, nem mesmo Leo e Marcos entenderam o motivo da risada.

— Ô hienas, o Scar está do outro lado. – Brincou o maia.

— Está bem, Simba, já entendemos. – Eliot sorria zombeteiro.

— Simba? Está mais para Timão. – Brincou Leo.

— E você é o Pumba, irmãozinho.

— Hei, eu sou mais velho que você! – Emburra, mas desfaz o bico e os quatro riram.

— Estavam marcando encontro, é? – Perguntou Marcos.

— Claro. Pela primeira vez na vida Eliot tomou a dianteira e me chamou para sair. Geralmente sou eu que tenho que buscar a madame em casa.

— Vocês dois estão mesmo juntos! – Leo fingiu surpresa.

— Claro que estamos. – Angus pousou o braço nos ombros de Eliot. – Ele não sobrevive sem mim. Não é, amor?

— Oh, claro. O que seria de mim sem um cão para tirar pulgas?

— Maldade. – Fez bico e os quatro riram mais uma vez.

— Falando sério, vamos sair para beber e levar a Raven. Faz tempo que não saímos só nós três.

— Agora é só convidar a Raven.

— Farei isso depois.

— Eliot, não faça isso comigo cara. Somos melhores amigos, é só chegar e chamar.

— Eu não sei...

— Eu cuido disso. RAVEN!

— Que foi, caramba?!

— Vamos sair e encher a cara! Hoje! Só nós três! Ta dentro?!

— E ainda pergunta?! É lógico que sim!

— Viu?

— Como você consegue?

— Não tem mistério. É só gritar e convidar. Você está falando com uma amiga e não outra garota.

Eliot ficou em silêncio. Ele sabia que Angus sabia sobre seu “problema” e no entanto, insistia em tirar onda com sua cara. Sentiu o braço dele sobre seus ombros o puxar para uma espécie de abraço.

— Não fique assim. Você só precisa de um empurrãozinho.

— Eu não sei...

— É para isso que estou aqui, não?

Com os deuses.

— Vocês vão deixar sues fihos saírem para encher a cara assim?!

— E qual o problema? – Perguntou Rá. – Eles sabem se cuidar, o problema são deuses intrometidos que acham que podem fazer o que bem entendem com os outros.

— A ferida ainda continua aberta.

— Agradeçam que a guerra não foi com Shiva porque se fosse, poderiam considerar seu panteão extinto.

— Vocês não se preocupam se seus filhos estão enchendo a cara na presença de estranhos? – Perguntou Odin a Rá em privado, deixando os outros discutirem.

— Não, minha Raven é responsável o bastante para nunca beber a ponto de não saber o que está fazendo, ao contrário dos outros dois.

— Não teme que eles possam “atacar” sua filha estando bêbados?

— Se tivesse esse risco, ela não sairia com eles. Confio neles, embora os três tenham iniciado a vida sexual cedo demais.

— É o que?!

— Eu queria que tivesse sido depois dos 20, mas não deu. Pelo menos os três perderam juntos.

— Você fala isso como se não fosse nada?!

— Nós egípcios temos uma visão bem diferente sobre sexo e incesto. – Dá de ombros.

— É claro. – Resmungou derrotado.

— Se eu fosse você, conversaria mais com Diana sobre o assunto.

— O que está insinuando?

— Que mais cedo ou mais tarde, vai acontecer e é melhor fazendo com consciência e você sabendo do que fazer escondido, você ficar puto e brigar com ela. Vocês são os que menos viam significado na castidade.

— Tem razão. Vou falar com ela um dia desses.

Apolo, mulherengo como era, não deixava uma oportunidade passar despercebida. Poderia ter ido espiar Afrodite e as outras para ver o que acontecia, mas ao invés disso, aproximou-se de Malina, que tinha ficado. A deusa se encontrava sozinha visto que sua companheira de mitologia encontrava-se com Tangaroa.

— Oi, você é a deusa do sol não é?

— Sou.

— Isso explica porque o lugar ficou mais bonito e radiante quando você chegou.

— E você deve ser o famoso deus dos canalhas. – Disse ríspida.

— Não precisa me tratar assim, não fui agressivo com você.

— Não, mas veio me cantar porque eu sou bonita. Conheço gente da sua laia, melhor, conheço sua fama. É tão desprezível quanto Igaluk.

— Apolo, vem cá, quero dar uma palavrinha com você. – Chamou Hades autoritário.

