Chuva de Lágrimas escrita por Skadi, Ana Gomez


Capítulo 4
Cápitulo 4


Notas iniciais do capítulo

Oii gente, finalmente vim me apresentar. Meu nome é Ana Gomez, mas podem me chamar só de Ana. Desculpa não ter vindo antes, problemas com o nyah. Entre outros problemas, ainda bem que tenho a Jaci pra me socorrer. Bom, queria dizer que estou muito feliz com os comentários, a Jaci hiper empolgada também. Jamais imaginei 97 comentários, 31 favoritos, 170 acompanhado, mais de 3.800 acessos. Nos sentimos muito feliz.obrigada!! Ainda nenhuma recomendação, mais tudo ao seu tempo. O proximo cápitulo, só semana que vem. Caso tenha muito review's, quem sabe voltamos antes, não é?



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Ele retirou as mãos do vaso rapidamente, receoso, com medo de que ela pudesse pensar que ele estava fazendo algo errado. Não, ele nunca faria algo errado com a pessoa que o tirou do frio e o abrigou.

— Me desculpe, senhora — ele balbuciou evitando olhá-la nos olhos. — Já estava indo.

— Não precisa pedir desculpas — ela o assegurou, sorrindo de leve. — Vim avisá-lo de que voltarei daqui a pouco com roupas limpas. Deixarei em cima da cama.

— O quê? Não precisa!

— Ah, precisa sim. Suas roupas estão sujas, desgastadas e ensopadas. Se ficar com elas vai realmente pegar uma pneumonia.

— Mas eu não tenho como pagar a senhora — ele balbuciou.

— E eu não estou cobrando — ela retrucou, franzindo o cenho de leve. Ele estava sendo bobo, ingênuo e sabia disso. Aquela mulher, parada a alguns metros e completamente impecável em seu vestido preto de aparência cara, era realmente um anjo. —Voltarei daqui a pouco com roupas limpas. Deixarei em cima da cama — ele apenas meneou a cabeça. Sua garganta doía e viu que ela notou quando sua mão inconscientemente foi até a área machucada. — Já vou indo, lembra-se do caminho para a cozinha?

— Sim.

— Então o vejo depois.

As palavras que surgiram naturalmente para Isabella e, mesmo que não fosse tanta coisa, significaram bastante para o homem que até poucos minutos atrás estava tremendo embaixo do temporal. Ele estava quieto agora, tentando o porquê de essa mulher fazer tudo o que tinha feito até agora por ele. O cobertor teria bastado, com certeza ambos, ele e Jake, haveriam de encontrar algum lugar na cidade com um toldo grande o suficiente para proteger os dois da chuva. Mas ao invés de simplesmente entregar o lençol e voltar para dentro de sua casa e nunca mais sequer pensar sobre ele, ela o convidou para entrar em sua casa, para dormir em um de seus quartos e comer da sua comida.

Não sentiria dor no estômago essa noite. Ninguém o chutaria para acordá-lo pela manhã.

Ele não tinha morrido, tinha? Estaria no paraíso?

Isabella pela segunda vez fechou as portas e depois se apoiou nelas. Ele realmente estava doente, como tinha pensado. Água com mel ajudaria a melhorar a garganta, mas como não o tinha examinado, não podia dizer o que mais ele precisaria.

Enquanto caminhava para longe do quarto, pegou o celular e começou a procurar pelos números que precisava. Diversas coisas teriam que ser providenciadas e ela não podia ir atrás delas por si própria. Odiava ter que fazer isso e, provavelmente se arrependeria, mas era por uma boa causa.

O telefone tocou três vezes antes que Sam atendesse. E quatro antes que Sue desse sinal de vida. As instruções foram precisas e o tempo para que eles chegassem ali, especificado. Era a primeira vez desde que os contratou que lhes dava autorização para irem até sua casa, estar um pouco aborrecida já era esperado. Seu temperamento era tão volátil quanto álcool.

Enquanto eles não chegavam, ela subiu e foi até seu quarto, tomou uma ducha quente para tentar se acalmar, colocou uma roupa confortável e quente e programou a televisão para gravar um de seus programas preferidos já que não sabia se teria como assistir na hora que ele começasse.

