Eu, Ryan, que em toda a minha vida havia tentado ajudar a todos não podia crer que a única pessoa que eu realmente amei havia feito isso. Sophie havia me abandonado para sempre. Abracei o seu corpo que repousava inerte no chão do que anteriormente era um campo de batalha, tentando fazer com que a minha amada acordasse. Independentemente de meus esforços, Sophie permanecia inanimada, com um sorriso sonolento em seus, como se estivesse dormindo. Chorei, não me deixando convencer de que tudo estivesse acabado.

Era injusto que eu tivesse lutado em nome do Céu por tanto tempo para que isso ocorresse. Era injusto que eu não pudesse ter o meu “felizes para sempre” por causa de uma maldita profecia. Era injusto que tivéssemos passado tão pouco tempo juntos antes de seu descanso final. Tudo era injusto nessa situação.

Senti uma mão em meu ombro, em um leve carinho. Eu não queria me levantar, eu não queria mais viver. Não se ela não estivesse ao meu lado.

— Ryan, você tem que se levantar – Faith chorava – os anjos estão esperando por seu comando.

Com muito esforço me levantei. De cabeça baixa e incapaz de dizer palavras reconfortantes para aqueles que seguiram minhas ordens por tanto tempo, somente disse:

— Muito obrigado por seu apoio durante a guerra, mas eu não consigo nesse momento expressar tudo o que vocês devem ouvir. Por isso, passo a palavra para Miguel e espero que vocês me perdoem.

O corpo de Sophie havia sido retirado de onde se encontrava e colocado em um caixão de vidro, onde seriam feitos os ritos finais de sua morte. Incapaz de lidar com aquilo no momento, saí andando sem rumo até parar diante da sala do Trono, lugar em que não podíamos entrar. Ajoelhei-me em frente a porta e passei a pensar em todos os momentos que passamos juntos, amaldiçoando quem quer que tivesse criado a profecia. De repente ouvi uma voz grave soar aos meus ouvidos:

— Ó meu leal anjo, o destino cumpre seu papel não importando a vontade dos outros. Sua amada nasceu com seu futuro definido e nada poderia impedi-la de cumpri-lo.

Olhei para cima e, apesar de a porta permanecer fechada, pude sentir que o Senhor me observava.

— Eu entendo isso, porém não posso deixar de sentir a sua falta. Apesar do pouco tempo que passamos juntos eu acabei desenvolvendo um sentimento por ela que nem sua morte foi capaz de destruir. Eu estou completamente perdido, como se uma grande parte de mim houvesse morrido junto com ela. Eu sinto que nossas almas se conectaram ao ponto de não podermos mais viver separadamente.

— Ryan, quero que vós recordais que anjos são imortais antes de tomar qualquer atitude precipitada. Além disso quero vos dizer que sei como vós sentis e sinto muito por vós estais passando por isso. Infelizmente não há muito que eu possa fazer por vós. A morte não pode ser enganada, pelo menos não por um mortal.

Suas palavras despertaram algo dentro de mim e eu me lembrei:

— Sophie não era mortal! Por ser a Escolhida ela não nasceu como uma humana normal!

O Senhor pareceu ponderar minhas palavras por um instante e por fim respondeu:

— É certo que sua Sophie não era uma humana normal, mas isso não a tornou imortal. De fato, a sua alma pode ser considerada imortal, porém o seu corpo sempre foi sujeito a todas as provações que pudessem surgir.

— Mas se a alma de Sophie é imortal o Senhor não pode fazer nada para me ajudar? Eu estou desesperado, por favor considere tudo o que fiz em Seu nome antes de me responder.

— Ordeno que nunca mais faleis tais palavras novamente. Eu criei a todos vós anjos e posso muito bem acabar com todos vós, mesmo que esta não seja minha intenção. Irei relevar neste momento em nome de vosso sofrimento, mas que isso não se repita. Respondendo à sua pergunta: há sim algo que eu possa fazer, porém é algo extremamente perigoso e difícil, nunca realizado anteriormente.

— E o que seria isso? Quais são os riscos? Eu farei o que for preciso.

— De vós não será preciso nada, porém eu necessito da alma imortal de Sophie. O corpo mortal da garota está vazio neste momento e sua alma se encontra a caminho da reencarnação, mas para trazê-la de volta a vós do jeito que ela era eu preciso sacrificar a sua alma e ela pode nunca mais voltar à vida.

— Como assim? Eu não estou Lhe entendendo.

— Eu posso fazer com que o corpo de Sophie se torne imortal, virando um anjo como qualquer um de vós. Só que para isso se tornar uma realidade eu preciso da alma da garota. Entretanto, se o procedimento não der certo há a possibilidade de sua alma se perder para sempre. Vós estais disposto a isso?

— Sim, eu preciso de Sophie ao meu lado e farei o que for necessário para isso.

— Nesse caso eu vou ordenar que seu corpo seja trazido à minha sala e, dentro de algumas horas, Sophie deverá estar começando sua vida eterna.

— Muito obrigado, Senhor.

Eu não podia acreditar no que havia acabado de acontecer. Eu não imaginava que o Senhor podia fazer isso, eu poderia ver a minha garota novamente! Sorri e fui procurar Faith para compartilhar a notícia.

Algumas horas mais tarde, todos os anjos foram reunidos no jardim em frente à biblioteca. Todos se encontravam confusos até que as portas do prédio foram abertas, revelando uma pessoa. Sophie caminhava com suas novas vestes angelicais no meio da multidão enquanto todos a olhavam abismados.

Incapaz de me controlar, corri em sua direção e a peguei no colo, beijando-a apaixonadamente no meio de lágrimas de alegria. Nos afastamos enquanto a multidão batia palmas. Agradeci ao Senhor pela dádiva que ele me concedeu. Eu sabia que tudo seria diferente, mas eu estava disposto a qualquer mudança em nome do meu amor. Eu não poderia estar mais feliz. Eu estava completo novamente.