Entre irmãos. escrita por Lena


Capítulo 5
V


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas antes de mais nada, sei que demorei. :/

Não prometo que não vai acontecer de novo porque eu sinto que vai. Mas, espero, que seja com menos frequência.

Enfim... Aqui o capítulo, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/649453/chapter/5

— As coisas sempre foram assim? — Ka perguntou baixinho, sentado-se na cama ao lado do namorado, que havia se esparramado no macio colchão.

Pedro piscou os olhos com força, tentando, de alguma maneira, ocultar as lembranças que ele trancara por tantos anos. Em vão, claro. Elas sempre voltam para lhe assombrar.

— Para com isso, René. — pediu Delma, tentando conter os ânimos — Você nem deixou o garoto se explicar. O ouça primeiro! — se pôs na frente do marido.

— Ele foi expulso do colégio, Delma! — a encarou como se não acreditasse no que ouvia da mulher — Expulso! — se livrou da gravata e do terno que usava enquanto se aproximava do moreno, raivoso.

Sua postura demonstrava que o dia não tinha sido dos melhores e a mais boa nova só complicara as coisas.

— Eu sei. — assentiu, encarando o filho com um misto de sentimentos — Mas nós nem sabemos o que aconteceu. Deixe o Ricardo se explicar.

— Tudo bem. — concordou debochado — Vamos. Estou esperando. — incitou.

— Eu não vou fazer isso. — disse com uma convicção assombrosa — Você não vai acreditar em mim de qualquer forma. Poupo o seu tempo e o meu, pai. — deu as costas, indo embora, sem se importar com os olhares que recebia. Era sempre assim, afinal.

Mas a próxima frase a saltar dos lábios do mais velho o fez estancar no lugar, segurando a maçaneta.

— Não me chame de pai nunca mais. Você não é meu filho. — o ódio em seu tom era quase palpável, parecia ter atingido seu limite — Meu filho é o Pedro, e só ele. — afirmou sem um pingo de piedade. As atitudes do homem sempre deixaram claro, mas era a primeira vez que ele falava sobre isso em voz alta. E só Deus sabia como era doído — Diferente de você, ele presta, Ricardo. É um menino de ouro. — o mais novo ouvia cada palavra atentamente, ainda de costas. Os dedos tinham nós brancos devido a força com a qual segurava a maçaneta em uma tentativa falha de tentar se manter são — Tem boas notas, um bom comportamento, não trás problemas pra casa, nunca arranjou confusão na escola, e muito menos foi expulso... — fez uma pausa esperando que fosse interrompido — Ele sim me enche de orgulho.

E Cobra capturou o sentimento sombrio e o tomou para si após anos convivendo com ele. Delma estremeceu quando viu no filho o olhar que o marido sempre o direcionara. O ódio e a frieza agora eram mútuos, sabia disso.

— Ele não quis dizer isso, meu filho... — a mãe interpôs.

Cobra respirou fundo e com o olhar, pediu para que a mãe saísse dali. Ela hesitou, mas sentiu que precisava deixá-los a sós. Assim que pôs os pés para fora do escritório, encontrou o filho mais novo sentado em um degrau da escada. E pela sua expressão, sabia que ele ouvia cada palavra que era dita lá dentro. Se aproximou de Pedro, sentou ao seu lado e o cercou em seus braços. Do lado de dentro, as coisas continuaram. Na verdade, só pareciam começar.

Estavam frente a frente, em um embate que prometia ser épico.

— Não são as minhas notas, a forma como ajo ou qualquer outra coisa que eu venha a fazer que te faz me odiar, René. — virou lentamente, encarando o homem com quem viveu há dezessete anos e que só agora reuniu forças para enfrentá-lo — Você me odeia por um único motivo: eu não tenho seu sangue. Não sou um Ramos legítimo. — fez uma pausa, controlando a respiração — Não é essa a razão pra você sempre me tratar assim? — exigiu.

René vacilou por um instante diante do que foi dito e Ricardo percebeu, mas continuou assim mesmo. Já que começara, teria que terminar.

— Cê nunca nem sequer me olhou com um pingo de amor, carinho ou respeito. — constatou a verdade com pesar — Desde que me entendo por gente esses olhares foram sempre direcionados apenas pra ele, o Pedro, seu filho. — enfatizou o que há alguns instantes ele deixara claro — Tem noção de como era doído para uma criança enfrentar isso? A negação de um "pai"? — fez aspas, lembrando do que ele pedira.