A autoridade foi tanta que Apolo acabou o bedecendo. Hades deu um cascudo no sobrinho.

— Está ficando maluco?! Por acaso não ouviu o que ela e Sedna disseram?!

— Mas...

— Mas nada! Malina é capaz colar a boceta com superbonder, isso é, se ela não arrancar o próprio útero antes!

— Ela não faria algo assim.

— Ela cortou os próprios seios e os atirou ao irmão depois dele estuprá-la. Inuites são acostumados à mutilação.

— Mas isso foi há tanto tempo...

— Só que as cicatrizes psicológicas permanecem tanto quanto as físicas. Além do mais, você quer declarar guerra aos inuites?!

— Nós podemos com eles, não podemos?

— Fale isso para os quinhetos espíritos que eles têm. E caso não saiba, eles são aliados dos maias, que são aliados dos astecas e agora estão verificando a legitimidade do Jaguar para ver se eles se aliam ou não aos incas. Quer nos foder?!

— Não tinha pensado nisso.

— Então pense da próxima vez que se aproximar de alguém de outra mitologia.

Enquanto isso, Afrodite tinha que se virar com as outras deusas. Queria conhecer as rivais para poder ser melhor ou eliminá-las, mas agora via que seria uma tarefa impossível. Talve fizesse só à Macária, mas desistiu quando a viu conversando com Thrud, Seshat e Brigid e quando viu que Freya a vigiava. Pensou em se vinar de Áine pelo que tinha feito a Eros, apesar de ninguém ter se machucado, mas não era uma boa ideia arrumar briga com as celtas, ainda mais vendo que ela se dava bem com Epona, que era amiga de Macha. Ela queria muito arrumar uma forma de se livrar de Macha, mas seria impossível visto que era uma Morrigan e irmã da Grande Rainha e de Badb. As hindus, nem pensar. Se voltou para as maoris e a maia. Hine-nui-te-po e Ixtab conversavam sobre algum assunto aleatório.

— Essa árvore é realmente grande. – Comentou a maia com sua voz arrastada e meio tristonha quando passaram por um grande carvalho.

— Incrível como encontra a árvore perfeita para você. – Disse a maori.

— Acha mesmo perfeita?

— Não me diga que escolhe ao acaso.

— Por mim mesma e pelos outros deuses, não! Não gosto de galhos frágeis. Eles quebram facilmente.

— O que estão olhando? – Perguntou a ninfa da árvore.

— Uma morta.

— Hine!

— Arrumando confusão com as ninfas? – Perguntou Afrodite.

— Só as clamam pela morte.

— Hine, calma. Não precisa ser assim.

— Não se pedir desculpas pela grosseria.

— Em seus sonhos, monamour. Não devo desculpas a nenhuma de vocês.

— Um pouco de educação faria bem. – Comentou Freya.

— Ou umas porradas. – Thrud já pegava a espada.

— Podemos resolver de outro jeito. – Disse Macária segurando o braço de Thrud, tentando impedir a loira de pegar a espada.

— Fale por você.

— Minha árvore é consagrada a Zeus, vocês não podem me tocar sem que cause guerra. Inclusive posso dizer que sou mais bonita que vocês.

— E quem disse que temos medo de guerra? – Macha tinha sacado sua espada juntamente com Freya e Hine-nui-te-po sacara sua adaga.

— Meninas! Realmente vale a pena guerregar por conta disso? – Perguntou Maat tentando trazer todas à razão.

— Eu não gosto de brigas. – Choramingou Ixtab.

— Oh, vai chorar? – Zombou a ninfa.

— Idiota. Não sabe com quem acabou de se meter. – Disse Hine com desprezo.

— Eu não aguento mais isso. – Ixitab tinha arrumado uma corda e se aproximava da árvore.

Enquanto isso, Ah Puch tinha resolvido aparecer para os outros deuses. Sua aparência hedionda causava desconforto e até mesmo transtorno.

— Que porra é essa?! – Perguntaram Zeus e Poseidon.

— Falem baixo, cacete! Querem causar problemas?! Esse é Ah Puch, o deus maia da morte.

— Perdoem se minha aparência causa certo constrangimento, mas não dá para ficar mais bonito que isso. – Disse em tom de deboche.

— É o cara que jogou o estômago em mim!

— É ele, Leo? – Perguntou Jason, que tinha se aproximado do amigo e dos outros três.

