Étreser escrita por LittlePercy, Rosalie Potter


Capítulo 6
6. Nota mental: nunca mais empurrar meu inspetor crocodilo


Notas iniciais do capítulo

~ Percy ~
* renascendo das cinzas do mundo dos vestibulares pt. 2, o ataque do ENEM *
Ahá! Se não sou eu novamente. Já fazem o quê? Seis meses desde o último capítulo? Eu estou ficando bom nisso, da última vez havia sido um ano ou algo do tipo XD.
Enfim. Agora eu estou de férias até as aulas da faculdade começarem (eu ouvi um amém?) e vou ter muito tempo ocioso. Sabe o que isso significa? Siiiiim, a fic vai andar muito nesse fim/ começo de ano. “Ah, Percy, mas você disse a mesma coisa no último capítulo”. Talvez eu tenha dito, talvez tenha sido meu gêmeo do mal. A questão é, eu realmente estou de férias agora. Então podem se aconchegar que o enredo vai deslanchar (isso e algumas surpresinhas). Logo, eu vou precisar de um Feedback de vocês pra ir medindo o rumo da história, então sintam-se à vontade nos comentários. *comentempelamordeDeus*
No mais, espero que vocês gostem do capítulo, esse ficou meio curtinho, mas gostei do ritmo dele.
~ Abraços azuis



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/648729/chapter/6

VI                                                                                              Tyrion

Uma gota de suor escorreu enquanto vislumbrava os tons alaranjados do pôr-do-sol sobre o alto da colina verdejante ao norte do Palácio.

Draegon e Scott estavam sentados ao meu lado, ambos arfando e fazendo caretas em demonstração de dor. Lunna, encolhida, apoiava sua cabeça nas pernas do primeiro rapaz, enquanto Athena e Alice discutiam sobre qual era o melhor professor de Biologia dos Seres Fantásticos.

A paisagem estava deslumbrante e eu a teria aproveitado mais se não fossem os “auxiliares” de Wyr nos fiscalizando nesse momento de detenção.

Enquanto todos os outros jovens se preparavam para as aulas noturnas, relaxando e jogando algo antes de terem instruções com os próprios lordes, nós estávamos fadados ao “serviço educacional”.

As luzes do castelo e do jardim começavam a despontar, com colegas indo de um lado para o outro, rindo com piadas e tagarelando entre si. Apesar da má primeira impressão, Solace se mostrava cada vez mais acolhedor. As amizades, as memórias, o ambiente grandioso, tudo isso havia nos conquistado e, por um tempo, finalmente conseguiríamos chamar aquele lugar de lar.

— Tudo bem, Tyrion? — Scott me tirou do transe.

—Uhum. — Pigarreei sem jeito — É que eu gosto desse tipo de vista. — Mandei-lhe um sorriso, enquanto apoiava a cabeça com as mãos.

— Deveríamos vir pra cá mais vezes. — Lunna comentou no momento em que se aconchegava em Draegon, soltando um leve burburinho.

Ela e o garoto estavam cada vez mais próximos. Talvez por causa de passarem grande parte do tempo juntos em razão dos ferimentos da menina. Eles faziam praticamente tudo um do lado do outro, estudavam, jogavam, até mesmo reclamavam juntos. Não vou negar, eles tinham uma relação invejável. E o melhor de tudo: eles nos davam paz. Paz em saber que por mais que as coisas pudessem ficar ruins, ainda tínhamos uns aos outros.

Isso, com certeza, foi muito importante pra mim. Quer dizer, depois do meu surto nos túneis, os meninos ficaram muito preocupados e tentaram por tudo me fazer buscar ajuda das enfermeiras. Eu recusei, óbvio. Elas nunca entenderiam e, pior, poderiam me taxar como louco ou algo do tipo.

Mesmo assim, a simples presença deles me acalmava. Até a de Athena.

— Vocês vão ficar aí para sempre? — gritou o guarda crocodilo por trás de nós, sibilando e fitando-nos com seus olhos angulares e amarelos.

— Qual é! — reclamou Draegon — Nós paramos por cinco minutos. — tentou argumentar.

— Você ousa me responder, defeito?! — rugiu e avançou na direção do menino a passos pesados.

Nesse momento uma raiva profunda tomou conta de mim.

Minha mãe havia sofrido anos por causa desse adjetivo. Anos foi maltratada e considerada inferior. Anos ficou deprimida.

Não.

Ninguém deveria sofrer o que ela passou, era pessoal.

