Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 21
Verso 20: We Are Bulletproof pt.1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo do ano! Yay!!! o/
Espero que todos vocês tenham passado um ótimo ano novo e que só coisas boas venham por aí!
A começar pelo meu tão falado capítulo favorito.



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Sam P.O.V.

Uau. É a primeira vez que eu vou num parque de diversões tão grande. Isso é incrível! Tudo é tão colorido... É um mundo diferente.

Quem sabe eu possa ser feliz aqui.

– O Lotte World é legal, não? – Comenta Jin. – Tem parques maiores e melhores, mas esse está bem perto. Acho que dá para o gasto. – ele ri.

– Parques melhores do que esse? Esse já não é bom o suficiente?

Enquanto conversamos, passamos por um minicastelo! Isso está realmente acontecendo? Aqui parece mágico... É como se eu respirasse magia em vez de ar.

– Tem o Everland, que é bem maior... – Jin se interrompe. – Gostou desse castelo?

– Caramba! Eu nunca vi algo assim! Isso tudo aqui é maravilhoso! É como se eu entrasse num livro de contos de fadas!

– Não têm parques de diversão no Brasil?

– Têm, mas na minha cidade não.

– Ei, espere um pouco aqui.

Jin me deixa logo em frente ao castelo quando corre na direção oposta dos outros. Ele não precisava nem pedir para que eu ficasse aqui. As paredes de tijolos beges, os telhados azuis, cada sacada, cada entalhe... Cada mínimo detalhe desse castelo é perfeito. Não consigo mais esconder o quão maravilhada estou com isso tudo.

Ele volta, mas não avisa. Apenas sorri:

– Diga xis!

Viro meu rosto imediatamente. No fundo, apenas há o Rap Monster tirando foto de nós com o celular. Logo ele vem em nossa direção querendo mostrar como ficou a foto. Jin posou com seus dois dedos (tortos) ao lado do rosto. Já eu saí apenas olhando para câmera, cabelos ainda ao vento, com a minha cara de espanto. Até que a foto não ficou tão ruim assim.

Finalmente, atravessamos o castelo, que é apenas o portal para tudo mais que nos espera. Por todos os lados, há cartazes das mascotes do parque. As pessoas passam por nós, mas nem nos notam. Claro! A maioria são casais tão afogados um no outro que nada mais importa; ou são crianças vivendo o dia mais feliz de suas vidas. Talvez eu seja uma também. Há poucas pessoas por aqui. Já passaram das 16 horas de um dia de semana, então os brinquedos quase nem tem fila.

– Que nostalgia, né, Jin? A gente veio aqui antes de estrear, todos de preto! – Rap Monster ri com suas lembranças. – Nós já chegamos até a nos apresentar aqui depois, mas não a mesma coisa que vir assim.

Por um segundo, minha atenção se desvia para uma borboleta atrapalhada que tenta sair de uma teia de aranha numa das plantas ornamentais. Não é igual àquelas borboletas azuis do telhado do meu colégio, mas continua sendo importante para mim. Olho para o céu e entendo seu desespero: vai chover.

Deixo os dois conversando e vou salvar a borboleta. Com cuidado, me agacho e começo a partir cada um dos fios a fim de libertá-la, porém, com a minha chegada, ela se assusta, debatendo-se contra a teia e pendendo-se mais ainda.

– Calma, calma! Eu não vou te fazer mal

Nessas horas, eu queria ser que nem o V, mas eu não tenho o menor jeito com animais. Quando eu vou cortar um dos fios sinto um certo peso – e não é da borboleta! A uns 10 cm de distância, uma aranha um pouco grandinha demais avança na direção da minha mão. Eu quero salvar uma borboleta, mas não quero ser picada no processo!

Quero desistir da minha missão de salvamento agora! Eu quero largar tudo isso e lavar as minhas mãos! Mas eu estaria matando esta borboleta. Não vou deixa-la para trás. Isso seria como abandonar a mim mesma.

Como eu posso libertá-la o mais rápido possível? Se eu cortar todos os fios de uma vez, posso acabar ferindo-a, suas asas são muito frágeis. O melhor deve ser continuar partindo fio por fio, mesmo que isso dê tempo para a aranha chegar perto de mim.

Parece que Jin e Rap Monster finalmente deram pela minha falta e voltaram.

– O que você está fazendo? – Rap Monster pergunta

– Salvando uma borboleta.

– Ah! Nossa, ela é tão pequena! Você deve ter bons olhos para percebê-la.

Eles continuam falando alguma coisa, mas eu não consigo prestar atenção. A aranha se aproxima cada vez mais e eu não posso me desesperar ou acabarei ferindo as asas do pobre inseto. Depois de eu tê-lo afastado algumas vezes, o aracnídeo parece ter criado uma nova estratégia: em vez de usar as teias já existentes, ele tece uma a partir de um ramo acima da minha cabeça, a fim de chegar na borboleta por cima.

