Entre irmãos. escrita por Lena


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente boa!

Obrigada a todos que comentaram, favoritaram e que estão acompanhando a fanfic. Espero que gostem do capítulo!



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A imensidão azul dos olhos da garota embarcaram nos castanhos dos dele por um bom tempo. Se olhavam tão profunda e misteriosamente quanto um dia achou ser possível. Eram como se quisessem desvendar cada pensamento e sentimento mais profundo um do outro. E na verdade, queriam.

Karina agradeceu à Deus quando o contato foi cortado graças a Delma que voara até o ser que tinha como apelido o nome de um réptil.

— Ricardo, meu filho! — soltou alegre, o cercando em seus braços aconchegantes — Que saudades!

Ele sorriu, se permitindo esquecer um pouco o passado cujo os olhos lhe eram hipnotozantes e se concentrar no afago que sua mãe fazia nos emaranhados fios morenos. Sentira muita falta dela. Já fazia cinco anos que não a via. E agora lá estava ele, nos braços da mulher novamente. E só restava aproveitar.

— Também estava com saudades, mãe. — disse sincero.

Karina não pôde deixar de notar que o sarcasmo havia deixado sua voz como um passe de mágica. Ela sabia por experiência que aquilo era algo raro. Ricardo era o sarcasmo em pessoa, e eram poucos os que conseguiam tal proeza. E soube o quão especial a mulher com os enormes fios morenos era quando ele deixou, o que ele uma vez confidenciou a ela ser sua guarda, baixar por completo.

Delma estava com os olhos marejados. E o olhar dela se revesava entre os dois filhos. Só Deus sabe o quanto ela esperou por aquilo. Ver a família reunida depois de tanto tempo.

— René. — cumprimentou Cobra com um aceno frio que lhe foi devolvido de imediato e da mesma forma.

A loira estremeceu nos braços do namorado ao notar a frieza com a qual se tratavam. Karina sabia que a relação do Ramos mais velho com o pai nunca fora a das melhores. Nunca soube o motivo para tal coisa. Cobra não gostava de falar do pai, e ela respeitava aquilo.

— Pedro. — o réptil voltou a andar até onde o casal estava, Ka fez um bom trabalho quando fingiu não se importar com ele. O moreno ofereceu sua mão ao irmão mais novo que a pegou prontamente, o cumprimentando.

— Cobra. — devolveu ao soltar a mão do rapaz.

Karina notou que não havia tanta frieza quanto antes, mas pôde perceber claramente que a relação dos dois também não era a tal irmandade que esperava.

Cobra piscou para ela e sorriu de lado antes de dar as costas e cumprimentar a senhora com os curtos fios brancos que também beirava às lágrimas.

Dona Dalva trabalhara a mais de trinta anos naquela casa. Criara Pedro e Cobra como se fossem seus filhos, e os amava tal qual. Estava ansiosa para a chegada dos dois, e talvez mais até do que Delma. E quando aconchegou o mais velho em seus braços, ouvindo piadas e sorrisos saírem de seus lábios, ela sorriu agradecida por os ter em sua vida.

— Você está bem, meu amor? — a voz preocupada de Pedro soou em seus ouvidos — Está pálida e fria.

— Estou bem, Pê... — sussurrou baixinho, sorrindo para ele — Deve ter sido a viagem.

Não fora a viagem, ela sabia disso. Tentava inutilmente se recuperar do choque e da enorme surpresa que foi encontrar Ricardo ali. E naquela situação. Depois de tanto tempo o passado resolveu lhe assombrar.

“Karina, nós precisamos conversar. Chego aí daqui a pouco.

Beijos!

Cobra.”

Era isso que dizia a mensagem que brilhava em seus olhos recém abertos no quarto escuro. Ela estranhou o "nós precisamos conversar". Ela nunca gostou dessa frase, ainda mais dita por ele e em uma mensagem. A fazia pensar em tudo de errado que havia feito. Mas ela não tinha feito nada errado. Ou ao menos achava que não.

Sorriu docilmente com a lembrança. Afinal, não era nada grave.

