A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 27
Desmaio




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Estava escuro e frio. Lhe faltava ar dos pulmões, era como se estivesse submersa na água negra e gelada. Não sentia seu corpo e sua consciência vagava sem rumo. Por um lado, queria permanecer assim, mas uma parte dela teimava em lutar. Lutar, mas contra o que? Nem se lembrava direito, não pensava, só exista, isso é, se existia.

Sentiu algo a puxar para cima tão rápido que mal pudera compreender a sensação. De repente, a luz incomodava-lhe os olhos e o ar queimava-lhe os pulmões. Tossiu. Aos poucos se acostumou.

— Jazz, você está bem?

Seguiu a direção da voz, mas só conseguiu ver um par de olhos verdes escuros. Reconhecia aqueles olhos.

— F-F... Frísio?

— Você me deu um susto e tanto!

— Em mim também.

Jasmine desviou o olhar e reconheceu o cabelo loiro esverdeado ao lado. Olhou ao redor e viu apenas detalhes que pôde reconhecer. Um cabelo azul, outro preto e branco, outro ruivo escuro, olhos marcantes como os de um falcão, olhos que pareciam ouro, mas o que ela percebeu foi a água pingando.

— Por que estão molhados?

— Agradeça a Sienna por isso. Se ela não tivesse interrompido nossa luta, não teríamos visto.

Ela não se sentia molhada e nem estava. Quando Sienna trouxe a água e saltou, ela molhou apenas os combatentes, lhes chamando a atenção, deixando o celta e a grega de lado. Há essa altura, Frísio já estava ajoelhado no chão segurando a garota e trabalhava em um encantamento para impedir que o pior acontecesse. Quando tudo passou, a inuit só precisou apontar e o resultado foi os membros da Embaixada se reunirem e os filhos de Apolo descerem para a arena e Frísio teve que mandar todo mundo não chegar tão perto.

— Ela não está bem. Jazz, olhe para mim.

Ela voltou a encarar aqueles olhos verdes, que chamavam tanta atenção. Logo sentiu algo a puxando como se fosse um vácuo, mas o verde a fazia resistir.

— Precisamos levá-la à enfermaria e rápido! – Disse Will já ao lado do celta.

Galopes foram ouvidos e o unicórnio negro abriu espaço entre a multidão.

Chamou, mestre?

— Abaixe-se Gaoithe, não temos tempo a perder.

O unicórnio obedeceu e Frísio subiu nele com Jasmine em seu colo.

— Suba, não há tempo para contestações.

Will subiu. Gaoithe se levantou e arrancou com tudo, tanto que o loiro teve que literalmente se agarrar ao moreno para não cair. Diferente de Fiáin, Gaoithe não era cuidadoso, na verdade ele era capaz de atropelar tudo a sua frente e abrir verdadeiros buracos com o chifre e aquilo era uma emergência.

Ao chegarem à enfermaria, Gaoithe se abaixou. Frísio desceu com Jasmine e Will foi logo depois.

— Desculpe pelo jeito de Gaoithe, mas é uma urgência.

— Estava planejando ficar sem montar por um tempo mesmo.

Os dois entraram no recinto. O celta colocou a garota na maca que Will indicou e juntos começaram a trabalhar. Néctar foi usado e cânticos entoados. Só pararam quando viram que estava a salvo.

— Você vai ficar bem agora.

Foram as últimas palavras que Jasmine ouviu antes de adormecer.

— Cara, é emoção demais para um dia só.

— Eu sei.

— Cadê ela?! Onde está minha irmã?!

— Esse é o Nicolas?

— Eu pensei que estivesse na arena.

— E estava.

O grupo adentrou rapidamente no quarto, surpreendendo os dois.

— Como chegaram aqui?

— Helena nos trouxe pelas sombras. – Respondeu Diana.

— Como ela está?! – Perguntou o nórdico.

— Está bem, só precisa descansar agora. – Respondeu o filho de Apolo para o alívio de todos.

— Só nos resta aguardar. – Comentou Helena se sentando em uma cadeira.

Enquanto Jasmine dormia, Will foi cuidar dos outros pacientes. Aquele dia na arena tinha deixado alguns feridos, seja no corpo ou no orgulho. De vez em quando, ele retornava ao quarto para ver como estava a menina e se surpreendia ao ver que ninguém ali fora embora e nem mandaria, a última coisa que queria era ver dois nórdicos furiosos e teimosos criando escândalo.

Quando Jasmine acordou, todos foram para cima da menina, tanto que ela se assustou com a atenção repentina.

— Jazz, você está bem! – Disse o maori aliviado.

— Estávamos preocupados! – Dessa vez foi a ruiva.

