Tal Mãe, Tal Filha escrita por Candidamente


Capítulo 2
Salvando um ao outro


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥
Bem, a ideia era postar depois de amanhã (06/10), mas adiantei antes que eu fique completamente atrapalhada com os trabalhos e provas dessa semana. Portanto, tivemos capítulo novo mais cedo.
Enfim, chega de enrolação.
Boa leitura ♥



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Quando a imagem entrou em foco novamente, Hermione estava mais uma vez na biblioteca, embora não estivesse fazendo dever algum e sim apenas lendo alguns dos livros mais antigos para distrair-se um pouco. No entanto, a leitura não era o único motivo pelo qual estava ali, havia também sua esperança de encontrar Draco Malfoy em algum lugar, tal que martelava em seu estômago, porém este não era um sentimento que ela gostava de admitir, nem mesmo para si própria.

Ultimamente, os dois acabaram estabelecendo certa ligação, embora, aparentemente ainda se desprezassem. Eles discutiam sempre, e começaram a se esbarrar com frequência, o que deixava Hermione muito irritada, pois Malfoy era excepcional em se tratando de grosserias. Impossível e imperceptivelmente, acabaram ficando mais próximos, sem nem ao menos saber se aquilo era bom ou ruim.

Eram raríssimos os momentos em que um se dirigia ao outro em verdadeira tentativa de conversa. Quando isso ocorria, eles conversavam aos sussurros, para que Madame Pince não os ouvisse. Nesse meio tempo, Hermione acabou percebendo que Malfoy estava afastado dos antigos amigos — ou capangas — e, embora soubesse que ele estava aprontando alguma coisa e que Crabbe e Goyle o estavam ajudando, não mencionava o assunto, com medo de acabar traindo Harry ao falar o que não deveria.

Harry e Ron não sabiam das conversas entre Hermione e Draco na biblioteca e, se dependesse dela, jamais saberiam. Hermione manteve a palavra e não contou a ninguém sobre a Marca Negra no antebraço do colega — ele também parara com os insultos, como prometera —, embora Harry já tivesse certeza de que Draco era um Comensal da Morte.

Hermione estava muito entretida com um dos livros quando Draco chegou e sentou-se ao seu lado. Ela o encarou intrigada, afinal, que diabos ele estava fazendo ali, na biblioteca, ao lado dela, sem livro algum?

— Er... Bom dia? — arriscou ela, tentando entender a situação.

— Já passa do meio-dia, Granger. — afirmou o outro. — É boa tarde.

— Ah, então... hã... Boa tarde.

— Boa tarde para você também.

Hermione arqueou uma sobrancelha.

— Devo considerar digno de perplexidade o seu inusitado bom-humor? — indagou ainda intrigada.

— Na realidade, eu não sei. — desabafou Draco, baixinho. — Talvez eu queira conversar civilizadamente com você... Talvez eu não ache que você é tão nojenta assim... Eu estou cumprindo o trato, como você deve ter percebido.

— Sim, Malfoy, eu percebi.

Um sorriso fraco e raro rascunhou-se nos lábios de Draco.

— Eu apenas quero ter uma conversa civilizada com a única pessoa que me dirige a palavra com educação além de Crabbe, Goyle, Zabini e Pansy. — sugeriu ele, arqueando as sobrancelhas concludentemente e cada vez baixando mais o tom de voz.

— E você vai cumprir o acordo ainda mais à risca.

Draco revirou os olhos.

— Eu não sei se você se deu por conta — disse, agora quase sussurrando. —, mas eu estou cumprindo o acordo muito bem.

— Certo, eu percebi a mudança, sim, Malfoy. — falou Hermione. — E você está me assustando. Mas acho que se quer conversar, mesmo sendo estranho vindo de você... Não há problema.

Ela tentou sorrir e a cena mudou, agora Hermione estava no fundo da biblioteca, indo em direção a uma mesa afastada onde Draco estava claramente concentrado em um daqueles livros da seção reservada nos quais ela o vira pesquisando certa vez.

Havia no mínimo um mês que os dois vinham conversando mais e sem afrontas. Pelo menos, durante todo aquele tempo, Draco estava mesmo cumprindo sua palavra. O que era um alívio, pois, embora Hermione não deixasse transparecer, os apelidos grosseiros a ela dirigidos magoavam-na de maneira imensurável. E ela tinha certeza que estes eram mencionados especialmente para tal.