Quando estava descendo as escadas, olhou para o relógio de pulso, feito em couro marrom e ouro branco — com detalhes em madre pérola — pela décima vez desde que tinha terminado de se vestir. Já estava na hora daqueles dois terem chegado, foi bem clara em relação a atrasos e não entendia como eles podiam ser tão... O interfone tocou interrompendo sua linha de raciocínio. Rapidamente ela andou até o painel acoplado na parede ao lado da porta. Podia ver pela pequena tela o carro que um deles deveria ser dono.

Torcendo o nariz ainda incomodada com o atraso, apertou o botão e o grande portão de ferro se abriu. Isabella encontrou no rosto de seus assistentes a mesma surpresa deslumbrada que vira no rosto do homem que abrigava. Sue e Sam nunca haviam colocado os pés na mansão Swan antes, apesar de serem os mais próximos da presidente da empresa, não tinham tanta proximidade com a mulher fora do escritório. Foi um choque quando, cansados do longo dia de trabalho e se preparando para dormir, seus telefones tocaram e a patroa explicou o que queria. Tinha sido a primeira vez e, se eles conheciam um pouco da profissional que ela era, também a última.

Por isso não haviam perdido tempo e pularam de suas respectivas camas.

— Por quê demoraram tanto? Estão atrasados. Não importa — ela disparou, impaciente, assim que ambos haviam descido do carro e agora se aproximavam da porta já aberta. — Sam, comprou o shampoo?

— Sim — o rapaz respondeu, engolindo em seco e tentando esconder o quanto se sentia intimidado por ela. — Sue trouxe a ração e aqui estão as roupas que pediu Srta. Swan. Ah, o tênis está no fundo.

Ele estendeu o braço, em sua mão, uma sacola de papel pardo. Isabella a pegou e examinou o conteúdo rapidamente.

— Ótimo, elas devem servir — murmurou e depois voltou a encará-los. — Sam, você dará banho no cachorro e Sue, gostaria que preparasse algo bem gostoso na cozinha.

— Cachorro? — disse Sam, de olhos arregalados. — Não sabia que tinha um animal de estimação, Srta. Swan.

— Nunca disse que tinha, ele não é meu.

— Srta. Swan, quer que eu cozinhe? — Sue interrompeu, evitando que Sam se sentisse ainda mais constrangido.

— Sim, quero. Agora, por favor, sem mais perguntas — ela suspirou subitamente cansada. — A cozinha fica por ali, primeira porta à direita, sinta-se a vontade para explorar e usar o que quiser. Sam — o rapaz remexeu as mãos nervosamente —, venha comigo.

Virou as costas e fez o caminho para o quarto que o mendigo estava ocupando, seu assistente a seguindo. Será que estava sendo fria demais? Eles estavam fazendo um favor para ela, deveria tentar ser um pouco mais gentil, não? A tarefa que ela os deu foi cumprida com êxito afinal de contas, a única coisa que havia saído errado foi os poucos minutos de atraso. Ela os recompensaria de alguma outra forma depois, talvez mais um dia folga a cada bimestre? Teria que pensar nisso um pouco mais.

Alcançaram o corredor, Sam com os olhos ainda arregalados tentando absorver as pinturas penduradas nas paredes no caminho até ali. Foi um piano de cauda que viu? Será que ela sabia tocar? Nunca havia escutado sobre sua chefe tendo uma inclinação para a música e, ao menos pelo que podia perceber, ela não tinha tempo nem para respirar às vezes.

— Uau! Parece com as casas das revistas — o rapaz sussurrou, encantado com a casa.

— Obrigada — ela disse mesmo sabendo que ele não tinha falado com a intenção de que ela escutasse. Provavelmente pensou alto e agora ficaria constrangido novamente. Um sorriso apareceu nos lábios dela.