— Não faça isso de novo. – Pediu Nicolas. – Você nos matou de susto.

— Você podia ter morrido. – Comentou Helena.

— Desculpe, mas o que aconteceu?

— Você não está acostumada a usar magia por tanto tempo. – Esclareceu Frísio.

— Foi Frísio quem te trouxe para cá. – Contou Eliot. – Ele e Will.

— Como se sente? – Perguntou Parvati.

— Cansada.

— Ela precisa descansar. – Disse Will adentrando de novo no quarto. – Mas ficará em observação até que eu a libere.

— Tome o tempo que precisar. – Disse Sienna. – Nós temos que resolver alguns assuntos antes.

— Não pode deixar para depois? – Perguntou Marcos.

— Não. Njord pode receber a informação a qualquer momento.

— Tem razão. – Diana retomou a palavra. – Quando ele souber, virá aqui. Nick, é melhor você conversar com seu pai.

— Mas eu não posso deixá-la sozinha, Dia! E você conhece o meu pai.

— Eu sei. Nós iremos a Asgard falar com ele.

— E como pretendem fazer isso?

— Godkey. Nós a usamos para visitar nossos pais sempre que queremos.

— Marcos e eu iremos dar a notícia aos seus amigos, Will. – Falou Parvati lançando uma espécie de olhar oculto ao maia.

— É, nós vamos.

— Preciso contar as novidades ao Senhor D. – Afirmou Raven.

— Irei contigo. – Ofereceu-se Sienna.

— Tyler e eu vamos espalhar a notícia pelo acampamento todo.

— Pode crer.

— E eu vou ficar aqui. Estou exausta.

— Precisa descansar mesmo, Helena. Você lutou muito e ainda nos trouxe para cá.

— Jasmine, você também precisa descansar.

— Eu vou, mas Frísio, pode ficar um pouco mais?

Ele concordou e todos foram realizar suas tarefas, menos Helena, que descansava na cadeira e Frísio, que tinha sentado na maca. Jasmine estava um pouco cansada, era evidente, mas também estava nervosa.

— Eu vou ter que dormir aqui?

— Sim, mas só por esta noite, eu espero.

— Nesse caso, posso te pedir algo? Se não for muito?

— Claro.

— Você pode trazer meu guaxinim? Eu não consigo dormir sem ele.

O celta estagnou e piscou várias vezes.

— Seu guaxinim?

— Pode parecer estranho ou até mesmo infantil, mas eu não consigo dormir longe do meu guaxinim.

— Por que não?

— Pode parecer bobo, mas eu me sinto segura quando durmo com ele. Eu o ganhei no meu aniversário de 7 anos, não sei quem o deixou embalado na minha cama, mas... – Ela fez uma pausa, para tomar coragem e continuar. – Foi o primeiro presente que ganhei na vida e pela primeira vez percebi que talvez, só talvez, alguém gostava de mim.

— Eu não sabia. Não se preocupe, vou buscar o seu guaxinim.

E lá foi Frísio montado em seu bravo unicórnio negro na busca pelo precioso guaxinim de pelúcia.

Parou aí! É sério isso?! Vou ter que buscar um guaxinim de pelúcia?! Ô produção, isso é trabalho para o Fiáin!

— Gaoithe, não é apenas um guaxinim de pelúcia. É o fiel amigo de uma garota que cresceu sozinha em um orfanato. Agora fique quieto e vamos.

Continuo achando que é trabalho para o Fiáin!

Enquanto isso, Marcos e Parvati tinham reencontrado o grupo dos heróis. Eles foram dar as boas notícias.

— Bom saber que ela está bem. – Disse Piper sincera.

— Will descobriu o que houve?

— Ela não é acostumada a usar magia. – Explicou Parvati. – E usou mais do que deveria de forma imprudente.

— Magia?

— Frísio poderá explicar melhor ou Raven. Mas irei tentar explicar.

Enquanto Parvati iniciou a explicação sobre magia, Marcos se aproximou de Calipso, que estava com Leo.

— Você está bem? – Perguntou Marcos a Calipso.

— É só, muita informação para mim.

— Acredite, ainda não viu nada. Há mais coisas que precisa saber, eu posso te contar algum dia, se quiser, é claro.

— Hei, mal cheguei e já quer roubar a minha gata?!

— Fica frio, irmãozinho, não tenho interesse na minha cunhada.

Ambos arregalaram os olhos e Calipso corou.

— Você também é filho de Hefesto?

— Chaac.

— Então não somos irmãos.

— Somos sim, pois somos filhos da mesma mãe. Esperanza Valdez.

Calipso arregalou os olhos e Leo foi tomado pela raiva e pela confusão. Quem aquele cara pensava que era? Como ousava tocar no nome de sua mãe?! Como conhecia a sua mãe?

