Tal Mãe, Tal Filha escrita por Candidamente


Capítulo 3
Desperta


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Eu me atrasei um pouquinho, acho. Mas, enfim, boa leitura!



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Hermione abriu os olhos de repente e, assustada fitou a superfície lisa de sua mesa de mogno. Passou as duas mãos pela própria face gelada enquanto tentava racionar sobre o que acabara ver. Sem dúvidas, aquele sonho fora realidade, pois agora podia lembrar-se de tudo o que havia acontecido entre ela e... Draco. Estava confusa, abismada, não sabia o que pensar, conseguia e não conseguia entender, os fatos não se encaixavam na sua cabeça.

E o pior: Hermione sentia que precisava falar com o Malfoy, precisava tirar-lhe satisfações. Não que ela achasse que era certo, sempre gostou de agir com racionalidade, porém era difícil. Se o que sentiu no passado fora tão forte, como um feitiço de memória poderia ter apagado aquilo para sempre?

Sim, para sempre. Ela não conseguia nem mesmo lembrar como fora gostar do inimigo, não lembrava a sensação de seu beijo, e simplesmente amava Ron, não havia maneiras de expressar o tamanho do seu amor pelo pai de seus filhos.

A questão martelava em sua mente. Ela precisava saber mais, porém não era conveniente aparecer na Mansão Malfoy àquela hora da noite e, além do mais, precisava ir para casa. Ainda assim, queria uma explicação de tudo, para poder entender melhor...

— Hermione! — exclamou Ron, parado, ofegante, à porta da sala da esposa. — Por Merlin, o que aconteceu? O que você está fazendo aqui até agora?

Ele já não usava mais o uniforme de auror, apenas um casaco enorme por cima das roupas que costumava usar em casa e seu rosto continha uma expressão de preocupação. Hermione respirou fundo, acalmando-se para que sua voz não saísse num tom ainda mais preocupante.

— Eu caí no sono, apenas isso.

— Mas a que horas você adormeceu? — perguntou Ron. — Agora é... — ele fitou o relógio de pulso, o mesmo que ganhara dos pais no aniversário de dezessete anos, tanto tempo atrás. — Nove e cinquenta e dois.

— Tudo bem, tudo bem. Vamos para casa, estou bastante cansada, mesmo para alguém que dormiu durante quase quatro horas... Você sabe o quão desconfortável é dormir naquela cadeira? — enrolou Hermione, forçando um sorriso. De repente, lembrou-se de que, se ela e Ron estavam ali, quem estava com Hugo? Então encarou o marido, os olhos levemente arregalados. — Ronald Weasley, onde está o seu filho? — falou, alteando a voz, nervosa.

— Com o avô, no Átrio. — respondeu o outro, chegando perto de Hermione para observar seu rosto de perto. — Você está pálida de novo. — comentou. — O que está acontecendo, Hermione?

Ela hesitou, respirou fundo mais uma vez, mordeu o lábio inferior, procurou bolsos onde enfiar as mãos, sem sucesso; Ron a observava, então ela o encarou profundamente nos olhos azuis e ele soube o que tinha de fazer: abraçou-a ternamente, afagando seus cabelos castanhos volumosos outrora amarrados em um coque apertado.

— Vamos para casa, Ron — murmurou Hermione. — Eu tenho de lhe contar...

— Shhh, Mione — pediu Ron, ele sempre a chamava pelo apelido quando estava tentando fazer com que se acalmasse. — Amanhã você me conta o que tiver de contar.

— Hoje, Ron, tem de ser hoje. — garantiu ela, enquanto ele juntava suas coisas.

Ele assentiu e, logo os dois já estavam no elevador de grades douradas; Ron apertou o botão para o Átrio, o elevador começou a descer, barulhento, e a voz feminina falou:

"Nível três, Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas, incluindo o Esquadrão de Reversão de Mágicas Acidentais, Central de Obliviação e Comissão de Justificativas Dignas de Trouxas."

Quando ouvia falar em Central de Obliviação, o estômago de Hermione sempre embrulhava, há anos ela já não conseguia ouvir assuntos que tratassem de feitiços de memória; independente do quão fortes ou fracos fossem.

O elevador parou e ninguém desceu, pois só havia Ron e Hermione ali dentro. Aquilo era realmente irritante... Então eles começaram a descer novamente, e a voz tornou a falar:

"Nível quatro, Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, que inclui as Divisões das Feras, Seres e Espíritos, Seção de Ligação com os Duendes, Escritório de Orientação sobre Pragas."

Parou novamente, dois memorandos interdepartamentais adentraram o elevador e ficaram sobre as cabeças do casal, ora cobrindo a luz no teto, ora voando em volta dela, enquanto o elevador continuava a descer balançando e fazendo barulho.

"Nível cinco, anunciou mais uma vez a voz, Departamento de Cooperação Internacional em Magia, incorporando o Organismo de Padrões de Comércio Mágico Internacional, o Escritório Internacional de Direito em Magia e a Confederação Internacional de Bruxos, sede britânica."

