Entre irmãos. escrita por Lena


Capítulo 4
IV


Notas iniciais do capítulo

Ei! Desculpem a demora, queridos. Eu andava meio desanimada, mas acabei decidindo voltar a estória. Espero que gostem do capítulo!



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O líquido branco que reluzia em seu copo era mais interessante que qualquer outra coisa ali para Karina. As mãos cercaram a xícara, apreciando a quentura em suas mãos e a frieza do balcão onde estava escorada.

— Está tudo bem, Ka? — Pedro perguntou baixinho ao seu lado. Estava visivelmente preocupado com a loira. Desde que acordara estava assim... distante, perdida.

Ela forçou seus olhos a encontrarem os dele enquanto lhe sorria fracamente como se dissesse "estou bem, fique tranquilo". Mas era mentira.

A única coisa que conseguia pensar era no maldito passado e no moreno que lhe dopara na noite passada. Há alguns anos, jurara a si mesma nunca mais pensar nele, mas sua promessa estava falhando miseravelmente.

Queria ir embora dali com o namorado. Mas não podia fazer aquilo. Seria muito egoísmo. Karina sabia como Pedro esperara ansiosamente por aquela viagem para rever os pais, e não seria ela que iria estragar. Já o irmão mais velho por outro lado parecia disposto a acabar com sua viagem e, de quebra, com sua vida.

Pedro se aproximou um pouco mais capturando os lábios da namorada, a beijando. Era bom tê-la ao seu lado. Amava aquela garota, e tinha a certeza que ela o amava também.

— Menos, casal, por favor... — pediu Cobra ao entrar na cozinha, indo até a geladeira.

“Era mais doloroso do que o esperado...” Pensou ele.

A loira baixou os olhos, constrangida. Sentia-se tão suja. Não havia razão para isso. Não existia mais nada entre ela e Ricardo, absolutamente nada. E mesmo assim algo a remoía por dentro.

Queria poder falar toda a verdade para Pedro, mas tinha medo das consequências. Ela não tinha ideia de qual seria sua reação, e evitava até pensar naquilo.

— Cê não cansa de encher o saco, Cobra? — perguntou Pedro visivelmente irritado. Odiava aquelas brincadeiras do mais velho.

— Não, não canso. — lhe lançou um sorriso de lado enquanto mordia a maçã que pegara — Bom dia, aliás. — cumprimentou em uma falsa formalidade.

— Bom dia. — responderam os dois.

Karina ainda mantinha os olhos no chão. Odiava se sentir daquela forma... Tão fraca, perdida.

— Mamãe pediu para que você fosse ao quarto dela. — disse o réptil após um tempo — E não, não sei o que ela quer. — soltou quando notou que o mais novo iria perguntar algo.

— Daqui a pouco eu volto, meu amor. — informou enquanto selava seus lábios nos dela brevemente — Cobra fará companhia pra você. — deu as costas enquanto deixava o cômodo.

Ela riu sem humor. Ele a faria companhia, ótimo...

— Então, meu amor, dormiu bem? — comentou dando ênfase às duas pequenas palavras enquanto sustentava o meio sorriso em seus lábios.

Era incrível a capacidade que ele tinha de manter aquela pose de bad boy que não se importa com nada nem ninguém. Nem parecia que os dois haviam discutido na madrugada, que ele a conhecia, que um dia namoraram, que um dia ele a deixou.

— Eu apaguei. — disse casualmente — Acho que por conta do remédio. Não me faz bem. — soltou fria.

Cobra e Karina se encaravam fixamente. Ambos sabiam que ela falava do réptil, que, por sua vez, a encarava fixamente.

— Mas já fez, não fez? — devolveu ele sério, embarcando no jogo — Um dia já te serviu, te ajudou, curou todas as tuas dores, Karina... — deu alguns passos até ela, se certificando que Pedro estava longe.

— Já. Me foi muito bom e útil um dia... — ela assentiu, não se abalando com a proximidade nem como uma de suas mãos apoiada no balcão, ao lado de sua cintura — Era um vício. — ela sussurrou ao encarar os olhos castanhos, permitindo que seus olhos descessem até os lábios entreabertos dele — Os efeitos colaterais dele não me agradaram muito.

— Um vício? — ele sussurrou, ignorando seu último comentário. Estava tão perto que o hálito embalou algumas mechas da loira — Ninguém se livra de um vício tão fácil, Karina. Sempre há recaídas.

A insinuação a trouxe de volta à realidade.

— Não quando se há outro. — ela devolveu fria. Falava de Pedro.

Por um instante, o brilho sarcástico deu lugar a tristeza nos olhos dele, mas só por um instante, já que no segundo seguinte ele tinha de novo um sorriso traiçoeiro preso em sua boca.

— Atrapalho alguma coisa? — Dalva perguntou casualmente.

A senhora estava ali há algum tempo, desde que começaram aquela conversa pra ser exata. Sabia que os dois tinham um passado, e muitas coisas mal resolvidas o cercavam.

— Não atrapalha em nada, querida. — Ricardo se afastou e voltou seus olhos para a mais velha.