— Não acredita em mim, não é? Não o culpo, eu também não acreditaria. Hera não te contou ou não sabia, na verdade, poucos deuses sabem.

— O que quer dizer com isso?! Você vem aqui do nada, diz ser meu irmão e toca no nome da minha mãe!

— Nossa mãe. Se não acredita em mim, não tem problema. Posso provar que o que digo é verdade.

— Se eu tivesse um irmão, eu me lembraria!

— Lembraria? Vamos fazer um teste de DNA para decidir. Você tem uma deusa da fogueira, não tem?

— Não vou fazer porcaria de teste nenhum!

— Está com medo? – Provocou. – Com medo de que eu esteja certo?

— Eu não tenho medo.

— Então prove que eu estou errado. Deixe que Héstia decida.

Enquato isso, Frísio e Gaoithe chegaram à Embaixada. Eles encontraram Angus nos degraus jogando conversa fora com Nico, uma cena curiosa.

— Frísio, você por aqui tão cedo? Fugiu da arena também?

— As lutas acabaram. Nós decidimos jogar masmorra e...

— Masmorra?! Não creio! Vocês se divertiram sem mim!

— Não teve nada de divertido. A Jasmine está na enfermaria.

— A Jazz?! O que houve?

— Usou muita magia e quase entrou em coma, mas eu e Will conseguimos impedir o pior.

— E eu só estou sabendo disso agora?!

— Quem mandou fugir da arena para dormir?

— Você a deixou sozinha na enfermaria?!

— Helena está com ela. Está cansada da luta com Eliot e de levar os outros para a enfermaria pelas sombras.

— Helena também?! Hei, volte aqui!

Frísio tinha decidido entrar na Embaixada e Angus foi atrás, seguido por Nico, que estranhava a situação. À primeira vista, o grego notou o quanto a Embaixada era diferente dos outros chalés, mas não pôde admirar por muito tempo, pois um tigre desceu as escadas. Frísio acariciou o animal, mas não parou de seguir seu caminho rumo ao andar de cima. Angus fez o mesmo, embora cobrasse mais informações. Nico acabou passando junto ao egípcio para o caso do tigre atacá-lo.

Frísio entrouno quarto de Jasmine, o que surpreendeu Angus, mas ele entrou mesmo assim. Nico ficou na porta mesmo e sentiu algo peludo passar por ele, era o tigre, que também adentrava no quarto. Frísio pegou o guaxinim de pelúcia de cima da cama e começou a analisá-lo.

— Sério isso? Veio até aqui pegar essa coisa?

— Sente isso?

— O que?

Frísio o estendeu para Angus, mal o filho de Anúbis tocou no bicho e se surpreendeu.

— Isso está encantado e não é um encantamento ruim. E tem um belo valor sentimental também.

— Como sabem que está encantado? – Perguntou Nico.

— Ele é celta e eu sou egípcio. Ossos do ofício.

— Odeio quando faz isso.

— Isso o que?

— Verei com Fiáin que tipo de encantamento é.

— Vou contigo. Vem Niraj.

Os três desceram sendo acompanhados pelo tigre. Na porta da Embaixada, Fiáin os esperava. Frísio levou o guaxinim para que o unicórnio o analisasse.

— Como ele...?! – Começou o grego.

— Filho de Epona.

— Desisto.

Há um encantamento interessante aqui, Mestre Frísio. Um encantamento de proteção.

— Que encantamento?

É um encantamento que repele monstros e não só isso como pode manter a identidade de um semideus oculta por oito horas se estiver longe do local onde ele se encontra, protegendo o dono e o ambiente em que se encontra. Posso afirmar que se a barreira rompesse, nenhum monstro se aproximaria da Embaixada.

— É realmente incomum.

— Ótimo, agora traduz porque não falamos cavalês.

— Esse bicho é uma espécie de repelente para monstros e mantém a presença do dono oculta dos deuses por umas oito horas se não estiver com o dono. Atualmente está ocultando a Embaixada de deuses e monstros.

— Acha que foi a própria Gaia que deu esse bicho a ela?

— O que te faz, pensar isso, Angus?

— Pensa bem, não é qualquer um que pode fazer algo assim, precisa ser alguém forte e que esteja ligado à magia. Alguém queria ocultar a identidade dela dos deuses, principalmente dos olimpianos e afastá-la dos monstros, mesmo que à distância. E magia não faz parte da natureza?

— Pode ser. Fiáin? Gaoithe?

É possível. O poder que senti veio de uma Mãe-Terra.

 — E duvido que seja de Ernmas, Dôn ou Danu.