Com a respiração já acelerada e os punhos cerrados, disparei rumo ao guarda, me colocando entre ele e o menino.

— O que você disse, lagartixa?! — gritei com a voz carregada.

— Defeito! — sibilou — Eu o chamei de defeito! Algum problema com isso? — Ele se ergueu contra mim.

Foi então que eu perdi a razão.

Juntei a força de todas as partículas do meu corpo e empurrei-o, o que, em razão do tamanho de quase dois metros, não surtiu efeito algum além de levá-lo a cambalear.

Os olhos do nosso fiscal brilharam com um tom sanguinário no mesmo instante em que ele se estabilizou. Sua pupila se estreitou e um sibilo gutural fez com que todos os pelos do meu corpo se eriçassem.

É, talvez eu tivesse assinado minha sentença de morte.

Ele girou e acertou-me com sua cauda, diretamente  no abdome. De imediato eu caí uns dois metros a frente, sentindo que todos os órgãos dentro de mim tinham se tornado gelatina. Os meus ouvidos zumbiam e a visão estava embaralhada. Eu apenas conseguia ver a grande figura correndo para mim.

Eu tentei me levantar e correr também,no entanto as minhas pernas pareciam moles e a lateral do meu corpo doía intensamente.

O guarda não se conteve, agarrou-me pelo pescoço e me atirou novamente no chão. De imediato uma ânsia percorreu-me e tive que fazer um esforço descomunal para não vomitar ou desmaiar.

Ele pegou-me pelo braço, cravando suas garras no meu ombro. Dessa vez eu não pude conter o guincho de dor. O sangue começou a escorrer, enquanto os sons e as cores começavam a se esvair de mim.

O réptil estava decidido a ir até o final.

Trocou, assim, o meu ombro pelo pescoço, apertando-o mais e mais, de modo a bloquear a entrada de ar.

Sua feição agora estava totalmente desfigurada.

Os olhos estavam alaranjados e a boca alongada estava aberta, permitindo que alguns pingos de saliva escapassem.

Eu tentava me debater, mas percebi que tudo seria inútil quando pontos pretos começaram a dançar nas minhas vistas. Ele parecia fora de si, nem mesmo um empurrão poderia desencadear essa reação.

Mesmo assim, eu teria perdido a consciência se um fato que desnorteou o guarda não tivesse acontecido.

Todos estavam paralisados e o outro fiscal estava longe demais para intervir a tempo. Entretanto, eu conseguia ver um vulto pelo canto dos olhos.

Draegon, que estava atrás do réptil, atirou uma picareta nas costas do sujeito. Ela teria feito um estrago muito grande se não houvesse uma placa óssea protegendo a região posterior do animal.

Todavia, aquilo fora suficiente para desconcertá-lo e abrir uma brecha.

O garoto então tomou impulso e jogou todo o peso de seu corpo contra ele, fazendo com que meu pescoço fosse liberado e o crocodilo cambaleasse.

Draegon me segurou pelo braço e começou a me arrastar o mais rápido possível para longe do guarda, que havia recobrado a plenitude dos sentidos e estava duas vezes mais sedento.

Nem de longe conseguiríamos escapar se o outro guarda não tivesse tomado consciência daquilo que estava acontecendo e nos ajudasse.

Ele finalmente havia se aproximado o suficiente e trazia consigo uma enorme massa de água, atirando um jato sob alta pressão no crocodilo.

O ataque restringiu a velocidade do réptil, até derrubá-lo completamente. Em seguida o urso polar manipulou a água em torno do crocodilo, até cobrí-lo completamente. Assim, juntou as mãos e a porção de água solidificou-se, prendendo a criatura por alguns instantes.

O que ele havia esquecido, porém, era que o seu oponente também dominava a água. Em questão de segundos ele havia se libertado, e, ignorando tudo, continuou nos perseguindo.

Novos ataques foram lançados pelo urso, todos fracassados, apesar de tudo. O crocodilo desviava os golpes e facilmente derretia o gelo que tentava torná-lo letárgico.

Depois de alguns segundos de ar, finalmente conseguia me por de pé e mancar acompanhando Draegon, o que por algum tempo resolveu, mas o brutamontes se aproximava mais e mais.

— Para floresta! — gritei com a voz entrecortada

De imediato, Draegon fez uma curva e me arrastou por entre alguns arbustos espinhosos, o que me garantiu uma série de cortes pelo corpo todo.

