Lissy

E lá estava eu mais uma vez na sala da diretora.Sinceramente,ficava mais lá que na sala de aula.Estava esperando minha tia chegar e por não ter mais o que fazer comecei a encarar a diretora. Ela era morena um pouco gorda e vestia um terninho preto um tanto estranho, costumava ser gentil com os alunos,mas comigo sua paciência havia se acabado faz um tempo.
Pra quem está se perguntando porque eu estou na diretoria,aqui vai uma resumida explicação: joguei uma garota da escada(falei que era resumida),mas em minha legítima defesa ela havia dito que eu era tão ridícula que meus haviam se suicidado forjando um acidente de carro.
Estava tão perdida em pensamentos que não vi minha tia Hanna entrar na sala. Ela no auge dos seus quase 38 anos era sem dúvida nenhuma linda:a pele branca contrastava perfeitamente com os cabelos negros e os olhos verdes que fazia qualquer homem olhar pra ela.Quem me dera ser como ela.
A cara de brava que ela tinha chegou a fazer com que eu extremecesse de medo,uma das poucas pessoas que conseguiam esse raro feito.
A diretora levantou e se pronunciou:
–Senhorita Walsh,sente-se,por favor- agora vinha a mesma conversa de sempre.
–Eu sei que a senhorita é muito ocupada,mas dessa vez eu tive que chama-la.Sua sobrinha passou de todos os limites - minha tia olhou-a como que um incentivo pra que ela prosseguisse.
–Ela jogou uma garota das escadas... - e ela não terminou porque a essa hora minha tia ja gritava.É dessa vez eu estou muito ferrada.
–JOGOU UMA GAROTA DA ESCADA?!LISSY WALSH ONDE JÁ SE VIU JOGAR UMA GAROTA UM SER HUMANO DAS ESCADAS?!- eu queria dizer que ela não era bem um ser humano,mas como minha tia ja estava bem irritada,decidi não fazer nenhuma piadinha irônica.Ela olhou pra mim esperando uma resposta,mas eu apenas dei de ombros, erro cruel o meu, sério,pensei que minha tia ia explodir de tão vermelha que ela ficou.
–VOCÊ JOGA UMA GAROTA DA ESCADA E TODA A SUA EXPLICAÇÃO É DAR DE OMBROS?!- Ela se sentou novamente enquanto tentava se acalmar.
A diretora a olhou assustada e pra tentar amenizar o clima disse:
–Acalme-se por favor tenho certeza que a você irá achar uma solução, mas eu temo que depois dos últimos acontecimentos teremos que expulsar sua sobrinha. - agora eu estava definitivamente ferrada.
Já tínhamos saído da diretoria e íamos em direção ao estacionamento,quando minha tia resolveu quebrar o silêncio:
–Expulsa Lissy? De novo? Já é a quarta vez e sinceramente eu já não sei mais onde te matricular.Essa foi a única escola que te aceitou da última vez que você foi expulsa.Todas as escolas da cidade acham que você é uma garota perdida e problemática.
Eu geralmente não ligava para o que as pessoas diziam,mas quando era Hanna que falava realmente me atingia
–Eu sei que é a quarta vez, desculpa, mas eu perdi o controle quando aquela vad.... - ela me cortou antes que eu pudesse continuar:
–Eu não quero falar disso agora- pensei em rebater,mas vi que era melhor ficar na minha. Entramos no carro e partimos em direção a nossa casa.
Passamos todo o caminho em silêncio. Quando chegamos em casa decidi que iria direto para o meu quarto.Algumas horas depois alguém bate na porta:
–Posso entrar?
Ela pergunta com a cabeça já para dentro do quarto eu apenas fiz que sim com a cabeça.
Ela entrou e sentou-se na poltrona preta que ficava perto da cama antes de falar:
–Lissy,eu quero que você saiba que eu realmente não queria fazer isso,mas com seu comportamento não me deixou nenhuma outra opção - ela respirou fundo antes de falar algo que fez meu mundo desabar.
–Nós vamos nos mudar para Londres e você vai para um internato - calma aí, ela NÃO PODE estar falando sério.
–Você tá brincando, né? - como assim ela queria me trancafiar em um internato.
–Não.Lissy desculpa mas eu não vejo outra opção.Eu já tentei de tudo com você, mas parece que nada te faz entrar nos eixos.
–Eu nunca vou deixar me trancarem em lugar nenhum-retruquei
–Lissy, por favor,não é como se fosse uma prisão - ela disse
– Na realidade,é exatamente como se fosse uma prisão.Ok que eu joguei a garota das escadas...- ela me cortou
– Lissy,por favor,não descuta,minha decisão já está tomada- Eu sabia que não adiantaria nada discutir, mas eu odiava me sentir presa.
– Tia por tudo que a de mais sagrado, você prometeu que cuidaria de mim para minha mãe se ela morresse, mas você quer me trancafiar em um internato - no momento que terminei de falar percebi a besteira que havia dito pelo seu olhar amargurado.Eu fiquei tentada em pedir desculpas mas não daria o braço a torcer principalmente agora que tinha uma chance de ganhar essa guerra.
– Você não vai me fazer mudar de ideia e comece a arrumar suas coisas o mais rápido possível, vou mandar Joana vir lhe ajudar a fazer as malas - Joana era a governanta que trabalhava com minha tia desde que eu era pequena.Eu a adorava.Com seus 50 anos era uma espécie de avó pra mim e sempre pegava no meu pé. Havia me ensinado muitas coisas boas, porém sabia ser bem arrogante quando queria( uma coisa que eu havia aprendido com ela).
O resto do dia foi bem entediante, como ainda não havia aceitado a decisão de me mudar pra Londres resolvi não descer pra jantar.Deitei na cama e acabei adormecendo.

