—Até parece que eu vou deixar a minha filha com ele... Até parece! O cara está se achando demais!

Anselmo e Anita olhavam preocupados para a filha que andava de um lado para o outro na cozinha, gesticulando e falando alto, extremamente nervosa.

—Eu não posso acreditar que a senhora mamãe, justamente a pessoa que me deu a vida, a avó da Juliana, acha que ele deve fazer parte da rede de apoio da menina! Que moda é essa agora? Só pode ser algum castigo!

—Bianca pare de gritar e se acalme pelo amor de Deus, estou ficando nervoso...

—Papai, no nosso escritório, na frente da Cida ele teve a petulância, ahhhh, mas não vai ficar assim! Ousadia falar comigo como se eu devesse determinar os dias que ela fica com ele!

—A Cida trabalha a anos na empresa, nem deve ter...

—Não é essa a questão papai! Ele quer ficar com a Juju, e acha que tem livre acesso a ela, pois está apegado!

—Chega Bianca, você não está se dando conta do que está falando? – Bianca parou e escutou a mãe que falava séria e autoritária como quando iria dar uma bronca - E você sempre disse que para amar alguém, essa pessoa deveria ter uma boa relação com a sua filha, agora que encontrou está fazendo esse escândalo?

—Ma...

—Sem discussão, faz mais de meia hora que você está ai de um lado para o outro se queixando, e eu digo mais, a Juju que vai decidir se quer passar um tempo com o Marcelo ou não! Está na hora de deixá-la fazer suas escolhas!

—Ela tem 6 anos mãe!

—Biologicamente sim, mas todos sabem que em inteligência essa menina é mais esperta que muito adulto!

—É às vezes ela me deixa no chinelo, sai com cada uma, é muito esperta! Ontem me trouxe uma lista de coisas para que eu cuide do “tartarugo”, disse que perguntou para a professora do laboratório de ciências, acredita Anita? Disse que fez uma pesquisa!

—Minha filha – Bianca havia sentado desanimada- Pare de bobagem! A Juju tem direito de conviver com quem gosta dela!

—Tudo bem, sou voto vencido aqui, então tudo bem! Se isso der errado eu quero que vocês saibam que vão arcar com as despesas da terapia!

—Acho que é outra pessoa que precisa de terapia aqui... – Anselmo riu quando a moça saiu batendo a porta. Anita concordou, torcendo para que logo sua filha se desse conta que valia a pena arriscar-se para viver aquele romance.

***

Na semana seguinte tudo foi arranjado, uma vez a cada quinze dias, Marcelo e Juju poderiam fazer alguma coisa juntos, um jantar, um passeio. Mesmo contrariada não pode deixar de perceber o quanto Marcelo estava se esforçando para que tudo aquilo desse certo, mudou horários de reuniões e diminuiu o fluxo de trabalho, demandou e resolveu promover alguns profissionais que trabalhavam a tempos com os pais para que as tarefas fossem melhor distribuídas. A menina também ficou animada, na mesma hora que a mãe questionou se ela gostaria de passar um tempo com o rapaz, abriu um sorriso e disse um SIM tão efusivo que parecia que tinha ganho o presente mais esperado de todos os tempos.

—Qual é a programação para hoje à tarde? –ela perguntou quando Marcelo chegou pontualmente no sábado à tarde.

—Como combinei com sua mãe, vou vamos ao Cinema e depois fazer um lanche.

—Estou pronta! Oi Marcelo!

A pequena deu um abraço no rapaz.

—Você está parecendo uma princesa! E falando nisso como está a nossa Princesa?

—Dormindo na caminha dela, dorme o dia todo... As vezes eu quero brincar e ela só lá dormindo.

—Ela é nenezinha ainda, precisa dormir para crescer!

Juju achou graça de ele a chamar de “nenezinha”.

—Então dona risadinha, vamos?

—Simmm! Tchau mamãe, bem que você podia vir com a gente né?

Bia que estava tensa com a proximidade dele, ali todo confortável e lindo, realmente não seria uma má ideia ficar perto dele.

—Querida já conversamos sobre isso, não foi?

—Sim... Mas eu achei chato que vocês não namoram como antes.

—Querida...

—Ta, ta, eu entendi. Vamos Marcelo?