O céu foi ficando encoberto pela copa das árvores e a luz foi se esvaindo à medida que entrávamos na vegetação densa. O ritmo de corrida permaneceu por mais de vinte minutos, até que o barulho de perseguição de um réptil sedento pelo nosso sangue fosse gradativamente abafado e permanecesse apenas o silêncio perturbador da floresta.

Acho que em ambientes normais seria impossível enxergar um palmo à sua frente, entretanto, naquela floresta especificamente, havia algumas espécies com bioluminescência, o que conferia alguma réstia de luz cálida que permitia uma visão precária.

Por fim, Draegon percebeu que ainda segurava meu braço depois de pararmos.

— O que diabos acabou de acontecer?! — Largou-me e começou a andar de um lado para o outro, mesmo estando completamente ofegante.

— Acho que irritamos aquele jacaré. — repliquei, também com a respiração pesada.

Draegon me mandou um olhar zangado de “ah, sério?!”

— Por que você atacou ele? — a voz do menino nunca fora tão séria.

Eu fraquejei por um momento. Não queria contar-lhe a história por trás de tudo, mas também não queria fazer parecer que aquilo fora um surto.

— E-e-eu… — gaguejei por um momento.

Sim, ele tinha o direito de saber. Afinal ele arriscara a vida por mim e eu provavelmente não teria durado muito com o pescoço nas garras daquela besta.

Depois de a voz falhar algumas vezes, nós dois sentamos recostados em uma árvore grande salpicada de musgos que emitiam periodicamente uma leve luz azul.

Disse-lhe tudo, então. A história de como minha mãe sofrera e como eu também era tratado nos lugares por ser filho dela. Como eu tinha sido isolado por acharem que eu também não teria poderes.

O tom severo sumiu então de sua feição, dando lugar à mesma atitude que ele tivera nos túneis de Solace.

— Sinto muito. — replicou com a cabeça baixa. A voz do garoto carregava um tom anormal de dor, como se ele também houvesse presenciado algo parecido.

Ele colocou a mão no meu ombro e acabei percebendo um sorriso pelo canto de sua boca.

— Largatixa? Não tinha alguma ofensa melhor? — continuou, tentando suprimir o tom melancólico da conversa.

— O jovem delinquente do castelo não sou eu. — disse fitando-lhe e devolvendo o sorriso malicioso.

— A gente tem que arrumar um jeito de sair daqui. — ele se levantou e começou a andar em uma direção aleatória. — Tenho certeza que existem alguns cogumelos sinalizadores de “Saída de Emergência” em algum lugar. Afinal, tudo nesse lugar brilha.

Eu não interpus nada. Apenas o segui. Provavelmente o senso de direção dele seria melhor do que o de alguém recém asfixiado.

 

                                        **********

 

De tempos em tempos, algum de nós sobressaltava-se em reação a algum farfalhar de folhas ou ao som de gravetos se quebrando. Na maioria das vezes porém, eram apenas animais curiosos ou aves desconfiadas.

Em um momento, porém, pude perceber uma família de raposas de fogo, com seus pêlos alaranjados crepitantes e seus assobios característicos, transpondo algumas árvores. Em outra situação, um tucano capaz de soltar raios pelo bico eletrizado nos encontrou e não parecia nada feliz em estarmos entrando em seu território.

Talvez fosse apenas impressão, mas no primeiro lampejo eu e Draegon disparamos por entre a vegetação com o coração acelerado.

No meio da corrida, ele começou a rir histericamente com uma feição “você viu aquilo?” e eu também acabei cedendo ao alívio cômico. De fato, apesar dos pesares, Draegon se mostrou uma boa companhia para situações complicadas.

O riso, todavia, não durou muito.

A rica floresta que havíamos encontrado tinha mudado drasticamente. As árvores, antes altas e frondosas, com uma diversidade infinita de epífitas e arbustos, tinha dado lugar a uma vegetação mirrada. As novas formas estavam secas, retorcidas e algumas pareciam despedaçadas.

A fauna pulsante, de mesmo modo, havia desaparecido. Era impossível sequer localizar insetos no chão.

O solo estava rachado e se mostrava árido, exibindo erosões com alguns metros de diâmetro. Naquele novo espaço até o ar tinha se modificado. Passara de úmido e morno para uma versão fria e seca. Era possível perceber, ainda, que quando algumas correntes passavam por entre as árvores, uivavam  e adquiriam uma entonação quase vocal.

— Ok… — iniciou Draegon — Talvez essa não seja a tal saída de emergência.