— E há algum outro deus com as tripas de fora que você conhece?!

— Oh, o irmão do Marcos. Quase abriu o berreiro por causa de um estômago.

— Não foi você que ficou todo coberto de ácido gástrico, tio. – Rebateu o próprio Marcos.

— Ficar coberto de ácido gástrico é o menor dos males e você sabe muito bem disso. Por acaso, viu meu rim por aí?

— Você veio aqui só por causa do seu rim?

— Oh, não! Eu queria ver como você está se saindo. Não matou ninguém, eu espero. Esses mortos dão um trabalho desgraçado.

— Se bem que uns corações arrancados de vez em quando seria ótimo. – Comentou Tohil.

— Você só pensa em beber sangue.

— Kali quer arrancar corações para beber sangue também.

— Não começa, Kali. – Ordenou Shiva.

— Mas não estou aqui só para isso. Vim resolver um grande assunto com Hades que envolve... A mãe de vocês.

— Ah Puch, não ouse... – Começou Chaac.

— Está na hora dos dois saberem e do Hades parar de me cobrar por uma alma que não está em meu poder.

— Precisa mesmo fazer isso agora, Ah Puch? – Perguntou Hades. – Não pode esperar até o RDMSA?

— Ora, você sabe que nessas reuniões a gente não consegue chegar a consenso algum até nos entupirmos de álcool e começarmos os jogos. E vocês precisam parar de arremessar meus rins quando forem disputar por uma alma.

— O que aconteceu com a minha mãe?

— Ele está blefando. Eu estava lá e ela... – Leo não conseguiu continuar e desviou o olhar, cerrando os olhos com força.

— Você não se lembra, não é? Deve ter sido um trauma tão grande que sua mente o bloqueou. Não o culpo, eu faria o mesmo se visse minha mãe ser sacrificada com tão pouca idade.

Gritos de horror cortaram o clímax, deixando Ah Puch chateado. Deuses e semideuses foram ver do que se tratava, pois não pareciam vir de fora do acampamento. Eles encontraram as deusas, algumas horrorizadas e outras nem tanto. Hine as impedia de se aproximarem do carvalho morto. Pendurado, no carvalho estavam dois corpos enforcados. O primeiro era o da ninfa, que tinha sido enforcado e depois ela própria tinha se perfurado com um galho afiado. Seu olhar era de puro terror. Já o segundo, era o de Ixtab.

— Pelo menos não usou o meu intestino dessa vez. – Comentou Ah Puch, recebendo olhares reprovadores.

— Ninguém toca naquela corda! – Bradou Anúbis. – Maat, Hórus e quem estiver mentalmente forte, tirem as meninas e os semideuses daqui. Hine, Hades, Tohil, Chaac e Ah Puch venham comigo agora. Ninguém deve se aproximar daquela árvore.

Ninguém ousou contestar e fizeram o que foi pedido. Todos foram levados em segurança e debateram sobre o que tinha acontecido. Leo estava em estado de choque e era amparado pelos seus amigos e pelos do irmão.

— Leo, o que houve? – Perguntou Marcos, que por incrível que pareça estava calmo demais. – Ixtab te assustou tanto assim?

— Eu... Ela... Aquela mulher...

— Respire fundo e me conte. Qual é o problema?

— Marcos, aquela mulher sacrificou nossa mãe durante o incêndio!

— Entendo.

— Não, você não entende! Ela...

— Ela se jogou no fogo logo depois.

— Como sabe disso?!

— Por que eu sei o porquê dela ter feito isso.

Todos prenderam a respiração e se mostravam bastante surpresos com aquilo.

— Sabe?

— Nós maias trabalhamos com dois mundos depois da morte. Temos o submundo, governado por Ah Puch e o paraíso por Ixtab. Ela fez isso para enviar a alma da nossa mãe para o paraíso maia.

— Em um sacrifício? – Perguntou Annabeth.

— Iam automaticamente para o paraíso maia as vítimas de sacrifícios, as mulheres que morriam ao dar a luz, os guerreiros em batalha e os suicidas, especialmente os suicidas por enforcamento.

— Suicidas? – Perguntaram todos.

— Devo não ter contado. A Ixtab é a deusa maia do suicídio.

— É O QUE?!

— É por isso que eu não estou surpreso com o que aconteceu. De todos os deuses maias, a Ixtab foi a que mais me deu traumas.