Draco era o único aluno que Hermione sempre encontrava na biblioteca durante os intervalos, no entanto, ela não tinha ideia do que ele fazia quando não estava ali ou quando faltava às aulas, e também não achava que fosse conveniente perguntar sobre o assunto. Ela já duvidava de Harry acerca de sua certeza absoluta de que Draco estava aprontando alguma coisa; sabia que não deveria acreditar e muito menos confiar em Draco, porém suas atitudes a estavam convencendo de que ele era apenas um adolescente normal e um pouco perturbado.

E ainda havia a desconfiança de Harry, que estava totalmente convencido que o colar que fizera com que Katie Bell tivesse de ser internada no Hospital St. Mungus para doenças e acidentes mágicos, fora amaldiçoado pelo próprio Draco. E, embora Hermione não conseguisse acreditar que um aluno do sexto ano fosse capaz de usar uma maldição daquele porte, jamais mencionaria o assunto com o principal suspeito. Afinal, se ele era um Comensal da Morte...

De repente, Malfoy desviou os olhos dos livros, viu que Hermione estava vindo e, imediata e calmamente guardou a maioria dentro da mochila com um aceno de sua varinha. Assim, pegou um pergaminho e uma pena e começou a escrever. A biblioteca estava tão silenciosa que de onde Hermione estava, podia-se ouvir o ruído da pena arranhando o pergaminho.

— Posso me sentar? — perguntou ela quando chegou à mesa de Malfoy.

Ele levantou os olhos, seu rosto era completamente inexpressivo. Ou talvez apenas Hermione que não conseguia decifrá-lo. Assentiu, então ela puxou a cadeira e sentou-se, colocando a mochila sobre a mesa e retirando seus pergaminhos e livros; imediatamente começou a revisar o pergaminho de sessenta centímetros que tinha de entregar na próxima aula de Aritmancia, que seria na segunda-feira, ou melhor: no dia seguinte. Todos os outros deveres de Hermione já estavam revisados, prontos e, como ela esperava, excepcionais; por isso nem se atrevia a revisar novamente, com medo de decepcionar-se, pois não havia tempo para refazer tudo.

— Cancelados. Todos os passeios a Hogsmeade cancelados. — murmurou Malfoy que, com certeza não havia lido isso em seu pergaminho. Ele desviou os olhos para Hermione. — Granger — Ela o fitou, colocando uma mecha da cabeleira cor de chocolate para trás da orelha. —, você não iria querer ir comigo mesmo, não é?

A garota riu, largando a pena e apoiando o queixo no punho direito.

— Na melhor das hipóteses — disse ela. —, Harry e Ron nunca mais falariam comigo e Parkinson iria colocar minha cabeça a prêmio. Você ainda tem dúvidas de que eu obviamente recusaria o seu convite?

— Oh, Srta. Granger, perdoe a minha falta de raciocínio lógico. — replicou Malfoy, com sarcasmo iminente na voz.

Hermione soltou um muxoxo de riso, voltando ao dever de Aritmancia.

Os dois passaram um tempo em silêncio, concentrados em suas penas, pergaminhos e tinteiros; novamente, ouvia-se apenas o barulho das penas arranhando os pergaminhos. Quando estava no fim de sua revisão — que a fez concluir que, se revisasse aquele pergaminho mais uma vez, surtaria; três vezes seguidas desde o dia em que lhe fora solicitado o dever já era mais do que suficiente —, Hermione aprumou-se na cadeira e observou o colega à sua frente que, aparentemente não notou.

Ela percebeu o quão estranho era vê-lo curvado sobre aquela mesa e todos aqueles pergaminhos que agora ali estavam espalhados. Seus cabelos não estavam "lambidos" para trás como sempre e os fios que lhe caiam no rosto faziam com que ele perdesse completamente a elegância que sempre tentava transparecer a todos. Malfoy, daquele ponto de vista, nem aparentava ser tão arrogante como costumava ser; não era a expressão contraída enquanto ele tentava entender alguma coisa em um parágrafo qualquer de um de seus livros de transfiguração, mas o desleixo. Não como uma coisa descomunal, obviamente. Hermione tinha certeza de que nunca veria um Malfoy desleixado de verdade.

Porém Draco, sem a capa, sem o suéter, com a gravata meio solta, sem ostentar o brasão da Sonserina no peito, apenas com aquele brilhante distintivo de monitor — que, por acaso, Hermione tinha igual —, perdia totalmente a pose. Aquela do início, de quando ele a chamou de sangue-ruim no segundo ano e tantas outras vezes, ou quando ele tentava parecer melhor que todos.