– TRIMMMMM- peguei o despertador e o joguei na parede do outro lado do quarto. Escutei batidas na porta e,sem perguntar quem era,mandei entrar.
Era Laura,outra empregadade minha tia mas que eu adorava como se fosse uma irmã.
– Vamos vermelinha hora de levantar.- vermelinha era o apelido que ela havia me dado por meus cabelos ruivos que ,segundo ela, formavam um belo par com meus olhos verdes.
– Mas ainda são sete horas - rebati
– Sim mas sua tia mandou acorda-la,já que seu voo sai 1 hora.Ou seja, se apresse.
Assim que ela saiu eu revirei os olhos e me levantei,indo em direção ao banheiro.Depois de um longo banho eu fui me trocar: coloquei uma calça jeans preta, uma blusa comum por baixo de um dos meus casacos preferidos, trancei meus cabelos e coloquei uma sapatilha também preta.
Quando desci as escadas,já eram nove horas.Tomei café e fui para a sala e fiquei vendo TV até que ela resolveu da o ar das graças.
Assim,partimos em direção ao aeroporto, onde ficamos esperando mais um tempo até embarcarmos.
Já era tarde da noite quando aterrisamos em solo londrino. Minha tia chamou um táxi para nos levar para nossa nova casa que, assim como a outra,era uma grande mansão ( o que eu achava extremamente desnecessário,afinal era só nós duas que morariamos lá).
Entrei na casa e subi as escadas que davam em direção aos quartos e entrei no primeiro que vi.Minha tia vinha o tempo todo em meu encalço e quando eu entrei no quarto ela disse:
– Acho melhor você ir dormi logo. Amanhã saímos cedo e eu deixarei você no internato.
– Como assim? Pra que precisamos sair cedo?o internato não é em Londres? - e não precisou de mais palavras para eu entender que o internato deveria ser distante.

No dia seguinte,acordei com batidas na porta.Olhei o relógio e ainda eram 5 horas da manhã.Sem responder a minha tia,que batia na porta,fui tomar banho e me arrumar.Peguei minhas malas e meu violão, meu maior amor,não me separaria dele por nada.Desci as escadas e vi que minha tia me esperava animada como sempre ficava ao acordar.Agora me explica como alguém consegue ser feliz às 5 horas da madrugada,porque eu não consigo entender.
Após tomar café,minha tia pegou o carro que ela a tinha deixado na casa quando decidiu que nos mudariamos, e fomos em direção ao internato.Pouco a pouco,eu via a paisagem mudar e se tornar mais rural até que paramos em frente ao que me parecia ser uma enorme construção medieval.
– Chegamos - disse ela
– Isso só pode ser brincadeira - sussurrei no banco de trás.
Peguei minhas malas e parei em frente ao local.Ok,se era pra fazer aquilo eu iria fazer direito, ou seja,se o internato iria marcar minha vida,nada mais justo do que eu marcasse ele.