— Se ela matou aquela ninfa, então isso é guerra? – Perguntou Percy.

— Provavelmente não. Ixtab só é perigosa para si mesma. A ninfa deve ter se matado.

— Marcos isso não é possível! – Exclamou Diana. – Que razão teria para isso?!

— A corda que estava com ela é a corda de Ixtab. Só há duas explicações: ou Ixtab ofereceu sua corda a ela ou ela tentou tomar a corda de Ixtab.

— Ou ela jogou a corda na nifa ou a enlaçou.

— É impossível. Ixtab é a deusa do suicídio e não do homicídio. Ela só oferece sua corda a suicidas e guia suas almas até o nosso paraíso. Se não era suicida, então tentou tomar a corda das mãos dela.

— Entendi. – Disse Angus.

— Entendeu o que? Eu estou boiando! – Reclamou o cabeça de alga.

— Então se fode aí. – Angus saiu de perto do grupo.

— Ele me irrita.

— Entendi. – Pronunciou-se Helena.

— Eu também. – Sienna fez o mesmo.

— Podem nos explicar então? – Perguntou a ruiva.

— Helena, por favor, nos esclareça. – Pediu Nicolas.

— Anúbis mandou ninguém tocar na corda. A corda deve influenciar as pessoas a cometer suicídio.

— É pior do que isso. – Disse Marcos. – Se a Ixtab usar a própria corda para se enforcar, ninguém deve impedir. Se alguém tocar na corda, uma grande onda de depressão seguida por uma vontade imensa de morrer se apodera da pessoa. É como se fosse um transe depressivo e toda sua vontade se resumisse a morrer. Essa pessoa se enforca com a própria corda de Ixtab, mas morte por enforcamento é sempre relativa.

— Se não quebrar o pescoço no ato, fica pendurado até morrer de asfixia. – Novamente, fora Helena quem comentara.

— Exato. Rápida ou lenta, ainda assim é uma morte na corda. No entanto, essas pessoas em transe não quebram o pescoço, então ou esperam pela asfixia ou acabam com isso de um jeito mais rápido. Só que de alguma forma, elas saem do transe um segundo antes de morrer.

— Essa conversa ficou depressiva de repente. – Notou Tyler.

— É de Ixtab que estamos falando. Ela é depressiva e se mata de todas as formas possíveis e inimagináveis, não só por enforcamento, mas até se atirar em fogueiras ou lugares altos. Nenhum de vocês faz ideia do que é estar com alguém que pode se matar a qualquer momento bem na sua frente.

— Marcos...

Vendo que o assundo o deixava mal, Parvati esfreou a mão em seu braço. Tyler apoiou o braço em seu ombro, Nicolas apoiou a mão em seu ombro livre e Diana o abraçou como se fosse um irmãozinho.

— Sinto muito. – Disse Jasmine.

— Tudo bem. Minha mitologia é tão traumática que ou você aprende a aceitar ou enlouquece. Espero não estar ficando louco.

— Não esquenta. – Começou Tyler. – Se estiver, vamos arrumar uma cartola enorme para você e uma Alice.

— E um jogo de chá. – Parvati entrou na brincadeira.

— E algumas peças de relógio para o caso de querer virar uma versão Madness Returns. – O comentário partiu de Diana.

— Não basta eu ser o mais novo, vocês ainda têm que me transformar em um personagem de livro infantil?

— Por falar em peças, olhem só o que eu achei! – Exclamou Angus retornando com o cavalo frísio usando uma cartola, óculos escuros e adornos que o transformavam em um cavalo steampunk.

— Porra Angus! – Reclamou Frísio. – Não quer ir à merda não?!

— Mas eu já fui e ele me seguiu.

— Seu...!

E começou uma perseguição entre o celta e o egípcio. O grupo começou a rir e a recuperar o bom humor. No entanto, Frísio perdeu Angus de vista e retornou para perto dos amigos sem ele.

Apolo, ignorando Hades e o alerta sobre os inuites, tinha se aproximado novamente de Malina

— Loucura essa, não?

— Estou acostumada com coisa pior.

— Tipo...?

A deusa ergueu a bata amarela, mostrando os buracos onde estiveram os seios.

— Precisava mesmo me mostrar isso?! – Perguntou quase choramingando.

— Algum problema? – Sua irritação era visível.

— Só pode estar brincando! Isso é horrível!