Malfoy levantou os olhos, reparando que Hermione o observava atentamente. Ele sorriu e arqueou as sobrancelhas com expressão de riso. E aquela foi a primeira vez que Hermione reparou em seus olhos: eram como prata derretida ou até mesmo... as cinzas de uma lareira há muito apagada.

— Apaixonada, Granger? — debochou ele, fazendo as bochechas da garota queimarem.

Assim que ela voltou a si, revirou os olhos e disse:

— Calado, Malfoy.

O outro riu, acostumado com aquilo. Então Hermione voltou ao seu pergaminho e terminou, enfim, o último dever que faltava. Não sairia dali tão cedo; Harry estava com Ron, com certeza, e ela não estava com o estômago forte o suficiente para presenciar mais uma daquelas cenas típicas de Lavender e o namorado bobalhão. Então apanhou um dos livros de Feitiços de dentro de sua mochila e tentou prestar atenção em ao menos uma das páginas, no entanto, por mais que tentasse, ela não conseguia.

Portanto levantou-se para pegar um livro qualquer e tentar ler na mesma hora em que Malfoy parecia dar por terminados os deveres ou o que fosse que estava fazendo.

— Ei, Granger, espere... — ele segurou o braço de Hermione quando ela ia em direção a uma das estantes apinhadas. A garota virou-se para encará-lo, percebendo que eles estavam... próximos demais.

— Que é que você quer? — perguntou ela, soltando-se do braço de Malfoy e piscando os olhos duas vezes, rapidamente.

— Seria problema... hum... se eu te beijasse agora? — A pergunta soou como se não fosse um absurdo, porém era um grande absurdo.

Hermione arregalou os olhos, abismada. Sua racionalidade veio à tona e ela começou a falar.

— Seria. Claro que seria! Malfoy, você está louco ou o quê? De onde você tirou essa ideia? — Ela falava rapidamente, provavelmente enrubescida, gesticulando nervosamente com as mãos. Tinha a sensação de que Malfoy não estava conseguindo acompanhar suas palavras. — É óbvio que seria problema se voc...

Ela não teve nem tempo de relutar. Não gostava de ser interrompida, mas Malfoy tinha os dois braços envoltos firmemente em sua cintura e os lábios colados aos seus, como se aquilo dependesse de sua vida, o que não era bem assim, Hermione pensou, talvez até o contrário.

A garota estava sem reação, porém, ela correspondeu, pondo todo o seu senso de racionalidade no lixo.

Argh! — Hermione empurrou Malfoy, soltando-se de seus braços. — Por Merlin, por que você me beijou, Malfoy?

— Ora, porque tive vontade! — riu-se ele. — Você correspondeu a mim, Granger. — Hermione sentiu as bochechas queimarem novamente, ainda mais forte.

— Humpf. Cale a boca, Malfoy. Eu jamais iria querer beijar você.

— Você não sabe mentir. — concluiu Malfoy, sacudindo a cabeça. Então Hermione sacou a varinha e fez com que seus pertences voltassem à mochila, que veio flutuando e fechada até a dona.

A garota atravessou-a no tronco e virou-se para sair da biblioteca. Porém, antes que ela pudesse dar três passos, Malfoy praticamente deslizou à sua frente, segurou sua face delicadamente e beijou-a novamente. Ela quase relutou, então levou a mão à varinha, mas o garoto segurou seu braço com a mão livre, depois desceu esta para a mão de Hermione, segurando-a.

Desta vez, eles soltaram-se apenas quando o ar rareou. Então Hermione, nervosa, de olhos arregalados e completamente vermelha, saiu praticamente correndo da biblioteca, sem olhar para trás.

Ela só conseguia pensar que não sabia o que aquela coisa queimando em seu peito, como um Rabo-córneo Húngaro soltando fogo pelas narinas, estava fazendo lá dentro. Hermione não queria admitir de maneira alguma, mas havia acabado de fazer a descoberta que ela sabia que mudaria tudo: o quão prazeroso era o beijo do inimigo.

E quando parou, olhou para trás, tocou os lábios e um sorriso relutante surgiu em seu rosto, o corredor da biblioteca transformou-se na própria biblioteca, novamente, embora semanas depois. Era noite, nos últimos dias de neve daquele inverno e havia um contraste branco nos parapeitos das janelas do ponto de encontro de um Comensal da Morte e uma futura membra da Ordem da Fênix, que tentava não cair no abismo que encurtava a distância entre os dois.