— Em todo caso, é melhor levar isso para a Jasmine.

— Hei, eu não vou te acompanhar pelo acampamento carregando essa coisa.

— Tem ideia melhor?

Angus abriu um sorriso zombeteiro e depois agarrou Frísio e Nico pelo braço. Quando deram por si, os três morenos e o tigre Niraj estavam no quarto de Jasmine, fazendo Will saltar e Helena dar um olhar de reprovação.

— Não acredito que trouxer Niraj para cá! – Repreendeu o celta.

— Ih, ele veio.

— Angus!

— O que foi?

— Parvati vai te matar!

— O que esse tigre faz aqui?! – Exclamou Will.

— Culpa do Angus.

— Nico?! Você também veio?

— Não porque eu quis.

— Helena, nossa, você está um caco! Se divertiu muito na arena?

— Ele não tem jeito. – Resmungou Frísio.

— Frísio?

—Ah, eu esqueci. Aqui está seu guaxinim.

— Obrigada.

Jasmine pegou a pelúcia e a abraçou. Estava feliz e parecia uma criança. A visão agradou aos presentes, isso até Angus apertar uma das bochechas da garota.

— A Jazz é tão fofinha.

— Irritante. – Helena puxou a orelha do egípcio.

— Hei, isso dói!

— Essa é a intenção.

— Seus amigos são estranhos. – Comentou Will.

— Só o Angus.

— Nisso eu tenho que concordar. – Disse Nico. – Cadê o tigre?

— Não me diga que tem um tigre solto pela enfermaria!

— Parvati literalmente vai matar Angus.

Frísio saiu em busca de Niraj com Nico e Will. O tigre não demorou a ser encontrado e o celta o conduziu para o quarto. A situação tinha se normalizado. Para a surpresa de todos, Angus pegou Helena no colo e apenas disse:

— Descanse bem, Jazz.

E depois sumiu nas sombras. Por pouco o celta não soltou um palavrão. Ele se desculpou, disse que voltaria logo e saiu com Niraj. Nico e Will também deixaram o quarto.

— Esse pessoal da embaixada é um tanto peculiar, não acha? – Comentou o loiro.

— Você quer dizer estranho.

— Ora, Nico, não são estranhos, só exóticos.

— Não conheceu o Angus?

— Eu não achei estranho. Você o acha estranho?

— Se acha normal trazer um tigre para a enfermaria.

— Os Stoll já fizeram pior, mas não respondeu minha pergunta.

— Maldição, a mania dele é contagiosa.

— São amigos?

— O que o faz pensar isso?

— Você o trouxe pelas sombras.

— Eu não o trouxe, ele que me agarrou e me arrastou para cá.

— Você estava com ele antes?

— Vai continuar com esse interrogatório até quando?

Will suspirou profundamente e Nico acrescentou.

— Não há nada entre nós, se quer saber.

— E-Eu... Eu não quis dizer isso!

— Não é o que parece.

— Desde quando ficou tão provocativo?

— Devo ter pegado a mania daquele idiota.

Enquanto isso, Raven e Sienna tinham acabado de dar as boas notícias ao Senhor D.

— E Diana e Nicolas foram a Asgard impedir que Njord venha até aqui.

— Quando foi isso?!

— Agora pouco, mas logo estarão de volta.

— Isso vai demorar. – Disse Sienna olhando o Godcel. – Diana acabou de dizer que podem demorar um dia ou dois.

— Como assim?

— Parece que Njord não é fácil de convencer.

— Nórdicos.

— O portal a Asgard não fica por perto. – Lembrou Quíron. – Como foram para lá tão rápido?

— Godkey. – Explicou a egípcia. – Permite ir para a casa dos nossos pais sem muito esforço.

— É O QUE?! – Exclamaram muitos dos conselheiros e semideuses que estavam com eles.

— Thoth?

— Anões. Thoth inventou o Godcel. Internet grátis, sem precisar de torre de celular e não atrai monstros.

— Preciso de um desses, mas Athena vai dar chilique.

— Senhor D!

— É sério, porra! Ela odeia qualquer coisa que venha do Thoth. Nunca vi nada igual.

— Quem é Thoth?

— Vão adquirir cultura, porra!

— Nosso deus da sabedoria e de muitas coisas. Ele rivaliza com Athena. As maiores disputas intelectuais da história foram protagonizadas por um filho de Thoth e um de Athena.

— Isso existe?

— É porque não é tão aparente quanto pensamos. É mais no campo intelectual do que em uma verdadeira briga. Irmãos White VS Santos Dumont; Newton VS Leibniz; Hooke VS Halley; Einstein VS Bohr; Edson VS Tesla; Stoner VS Kalashnikov...