E prometeu a si mesmo naquele momento que cumpriria com aquilo. Jamais o chamaria de pai novamente.

— Não me venha com auto piedade, Ricardo. — René pediu sem paciência.

— Eu sempre me esforcei pra te alcançar, pra conseguir um mínimo de atenção. — continou, ignorando o que comentário do mais velho — Quando criança, eu passava o dia inteiro desenhando algo incrível pra você, e quando eu te entregava cê nem ao menos olhava, jogando fora em seguida. — as lágrimas beiravam os olhos — Daí, com o tempo, eu percebi que você só me notava quando eu fazia algo errado... E se esse era o preço, eu tava disposto a pagar. Foi a partir daí que o Ricardo se tornou Cobra. Apelido que você mesmo sugeriu e eu acatei. — o moreno lembrou-se da época — "Astuto, rebelde, traiçoeiro, um Cobra..." — repetiu as palavras.

— Então tudo isso foi por atenção, moleque? — perguntou incrédulo, rindo amargo.

— Era por atenção, sim. — assentiu, sentindo as primeiras lágrimas rolarem por seu rosto, mas bom orgulhoso que era, limpou-as o quanto antes — Mas a única coisa que eu quero de você agora é distância. — sibilou.

— Vai embora? — questionou.

— Vou. — confirmou, estava pronto para ir para sabe-se lá onde. Só precisava deixar aquela casa o mais rápido que desse. E estava certo de que faria aquilo — E não por causa disso. Não sou tão fútil quanto você pensa. — se referiu a expulsão — Mas por causa de tudo... Eu não aguentaria passar mais um dia contigo.

— Já vai tarde... — não pôde deixar de comentar.

Cobra riu frio, trancando a porta em seguida. Não queria interrupção para o que viria a seguir.

— Concordo. — assentiu — Mas antes, — com rapidez foi até onde o mais velho estava — preciso fazer isso...

E antes mesmo que fosse questionado, Ricardo fechou as mãos em punho e acertou o alvo. René cambaleou com o soco, levando a mão ao olho e pronto para revidar, mas o mais novo tinha ótimos reflexos e conseguiu esquivar-se com maestria, o prendendo em um mata leão logo depois.

— Escuta uma coisa, René. — respirou ofegante enquanto controlava o homem — Eu vou embora, mas não significa que eu vou deixar de me importar. O sem coração aqui é você, afinal... — lambeu os lábios e o soltou violentamente — Cuida deles.

Duas palavras, milhões de significados.

— Ele precisa de gelo. — foi a primeira que disse ao ver sua mãe e Pedro atônitos na porta, o encaravam preocupados e Cobra apenas ignorou — E eu de um lugar pra ficar. — comentou mais consigo mesmo que com eles.

— Você não vai pra lugar nenhum, Ricardo. — Delma tentou.

— Vou. — disse convicto — E não é por você, mãe. — tranquilizou, se acalmando um pouco — Muito menos por ele... — garantiu, apontando para o mais velho no escritório, gemendo de dor — É por mim. Eu não aguento mais. Preciso de um tempo, novos ares...

A mulher pensou em insistir, em obrigar o filho a permanecer ou qualquer outro escape para aquela situação. Mas o brilho nos olhos do réptil lhe diziam claramente que não havia nada a ser feito.

— Eu te amo, Ricardo. — ela disse enquanto o cercava em seus braços.

Os olhos marejados, o coração apertado. Ambos se encontravam da mesma forma.

O caçula também beirava às lágrimas e arriscou um aceno para Cobra, que foi devolvido da mesma forma. A compreensão transbordava.

— Eu também amo você. — assentiu o moreno, lhe beijando a testa — Obrigado por isso, mãe. Por tudo.

Pedro suspirou com a lembrança. Evitava pensar naquilo, mas quando o fazia, sempre doía. Cada vez mais...

— Meu Deus, Pê. — foi a única coisa que Ka conseguiu libertar depois de escutar com atenção cada detalhe daquele flash.

— Na manhã seguinte, bem cedo, ele se foi. — continuou — Mamãe ligou para uma amiga dela na capital. Ele ficou hospedado na pensão dela durante alguns anos e tocou a vida por lá.