Ele deu uma última olhada para Bia, pegou a mão da pequena e saíram.

***

Passeio no parque, teatro infantil, lanche no shopping, circo. Assim como as programações da dupla, os dias foram passando, cada vez mais Marcelo se encantava pela menina, cada vez mais ela parecia leve na sua presença, cada sorrisinho, cada abraço, cada pergunta sem cabimento faziam como que ele deseja-se estar mais ao seu lado e não perder nenhum detalhe do seu crescimento. E doía estar longe de Bianca, no trabalho pouco se viam, a empresa prosperava, no entanto as obrigações eram resolvida com Anselmo e Otávio, ela estava na parte prática correndo com o desenvolvimento dos projetos e sua divulgação.  E foi a pequena Juju que deu um alerta para que Marcelo lutasse por seu amor.

Os dois estavam comendo batata frita na praça de alimentação do shopping quando a pequena com um olhar sapeca disse:

—Marcelo, você sabia que o tio Iam, vai vir me visitar?

O escutar aquele nome provocou um enjoou em Marcelo.

—Não... Quem te falou isso?

—Na verdade ninguém, eu escutei meu vô falando com ele por telefone esses dias... – ela falava enquanto dava goles pequenos no suco de morango – Ai ele disse... A Juju? Está ótima! Sim, a Bianca é uma ótima mãe... aham, sim, aham... Meu vô resmunga muito no telefone... Claro Iam vamos adorar sua visita, principalmente minha neta... ele sempre fala “minha neta” engraçado.

Marcelo ficou incomodado com aquela possível visita.

—E sua mãe falou alguma coisa sobre ele?

—Não... Mas ela fala de você o tempo todo. – falou brincando com o morango que veio de enfeite no suco.

—Ah é? O que ela fala? – ele cruzou os braços sobre a mesa e colocou a cabeça sobre eles muito interessado naquele assunto.

— Um monte de coisa... Que está com saudades... Que você não apareceu mais lá em casa...

Ele sorriu percebendo que ela estava exagerando, talvez até a história do Iam, fosse alguma imaginação, no entanto surtiu efeito, ele decidiu naquele segundo que ia lutar para ter as duas novamente em sua vida.

***

No dia seguinte, Bia colocou um pijama igual ao da filha, fez uma bacia enorme de pipoca com chocolate e sentou-se ao lado da menina pronta para assistirem um filme juntas, já estava tarde e chovia muito, uma chuva torrencial, quando a campainha tocou ela foi atender contrariada, quem seria aquela hora.

—Marcelo? –levou um susto por encontrar ele na porta dela, deu para perceber que ele havia corrido do carro até ali, mesmo assim vários pingos caíram molhando a camisa, os cabelo e a barba rala.- O que está fazendo aqui?

—Ontem eu prometi para Juju que iria trazer um filme para ela assistir. Então eu trouxe.

—Nossa, não precisava...

—Marceloooo!

—Oi minha linda, olha o que eu trouxe!

Ele levantou uma sacola grande que ela não tinha visto antes.

—É o filme dos cachorrinhos?

—É sim, e trouxe alguns petiscos saudáveis, e alguns não saudáveis para você comer enquanto assiste! 

—Uau! – falou quando olhou dentro da sacola- Olha que legal mãe!

—É incrível filha...

—Vamos assistir agora!

—Vocês vão adorar! Eu já vou, foi bom ver vocês...

—Ah não, mãe o Marcelo pode ficar com a gente?

—Não Juju eu preciso enfrentar esse aguaceiro e voltar para casa. – falou todo desanimado.

—Bom, você já está aqui, e íamos mesmo assistir DVDs, fica. – Bianca viu que não tinha escapatória.

—Se eu não for atrapalhar vocês...

—Não, vem entra logo, está frio! – Juju o puxou fazendo com se desequilibrasse e trombasse de cheio com Bianca.

Os olhos dos dois tão próximos que poderiam se ver como num espelho, as mãos fortes dele segurando para que ela não caísse e as respirações acelerando, era aquele mesmo ponto de impacto que os uniu lá em Paris, aquela sensação que o mundo estava suspenso para que os dois tivessem esse momento só deles e foi tão rápido que só os dois perceberam, um segundo valioso e esperado.