Isabella bateu na porta do quarto de hóspedes e quando, depois de quase dois minutos de espera, não houve resposta alguma simplesmente abriu as portas e entrou. O Jake estava sentado próximo ao banheiro, sua cabeça apoiada nas patas dianteiras enquanto as traseiras se esticavam atrás dele, lhe dando a localização de seu dono. Seu pelo, embora estivesse bem mais seco, continuava escuro de sujeira e o cheiro no ar não era nem um pouco agradável.

Com um sorriso no rosto, Isabella foi até a cama e colocou a sacola em cima da mesma.

— Você — começou a falar olhando para Sam —, vai dar banho nele — indicou Jake, que agora tinha as orelhas levantadas em sinal de alerta.

— M-Mas...

— Você tem experiência com animais não é? No seu currículo dizia que trabalho em uma petshop durante a escola. Posso confiar ele a você?

O rapaz ficou calado, se tentasse falar qualquer coisa, tinha certeza que gaguejaria. De novo. Então apenas concordou com a cabeça. Ele realmente tinha trabalhado na área. O único problema seria aguentar o cheiro do cachorro que chegava até onde estava na porta.

— Ótimo! — Isabella sorriu, mencionando para que Sam começasse a trabalhar.

E trabalhar ele foi. Demorou alguns minutos para que conseguisse conquistar a confiança de Jake — foram envolvidos alguns pedaços de um frango assado encontrado na geladeira — o suficiente para leva-lo para fora do quarto. Ela os levou até outro quarto, cujo banheiro poderia ser usado naquela difícil tarefa e depois foi para a cozinha, ver se teria alguma utilidade para Sue. Já que como cozinheira, Isabella era uma excelente médica.

— Tem certeza que não precisa de nada? — perguntou para a mulher ruiva ao pé do fogão.

Sue sorriu, seu braço se movendo em movimentos circulares rápidos para que a carne que tinha acabado de colocar na panela não queimasse. O aroma era delicioso e seu estômago começava a reclamar.

— Tenho sim, Srta. Swan. A sopa deve ficar pronta em quarenta minutos — enquanto falava, ela ia andando de um lado para o outro, colocando o macarrão em outra panela com água quente e cantarolando.

Isabella achou a cena estranha, não estava acostumada a passar muito tempo na cozinha, na verdade quase nunca ia até lá. Então não conseguiu evitar sentir um pouco de inveja das habilidades da outra mulher. Sempre dedicou as horas de seu dia para os livros e progredir na carreira, não tinha tempo hábil para aprender a fazer uma sopa ou um prato mais refinado.

Será que se tivesse, se tirasse um dia de folga a... Não, devia eliminar esses pensamentos desde agora. Existia tanto a se fazer na empresa e no hospital, reuniões a preparar, pacientes para atender e tinha que supervisionar a nova ala pediátrica. Um leve pigarro na porta chamou sua atenção e ela levantou os olhos.

O homem maltrapilho que trouxera para dentro de casa algumas horas antes agora tinha uma aparência aceitável. As roupas, que Sam trouxe eram um pouco grandes, já que ele tinha mais corpo que o mendigo, então tecido sobrou aqui e ali. Ele estava vestindo as mais casuais — Isabella tinha certeza de ter visto um pedaço de jeans quando olhou dentro da sacola—, uma calça de moletom azul escuro, uma camiseta bege lisa e um suéter de lã vermelho escuro. Em seus pés o tênis.

Enquanto o analisava ela notou que o braço esquerdo dele pendia um pouco do ombro, como se estivesse carregando uma mochila pesada. O que teria acontecido? Deveria perguntar a ele? Sim, era seu dever como médica. Ele estava machucado e sentindo dor dentro de sua casa, Isabella não iria permitir isso.

— Sente-se, por favor — ela disse depois de se levantar do banco onde ficara sentada vendo Sue cozinhar e passou por ele, saindo da cozinha. O homem a olhou confuso, mas não protestou e caminhou até onde ela indicou.

Já que tinha dado instruções claras sobre perguntas, não se preocupou muito de deixar Sue e ele sozinhos. Por mais curiosa que a ruiva estivesse não iria fazer algo que muito possivelmente aborreceria sua chefe, tinha certo apreço pelo seu emprego e pretendia mantê-lo o maior tempo possível. Mas não resistiu dar uma olhada rápida para trás só para encontrar o homem a encarando de volta. Ambos voltaram suas cabeças para a posição anterior, envergonhados.