A loira engoliu em seco quando viu as coisas se encaixando bem diante de seus olhos. Ela controlou a vontade que teve de assentir. Sabia exatamente de quem e do lugar que ele falava.

“Tá maluca, garota? Olha por onde anda!” a voz carregada soara em sua mente tão clara quanto a primeira vez que ouvira.

— Mas e vocês dois? — voltou ao assunto — Não mantiveram contato? Se afastaram assim sem mais nem menos?

— Minha mãe ia visitá-lo algumas vezes, mas não com tanta frequência como gostaria. E eu ia com ela sempre que dava. Só que em uma dessas, nós brigamos feio e eu me afastei também. — explicou sem mais, levantando os olhos — As visitas, naquela época, se tornaram bem menos frequentes, mas ainda assim ela ligava e o ajudava de todas as formas que conseguia. Delma e dona Dalva são as únicas que têm algum vínculo com ele.

Ka não gostou da forma com que a última frase foi dita, e o repreendeu com o olhar severo.

— De alguma forma, — a loira começou enquanto o forçava a encará-la — vocês são irmãos. Não de sangue, mas de coração... Nada vai mudar isso.

— Ele conseguiu mudar.

— Ah, qual é, Pedro? — devolveu — Em algum ponto antes de tudo isso cês eram irmãos.

Ele riu com o tom da namorada e assentiu só para ver aquelas órbitas azuis brilharem de felicidade. Ela sempre veria o lado bom das coisas, e ele a admirava por isso.

— Houve um tempo que nós éramos assim...

Fechou os olhos enquanto sentia uma melancolia e uma saudade lhe atingir em cheio. O pior: gostara da sensação.

— Cobra. — chamou o garotinho com animação — Vem me pegar! — soltou ainda mais alegre enquanto corria pelo jardim, tentando escapar de alguma forma do "golpe" que lhe aguardara.

Os fios um pouco grandes de Pedrinho, sua principal característica, eram envolvidos pelo vento, o que lhe dava um ar ainda mais dócil. O garoto era uma linda criança, além de ser muito amável e carinhoso.

O mais velho, de 8 anos, corria empenhado na missão de capturar o mais novo. Adoravam aquela brincadeira!

Cobra também tinha os cabelos um pouco longos, mas eram tão pretos quanto a escuridão, diferente dos castanhos dos do irmão. As diferenças não paravam em meros fios. Ricardo era mais fechado, menos sociável, pouco compreensível. Poucos eram os que conseguiam chegar nele.

Mas Pedro sempre conseguia.

— Ricardo, Pedro! — a voz tão familiar soou em seus ouvidos, e, pelo tom, sabia que, diferente deles, a senhora não curtia muito a brincadeira.

— Ai, Dalva, só mais um pouquinho. — implorou o mais novo.

Os olhos tão dóceis que qualquer um não resistiria. Qualquer um menos a senhora que já estava mais do que acostumada com todas as artimanhas dos dois.

— Nada disso. — ela interpôs — Vocês precisam de um banho, seus porquinhos! — brincou enquanto apertava o nariz de cada um — E ainda precisam fazer a lição de casa, esqueceram?

— Ok! — Cobra respondeu para a surpresa dela. Nunca era fácil convencê-los — Mas antes... — olhou para o irmão de uma forma cúmplice — Você precisa nos pegar!

E partiram correndo para a casa sorridentes.

A lembrança fez Pedro sorrir da mesma forma que anos atrás, esquecendo por um instante todo o resto, toda a bobeira, todos os anos separados e até o incidente de alguns instantes.

Ka afagou o cabelo do namorado em uma carícia.

— Nós éramos inseparáveis. Verdadeiros confidentes...

Era uma madrugada comum na casa dos Duarte's.

Delma estava aflita na sala de estar, já que o marido ainda não chegara do trabalho, ele não costumava se atrasar. Ricardo e Pedro, com seus 16 e 15 anos, respectivamente, jogavam animados enquanto comiam uma pizza e conversavam sobre os mais variados assuntos. Sobre garotas, principalmente. E a que entrara na roda era a mais recente paixão de Pedro. Jade Gardel, a garota que arrancava suspiros de toda a escola.

— Você sabe muito bem a razão que a fez se aproximar de mim, Cobra. Ela gosta de você, e... Porra! — exclamou ao notar a merda que havia feito no jogo, Cobra sorriu enquanto finalizava o adversário — Cansei! — soltou o controle na estante, se espreguiçando em seguida.