“Ok. Te espero aqui.” respondeu.

Karina levantou-se e foi até o banheiro de seu quarto, tomando um demorado e relaxante banho. Quando saiu, optou pelo tradicional shorts e uma regata cinza. E assim que pôs os pés para fora do cômodo, deu de cara com ele.

— Por onde cê entrou? — perguntou assutada, observando o garoto sentado na sua cama.

E sua expressão a fez temer o rumo da conversa.

Normalmente, ele estaria esparramado em sua cama, teria a assustado, soltado alguma piada ou a mais provável alternativa: já teria a beijado e a jogado na cama de uma forma desesperada e sedenta.

Mas lá estava ele. Com aquele olhar sério que raramente usava, encarando a parede branca do quarto como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Você esqueceu a chave comigo. — ele disse casualmente enquanto levantava. Caminhou em passos lentos até ela. Capturou uma de suas mãos, e depositou as chaves na palma macia dela.

Os olhos finalmente se encontraram. E encarando aquele mar, ele se arrependeu do que iria fazer, mas precisava. Precisava fazer aquilo.

— Aconteceu alguma coisa, Cobra? — perguntou a loira baixinho e preocupada.

— Eu vou embora. — soltou de uma vez. Nunca gostara de enrolação, nunca soube como fazer aquilo. Era sempre rápido de direto, e até em situações daquele tipo.

Três palavras que a fez encará-lo assustada e os olhos marejarem instantaneamente.

— Ka... — uma voz distante a trouxe de volta para a realidade, que naquele exato momento parecia tão terrível quanto a lembrança — Karina.

— Oi. — respondeu atordoada.

— Beba um pouco. — o namorado lhe ofereceu o copo de água. E quando percebeu que estava tremendo, recrimou a si mesma.

Pedro a olhava preocupado, tentando ajudá-la de alguma forma. Já Ricardo, observava a cena com um discreto sorriso enquanto subia as escadas e conversava animadamente com Dona Dalva, que lhe perguntara como havia sido os vários anos fora.

— Eu tô bem, Pê. — garantiu — Eu só preciso deitar e descansar um pouco. — lhe sorriu acolhedora mais uma vez.

Ele concordou enquanto lhe beijava brevemente.

Delma e René lhe informaram o quarto que ficariam. "O de sempre, Pê." falou o mais velho. O casal seguiu até lá. Pedro carregou algumas das malas e subiram as escadas. Ela teve que garantir mais algumas vezes que estava bem e que aquilo se deu por conta da viagem. Ele pareceu se dar por vencido, mas não sem antes dizer que iria procurar algum remédio para a namorada.

Ka admirou o enorme e também rústico corredor, ficando encantada com a vista. E quando Pedro abriu a porta, revelando o interior do quarto, ela ficou ainda mais deslumbrada. Era enorme assim como a cama no canto do cômodo que estava coberta por um lençol branco que parecia ter sido recém trocado. A penteadeira tinha um enorme espelho e guardava algumas coisas.

— É lindo! — soltou o que tanto guardara.

— Eu sei que sou lindo. Não precisa me lembrar. — brincou ele enquanto tirava a blusa social que usava. E internamente, ao observar o peitoral tão bem definido, ela concordou.

— Eu tava falando da casa, do quarto... E talvez de você também. — embarcou no jogo dele enquanto olhava sem pudor para o namorado.

Teria que voltar a normalidade. Teria que esquecer que em um dos quartos daquele andar, estava hospedado Ricardo.

— Talvez? — disse fazendo bico. E esquecendo até do mal estar que a assolava a alguns instantes , ele andou até ela, a cercou em seus braços e a jogou em sua cama sem pudor algum.

Até nisso se pareciam, pensou ela. Recriminando a si mesma pelos seus pensamentos.

— É, talvez... — os dedos finos percorreram todo o peitoral até encontrarem a base de sua nuca.

E foi ele que acabou com a distância. Mergulhando em sua boca em um beijo sedento. Uma das mãos dele apertaram a cintura da loira com força, a outra puxarava os fios com menos intensidade e de uma forma ainda mais prazerosa. Ela em resposta ela arranhou suas costas e mordeu seus lábios como um castigo por aquilo.