Respire, Sam. Você não pode fazer movimentos bruscos, ou quem sofrerá é a presa dela. Mas ela está se aproximando do meu rosto...

Que ela não seja venenosa. Que ela não seja venenosa. Que ela não seja venenosa. Que ela não seja venenosa. Que ela não seja venenosa. Que ela não seja venenosa.

Tirem essa aranha de perto do meu rosto. Tirem essa aranha de perto do meu rosto. Tirem essa aranha de perto do meu rosto. Tirem essa aranha de perto do meu rosto. Tirem essa aranha de perto do meu rosto.

Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro. Socorro.

– Ai meu Deus, isso é uma aranha? – Jin finalmente percebe.

Sem hesitação, Rap Monster avança a mão para a teia que a prende. Por favor, não! Ela vai cair em cima de mim! As palavras não saem da minha boca. Eu estou com muito medo. Pelo tamanho, ela deve ser venenosa. E se eu tive que ir para o hospital de novo? E se eu causar problemas para eles? Tudo isso por causa da minha esperança idiota...

Se eu fosse um pouco menos egoísta, talvez as pessoas gostassem de mim.

Bem diante dos meus olhos, ele agarra a aranha e a desprende do fio. Mesmo que ele não a segure com força - nem mesmo com a mão fechada - sua rapidez foi tão assustadora que cerrei os olhos assim que se aproximou. Abro os olhos lentamente ao espiar do canto do olho: Rap Monster, com toda a calma que lhe foi dada, pousa a aranha numa planta próxima. Você não tem medo dela ser venenosa?

– Quer ajuda?

Assinto com a cabeça, as palavras ainda me faltam. Agora percebo: durante todo esse tempo, a minhas mãos tremiam um pouco, não apenas pelo frio. Os dois se aproximam e começam a partir os fios.

– Cuidado! – Advirto. – Se vocês puxarem a teia com muita força, podem acabar machucando ela!

Dito isso, eles começam a agir com mais cuidado e delicadeza, mesmo que esse não seja o forte do Rap Monster.

– Por que você está fazendo isso? – O mais velho pergunta.

– Vai chover. Se ela ficar aqui, presa, ela vai morrer. Também tinha a aranha que iria matá-la.

– Entendi.

– Melhor eu fazer outra coisa para ajudar, antes que eu rasgue as asas da coitada! – Rap Monster de repente tira seu casaco e o estende acima de nós. – Assim ela não vai morrer, não é?

Não dá mais para esconder a minha felicidade. Eles, mesmo não sabendo o motivo de eu estar fazendo isso tudo por uma borboleta, me ajudam. O motivo não importa, desde que isso seja importante para mim, eles me ajudarão.

É a primeira vez que alguém faz algo assim por mim.

– Obrigada.

– Hã?

– Obrigada por me ajudarem.

Os céus devem estar ao meu lado, já que começa a chuviscar assim quando meus olhos ameaçam alagar uma cidade inteira. Eu estou muito feliz. Isso... Isso é tudo tão precioso. Se por um momento eu pudesse esquecer tudo o que me aguarda no Brasil. Isso é tudo um sonho com prazo de validade. Vai acabar uma hora ou outra. E eu não vou passar de alguém com quem eles trabalharam por um mês. Com sorte, serei considerada uma boa lembrança, uma garota legal talvez.

Nada perto da profunda marca que todos eles já deixaram na minha vida.

Finalmente conseguimos libertar a borboleta! Ainda faltam alguns fios presos a suas asas, mas já conseguimos salvá-la do perigo. Agora só nos resta ir para a parte fechada do parque. “Maior parque indoor do mundo” uma placa anuncia. Antes de entrarmos definitivamente no parque, recosto-me na parede bem na porta e sento no chão. Não tem muita gente passando por aqui, então não deve ter problema.

– Não prefere sentar lá dentro? – Jin se preocupa. – Lá tem aquecedores.

– Aqui é melhor. É a primeira vez que eu venho num parque de diversões desse tamanho. Seria um desperdício se eu não memorizasse cada detalhe daqui.

Por um tempo, o único som entre nós é o das gotas de chuva, caindo, estilhaçando-se no chão, partindo-se em mil pedaços. Uma, duas, várias. Sem pássaros, sem insetos. A chuva tomou conta do show. Cada gota, uma nota, uma sutil harmonia para os meus ouvidos. Não sei se o que sinto é paz ou uma tênue melancolia.

Jin e Rap Monster absorvem o que eu disse, em silêncio na sua calmaria. Logo eles me acompanham nessa navegação por entre o parque, encharcando-se com esse mesmo sentimento.

– Namjoon, você não teve medo daquela aranha ser venenosa? – pergunta Jin, sua voz serena e calma acompanhando a sinfonia da água.

– Não. Aquela aranha era de uma subordem que não possui um veneno muito forte. Só iria doer um pouco se ela me picasse. E dói menos levar uma picada na mão que no rosto – ele sorri para mim.

– Obrigada – retribuo.