— Não conheço metade desse povo. – Disse um dos Stoll.

— Os irmãos White disputam com Santos Dumont os títulos de inventor do avião e pai da aviação. Os White usavam uma catapulta para impulsionar voo, mas foi Santos Dumont quem criou um avião com motor à gasolina. Leibniz rivalizava com Newton no campo dos cálculos, sendo que Newton o acusou de roubar o seu método, mas Leibniz conseguiu simplificar o insimplificável. Hooke fez a lei das molas e Halley, que dá o nome ao cometa, apostou com Hooke quem provava primeiro, matematicamente, porque os planetas tinham órbitas em elipse. Se bem que Newton brigava com Leibniz, Hooke e Halley ao mesmo tempo.

— Haja briga!

— Mas nada foi como Edson e Tesla. Eles brigaram para ver quem tinha razão sobre a distribuição das correntes elétricas e Tesla conseguiu criar a transmissão sem fio que foi usada nos rádios e agora foi aparfeiçoada para o Wi-Fi, para ele, isso deveria ser grátis para todo mudo, mas Edson patentiou a eletricidade e agora a gente tem que pagar por isso.

— Está dizendo que se não fosse o filho da puta do Edson, eu teria Wi-Fi grátis?!

— Senhor D! Ele era filho de Atena!

— Foda-se! Graças a esse puto eu pagava 200 contos de Wi-Fi!

— E a última briga?

— Stoner e Kalashnikov? Essa já foi uma briga bélica, mas ironicamente os dois foram os que menos tiveram confronto como criadores, mas suas criações por outro lado... Kalashnikov é o criador do AK-47, o fuzil mais letal e de baixa manutenção que existe, até uma criança pode usá-lo, já Stoner é um dos criadores do AR-15 e do M-16, que é usado por nossas forças armadas. Igual ao AK não tem igual, mas Kalashnikov nunca recebeu um centavo por sua criação.

— E infestou o mundo com essa praga.

— Primeiramente, o AK foi criado para ser utilizado como uma arma de defesa russa, mas era tempo de Guerra Fria. O resto é história.

— Mano, que foda!

— A vagaranha da Atena me deve um Wi-Fi grátis!

— Mas ela é sua irmã!

— Foda-se se é minha irmã! Quero meu Wi-Fi grátis!

Angus tinha levado Helena para a Embaixada. Ambos pararam no segundo andar do prédio. O egípcio só não contava que tomaria um belo murro na cabeça que o fez dar de cara no chão. É, nórdicas batiam forte.

— Qual é!

— Foi merecido.

— Eu só te ajudei!

— Não tinha o direito.

— Qual é o problema com a ajuda?

— É o meio.

E com isso, Helena foi ao seu quarto. Angus acabou decidindo ir ao seu tomar banho, já que não tinha tomado depois da Arena. Quando acabou, parou em frente ao quarto de Helena, mas decidiu descer as escadas e se jogar no sofa. A essa altura, Frísio estava na sala com Niraj.

— Tinha que ter deixado Niraj na enfermaria?

— Ele precisava de ar fresco.

— E Helena?

— Lá em cima. Nórdicas batem forte, sabia?

— Fique de olho nele, voltarei à enfermaria.

— Não prometo nada.

— Angus!

— Está bem, mas só porque eu tenho mais o que fazer.

Frísio saiu da casa e Angus retornou a subir as escadas. Esperou um tempo considerável até adentrar. O quarto de Helena tinha duas paredes pretas e duas brancas, o teto era branco, o chão era negro e os móveis eram em preto e branco em perfeita harmonia. Angus encontrou-a já de banho tomado e repousando na cama.

— O que faz aqui?!

— Calma, eu só vim ver se você estava bem. Não precisa dessa agressividade toda.

— Ótima. Qual é a graça?

— Esse quarto é tão você. Não fique com essa cara, isso foi um elogio.

— Tem uma forma estranha de elogiar alguém.

— Vou considerar como um elogio.

— Não era.

O silêncio se instalou entre os dois. Foi ele quem o quebrou.

— Você sabe que pode confiar em mim, não?

— Eu deveria?

— Helena. – Se aproximou e sentou na cama. – Seja lá o que aconteceu na arena, a culpa não foi sua.

— Você não sabe o que aconteceu na arena.

— Mas você se culpa. Isso me deprime muito.

— A culpa dos outros?

— As pessoas as quais eu me importo se martirizando. Não tem que pensar nisso, já passou. – Pegou a mão dela. – Jazz está bem e vai sair de lá rapidinho. Você vai ver.

O filho de Anúbis puxou a filha de Hel para um abraço. Helena não o afastou, na realidade tentava desvendar a criatura à sua frente. Quando se separaram, ele colocou uma mecha rebelde atrás de sua orelha, lhe sorrindo.