— Fechem a porta da próxima vez! — uma voz no ambiente carregada por sarcasmo, a fez afastar o namorado assustada. Sentou rapidamente e baixou os olhos, tentando evitar contato com os dois.

Pedro não pôde evitar bufar ao ver o irmão ali.

Cobra por sua vez tentou esconder a raiva, e parecia conseguir fazer aquilo muito bem. Não foi fácil voltar e encontrar sua ex-namorada com outro. Ele esperava por aquilo, claro. Ele mesmo havia pedido para que ela seguisse em frente. E sabia que iria doer. Só não imaginou que fosse doer tanto ao vê-la com seu irmão.

Logo com ele. O cara que tirara tudo de melhor da vida dele. Inclusive ela.

— O que cê tá fazendo aqui, Cobra? — perguntou Pedro. Controlando a raiva em seu tom.

— Eu vim buscar umas coisas. — disse simplesmente enquanto ia até a penteadeira, abrindo umas gavetas e tirando algumas roupas dali.

Quando terminou, pôde observar os dois. O irmão o expulsava com o olhar, e quando encontrou os olhos dela, não soube o que transmitia.

— Eu até te desejaria melhoras, mas pelo que vi acho que você já está de boa. Boa até demais! — sorriu malicioso para a garota enquanto ia embora do quarto.

E assim que ele se foi, Pedro se certificou de trancar a porta antes de voltar até ela.

— Que idiota! — resmungou enquanto deitava-se na cama, massageando as têmporas.

— Ele é seu irmão, Pê. Só quer te encher um pouco. — ela tentou. Ainda abalada pelas cenas de alguns instantes.

— O Ricardo é adotado. — disse simplesmente — Não é meu irmão. — soltou baixo e com uma frieza que ela nunca vira.

Karina não pôde deixar escapar o pequeno murmúrio surpreso que rompeu seus lábios.

— Adotado? — questionou ainda em choque.

Em anos divididos com os dois, nenhum nunca comentara algo do tipo. Mas sabia que aquilo explicava muita coisa, ou ao menos ela pensava assim. Todo a birra que Pedro e Cobra tinham, a relação não tão paternal entre o filho mais velho e o pai...

— Longa história. — soltou Pedro antes de se levantar, indo até o banheiro.

Não estava nem um pouco afim de remoer o passado. Muito menos agora.

Ka prendeu o cabelo em um coque novamente e, tentando recuperar-se de todas as surpresas da manhã, resolveu trocar o vestido por um outro, só que agora algo mais leve e casual. Logo depois, alguém bateu na porta. E enquanto caminhava para atender ao desconhecido, rezou para que não fosse Cobra novamente.

E quase não pôde evitar o suspiro de alívio ao ver Dona Dalva ali com uma pequena bandeja com um copo de água e uma pílula ao lado.

— Delma pediu para que eu te entregasse, menina. — disse com um sorriso.

— Obrigada! — agradeceu enquanto colocava o remédio na boca e bebia a água.

— Vocês se conhecem, né? — questionou curiosa — Você e o Cobra. — foi mais clara.

E a senhora teve a resposta quando a loira quase se engasgou com o próprio líquido que ingeria. Dalva era uma pessoa muito observadora. Ainda mais se tratando daqueles dois. Percebeu todos os olhares intensos que o réptil e ela trocavam.

— Nem precisa dizer nada. — disse sorridente quando Karina se recuperou — Só espero que não os machuque e que não saia machucada também, minha querida. — foi o que disse ela antes de ir embora.

— Eu também espero, Dona Dalva. — sussurrou.

Ka fechou os olhos e foi até a cama macia. Permitiu que o sono a levasse, e torceu que ele também levasse todos os presentes e os futuros problemas que aquelas férias lhe trariam.


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Notas finais do capítulo

E se gostaram, me deixem saber! Dúvidas, sugestões, críticas, elogios... Bom, é tudo muito bem vindo pra mim.
Beijo!