— Cansou não, cê desistiu! — corrigiu sorrindo vencedor enquanto fazia a mesma coisa que o mais novo.

— É, pode ser. — concordou sorrindo.

— Cê sabe que não sinto nada por ela, né, Pedro? — o mais velho voltou ao assunto enquanto buscava mais um pedaço de pizza.

— Eu sei disso. — assentiu — Mas ela sente algo por você, sabe disso.

Os irmãos e toda a escola tinham ciência daquilo. A garota integrante do corpo de dança era totalmente apaixonada pelo Duarte mais velho. Desde o momento que o viu, se apaixonou. E ele, bom, não alimentava nenhuma esperança para a total infelicidade da morena. E tudo que a aproximasse do réptil lhe era válido, inclusive usar o mais novo. Fato esse que não era bem visto por Ricardo e que o fez tomar algumas medidas.

— Ninguém resiste a mim. — brincou, sorrindo de lado, tendo como resposta um soco no ombro — Mas sério... Relaxa, Pê. Já conversei com ela, espero que tudo se resolva.

— Eu também... — o mais novo sussurrou.

— E ao que parece, ela tá gostando de você pra valer. — piscou Ricardo o consolando.

E era verdade. Talvez a convivência a fez gostar do mais novo, ela só se recusava a perceber aquilo. Uma hora ou outra iria cair em si. Ao menos rezava por isso.

Quando Pedro terminou de narrar mais uma cena de seu passado, sorriu de novo com os olhos fechados. E foi por esse último detalhe que ele não notou a namorada. Não viu quando ela engoliu em seco, e nem ao menos sentiu quando a carícia em seu cabelo foi interrompida.

— Você gostava dela? — Karina perguntou temerosa, deslizando seus dedos para o mar castanhos de seus fios mais uma vez, procurando manter a normalidade.

Ele assentiu com veracidade.

— Paixão adolescente ou seja lá o que for, eu realmente era amarradão naquela garota... — suspirou — Nós até que passamos um tempo juntos, mas não deu certo...

— Por que não deu certo? — ela quase implorou — Ela gostava de você, não gostava?

— Gostava sim! — assentiu — Mas o sentimento maior sempre foi pelo outro. E quando Cobra foi embora daqui, ela acabou percebendo isso...

Ka travou mais uma vez, mas dessa vez o gesto não passou despercebido por ele. Pedro sentou na cama, frente a frente com ela e lhe sorriu divertido. Não tendo noção do conflito interior que ela se encontrava.

— Não precisa ter ciúmes, Ka. — beijou a nuca alva de forma demorada — Jade é passado. Você é meu presente, nada vai mudar isso.

Ela concordou forçando um sorriso enquanto encostava seus lábios nos dele.

— E você não é ela... — sussurrou quando se afastou.

Desceu as mãos até a cintura bem desenhada da garota, a acariciando.

Não sou... — pelo tom, era mais que claro que a loira tentava mais do que nunca convencer a si mesma.

E em uma tentativa de conseguir uma certeza ainda maior, aprofundou o beijo enquanto se arrastava para o colo do namorado sem receio algum. Os lábios macios eram sua perdição, e ela só se afastou quando precisou respirar. Tomando um longo fôlego.

— Eu amo você, Pedro. — Ka disse sincera enquanto alisava o rosto do namorado.

Dessa vez não tinha nada a ver com o seu passado, sua insegurança ou qualquer coisa do tipo. Ela só queria que ele soubesse uma vez mais dos seus sentimentos, que eram os mais sinceros possíveis.

— Também te amo, Karina.

Ela repuxou os lábios e o puxou para um abraço. Respirou fundo, emanando o aroma tão bom que exalava dele. Segundos depois, uma batida na porta os fizeram romper o contato.

A porta se abriu e a figura já conhecida entrou no cômodo.

— Desculpa interromper, — pediu sincera — mas René quer conversar com você, Pedro. — informou.

Ele assentiu, já sabendo que um pedido de desculpas o aguardava. Provavelmente se arrependera da forma como falara. Sempre era assim. O procurava quando o outro era quem precisava.

— Ok, Dalva. Obrigada. — passou as mãos pelos fios curtos — Você pode fazer companhia à Karina enquanto isso, por favor? — pediu.

— Claro, meu menino. — assentiu.