Mas no segundo seguinte, ele se levantou bruscamente e correu para fora do quarto. A morena albina teve que segui-lo, estranhando a atitude inesperada. Descendo as escadas, viram Raven e Sienna adentrando na sala. No segundo seguinte, Angus estava abraçando Raven, sendo retribuído. Entrelaçou os dendos no cabelo da morena e continuou assim. Sienna se encontrava de olhos arregalados tentando compreender a cena.

— Angus, só você mesmo. – Disse Raven.

— Onde está Eliot?

— Com Tyler.

— Tome um banho, esfrie a cabeça e vá descansar.

Raven assentiu, mas assim que se separou dele, Marcos e Parvati entram na Embaixada.

— O que aconteceu? – Perguntou o egípcio ao maia. – Cara, você está péssimo!

Os dois se entreolharam e olharam cada um dos presentes. O egípcio segurou o maia pelos ombros.

— Marcos, o que foi que aconteceu?!

— Eu contei a ele.

— Finalmente!

— Você sabia?

— Sou o rei da presunção.

— Dá para serem mais claros? – Exigiu Sienna.

— Eu contei ao Leo que somos irmãos.

— O Leo? – Perguntou Raven. – Então ele é aquele irmão que você estava procurando?

— Sim.

— E aí?

— Vou ter um teste de DNA para fazer.

A sala inteira ficou em choque. Em outro lugar, mais precisamente na enfermaria, Frísio tinha encontrado Eliot e Tyler. Os três ficaram lá até serem expulsos. Para falar a verdade, o maori e o egípcio tiveram que arrancar o celta de lá, pois ele não queria sair de jeito nenhum e ninguém ali queria levar flechada.

À noite, Jasmine não estava com sono. Tinha dormido a tarde inteira desde que Frísio tinha trazido seu guaxinim e só acordara perto do toque de recolher, quando seus amigos estavam sendo expulsos. Tentou voltar a dormir, mas não conseguiu.

— É realmente chato ficar aí sem nada para fazer.

— Angus!

Diferente dos outros, a exclamação de Jasmine continha felicidade ao invés de surpresa. O filho de Anúbis se encontrava de qualquer jeito na cadeira um tanto surpreso. Agradeceu mentalmente por Eliot, Tyler ou Marcos não estarem lá para ver sua cara, principalmente Eliot.

— Está tudo bem?

— Sim, está sim.

— Como entrou aqui?

— As sombras são um meio eficiente de se viajar.

— Não é perigoso?

— Não para mim.

— Não consegue dormir também?

— Com o clima que está a Embaixada, não mesmo.

— Clima? Marcos fez chover na Embaixada?

— Ainda mantém sua inocência. – Riu. – Você é tão fofinha, mas não deixa de ser uma ótima ideia.

— Ideia?

— Chover dentro de algum chalé ou da Casa Grande. É realmente uma boa ideia!

— E Helena?

— O que tem ela?

— Você a levou quando me pediu para descansar.

— Ah, ela está bem. E tem um braço forte.

— Ela te bateu? Digo, por que ela faria isso?

— Falemos de você. Como está se sentindo?

— Bem, eu acho. E os outros?

— Preocupados. Você deu um belo susto a eles.

— Desculpe.

— Não fique assim. Saí da Embaixada para evitar justamente isso.

— Isso o que?

— Você nunca ouviu sobre os filhos de Anúbis, Jazz?

— São extremamente fortes a ponto de serem apelativos?

— Isso também. Meu pai é o juiz dos mortos, junto com a Maat. Ele usa uma balança em que um dos pratos põe o coração do morto e no outro a pena de Maat. Ele vê tudo o que o morto fez antes da balança decidir o que é mais pesado, o coração ou a pena. Se for a pena, pode ir tranquilo, mas se for o coração, Ammit come a alma do defunto.

— Ammit?

— Um demônio que temos, ele é muito legal. Não se preocupe, ele não é tão horrendo quanto acham.

— Eu não sabia que era assim.

— Em todo caso, meu pai e Maat veem a vida do morto passar como um filme, eu mesmo já fui a vários julgamentos e vi o mesmo. Isso sim é horrendo.

— Seu pai te obrigava a assistir a isso?

— Jazz, ele fazia isso para o meu bem. Filhos de Anúbis são dotados de uma empatia avassaladora. Eu sei quando está triste, eu sinto isso. Raiva, tristeza, culpa, solidão, consigo detectar qualquer sentimento ruim e de todos eles, a solidão é o que mais me aflinge. É muito ruim você sentir na alma o que outra pessoa sente.