— Jura? — o tom de voz teria sido um pouco mais irônico se eu não estivesse com a mesma sensação que me permeara olhando para os mosaico dos túneis da capital.

— Talvez seja melhor dar o fora… — a fala foi interrompida por uma forma alongada que nos sobrevoou, vinda de trás. De imediato, a lembrança do ataque à cerimônia de abertura me incomodou. Era a mesma criatura.

— Rápido! — sussurrei empurrando o garoto para a árvore retorcida mais próxima.

Percebi que minhas mãos estavam tremendo devido à recente aparição. Era possível acompanhar o percurso da criatura, já que poucas formas se erguiam adiante. O mais assustador, no entanto, foi ver a parceira neflin se aproximando.

Ela caminhava a passos suaves, como se estivesse dançando. Carregava consigo, além de suas garras mortais, um arco riscado com tons vibrantes do púrpura dos seus olhos mortais e bruxuleantes. Assobiava uma doce melodia, tão  leve e tão perfeitamente harmônica que tive que conter o impulso de sair do esconderijo para poder ouvir melhor. Seu pêlo, porém, em distinção ao primeiro neflin que tínhamos visto, exibia mechas alaranjadas e vermelhas.

A criatura era seguida por um rastro de morte.

Literalmente todo o caminho que ela percorrera estava desidratado e fumegando, abrindo mais algumas fissuras no chão.

Não demorou muito para que a presença dela atraísse o seu parceiro, de modo que a serpente retrocedeu e passou a pairar sinuosamente em sua volta.

— Ele já chegou? — O meu coração quase parou quando a criatura menor lançou  sua inadequada voz suave.

— Certamente. — A serpente respondeu. Sua voz, ao contrário da primeira, era extremamente grave e rouca.

A forma flutuante então conduziu a outra a noroeste, em que parecia haver um vale permeado de estranhas estruturas rochosas.

Os dois continuaram conversando, mas passaram a se comunicar em algum dialeto diferente, tornando a interação indecifrável. A frequência do som que eles emitiam juntos, no entanto, fazia meus ouvidos chiarem, fazendo com que eu os tampasse com as mãos, o que, aparentemente, não afetou Draegon da mesma forma.

— Temos que sair daqui, agora! — o menino sussurrou com os olhos em pânico. Ele nunca admitiria isso, mas provavelmente estava com tanto medo quanto eu.

Aquelas mesmas criaturas que, dias atrás, interrompendo subitamente o animado jogo de Verdade ou Consequência, fizeram uma vítima no, antes, lugar mais seguro de Étreser e que, ainda, mantiveram ocupados os quatro poderosos lordes. Todos os meus sentidos, integralmente, gritavam para que eu corresse o mais longe possível.

Entretanto, alguma coisa dentro de mim me sugeria a continuar, a seguí-los e descobrir quem eles estavam aguardando. Afinal, se algo era digno de tomar o tempo desses monstros, certamente seria uma real ameaça que os lordes deveriam saber.

— Preciso segui-los. — falei em um tom abaixo do normal.

Draegon levantou minha cabeça e me olhou no fundo dos olhos.

— Você ficou louco? Eles não são como o cachorrinho da Wyr, eles vão te matar antes que você os veja. — Draegon mantinha os olhos verdes nos meus, talvez tentando decifrar o que eu estava sentindo.

— Você não precisa ir. — percebi que a mão dele estava no meu ombro e resolvi tirá-la de lá.

— Você vai morrer lá, Acker! — insistiu com os olhos estranhamente vermelhos.

— Draegon, os outros precisam saber onde eles estão e quem estão esperando. — minha voz saiu trêmula.

Então eu levantei do abrigo que tínhamos arrumado antes mesmo de qualquer resposta e tomei o mesmo rumo dos monstros.

— Você não vai ser herói sozinho. — ele disse me puxando. — Se quer ser famosinho, vai ter que dividir a glória . — Ele se colocou do meu lado e seguimos a estrada de morte deixada pela neflin menor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

~ Percy ~
Interessante, né? Quando acabei esse capítulo eu nem queria mais parar de escrever. Espero que vocês tenham sentido o mesmo. O sétimo está por vir e, acreditem em mim, ( eu já menti pra vocês? Talvez em questão de data do próximo capítulo, mas isso a gente releva ) vai elucidar muita coisa.
É isso, aguardo vocês no próximo (talvez semana que vem, ou mesmo nessa) e obrigado por estarem acompanhando.
~ Abraços azuis



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Étreser" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.