Ron e Hermione estavam de mãos dadas, em silêncio; Hermione esperava pacientemente, sentindo que sua mão estava extremamente fria, enquanto o outro já começava a bater o pé quando o elevador parou de novo e um memorando saiu voando pelo corredor.

"Nível seis, Departamento de Transportes Mágicos, que inclui a Autoridade da Rede de Flu, o Controle de Aferição de Vassouras, a Seção de Chaves de Portais e o Centro de Testes de Aparatação."

Ron torceu o nariz quando o elevador parou, e Hermione sorriu, ao pensar nas aulas de aparatação no sexto ano em Hogwarts e em como, apesar de tudo, os anos em que passara lá valeram a pena.

Eram sempre os mesmos pensamentos quando ela prestava atenção à voz feminina do elevador.

— Só mais um nível e estaremos praticamente em casa. — murmurava o outro, de olhos fechados para a luz no teto, como se estivesse rezando.

"Nível sete, Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, que inclui a Sede das Ligas Britânica e Irlandesa de Quadribol, o Clube da Bexiga Oficial e a Seção de Patentes Absurdas."

O elevador parou, outro memorando saiu voando. Até que finalmente a grade dourada abriu-se para o saguão dos elevadores. Alguns pouquíssimos bruxos e bruxas saíam de outros elevadores encaminhando-se para os portões que levavam ao Átrio.

Ron e Hermione os acompanharam ainda de mãos dadas, logo, chegando ao Átrio, ao passar pela mesa do segurança, que os cumprimentou com um aceno de cabeça.

— Boa noite!

Hermione sorriu e Ron disse:

— Boa noite, Attias. Até amanhã!

O saguão do Átrio era longo e luxuoso. O casal caminhava sobre o escuro chão de madeira muito polido. Hermione nem se atreveu a olhar para o teto, pois sabia o que a esperava: azul, azul, azul, dourado, dourado, dourado. Nas paredes forradas com painéis de madeira lustrosa, havia as lareiras douradas, onde alguns bruxos entravam e desapareciam nas chamas verdes esmeralda.

O Sr. Weasley estava perto da fonte dourada, ao lado do neto que estava com uma cara de sono tão explícita, que quase desabava sobre os próprios ombros. A impressão que Hermione tinha era de que Hugo cairia no chão, adormecido, a qualquer momento.

— Boa noite, Sr. Weasley. — cumprimentou ela. — E obrigada por nos esperar. — Então se dirigiu ao filho. — Oh, céus, você está caindo de sono!

Despediram-se de Arthur, que entrou em uma lareira ao mesmo tempo em que eles. Logo, estavam na sala de casa — o Lar Granger-Weasley, como George dissera certa vez, em um dos raríssimos aniversários de Rose fora d'A Toca.

Coberta de cinzas, Hermione observou a própria casa enquanto Ron livrava-se da sujeira e Hugo subia a escada para ir se deitar. A sala de estar era simples e, em uma mesinha ao lado do sofá maior, que estava apinhada de porta-retratos, havia fotos onde os presentes mexiam-se incansavelmente. Rose quando era bebê, Hugo também, os dois abraçados quando tinham seus sete e cinco anos de idade; Hermione, Ron e Harry dando gargalhadas, no dia anterior ao regresso de Hermione a Hogwarts para cursar o sétimo ano. Ginny e Hermione grávidas — ironicamente, esse fato ocorrera duas vezes seguidas —; Albus, Rose, James e Fred jogando quadribol nos fundos d'A Toca.

Eram tantas lembranças congeladas no tempo, que tudo acabava por lhe soar estranho àquela altura.

Hermione, enfim, livrou-se totalmente das cinzas em suas vestes, com auxílio de magia, para ser mais rápida. Ron subiu a escada, foi até o quarto de Hugo, seguido por ela. Eles deram boa noite ao filho, fecharam a porta e voltaram à sala de estar.

Abaffiato — murmurou Ron sentando-se no sofá maior, de frente para a lareira. A esposa sentou-se ao seu lado, então ele perguntou: — O que você queria me falar, Mione?

— Hã... Bom, eu vou direto ao assunto, pois enrolar muito será pior... — começou ela, então lhe contou tudo, desde sua aproximação com Malfoy, no sexto ano, até o sonho que a fizera lembrar-se do que havia acontecido. — Ron, eu não sei se espero que você entenda... Nem eu mesma entendo. Peço desculpas por não ter dito nada sobre ele ser um Comensal da Morte, mas eu havia lhe dado a minha palavra. Além do mais, você e Harry tinham a mais absoluta certeza, revelar e não revelar aquele segredo daria no mesmo. Resolvi ficar calada, portanto.

Ela nem mesmo sabia que reação esperar de Ron, porém, com certeza, não era aquela. Ele ficou parado, estático, ouvindo o que a esposa dizia, fitando-a com aparente atenção e sem interrompê-la nem um segundo sequer. Hermione não conseguia decifrar sua expressão, até quando ele voltou a si, piscando os olhos rapidamente, parecendo confuso.