— Se ainda estivessem intactos, iria adorar vê-los. Sua hipocrisia e adoração à beleza me dão nojo.

— Não é bem assim! Veja bem...

— Você só se aproxima de mim porque sou bonita e por causa disso quer se enfiar entre minhas pernas, igualzinho a Igaluk!

— Não é verdade! Só por que o seu ex era assim, não quer dizer que os outros sejam assim.

— Ele era meu irmão!

— Isso muda muita coisa. – Estava um tanto surpreso.

— Só falta querer me estuprar igual a ele se eu continuar a negá-lo.

— Er...

— Eu sabia.

Malina saiu a passos largos de onde estava e foi para perto de Sedna e Tangaroa, deixando Apolo boquiaberto.

— Perdeu o jeito? – Perguntou Eros, que passava por ali.

— Eu? Nunca! Ela só não está acostumada com tanta beleza.

— Sei... Aposto que tomou um pé na bunda.

— Eu não tomei um pé na bunda, só não conquistei o coração dela ainda.

— E nem vai.

— Quer apostar?

— Se lembra da nossa última aposta?

— Mas dessa vez é diferente. Sem truques, sem travessuras, sem flechas, só o meu colóquio quente.

— E se vencer, o que eu ganho?

— Isso depende. O que vai querer?

Eros sorriu malicioso. E foi assim que mais uma aposta se iniciou.

Himeros se encontrava com Áine. A deusa estava tão nervosa que tinha terminado o copo de água com açúcar rapidamente.

— Mais calma?

— Um pouco. Foi uma coisa horrível.

— O que realmente aconteceu?

— Hine-nui-te-po e aquela ninfa começaram a discutir até Ixtab pegar a corda e pretender se enforcar. A ninfa tentou tirar, pois não queria que ninguém se enforcasse em sua árvore, mas...

— Mas...?

— Eu não sei o que aconteceu. Ela mesma se enforcou e quando não morreu, se matou com aquele galho. Depois disso Ixtab se enforcou.

— Realmente, uma cena lamentável. Por que ela faria isso?

— Eu realmente não sei. Conheço pouco sobre os maias.

— Já que estamos aqui, pode me ensinar daquele feitiço?

— Posso te dar um estoque dele em garrafas, mas só se prometer que vai manter Eros longe das minhas fadas e da Arke.

— Por mim, ele já está longe delas. O problema é a nossa mãe.

— Isso, eu posso resolver.

Angus, depois de se livrar de Frísio, tinha ido para outro local e este era o mesmo local em que se encontrava Nico Di Angelo, isolado dos demais.

— Sozinho de novo?

— E o que você tem a ver com isso?

— Não quer admitir que se assustou também? Não esquenta, todo mundo se assustou. Tirando o Marcos, os maias, a Helena, a Sienna e a Sedna.

— Eu não me assustei.

— Sua cara diz o contrário.

— Cala a boca!

— Relaxa, não precisa dar piti só porque viu seu primeiro enforcado.

— Como é que você consegue fazer graça com essas coisas?!

— Quando se é filho de um deus relacionado com a morte, ou você aprende a lidar ou enlouquece. Talvez esta seja minha forma de lidar e talvez você esteja enlouquecendo.

Se fosse em condições normais, Angus teria puxado um cigarro, mas estava em uma reunião de pais e se Anúbis o visse fumando ali, ele receberia uma bela bronca e um dos famosos castigos que poderiam ser trocados por tarefas. Ele não abia o que era pior, ficar sem sair, sem beber, sem internet e ter treinos dobrados no tempo livre ou ir ao Duat limpar o cocô de Ammit, limpar a balança de julgamento, cuidar da lista de almas a serem julgadas ou até mesmo ajudar a embalsamar e colocar órgãos em jarros.

— Vai continuar fugindo até quando?

—...

— Me evitar não vai fazê-lo se livrar de mim.

— O que você quer?!

— Te ajudar.

— Não preciso da sua ajuda.

— Repita isso para si mesmo até se convencer, mas nós dois sabemos que nunca será verdade.

— Por que não me deixa em paz?!

— Porque você não sabe mais o que é paz.

Com raiva, Nico acabou invocando o exército de Hades. Não que ele quisesse atacar, mas apenas assustar Angus, mas o egípcio não estava nem um pouco intimidado, pelo contrário, estava muito à vontade.

— Tem tanto medo de sair do armário assim? – Brincou.

