Rodeados de chocolate, pipoca colorida, salgadinhos, doces e sucos os três sentaram se organizaram no sofá para assistir ao filme trazido e depois começaram outro que elas tinham escolhido, quando se deram conta Juju havia adormecido entre eles, com a cachorrinha no seu colo.

—Olha só… Não aguentaram…

—Posso levar ela para o quarto?

Bianca concordou com um aceno de cabeça e em quanto ele levou menina, resolveu preparar um café.

—Bom acho que eu já vou. - ele voltou uns minutos depois e pegou sua jaqueta.

—Espere, estou passando um café, e ainda está chovendo forte. Me faz companhia.

Marcelo puxou uma cadeira e sentou com os braços cruzados sobre a mesa e ficou observando os gestos habilidosos na cozinha pequena.

—O cheiro está ótimo!

—A Juju está muito feliz com a sua presença… - começou enquanto servia uma xícara de café para cada um, logo depois sentou do outro lado da mesa.

—Eu também estou feliz por ter passado esse momento com ela. - deu um gole no café.- E com você!

Se olharam por um tempo o tique-taque do relógio de parede murmurando no silêncio.

—Eu sinto a sua falta! - Bia admitiu mais para si mesma do que para ele.

Marcelo levantou e sentou numa cadeira bem ao lado dela.

—Cada segundo do meu dia, cada vez que a porta do meu escritório abre, cada vez que eu deito na minha cama, cada vez que eu acordo com a luz do sol iluminando o quarto, cada vez que eu vejo alguma imagem de Paris… Eu sinto sua falta… Fico relembrando como você fica linda quando está brava, sapeca quando apronta alguma coisa, protetora quando está perto da sua família, irresistível quando bebe além da conta… - a voz dele ficou embragada

—Marcelo…

—Não deixa eu terminar… Sabe eu confesso que ver a Juju como filha foi difícil no começo, eu nunca quis ficar no lugar do pai dela, mas do mesmo jeito que você me conquistou feito uma avalanche, ficar perto de você e não poder te tocar é horrível… Eu não quero mais isso… Eu fecho os olhos e quero estar lá me Paris ainda, no nosso quarto, mesmo o Iam não parece tão idiota e massante agora, no entanto estar com a Juju me deixa tão realizado quanto estar com você… Eu não quero só uma coisa, eu quero vocês duas!

Bia estava olhando diretamente para os olhos dele e enxergava a verdade sincera e pura, não tinha nada mais que pudesse fazer o seu coração estava saltitando. Foram se aproximando a adrenalina percorrendo seus corpos e quando seus lábios se tocaram gentis o celular dela tocou quebrando o clima.

—É minha mãe… Oi mãe- atendeu tremendo o desejo do beijo sufocado ainda presente.- Não eu estava acordada, o que foi? Ah meu Deus, quando que foi isso? Tudo bem, estou indo.

—O que foi Bia? Está pálida!

—O meu sogro, quer dizer o vô Dudu, passou muito mal, parece que dessa vez a coisa foi séria, ele não para de chamar a Juju, minha mãe acha que eu preciso levar ela até o hospital…

—Eu vou levar vocês, vai ficar tudo bem!

***

Já no hospital os pais de Bianca, a avô paterna da menina e a tia estavam esperando no corredor.

—Estou com medo! - Juju puxou a mão da mãe fazendo ela parar.

—Querida, vai ficar tudo bem, estamos todos aqui, o vovô quer te ver só isso. - disse segurando aos mãos da pequena. - Eu estou aqui com você! E o Marcelo também.

Ele se abaixou ao lado dela.

—Vamos fazer assim você fica no meu colo, e qualquer coisa se ficar com medo nós saímos rapidinho!

A menina concordou e foi para o colo dele.

—Que bom que vocês chegaram! - A vó Lica disse assim que se aproximaram.

—O que aconteceu?

—Meu velho está fraco… - falou ameaçando chorar mas se segurando para não assustar ainda mais a neta.- Ele quer muito te ver Juju.

—Você gostaria de ver o vovô Juju? - Lucia falou carinhosa.

Juju segurou firme no pescoço do Marcelo e olhou para a mãe encontro conforto no olhar materno.

—Quero mas eu vou junto com minha mãe e o tio Marcelo.

—Querida, é muita gente… Eu vou ter que entrar junto para não deixar o vovô se cansar…

—Por que a Juju não entra com a mamãe? - Lica sugeriu.

A menina estava quase chorando de tão nervosa quando Bianca interveio.

—Olha só, que tal o Marcelo entrar com a Juju, ele já prometeu que ia ficar o tempo todo com ela, e eu vou ficar grudadinha do lado de fora da porta até vocês saírem.

—Acho uma boa ideia! Vovó você não vai ficar doente também né?

—Ah não meu amor, dessa vez eu estou bem forte! De um beijo no seu avô e diga que todos amamos ele!

***

O senhor com aparência bondosa estava deitado de olhos fechados, um barulhinho saia das máquinas próximas ao leito, Marcelo com a menina no colo e Lúcia, a tia enfermeira, chegaram até perto da cama.

—O vovó está dormindo?

Quando escutou a voz suave da pequena ele abriu os olhos.

—Ah minha Juliana, você veio!

—Vô não se esforce muito!

—Cadê a Bianca?

—A minha mãe está ali do ladinho da porta…

—Quero ver ela também!

—Vô…

—Lúcia, por favor!

A enfermeira ficou um pouco contrariada, sem escolha deixou Bianca entrar.

—Olha só você se comporte hem! Eu vou estar aqui do ladinho da porta! - ela sorriu e deixou os quatro.

—Seu Dudu, como está se sentindo? -Bianca sentou numa poltrona do lado da cama.

—Estou bem, principalmente agora que vocês estão aqui!

—Está doendo alguma coisa vô?

—Não… Esse moço é o Marcelo?

—Sim senhor… Espero que logo, logo possa voltar para casa.

—É… Eu queria ver vocês duas, e dizer que eu amo que meu filho tenha me dado uma nora tão abençoada e uma neta iluminada, esperta, alegre que me deixa orgulhoso!

—Nós que somos felizes com o senhor! Juju vem aqui no colinho da mamãe, vamos contar uma historinha pro vovozinho.

Marcelo colocou a menina no colo de Bianca e ficou próximo das duas. Bianca segurou a mão do senhor e começou a relembrar o dia que Juju nasceu, como todos tinham ficado assustados quando ela entrou em trabalho de parto antes da hora esperada pela médica e a alegria de ver o rostinho da neném. Ficaram ali uns quinze minutos até que Lúcia deu uma aviso que precisavam ir.

—Eu estou feliz que você veio minha princesa! E você rapaz cuide bem das minhas meninas hem!

Juju tinha voltado para o colo dele que sorriu.

—Pode deixar!

—Elas são preciosas demais para mim e meu filho!

Bianca deu um beijo na testa dele e falou baixinho:

—De um beijo nele por mim seu Dudu, e diga que nunca vou deixar de ama-lo!

—Pode deixar minha filha, vou dizer! - ele sorriu.

***

Dois dias depois Dudu faleceu enquanto dormia tranquilamente e apesar da tristeza que tomou conta de todos, tinham a certeza que ele estava feliz em finalmente reencontrar o filho.