Minhas mãos trabalham em tirar os fios que restaram das asas da borboleta que repousa na minha palma, no entanto minha atenção transita entre ela, o parque e os garotos. Num desses escapes da minha tarefa, percebo algo na expressão deles. Eles querem perguntar, mas tem certo receio. Isso os intriga, porém, por já serem adultos, ficam calados, mesmo que a curiosidade juvenil ainda esteja presente em seus semblantes. Não vou deixá-los agonizarem sobre isso por mais tempo.

– Quando eu era criança, - começo a explicar – eu era muito tímida, não conversava muito com os outros.

Na verdade, eu não era tão tímida assim. Os outros não queriam conversar comigo.

– Vivia sozinha no recreio, tomando coragem para falar com os outros.

Tomando coragem para enfrentar os outros.

– Então eu me sentia solitária sempre.

Eu me sentia solitária sempre.

– Mas, certo dia, surgiu uma borboleta azul que insistia em me perseguir. No recreio, na hora da saída, ela sempre estava lá. Ela era minha melhor amiga.

Ela era muito importante para mim.

– Eu sabia que a cada dia era uma nova borboleta, porém me forçava em acreditar que era aquela minha mesma velha amiga de sempre. Até hoje eu não sei se era só coisa de criança ou era verdade, mas essas borboletas pareciam tem alguma coisa comigo. Elas voavam ao meu redor, ficavam ao meu lado, sempre.

Sempre...

– A vinda delas trazia felicidade aos meus dias. Aquele azul brilhante me perseguia tanto que virou a minha cor favorita. Até que um dia eu encontrei uma dessas borboletas à beira da morte. Juntou-se uma roda de pessoas para observá-la sofrer, agonizar no chão sem fazer nada para ajudá-la. Asas rasgadas, o pior castigo para uma borboleta. Talvez até pior que a morte... Não pensei duas vezes: afastei todos do caminho e aproximei dela um pedaço de papel, para que ela subisse. E assim o fez. Corri para da planta florida mais próxima, mesmo que para isso eu tivesse que atravessar a escola inteira. Com cuidado, coloquei-a na flor de seu túmulo, na minha vã tentativa se prolongar sua vida. Era o mínimo que eu deveria fazer para agradecer.

Agora, tenho certeza: a melancolia se apossou de mim. A chuva, lágrimas de uma borboleta que morreu sem suas asas.

– Desde então, elas ficaram muito tempo sem aparecer. Só há poucos anos atrás elas voltaram.

Eles sempre voltam. Elas sempre estão lá quando eu preciso. Elas sempre sabem quando estou triste, quando preciso delas.

Elas são borboletas e são mais humanas do que nós.

– Por causa disso tudo, quando vejo uma borboleta, sinto que nela há um pouquinho das minhas esperanças, dos meus sonhos, da minha paixão. Deixar uma borboleta morrer seria matar uma pequena parte de mim mesma. É, eu sei, soa bobo... Mas, borboletas são pétalas de almas que aprenderam a voar. Elas são a minha esperança. É um tipo de “eu acredito em fadas”.

– Qual é o problema em acreditar em fadas? – Jin sorri. – Elas existem!

– O que vocês estão fazendo aqui?

Ai, meu Deus! Não me mata do coração! Suga! Avise quando chegar! Já não é a primeira vez que ele faz isso... Ainda me recupero do susto quando Suga continua:

– Eu estava procurando por vocês. Todo mundo já está lá dentro! E por que vocês estão todos molhados?

– É uma longa história... – suspira Rap Monster.

Eles se levantam aos poucos, quase relutantes. Um a um, eles atravessam a porta em direção ao parque. Só eu fico. Ainda tenho que arrumar um vaso de flores para deixar a minha amiguinha, agora livre de todos fios que a prendiam. Por sorte, há algumas flores decorando essa entrada. Derramo a borboleta às raízes da planta. Desta vez, esse não será seu túmulo.

– É bonita. – Surge Suga ao meu lado. De novo!

– Hã?

– A borboleta – ele faz uma pausa. – Borboletas são apenas borboletas. Nós que trazemos todos esses sentimentos bons a elas. Somos nós que damos valor às coisas. Essa é a essência do ser humano: se apegar demais...

– O que você quis dizer com is- Atchim! – o espiro me interrompe.

– Você não cuida bem da sua saúde. É por isso que continua sendo uma amadora – ele brinca, eu acho... - Vamos entrar logo.


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Notas finais do capítulo

Como já disse antes, esse foi o capítulo que mais gostei de escrever (até agora). Espero que possam ler o carinho em cada palavra. Afinal, esse é o meu presente de Natal (atrasado) para vocês. Se quiserem saber mais sobre esse capítulo, expliquei tudo no post de Natal: https://www.facebook.com/InvisiveisComoBorboletasAzuis/photos/pb.579275662211669.-2207520000.1451371545./587593074713261/?type=3&theater

Mais uma vez, obrigada a todos!