— Mas... como assim? — perguntou Ron, perplexo. — Você e o Malfoy...? Como... como isso chegou a acontecer, Hermione? Ele sempre fez de tudo para magoar você!

— Eu também não sei como tive coragem. — suspirou Hermione, olhando para o forro do sofá. — Lembro-me desse acordo... Foi o que nos aproximou, eu acho.

Ron resmungou carrancudo, para o ar.

— E por que ele se apagou da sua memória?

— Presumo que para eu seguir minha vida indiferente aos sentimentos dele. — disse Hermione. — É muito provável que seja isso. Tanto que, hoje, eu amo você, Rose e Hugo mais do que eu poderia imaginar ser capaz há mais de dezenove anos. — Ela sorriu para o marido, receando que ele estivesse ressentido de alguma forma com ela. — Pensando por esse lado, talvez eu deva até agradecer a Malfoy por ter me ajudado a esquecê-lo.

Hermione levantou-se e deu um longo bocejo.

— Eu vou dormir. — murmurou ela, ao pé da escada. — Você não vem?

— Agora não. — respondeu Ron, sem sair do sofá. — Vou jantar primeiro. Você não comeu nada, Hermione...

— Não estou com fome. Boa noite. — Hermione sorriu e subiu a escada.

Na manhã seguinte, Ron acordou cedo e, quando Hermione chegou à cozinha para tomar o café da manhã — havia algum tempo que ela tivera de desacostumar-se a receber café na cama, embora ele sempre fizesse esse tipo de coisa quando tinha tempo —, ele estava debruçado sobre a mesa, escrevendo rapidamente em um pergaminho.

— Bom dia. — disse, recebendo um suave beijinho na bochecha, dado pela esposa que estava com sua típica cara preguiçosa de antes do café da manhã. — Achei que fosse acordar mais tarde, senão teria levado o seu café...

— Que é que você está escrevendo aí? — perguntou Hermione, após um grande bocejo sonolento.

— Um bilhete. — Ela o olhou intrigada. — Para o nosso ex-colega preconceituoso, o Malfoy. — acrescentou Ron, resmungando com desgosto a última palavra.

A outra soltou um muxoxo, revirando os olhos. Então, puxou uma cadeira ao lado do marido, sentou-se e apoiou-se na mesa, colocando o cabelo para trás da orelha enquanto o fitava. Ele sentiu-se obrigado a retribuir o olhar, pois Hermione não sossegaria até que o fizesse.

— Ronald. — disse ela, firme. — Eu não preciso falar com Malfoy, não preciso de explicações. Estou bem assim. — Ron pensou em protestar, mas Hermione adiantou-se, como se tivesse adivinhado. — E você, tanto quanto eu, também não precisa. É melhor que ele nunca saiba do que houve ontem. Eu e você podemos muito bem continuar a nossa vida como antes... — O outro ia interrompê-la, então ela disse: — Podemos, sim. Além do mais, se alguém deveria escrever um bilhete para o Malfoy, este alguém teria de ser eu — Hermione pegou a varinha, apontando-a para o pergaminho apertado debaixo do braço de Ron. — Accio. — disse ela, fazendo-o ir direto para a sua mão; era o único jeito de fazer com que o marido o soltasse.

Quando ela o jogou na lareira acesa, Ron finalmente conseguiu protestar:

— Hermione, olhe o que ele fez. — lembrou-a. — Eu deveria tirar satisfações daquele cara.

Hermione levantou-se — estava agachada, assistindo às chamas enquanto tomavam conta do papel. De pé, diante de Ron, ela parecia significativamente baixa. Encarou-o de baixo, com os braços cruzados.

— Não muda nada, não para mim. — afirmou. — E, acho que eu ter lhe contado tudo apenas aumentou a sua raiva estúpida pelos Malfoy. Eu sei que você e seu pai têm seus motivos, embora, pelo menos o seu pai os tenha perdoado. Mas não há necessidade alguma de ir tirar satisfações com o Malfoy.

— Mas ontem à noite...

Hermione suspirou e cruzou os braços.

— Eu estava nervosa, confusa e cansada, Ron.

O outro se jogou no sofá, pensativo. Hermione sabia que Ron estava ponderando sobre o assunto, tinha certeza de que ele se daria conta de que ela tinha razão. O que a preocupava de fato era pensar que aquele antigo rancor só havia aumentado.

— Vamos acordar o Hugo? — Hermione estendeu a mão para Ron, que se levantou e passou o braço pelos ombros dela.

Juntos, eles subiram a escada.

***

— Me deixe dormir mais um pouquinho, mamãe. Por favor. — resmungou Hugo, sonolento, quando a claridade da janela aberta incidiu sobre seu cobertor, seu rosto e seus cabelos castanhos e levemente avermelhados.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, pois este capítulo finaliza a primeira fase da fic. É um negócio meio louco, mas é assim mesmo. No próximo, vocês conhecerão [de novo] a nossa Rose ♥
Então, até semana que vem!
Beijo.



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