Pedro agradeceu com o olhar e seguiu rumo ao pai.

A senhora com os fios curtos e brancos deu as costas apenas para trancar a porta, voltando logo depois para sentar-se na cama. As duas ficaram ali. Longos e torturantes segundos se passaram.

— Eles são bons nessa coisa de irmandade quando querem. — Dalva consolou — Isso tudo é falta de prática. Eles parecem se odiar, mas no final das contas, dariam a vida um pelo o outro.

— Eu sei, eu sinto... — Ka sussurrou distante — Espero que um dia eles possam desfrutar disso de novo.

— Também espero...

Ka suspirou, tomando coragem. Falar dele não era seu forte.

— Ricardo ainda gosta de se trancar e pensar na vida? — Ka perguntou baixinho, se lembrando daquela mania dele. Quando os problemas lhe batiam a porta, ele gostava de ficar sozinho.

Se arrastou hesitante até o colo da mulher. Quando ela sorriu e acenou com a cabeça, a loira se aconchegou. Um dia e aquela senhora já ganhara sua confiança. Dalva tinha esse poder, era aquilo que a tornava tão amável.

— Você o conhece mesmo...

— O suficiente para saber que eu preciso manter distância. — tentou brincar, apreciando a carícia em seus fios.

Dalva nada disse, sabendo que ela tinha razão. Podia imaginar o quão perdida a garota estava com tudo.

— Não se preocupa. — consolou — Ele vai ficar bem, sempre fica.

Ka concordou, satisfeita. Dalva tinha razão, ele ficaria bem. Assim como ela, assim como Pedro. Ou ao menos era nisso que tentava focar.

— Você é o "anjo" de quem ele tanto falava. — não pôde deixar de comentar ao ver os dourados brilhando entre seus dedos.

— Alguma garota, Ricardo? — Dalva perguntou curiosa.

Teve como primeira resposta uma alta e sonora gargalhada que a preencheu de alegria. Era bom saber que seu menino estava bem, feliz.

— Várias!

A sinceridade dele não a assustou, apenas a fez revirar os olhos. Ele era o que as garotas chamavam de galinha. Ela preferia cafajeste.

— Mas, sabe... — aquele tom era diferente, o usava apenas quando estava prestes a confessar algo — Tem uma em especial. — o podia ver sorrindo — Ela é marrenta, estressada, respondona e me tira do sério como ninguém.

— É especial porque?

— Exatamente por esses motivos. — explicou como se aquilo fosse o óbvio — E alguns outros também. É gente boa no final das contas. Ama a vida sem objeções, tem um brilho espetacular nos olhos, vê beleza em tudo ao seu redor. Além de ser absurdamente linda, Dalva. Ela é um anjo.

— Um anjo?

— Um anjo. Meu anjo. — sussurrou — Ainda não minha, mas vai ser. Você vai ver.

— Ricardo costumava me chamar assim. — Ka respondeu, tirando a senhora de seus devaneios que preferiu manter pra si mesma — Eu não quero lembrar disso, não quero lembrar dele... — disse chorosa.

— É inevitável. Você, creio eu, passou anos tentando esquecer o Cobra. Não de uma maneira definitiva, mas conseguiu o suficiente pra seguir em frente. — a senhora disse o que ela há horas tentava se convencer do contrário — E você seguiu. Com o Pedro. — Dalva afagou mais uma vez os fios macios enquanto sussurrou a última sentença — O Pê te ama e você também. — a garota concordou sentindo os olhos encherem d'água — Vai dar tudo certo, menina.

Ka assentiu, limpando a lágrima que a deixara enquanto ficava de pé.

E dessa vez, Karina estava ainda mais decidida. Ou era apenas uma falsa coragem que brotou dentro de si. Seja lá o que fosse, ela a aproveitaria da melhor maneira... Ou da pior.

— Eu preciso enfrentar o passado pras coisas darem certo de verdade... — sussurrou para si mesma. Fechou os olhos, respirou e passeou os dedos pelos longos fios — Eu vou conversar com o Cobra. Dessa vez pra valer. — lembrou da madrugada passada — Preciso fazer isso mais cedo ou mais tarde, que seja agora então.

Antes que Dalva impedisse, a loira atravessara a porta em passos firmes e decididos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Aguardo o review de vocês, viu? Me digam o que acharam e revelem pra quem vai a torcida de vocês.

Beijos e até!