Isabella voltou alguns segundos depois, parou ao lado dele e colocou uma caixa de metal pintada de branco em cima da bancada alta.

— Seu braço está machucado, não está? — inquiriu com voz séria. Ele a olhou surpreso. — Deixe-me ver, por favor?

— Não é necessário, a senhora não pode fazer nada, só um médico — ele disse a olhando.

— Então atenda ao meu pedido, sou uma das melhores médicas dessa cidade, agora me permite ver o que há de errado?

Aparentemente, surpresas não iriam faltar para o pobre coitado naquele dia então sem reclamar, porém muito envergonhado, ele fez o que foi mandado. Seu ombro tinha manchas roxas e estava inchado. Com uma precisão clínica, ela começou a examinar a área, ouvindo-o gemer baixo de dor quando tocava em alguma das manchas ou quando o pediu para levantar o braço.

— Não parece estar quebrado, o que é bom, mas para ter certeza só fazendo um raio x. Vai ser difícil mexer por algum tempo, talvez umas duas semanas, três no máximo. — Isabella falou, se afastando e fazendo menção para que ele se vestisse de novo.

Havia notado o quão magro ele estava, provavelmente um caso preocupante de desnutrição que precisava ser cuidado para não agravar. E aquelas manchas na pele, podiam não ser nada, mas também podiam ser muita coisa, doenças de pele não são algo com o qual ela gostaria de brincar. Até no seu rosto elas existiam, observou, já que ele estava pálido e as manchas se sobressaíam. Isabella sentiu o coração afundar no peito diante do olhar cheio de dor que ele tinha, mas que tentava esconder.

— Obrigada, senho-doutora.

— Pode me agradecer depois que seu braço estiver curado — ela sorriu. — Afinal de contas, como se machucou em primeiro lugar?

Enquanto ele contava a história, ela pegou uma garrafa d’água e três copos. Os encheu e colocou na mesa, e ficaram sentados olhando Sue cozinhar.

— Beba devagar para não irritar seu estômago — alertou vendo-o quase entornar o copo, se sua barba dele não fosse tão grande e espessa, o rubor leve teria sido notado por ela. — Quando for comer, também o faça com calma, ok?

Isabella não conseguia deixar de pensar na quantidade de machucados que ele já deveria ter tido vivendo nas ruas, e em quantos haviam sido curados da maneira errada. Não se importava se achassem sua atitude um ato inconsequente, iria fazer o que pudesse em seu alcance para que aquele homem deixasse sua casa mais saudável.

— Venha comigo, vamos enfaixar seu braço, vai diminuir um pouco da dor se ele estiver imobilizado — disse subitamente, se levantando e deixando a cozinha.

Uma das coisas que tinha feito questão de ter na casa quando estava decidindo os cômodos foi uma sala que mais parecia ser um mini hospital. Gostava de estar pronta para imprevistos e emergências. Depois da biblioteca, passava mais tempo lá do que em seu próprio quarto.

Quando voltaram, Sue e Sam já não estavam mais ali e perto da porta da cozinha, deitado no chão de mármore, estava Jake. Seu pelo brilhava como se fosse salpicado de cristais, uma gravata borboleta azul claro enfeitava seu pescoço e ele latiu assim que viu o dono.

— Jake! — o mendigo murmurou com um sorriso enorme em seus lábios.

Foi algo pequeno, um som emitido por um animal que mais cedo estava coberto de sujeira, mas que teve tanto significado para aquele homem. Os dentes escuros dele, pela falta de escovação, passaram até despercebidos para Isabella. Não importava, cor, cheiro, aparência... A felicidade que ele estava sentindo por ver seu cachorro, seu companheiro através de todos os maus tratos que já tinha sofrido, era tão contagiante que antes que percebesse, ela também já estava sorrindo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do novo cápitulo? Não deixe de nos contar, ok?
Beeijos.
Ana e Jaci.