Aquilo só o deixou ainda mais com raiva e o exército percebeu isso. Não tardou que o ataque começasse, mas Hades não era o único com um exército. Um exército de humanoides híbridos entre chacais e humanos surgiu para parar o exército de Hades. Eles eram fortes até, surpreendendo o rego.

— Exército de Anúbis. – Esclareceu o egípcio.

Os exércitos chamaram a atenção dos demais e logo suriram os curiosos e os apostadores. No meio do campo de batalha, surgiu Anúbis. O deus tinha se teleportado, causando impacto. Os combatentes pararam no mesmo instante a Anúbis dispensou ambos os exércitos com apenas um sinal de mão. Muitos ficaram impressionados, mas Angus estava inquieto, pois sabia o que estava por vir.

— Vocês dois acham que os exércitos são brinquedo? – Vendo que não obteve resposta, deu uma pequena rosnada. – Respondam!

— Não. – Respondeu Angus, vendo que Nico estava petrificado pelo medo e não era por qualquer coisa, Angus sabia que seu pai estava puto.

— Então como explicam isso?!

— Já sei, já sei. Estou de castigo e vou ter que limpar o cocô do Ammit por um mês para me redimir.

— Já saber que está de castigo não irá isentá-lo da bronca. – Respondeu um pouco mais calmo, mas ainda assim continuava ameaçador.

— Ah, qual é! Precisa mesmo disso?! – Anúbis arqueou a sobrancelha. – Precisa sim. – Disse Angus em tom de derrota.

— Tudo bem, Anúbis. Deixa que do meu cuido eu. – Disse Hades surgindo ao seu lado e Anúbis somente arqueou a sobrancelha. – Hei, eu cuido dele sim!

O egípcio continuava com a cara que dizia que fingia que acreditava. Realmente, era difícil discutir com Anúbis.

— Nico, o que te deu na cabeça?! Discutir logo com o filho do Anúbis?!

— Por que se importa?

— Porque eu sou o seu pai e Anúbis é poderoso. Você viu o que ele fez com ambos os exércitos?

— Não foi você que mandou seu exército se dispersar quando ele apareceu?

— Infelizmente não. Não importa a mitologia, os mortos sempre irão respeitar dois deuses acima de tudo: Anúbis e Hel. Nenhum deles é tolo, tanto é que Anúbis sozinho pode parar um ataque de mortos e fantasmas só com sua presença, o mesmo vale para Hel.

— Mal chegamos e já tem treta rolando?

— Loki, o que faz aqui?!

— Disseram que ia ter bebida grátis. Infelizmente o Seth tomou o Gardenal e a Néftis está em Vegas.

— Eu? Em Vegas sozinha? Conta outra, Loki. – Néftis tinha acabado de surgir.

— Puta merda. – Resmungou Hades.

— Pessoal, está tudo bem?

Ixtab reapareceu no acampamento ilesa, causando espanto a odos e estranhamento em Loki e Néftis. Somente os maias e os deuses da morte não se surpreenderam.

— Parece que viram um fantasma.

— Você não tinha se enforcado?! – Perguntaram os presentes.

— Tinha, mas isso foi há alguns minutos. Por que a surpresa?

— Você não tinha morrido?

— Sim.

— É um fantasma?!

— Oh, eu não me apresentei adequadamente. Eu sou Ixtab, a deusa maia do suicídio.

Teve poker face geral no acampamento. Loki e Néftis continuavam sem entender o que tinha acontecido e Ah Puch rolava de rir, perdendo alguns órgãos, mas conseguiu recuperá-los e achar o rim perdido. Chaac fez o favor de explicar a todos quem era ela.

— Por essa razão que não ficamos preocupados. Ixtab se mata o tempo todo e sempre se regenera.

— E eu aproveito para beber do sangue dela quando ela se corta. – Contou Tohil.

— Kali pode beber também?

— Kali pode ficar quieta. – Resmungou Durga.

Quando tudo não podia ficar mais estranho, uma sombra sobrevoou a todos e pousou onde tinha espaço. Tratava-se de Camazotz e ele ainda trouxera Jaguar.

— Chegamos, povo! – Anunciou o morcego.

— O que vocês fazem aqui?! – Perguntaram Chaac e Tohil surpresos.

— Ora, eu disse que vinha à reunião contigo. – Defendeu-se Jaguar.

— E eu dei carona.