— Malf... Draco. — insistia ela, sussurrando. — Isso não dará certo. Eu tenho certeza, nós não podemos ficar juntos, você sabe disso! Além do mais, uma guerra se aproxima... — Hermione interrompeu-se, baixando os olhos para o próprio colo.

E nós teremos de lutar um contra o outro... — repetiu Draco. A garota já havia dito a mesma coisa três vezes só naquele dia. — E daí? Se nós dois continuarmos vivos, já é um avanço.

— Pelas barbas de Merlin! Não diga isso! — As mãos de Hermione tremiam violentamente; ela queria, sentia-se tentada, porém não podia deixar a razão de lado mais uma vez. — Eu... eu... não posso. Não posso largar tudo e ficar com você, Draco. Definitivamente não. Nós dois sabemos o quanto nos aproximamos nos últimos meses... Eu não queria gostar de você. Isso está acontecendo completamente contra a minha vontade. É inevitável. E isso me irrita, está me corroendo de dentro para fora! — Ela hesitava, e cada vez tremia mais.

Draco a ouvia atentamente, crispando os lábios. Calmo, ele a fitava com as duas íris de prata.

— Hermione, você sequer parou para pensar que eu não estou melhor do que você? — indagou ele. — Talvez eu esteja até bem pior, considerando o que eu terei de fazer... — Draco interrompeu-se.

— Sim, eu parei para pensar sobre isso! Porém não há escolha. O que você terá de fazer?

— Quer saber? Você tem razão, nós não deveríamos estar confraternizando com o inimigo. — disse, ignorando a pergunta. — E por mais que eu não queira, temos de dar um fim nessa história, não é mesmo?

— Você vai responder à minha pergunta ou não? — insistiu Hermione.

— Não. — falou Draco, sério. — Vá. Pode ir. Você acha que não podemos ficar juntos, e está certa. Eu atuarei bem fingindo que nunca senti nada por você nem... Hermione — A garota o encarava, as lagrimas começavam a brotar devagarzinho, mas ela tinha certeza de que não eram perceptíveis, pois não as deixaria rolar. —, volte para a Grifinória agora, por favor.

Ela estendeu os braços para abraçá-lo, levantando-se. Ele levantou-se também e aproximou-se da amante, apertando-a firmemente contra seu peito enquanto a erguia em seus braços. Quando os pés de Hermione foram devolvidos ao chão da biblioteca iluminada pela luz de fracas velas, ela foi roubada do mundo por um beijo demorado, que quase a fez desistir da ideia inicial.

Draco soltou-a, relutante. Eles se fitaram por dois segundos antes de Hermione finalmente falar.

— Bem, esse não será exatamente o adeus, não é? — Ela mordia, ansiosa, o lábio inferior. Eles estavam encurtando ainda mais o minúsculo tempo que ainda lhes restava juntos.

— Eu não sei. — disse Draco, sacudindo a cabeça, com os lábios novamente crispados. — Vá para a sua sala comunal, Hermione. Dê um fim nisso de uma vez, você está me deixando nervoso.

— Tudo bem. Er... tchau. — despediu-se Hermione, com a voz embargada. Ela queria sentir-se forte, mas era difícil.

Ele ficou em silêncio, mas ela engoliu as lágrimas e a mágoa de saber que os dois estavam se abandonando ali e andou para sair da biblioteca. Ouviu um sussurro chiado por cima de seu ombro e sentiu o hálito quente de Draco chocar-se com sua bochecha direita. "Ficaremos melhor assim, não é mesmo?", silêncio. "Eu te amo, Hermione."

Hermione virou-se de súbito, porém ele já tinha a varinha apontada para ela. A última coisa que a garota ouviu antes de limpar as lágrimas e querer gritar que ele não fizesse aquilo, pois não estava no combinado e não era para ser assim, foi o feitiço da memória — não tão poderoso quanto o Obliviate, mas que ela conhecia bem — murmurado por Draco, que estava sucumbindo em lágrimas lentamente. Então tudo se apagou.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Sempre lembrando que estou totalmente aberta a criticas construtivas u-u

Sobre o próximo capítulo, só posso garantir que sai semana que vem, sem dia certo, o.k.?
Beijão e até logo!



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