Angus deu uma pausa para respirar fundo. Jasmine, sem pensar, agarrou a mão dele. Ele sorriu.

— Eu sei que está preocupada e quer que eu me sinta melhor, mas não se preocupe, eu me viro. Estou te dizendo isso porque todo mundo na Embaixada está se culpando por tê-la deixado competir e usar aquela quantidade de magia sem estar preparada.

— A culpa foi minha, não deles.

— Raven é a que mais se culpa, Frísio vem em segundo lugar, Helena e Sienna são solitárias e a solidão delas mesclada à culpa torna tudo mais difícil e agora me vem Marcos e a bomba de sentimentos ao contar para seu irmão que achava que era filho único que eles têm a mesma mãe. Tinham, ela está morta.

— Marcos tem um irmão?!

— É e agora vai fazer um teste de DNA com os deuses. A minha sorte é que Eliot e Tyler não se culpam por você, mas ao verem os outros se culpando, eles ficam preocupados e vão na vibe depressiva. Porra, eu trocaria essa situação por mais um julgamento com o meu pai!

— Por quê?

— Porque é mais doloroso quando é com as pessoas com as quais você se importa. Eu me sinto sufocado lá, mas também não posso te deixar sozinha. Não confio em alguns caras daqui.

— Por quê?

— Quando se já viu de tudo e aprendeu a lidar com as emoções dos outros e separá-las das suas, muita coisa começa a ficar evidente.

— Mas por que está me dizendo tudo isso?

— Às vezes só precisamos desabafar.

— Quer falar de outra coisa?

— Você é diferente, Jazz. Eu sinto a sua solidão e ela não é branda, mas você não a deixou tomar conta de você. Não se isola e nem revira o passado. Não deixa que suas trevas tomem conta de você e sempre tenta ver o bom dos outros. Por quê?

— Porque coisas boas podem acontecer se você acreditar nelas.

— Chega de filmes da Disney para você, garotinha. – Respondeu rindo amistosamente. – Você se parece com a Ray.

— Pareço?

— Sempre tentando fazer os outros se sentirem melhor mesmo estando destroçadas por dentro, a diferença é que Raven é uma mulher forte, mesmo quando está chorando.

— Isso quer dizer que me acha fraca?

— Fraca não, normal. A maioria desaba, Raven não, ela se reergue, não deixa que as lágrimas sejam um empecilho em momento algum. Tem a cabeça no lugar e traz os outros à razão, por mais que seu emocional esteja abalado. Mesmo quando chora, há força.

— Raven é realmente forte.

— Sim. Já te contei da vez em que quebramos a garrafa de vodka do Sobek?

E passaram a noite conversando e rindo. Angus contando suas histórias de quando eram só ele, Eliot e Raven, como os três montaram em Ammit e percorreram o Cairo, quando pegaram um dos projetos de Thoth sem que ele visse e da bela bronca de Rá que receberam depois e até mesmo da vez em que se embriagaram de tanto vinho e ganharam mais uma bela bronca do Maior Egípcio. Fora as disputas e piadas entre Bastet e Anúbis com direito a Hórus e Sobek pondo lenha na fogueira.

Apesar disso, Jasmine não pôde deixar de se sentir mal pelo que estava acontecendo. Angus era ótimo e queria fazê-la se sentir melhor, ao mesmo tempo em que falava mais sobre os egípcios, mas estava preocupada com os amigos na Embaixada e com o próprio filho de Anúbis por ter que suportar um fardo tão pesado. Uma ideia atravessou sua mente e logo tinha retirado a flauta que ganhara de Cernunnos da Chain.

— Angus, se importa se eu tocar um pouco?

— Não sabia que tocava flauta.

— Comecei não tem muito tempo.

— Se te faz melhor, toque.

Com o concentimento, a filha de Gaia tocou sua flauta. No começo as notas saíram horríveis, pois não lembrava como tocar, isso fez o moreno se questionar se tinha sido uma boa ideia. A culpa não era dela, depois do encontro com Cernunnos aconteceram várias coisas e ela ainda tinha as aulas de línguas e outras matérias, coisas novas a aprender, livros e cultura pop aabsorver e era obrigada a jogar Pokémon e ler a Bulbapedia para entender as referências.

Depois de cinco longos minutos, ela se lembrou como tocava corretamente e a doce melodia preencheu o quarto. Era tão bonita e delicada que nem parecia aquela coisa desafinada capaz de acordar o próprio Hipnos.

— Jazz, essa coisa é encantada?

— Como percebeu?

— Sou egípcio, lembra? Costume.

— Ah, é mesmo.

— Onde conseguiu?

— Com o Senhor Cernunnos. Ele foi muito gentil comigo. Se sente melhor?