— Pelo visto, a reunião acabou. – Comentou Ah Puch.

— Sim e agora somos aliados aos incas. Eu sou deus e animal sagrado nas três maiores civilizações da Meso-América.

Enquanto os maias discutiam e Chaac deixava claro que não era para cortar cabeças ou arrancar corações, Hades, acompanhado de Loki e Néftis, retornou para seus irmãos.

— Ô Hades... – Começou Zeus. – O panteão maia é estranho, não?

— Espere até conhecer os astecas.

— MÃEEEE! – Sleipnir literalmente correu e se jogou em Loki, o levando ao chão. – Saudades.

— Agora eu sou sua mãe, né seu safado?! Nem presente de dia das mães tu me dá!

— Eu sou um cavalo, quer que eu dê o que? Cocô?

— Mãe do Slei! – Disse Árion sorrindo.

— Filho do bacalhau e da aveia!

— Bacalhau o cacete, essa praga descende de mim!

— O bacalhau é você, seu burro. – Disse o senhor do relâmpago.

— Eu acho que ele deveria trocar o senhor dos cavalos para senhor dos asnos. – Néftis disse baixou para só Hades e Loki ouvirem. Hades teve que conter o riso, mas Loki acabou gargalhando.

— Ainda bem que nenhum de nós dois puxou a ele ou à maníaca dos cereais. – Comentou Árion.

— Este cavalo! – Começou uma das amazonas. – Ele fugiu após Quione amaldiçoar nossa ilha e nossos navios!

— O inverno está chegando.

— É tudo que sabe dizer?!

— Mas está mesmo.

— Poseidon, pode me explicar isso?! – Perguntou Anfitrite, que tinha chegado há algum tempo e ouvido a conversa.

— Cara, a gente tem mesa para todo mundo? – Perguntou Eliot.

— Sei lá, só espero não chegar mais gente. – Disse Tyler.

— Anfitrite, o que faz aqui?! E com Tritão!

— Eu pedi para me enviar uma mensagem quando chegasse e você esqueceu seu tridente.

— O que quis dizer com essa praga descender de você? – Perguntou Tritão.

— Ele não contou? Ele e Démeter foderam em forma de cavalo e égua e depois nenhum deles assumiu a responsabilidade sobre mim ou minha irmã gêmea.

— O QUE?!

— Eu posso explicar!

— Adoro ver o circo pegar fogo. – Comentou Loki comendo pipoca.

— Ele fodeu e foi embora a Deméter ainda pariu a gente e nos abandonou.

— Porra, seu cavalo...! – Exclamaram os gregos.

— E ela nem recebeu um nome sequer quando nasceu.

— Como é?!

— Espere aí, eu sou irmão de um cavalo?!

— Está achando ruim por quê? – Perguntou Sleipnir. – Sorte a tua não ter sido devorado por ele no Ragnarok.

— Você é pai de dois cavalos e os deixou ao relento?!

— Er...

— Só ressalvando, minha irmã não é uma égua.

— Deméter, isso é verdade? – Perguntou Haumia.

— Eu estava procurando por minha filha na época! Que foi sequestrada por ele! – Apontou para Hades.

Essa porra está parecendo novela mexicana.— Comentou Gaoithe.

— A Deméter pariu um cavalo?! – Perguntaram os campistas e alguns deuses incrédulos.

— Loki, pare de fingir incredulidade, pois você também pariu um. – Disse Néftis.

— Porra, ninguém precisava saber disso!

— O Loki pariu um cavalo?!

— Ele fez merda e no final teve que virar uma égua e atrair o cavalo de um gigante para longe e alguns meses depois, eu nasci. – Sorriu Slepnir.

— E você ainda teve sorte de não ter parido um com oito patas.

— O inverno está chegando.

— Quer parar de dizer isso?!

— Não.

— Por que nunca me contou?

— Porque não é relevante!

— Isso porque ele é meu genitor, imagina se não fosse.

— Fica quieto ou eu juro que vou selar essa sua boca para sempre.

— Eu chamo o Beattlejuice antes.

— Beattlejuice?

— Ele não existe, seu cavalo estúpido! – Reclamou o Senhor D.

— Existe sim, quer ver? Despina, Despina, Despina!

— Não diga esse nome! – Gritaram Poseidon e Deméter.