— Só estávamos conversando sobre alguns tipos de remédio, e os efeitos que eles causam. — ela informou, tentando se esquivar das possíveis perguntas — O de ontem, por exemplo, não me foi dos melhores.

Sabia que aquela senhora era mais esperta do que aparentava. Em tão poucas horas já notara muita coisa.

— O melhor é sempre aquele que te faz bem, independente dos efeitos, menina.

Karina ficou sem palavras por alguns instantes, e agradeceu quando todos se puseram a mesa. E ela se viu obrigada a ir também, Cobra a seguiu e se pôs a mesa também.

Todos se cumprimentaram mutuamente e seguiram com o costumeiro. Depois disso, em meio ao café da manhã, uma conversa se iniciou.

— E o curso de Direito, como vai? — Delma perguntou com cordialidade à Karina.

Ricardo riu abertamente, atraindo a atenção de todos.

— Desculpa. — pediu — É só que ela tem cara de médica, sabe? Parece ter uma grande afinidade com com a Medicina. Pediatria, eu arriscaria.

Quando eram mais novos, a loira sempre deixara claro o amor que tinha pela medicina e por crianças, e sempre deixou claro também que era aquilo que queria para a vida. A pediatria parecia que tinha tudo para dar certo. E descobrir que ela resolveu seguir um caminho diferente do sonhado foi uma surpresa para ele.

— Eu até iniciei o curso de Medicina, mas acabei optando por Direito. — informou sem mais detalhes — Enfim... O curso vai bem, Delma. Nos formamos ano que vêm, e eu estou muito feliz por isso. Há muito tempo sonho com isso.

— O que foi uma grande ideia, já que foi lá que nos conhecemos. — Pedro não pôde deixar de comentar enquanto cercava a namorada com um de seus braços, a aconchegado.

— Vocês são tão lindos! — Delma suspirou, e Cobra não pôde evitar bufar.

— Felicidade alheia incomoda, Ricardo? — soltou com a tradicional frieza.

"Só quando um dia ela já foi minha." pensou em devolvê-lo, mas ficou calado. Ficar calado. Era aquilo que vinha fazendo há muitos anos, e sabia que se abrisse a boca, desejaria tudo que estava entalado.

— Não começa, René. — pediu a dona do lar quando notou que uma discussão começaria.

— A felicidade dos dois não me incomoda. — garantiu — Só não tenho paciência e estômago pra isso. — apontou para o casal a sua frente. E pela primeira vez desde que chegara sua voz carregava sinceridade

— Isso porquê você nunca teve nada sério. Você nunca leva nada nem ninguém a sério. — cuspiu com frieza.

— Você nem ao menos me conhece. — soltou enquanto largava o guardanapo na mesa com fúria — Não fale daquilo que não sabe, René. — levantou da mesa e seguiu andando, tentando evitar um confronto.

— Ele é seu pai, Ricardo... — Delma interpôs.

Cobra parou lentamente e virou-se antes de se pronunciar, observando uma última vez a família feliz reunida na mesa.

— Não, ele não é meu pai. — disse devagar — E nisso eu tenho certeza que nós dois concordamos... — encarou o mais velho de forma fixa.

— Você tá certo, Ricardo. Nisso nós concordamos. — ele assentiu — Você é um bastardo.

Cobra sorriu frio tentando esconder a dor.

— Agora que o bastardo se retirou, aproveitem o café, o filho biológico e a namoradinha dele também. — foi até a porta, a batendo de uma forma violenta, claramente zangado.

— Ainda parece o mesmo inconsequente de dezoito anos. — René soltou não se importando com os olhares que a mulher lhe lançava.

— Por que você sempre faz isso? — questionou claramente abalada — O que custa parar com essa atitude? O inconsequente aqui é você! — ela soltou enquanto levantava e ia a procura do filho.

Karina a essa altura já não estava mais nos braços do namorado, e observara tudo em misto de choque e horror. Pedro tinha os olhos fechados e a cabeça apoiada no alto da cadeira, sabia que aquilo aconteceria uma hora ou outra.

— Desculpa por isso, Karina. — ele pediu a ela de uma forma educada.

Como pode uma pessoa ter atitudes totalmente opostas em poucos minutos?

— Não é a mim que você deve desculpas, senhor Ramos. — soltou antes que se desse conta e de uma forma nada educada — Sei que não devo me meter e não tenho ideia do que aconteceu entre vocês, mas você não pode tratá-lo dessa forma.

— Você tem razão... — ele concordou — Você não deve se meter.

— Pai, já chega! — Pedro interferiu, também zangado — Ela é minha namorada e exigo mais respeito.

O mais novo não esperou uma resposta, pegou a namorada pela mão, a guiando até a escada, onde seguiram até o quarto onde estavam hospedados.

— Ok. Pode me explicar o que foi tudo aquilo? — ela pediu assim que ele fechou a porta.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero a opinião de vocês nos comentários! A propósito: obrigada a quem comenta, é tudo muito importante.
Não sei se o próximo vai sair rápido, mas garanto que vai sair. Beijos!