— Melhor do que nunca, essa coisa me deixou mais leve, como se um peso tivesse sido arrancado. Posso voltar a dormir tranquilo agora.

Agus se atirou no chão e recostou-se à parede ao lado da cama. Jasmine guardou a flauta.

— Não é muito duro?

— Já dormi sobre lápides de cemitério, não se preocupe com isso.

— Se quiser, podemos dividir a cama. Ela não é muito grande, mas não é pequena também.

— Não me leve à mal, mas duas pessoas dividindo a mesma cama de hospital nunca é boa coisa. Você tem um coração gentil, mas qualquer um que vir isso, vai interpretar mal.

— Como assim?

— Você é muito inocente, mas as pessoas não. Ainda que queira ajudar um amigo a não dormir no chão, os outros podem pensar que abusei de você e isso vai dar a maior merda. Eu já dormir em túmulos de cemitério, posso me virar com o chão.

— Está bem, então.

Angus fechou os olhos, preparado para dormir, não antes de expandir sua capacidade sensitiva. Iria vigiar aquela garota enquanto dormia, pois não confiava na maioria esmagadora do acampamento e nem nos deuses, ainda mais na calada da noite.


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Notas finais do capítulo

Ernmas, Dôn e Danu são as deusas-mães da mitologia celta. Ernmas é irlandesa e descendente de Danu. Dôn é galesa e correspondente a Danu.
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Irmãos White VS Santos Dumont: a briga de quem é considerado o pai da aviação. Os americanos (White) fizeram um avião catapultado e o brasileiro (Santos Dumont) criou o primeiro avião com motor à gasolina. Há uma briga eterna sobre isso.
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Newton VS Leibniz: os dois brigaram no campo dos cálculos. Newton acusou Leibniz de roubar seu experimento e seu método, mas agradeçam ao Leibniz, pois ele conseguiu simplificar o complicado método de Newton, considerado até então impossível. (se não fosse por ele, vocês odiariam Newton e seus cálculos ainda mais)
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Newton teve tanto barraco na vida dele que se fizessem uma série, ia ser melhor que BBB. Ele fez barraco com Leibniz, Hooke, Halley e tem até acusações de ser um plagiador.
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Hooke VS Halley: Hooke é o cara que fez a lei das molas e Halley é o que dá o nome ao cometa. Certo dia Hooke apostou com Halley quem provava primeiro, matematicamente, porque os planetas tinham órbitas em elipse e Halley foi falar com Newton. Não me lembro da treta, mas que a física me dá dor de cabeça, ela dá.
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Einstein VS Bohr: Bohr é um dos caras do modelo da estrutura do átomo. Ele e Einstein chegaram a brigar por isso.
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Edson VS Tesla: muitos quei não devem ter se quer ouvido falar de Tesla. Tesla foi o maior inventor de sua época, ele viu que era possível usar a corrente alternada de energia enquanto Edson persistia na contínua e criou a cadeira elétrica para mostrar que a alternada é perigosa, mas falhou e hoje usamos a alternada de Tesla. Tesla também criou a transmissão sem fio e graças a ele temos wi-fi, ele deveria ser de graça para todo mundo, mas como Edson patenteou a eletricidade e tudo proveniente dela, nós temos que pagar pelo wi-fi.
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Stoner e Kalashnikov: a briga é bélica. Stoner é um dos inventores do AR-15 e do M-16 enquanto Kalashnikov é o inventor do AK-47. O AK é a arma mais utilizada no mundo, qualquer um pode usar, até mesmo uma criança e não precisa de manutenção, mas Kalashnikov não ganhou um centavo sequer por sua invenção, já que a URSS não patenteou a arma.
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Diferente do que pensamos, o AK inicialmente foi construído para a defesa nacional, mas deu ruim. Aconselho a leitura do livro AK-47 A Arma Que Transformou a Guerra.
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Após a morte, as almas egípcias eram levadas à balança de Anúbis, onde seus corações eram pesados pela pena de Maat. Se fosse mais pesado que a pena, Ammit a devorava.
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Ammit é um demônio e uma mistura entre leão, hipopótamo e crocodilo que devorava as almas.
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Filhos de Anúbis tendem a ser extremamente sensitivos, então são treinados desde crianças a suportarem a dor e a perda tanto dos outros quanto das almas julgadas. São expostos às lembranças da vida do morto, caso contrário, não teriam suporte emocional. Isso vem de anos de julgamento dos mortos de Anúbis.
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E é isso, gente. Uma bela bomba para apimentar o dia, um pouco de história, ciência, tretas e o que podemos esperar? Só aqui mesmo, no mesmo lugar e na mesma hora.



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