Em alguns segundos, toda a vegetação se encontrava coberta de neve, as árvores estavam despidas de suas folhas, a plantação de morangos se encontrava morta, o riacho e o lago congelaram e o ar estava tão gelado que era inviável a produção de raios. A temperatura caíra abruptamente, o gelo avançava até o mar e o cenário encontrava-se inteiramente branco. O que era impossível aconteceu, o Acampamento Meio-Sangue conheceu o gelo e a neve, mesmo sendo verão dentro e fora da barreira.

Recostada a uma árvore, estava uma figura pálida. Seus olhos gélidos se encontravam repousados sobre o deus do mar e a deusa da colheita, os fitando com puro ódio. O tempo não a afetava, só a beneficiava. Era tão gelada e tão temida que a simples menção ao seu nome causava pavor nos tempos mais antigos, tanto que era conhecida por ser a Senhora do Inverno.

— E o inverno chegou.


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Notas finais do capítulo

Gaoithe: É sério mesmo que vocês gostam dessa novela mexicana?! Daqui a pouco vai pular um cavalo cobrando pensão do Loki dizendo que é pai do Sleipnir. Vamos às notas para fechar essa bagaça.
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Bonnie - referência a Bonnie e Clyde, uma dupla de assaltantes de banco.
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Scar, Simba, Timão e Pumba são personagens de O Rei Leão. Recomendo ver o filme.
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Para os egípcios, assuntos como incesto e sexo são recorrentes. O faraó tinha verdadeiros haréns e uma esposa principal e podiam inclusive se "casar" com suas irmãs e até mesmo com suas próprias filhas, já que não era permitido que elas se casassem com alguém em hierarquia inferior. Ou vinha o príncipe encantado ou casava com o pai ou com o irmão mesmo.
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Na antiguidade, os povos não tinham a noção de infância que nós temos e isso perdurou até a idade média e moderna. As meninas casavam novas e os meninos trabalhavam e aprendiam a lutar ainda novos. Entendam novos de 9 a 14 anos ou até menos dependendo do povo que procurarem. No entanto, isso não é desculpa para aceitar a pedofilia ou o trabalho infantil, nós progredimos muito nesse aspecto para resguardar uma infância maior às crianças.
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Ixtab é a deusa do suicídio, e em algumas fontes do auto-sacrifício. Ela é representada por uma mulher com uma corda no pescoço pendurada na árvore da vida. Ela quem cuida do "paraíso" maia.
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Da mesma forma que os japoneses, em especial os samurais, acreditavam que o harakiri era uma forma honrosa de morrer, os maias acreditavam que a morte por enforcamento era uma espécie de honra. É dito que Ixtab guiava as almas dos suicidas ao paraíso.
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Iam para o paraíso maia as vítimas de sacrifícios, as mulheres que morriam ao dar a luz, os guerreiros em batalha e os suicidas, especialmente os suicidas por enforcamento.
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A parte em que ela oferece a corda pro suicida é invenção minha. Ainda trabalharei mais nesta personagem, principalmente porque ela aborda um tema bem pesado, mas que precisamos falar sobre, não só no Setembro Amarelo.
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Vocês não são maias, então nada de sair se enforcando por aí e nem dando ideia pros outros. Suicídio não é bonito, não é brincadeira e não é frescura. Às vezes tudo que precisamos é saber que alguém se importa verdadeiramente conosco e nos estenda a mão, pois para afundar já basta a vida.
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Há referências de Alice no País das Maravilhas e Alice Madness Returns. O primeiro é um livro de Lewis Carrol que também tem a versão da Disney e do Tim Burton, o segundo é um jogo de plataforma e aventura que recomendo muito.
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Eu tirei o exército de Anúbis do filme A Múmia, o segundo filme.
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Após a morte, era normal no Egito que retirassem quatro órgãos (intestino, fígado, estômago e pulmões) pelo nariz (não me perguntem como conseguiam) antes de embalsamar o corpo e colocar no sarcófago. Os órgãos eram preservados em quatro jarros distintos.
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O jaguar era um animal sagrado na Meso-América, sendo até considerado uma divindade. No caso, o jaguar já o era no período pré-inca e inca.
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Espero que tenham gostado, me desculpem se algumas informações parecem superficiais, mas tem algumas que irei trabalhar mais para frente, no seu devido tempo, e outras que se eu me aprofundar muito, vou escrever um capítulo nas notas finais.
Grande abraço e até o próximo.

Ps: Não liguem para o unicórnio negro ali em cima.



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